Zé Rodrix
Zé Rodrix viveu e participou ativamente de sua geração e continua contribuindo artisticamente com suas músicas e seus livros. Em 2000 compôs Jesus numa moto, uma música que considero um resumo biográfico da geração dos anos 60 e 70. A sonoridade e a letra traz o cheiro do rock. Um som cru com uma melodia sangrando palavra por palavra.
Em 2007 completará 60 anos de vida, sendo 40 anos dedicados arte. Como muitos de sua geração teve seu momento de fama e popularidade. De 1966 a 1968 participou do quarteto Momento Quatro (Ricardo Villas, Maurício Maestro e David Tygel).
Em 1970 fez parte do grupo instrumental Som Imaginário (Wagner Tiso, Robertinho Silva, Tavito, Luiz Alves, Laudir de Oliveira, Nivaldo Ornelas e depois Naná Vasconcelos e Fredera).
Em 1971 formou o trio Sá, Rodrix & Guarabyra. A proposta do Rock Rural ou Blues Caipira não se propagou.
Em 1973 se desligou do trio iniciando careira solo.
Em 1983 faz parte de uma nova formação do grupo de rock Joelho de Porco ( Terpins, Próspero Albanese e David Zingg). Mas a fama tem seu preço (jabá), ele optou por uma vida artística independente longe das exigências de estar na mídia e no jogo desleal do mercado fotográfico.
E sem saudosismo de uma época culturalmente pujante e de contestação. E a música Jesus numa moto, dá uma dica de como vive os jovens de sua geração nos dias atuais. É bem provável que estão: “Preso nessa cela \ De osso, carne e sangue \ Dando ordens a quem não sabe \ Obedecendo a quem tem”.
Os revolucionários, esquerdistas e roqueiros viraram moderados, burocratas, executivos, presidentes, ministros, acomodados e muitos estão no poder. E alguns: “Só espero a hora/ Em que o mundo estanque \ Para me aproveitar do conforto de não ser mais ninguém”.
E muitos após um porre de reflexão sonham em: “Eu vou virar a própria mesa \ Quero uivar numa nova alcateia \ Vou meter um Marlon Brandom nas idéias \ E sair por aí…\ Pra ser Jesus numa moto/ Che Guevara dos acostamentos \ Bob Dylan numa antiga foto \ Classius Clay antes dos tratamentos \ Jonh Lennon de outras estradas \ Easy Rider, dúvida e eclipse \ São Tomé das letras apagadas / E arcanjo Gabriel sem apocalipse”. Mas existem os conscientes que: “Nada no passado \ Tudo no futuro \ Espalhando o que já está morto \ Pro que é vivo crescer \ Sob a luz da lua \ Mesmo com o sol claro \ Não me importa o preço que eu pague \ O meu negócio é viver”.
Quem desenvolveu a vida artística e política no período da ditadura militar brasileira (1964 a 1985) e paralelamente absorvendo as mil informações da contracultura e rock. Alguns perderam o rumo na década de 90 enveredando por caminhos tortuosos e tateando diálogos confusos com os filhos da ditadura que respiravam o rock punk dos anos 80.
Alguns desses senhores se tornaram náufragos na globalização. São poucos como Zé Rodrix que não perderam o trem da história e continuam produzindo sem cair no ridículo. Ele que é um trabalhador incansável, atua em várias frentes (música, livros de ficção e publicidade), tem consciência que o artista tem que tomar as rédeas do seu ofício (criar, produzir e divulgar) com profissionalismo, com os pés na realidade sem deslumbramento e levar sua arte aonde o povo estar.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Zé Rodrix para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 03/02/2008:
Índice
Zé Rodrix: Nasci no dia 25 Novembro de 1947 no Rio de Janeiro.
Zé Rodrix: Em casa. Através de meu pai que era mestre de banda no interior da Bahia e minha mãe que era cantora que não teve coragem de enfrentar a carreira musical.
Zé Rodrix: Todas permanecem, ainda que como referência do que NÃO fazer: grandes orquestras de jazz das décadas de 20 a 50. A música brasileira anterior à Bossa Nova, Rock de todos os países, e um pequeno trecho da chamada MPB que me interessa.
Zé Rodrix: Acordeon (cursei no Conservatório Musical do Rio de Janeiro), orquestração, regência, composição, contraponto (cursei na Escola Nacional de Música ) e música eletrônica e estocástica (cursei no Instituto Villa-Lobos)
Zé Rodrix: Bacharel em Leis pela Universidade Cândido Mendes, extensão em Literatura Comparada, História, Filosofia e Teologia (diversas universidades e faculdades).
Zé Rodrix: Em 1965 no Colégio e Aplicação da FNFi da UB, RJ, onde formamos o MomentoQuatro.
Zé Rodrix: Rico, mas já se iniciava ali a polarização entre o rock e uma tal de MPB, que não era se não uma cópia cabocla do jazz, ainda que baseada nos preceitos do realismo Socialista do Andrei Jdanov (1947) via CPC-UNE (1963).
Zé Rodrix: Graças ao estilhaçamento das ilusões permitido pela tecnologia, não existe panorama musical atual. Cada um gosta do que gosta, com isso destruindo cada vez mais a possibilidade de uma música de massa.
Zé Rodrix: Discografia:
Zé Rodrix: Trabalhamos como um trio em 1971 a 1973, gravando dois discos juntos (PASSADO, PRESENTE & FUTURO e TERRA) pela Odeon. Em 1973 o trio acabou. Eu comecei minha carreira solo. E a dupla Sá e Guarabyra só se juntando em 1974. O trio se reorganizou em 2001, para fazer o Rock in Rio III.
Zé Rodrix: Nenhuma separação: o trio se desfez por contingências pessoais de cada um.
Zé Rodrix: Na mistura de nossas influências pessoais, que iam desde o rock urbano de nossas cidades natais até a música sertaneja que à época era desconsiderada no Brasil.
Zé Rodrix: Creio que não pretendeu ser nenhum movimento, mas abriu imensa porta para quem como nós, pretendia esta mistura entre o urbano e o rural. Sem Sá, Rodrix & Guarabyra não teriam acontecido nem a música mineira pós Clube da Esquina nem o Pessoal do Ceará, isto sem falar em Paulinho Pedra Azul e Zé Geraldo.
Zé Rodrix: Graças a Deus, o mercado fonográfico deixou de existir. Só assim podemos novamente reconstruí-lo, em bases sólidas e cooperativas.
Zé Rodrix: Não me interesso por artistas, mas sim por canções. A canção que me agrada, não importa de quem seja ou quem cante, eu quero ouvir de novo. Já a que não me agrada não quero ouvir nunca mais. Não cultuo nenhuma personalidade, nem mesmo a minha. E creio que um mundo sem padrões estéticos baseados em artistas pode ser muito mais rico e satisfatório.
Zé Rodrix: Não passei de um para outro: simplesmente incluí o mercado literário em minhas inúmeras atividades. Não é preciso deixar de fazer uma cosia para fazer outra. Meu dia é racionalmente dividido para contemplar TUDO que eu possa e saiba fazer, sem prejuízo de nada. Componho, escrevo, dou aulas, faço palestras, crio para publicidade, cinema, teatro. E faço tudo isso sem nenhum tipo de problema, porque não sou um artista de uma só atividade, nem tenho qualquer prazer no ócio e na vagabundagem, como tantos.
Zé Rodrix: Acabo de completar a TRILOGIA DO TEMPLO, da qual foram lançados ate agora os dois primeiros volumes (JOHABEN: DIARIO DE UM CONSTRUTOR DO TEMPLO e ZOROBABEL: RECONSTRUINDO O TEMPLO – Ed. Record) e em setembro sai o terceiro (ESQUIN DE FLOYRAC: O FIM DO TEMPLO).
Lidam com o universo mítico e simbólico da Maçonaria, contando seus primórdios e suas ligações com o Templo de Salomão em Jerusalém (séculos X e V a.c.). E a Ordem do Templo (séculos XII e XIII d.C ). Romances históricos serão seguidos por O COZINHEIRO DO REI, um romance que conta o Brasil entre 1773 e 1823, passando pela Conjuração Mineira e a Independência.
Zé Rodrix: Ela foi composta em 2000, a partir da imagem de Jesus dirigindo uma moto. No momento ela vem se tornando hino dos grupos de motoqueiros brasileiros. Cada vez mais cantada por eles em seus eventos. Não acredito em sonhos, a não ser quando estou dormindo. Por isso creio que JESUS NUMA MOTO é apenas um retrato das pessoas de minha geração que, após amadurecerem, se tornam capazes de ter duas vidas, sendo uma delas aquela que lhes agrada integralmente.
Zé Rodrix: Falta de consciência e de responsabilidade pessoais, falta de profissionalismo, delírios de grandeza e poder financeiro. E vagabundagem crônica, confusão entre fama & sucesso. Crença insustentável num sucesso permanente, inveja da fama alheia. E incapacidade de tratar-se com honestidade e sem delírios de grandeza.
Zé Rodrix: Impossível responder. O tempo não pára nem volta, portanto não poderia sequer cogitar isso. Só posso pensar em minha carreira daqui pra frente. Cada vez com mais consciência e responsabilidade pessoais. Em um sistema de cooperação com aqueles que cooperam comigo, abrindo mão de qualquer tipo de competição desnecessária.
Zé Rodrix: Estar na mídia hoje em dia significa ter dinheiro para pagar cada aparição. Como só vou à mídia para ganhar, não para perder, escolho com cuidado as oportunidades de aparecer, preferindo as que rendem e deixando de lado as que custam.
Zé Rodrix: Gente cooperativa tem de mim toda a cooperação possível. Gente competitiva, não. Meu interesse, como já disse, é por obras musicais que me agradem, não por pessoas nem artistas como o mercado prefere. Os novos, como por exemplo, os compositores do Clube Caiuby, do qual tenho sido curador nos últimos 5 anos, são um exemplo disso.
Zé Rodrix: Sem dúvida, mas apenas quando posso fazê-lo com respeito e dedicação. Trato a todos como gostaria de ter sido tratado.
Zé Rodrix: Independente não é griffe de qualidade. O mercado independente tem tanta porcaria quanto o mercado das majors (grandes gravadoras). E tornou-se apenas a alternativa possível para quem não conseguiu aquele contrato ideal. Com a vulgarização da tecnologia, todos podem fazer seu próprio produto.
E ele só terá importância na medida em que interessar a uma determinada fatia de público. A Arte depende, alem de grande honestidade de propósitos, de TALENTO, VOCAÇÃO e SORTE. Não tente substituir um destes fatores existentes por um excesso de qualquer um dos dois outros: é preciso equilíbrio. Na Arte, como em qualquer atividade, humana, a lei é uma só; QUERER NÃO É PODER.
Zé Rodrix: Bárbara tem seu próprio caminho, sem nenhuma semelhança com o meu. E por convivência com determinados valores reais que sempre utilizamos em nossa vida. Não tem nenhuma ansiedade por sucesso ou fama. Quer fazer a melhor música de que for capaz.
E levá-la a quem se interesse por ela sem falsidades mercadológicas nem empenhos propagandísticos. Ela acredita na qualidade do que faz, tem grande consciência de si mesma e não perde tempo com ilusões. Ela trabalha para ser o que deseja ser, o que é admirável em uma compositora e cantora de 16 anos de idade.
Zé Rodrix: O estilo dela é ela mesma. Não se filia a nenhuma corrente, escola ou igreja musical a não ser aquela que LHE agrada. Tem linguagem própria e pretende evoluir cada vez mais nesta forma de criar.
Está começando a produzir calmamente seu primeiro CD, que será um registro do que ela fez até agora, sem nenhuma pretensão a ser sucesso ou estourar no Norte. O interesse do público no que ela faz é que direcionará esta obra para o seu devido lugar.
Zé Rodrix: Todos aqueles que eu tiver vontade de realizar, sem medo. Estou começando agora, depois de recuperar a propriedade editorial de minhas canções, o projeto TRIBUTO A MIM MESMO (FLORES EM VIDA). Através do qual regravarei toda a minha obra pregressa. Gravando também o que tenho feito hoje, para registrar e disponibilizar para o público aquilo que eu tenha realizado durante 40 anos de carreira.
Vou também realizar os áudios – livros de minha obra literária. Ao mesmo tempo em que disponibilizo digitalmente tudo o que escrevo para deficientes visuais. Produzirei muita gente nova que ME interesse ter junto de mim. E continuarei fazendo shows solo, com meu amigo Tavito e com o meu trio Sá, Rodrix & Guarabyra, enquanto o público assim o desejar. Não havendo interesse do público, vou fazer outra coisa. Por que me forçar a quem não me quer?
Wikipedia: https://pt.wikipedia.org/wiki/Z%C3%A9_Rodrix
*Zé Rodrix faleceu no dia 22 de maio de 2009 em São Paulo.
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