More Thomas Medeiros »"/>More Thomas Medeiros »" /> Thomas Medeiros - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Thomas Medeiros

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Thomas Medeiros, conhecido como “Bulldog”, nasceu em São Paulo, mas foi criado no Rio de Janeiro, desde pequeno teve contato com a música, que transformou a sua vida. Aos 19 anos idade se mudou para Viçosa – Minas Gerais e adotou a cidade como cidadão, em que atua em diversas frentes relacionadas à música e a arte.

Músico, Multi-instrumentista,  Produtor Musical e Cultural, Arte Educador, Radialista, Apresentador de TV e Engenheiro de Áudio, fundador da banda Rasta Joint e do Grupo Perifonia, tem muita bagagem e histórias para contar.

A banda Rasta Joint surgiu nos idos de 1993, influenciada pelo swing da música negra, como o Funk, o Soul e o Reggae. Formada por Claudio Soares – Guitarras; Silvio Ferreira Jr – Teclados; Marcus Rocha – Bateria; Antônio Carneiro – Percussões; Fernanda Andrade – Backing Vocais; Verônica Bonfim – Backing Vocais. Suas letras e músicas com teor crítico e sincero no estilo reggae raiz e teve as participações de Chico Costa (sax), Djalma Pereira (flauta) e Shandra Mani (vocalize indiano).

O Rasta Joint pega a estrada em 1997 e faz shows com a Tribo de Jah no Circo Escola Picadeiro – SP, com Rappa e Paralamas do Sucesso em Viçosa – MG, com Mestre Ambrósio em Belo Horizonte – MG, com Nativus e Tribo de Jah no Festival na Serra da Moeda – MG. O Rasta Joint pega experiência e se torna cada vez mais seguro e consistente. Nessa época suas influências eram Steel Pulse, Black Uhuru, Aswad, Israel Vibration, Gilberto Gil, Tribo de Jah, Edson Gomes

Em 2001, o Rasta Joint participou do 1º Festival Nacional de Reggae realizado no Anhembi – SP em maio, e contou com 13 bandas, entre elas Tribo de Jah, Edson Gomes, Ras Bernardo, Dionorina, Natiruts, com um público estimado em 70.000 pessoas. Em setembro, se apresenta no Credicard Hall (SP) abrindo o show de lançamento do CD – a Bob Marley da Tribo de Jah.

Segue abaixo entrevista exclusiva com baixista e produtor musical Thomas Medeiros da Rasta Joint para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa  em 22.08.216:

01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Thomas “Bulldog” Medeiros: Eu nasci no dia 12.08.1971 em São Paulo.

02) RM: Conte como foi o seu primeiro contato com a música?

Thomas “Bulldog” Medeiros: Posso dizer que a música sempre esteve presente em 100% da minha vida. Meu pai (Luiz Carlos Lagoz), quando eu fui gerado, morava com o Tim Maia e com Cassiano em São Paulo. E minha mãe (Vanessa Medeiros) cursava cinema na ECA.

Quando eu nasci, dormia ao som de Yes, Pink Floyd. A minha mãe dizia que se desligasse o som eu acordava berrando e só voltava a dormir quando ela, ligava. Quando eu nasci e não tive mais contato com meu pai, mudamos para o Rio de Janeiro. Lá fui morar em Santa Teresa, um bairro boêmio e reduto de artistas. Na minha casa aconteciam ensaios de bandas e eu vivia entre músicos e instrumentos.

Minha mãe sempre me deu brinquedos musicais. Quando eu tinha sete anos de idade, minha mãe se casou novamente, com o músico Michel Mujalli, guitarrista, que tinha acabado de voltar de Londres e da Índia, trazendo a primeira Sitar ao Brasil. Passei a acompanhá-lo em ensaios e apresentações tocando Tablas, e com ele comecei a aprender a dedilhar o Violão.

É importante registrar que na infância, graças às políticas musicais do maestro Villa Lobos, tive aulas de musicalização e canto coral na minha escola desde o jardim de infância.

03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música?

Thomas “Bulldog” Medeiros: Teoria musical até o módulo oitavo ano , pelo Instituto Guerra Peixe. Dois anos de gaita de blues com Flávio Guimarães (Blues Etílicos). Um ano de Violão popular com Pedro Luiz (Monobloco).

Duas anos de Musicalização pelo Método Kodaly, com Ian Guest. Um ano de Harmonia e Improvisação, com Ian Guest. Seis meses de Arranjo, com Ian Guest. Graduação em Engenharia de Áudio e Produção Musical, pela Bituca – Universidade de Música Popular. Especialização em Mixagem e Masterização, pela Bituca – Universidade de Música Popular. 

Estágio em Produção Musical e Broadcast no estúdio Cherry On Top e na SABC, em Johanesburgo na África do Sul. Inúmeros cursos nas áreas de Cenografia, Iluminação, Adereçaria, Áudio Visual, Marketing Cultural,

Desenvolvimento de Projetos Culturais, entre outros relacionados com áudio profissional. Engenharia Florestal pela UFV (não concluído). Tecnólogo em Laticínios pela UFV. Homeopata Popular (4 anos) pela UFV.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância?

Thomas “Bulldog” Medeiros: Sempre fui aberto a todos os gêneros musicais e tive várias influências. Na infância, MPB por parte de mãe e Rock Progressivo e World Music por parte do padrasto. No fim dos anos 70, início de 80, muita soul music influenciado pela Rádio Mundial AM e Rádio Cidade FM e poder acompanhar o movimento Black Rio.

Daí veio Michael Jackson e eu pirei! Imitava seus passos e assistia seus clips loucamente. Depois o Rock Anos 80, pela minha primeira banda e pelo movimento do Circo Voador que eu era assíduo. Heavy Metal e Hard Rock na época do Rock In Rio, onde pude assistir ao vivo os shows de Ozzy Osbourne, Whitesnake, Scorpions e AC\DC, eu era camelô e vendia camisas de capas de discos das bandas de Metal.

Passei pelo blues no fim dos anos 80. Nessa época também comecei a curtir reggae, vendo shows históricos do The Wailers, Banda Lumiar e KMD5, no Circo Voador. Nos anos 90 mergulhei de cabeça no reggae, vindo a ter programa de rádio por sete anos e fundando a banda Rasta Joint.

Meu padrasto sempre trabalhou com World Music, era líder do grupo Luz da Ásia e dono do selo Via Interior. Isso também sempre me influenciou bastante. Hoje em dia ouço de tudo, mas o que nunca deixei de ouvir: Reggae, Soul, MPB e Rock.

Hoje não ouço muita música, como antes,  para meu deleite pessoal. Trabalho com meus ouvidos todos os dias ouvindo muitos gêneros, e quando chego em casa tento descansá-los para eles não ficarem viciados (risos).

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira profissional?

Thomas “Bulldog” Medeiros Comecei a tocar em festas escolares aos 16 anos de idade, no Rio de Janeiro. Até os 19 anos de idade era hobbie, nunca tinha pensado em viver de música. Mas quando mudei para Viçosa – MG, em 1990, comecei a tocar profissionalmente, meio que sem querer, para me socializar na Faculdade, na primeira semana de aula entrei na banda de Punk e Heavy Metal, Micróbius Afins, que já era famosa e tinha perdido o Baixista.

Em um mês estava tocando direto, e ganhando uma graninha. Vi uma possibilidade de sobrevivência enquanto estudante morando fora. Daí no mesmo ano fundei uma banda de Blues, a Delta Blues e minha agenda de ensaios e shows foram ocupando mais tempo e importância que a Faculdade de Engenharia.

Em três anos abandonei a Faculdade e me dediquei a música profissionalmente. Nessa mesma ocasião fundei o Rasta Joint.

Paralelamente, toquei como Baixista em mais de 20 bandas de estilos variados, como Samba, MPB, Metal, Soul, Forró, Regional, Samba-rock, Rock, Conjunto de Baile. Por volta de 2010 decidi abandonar os palcos e me dedicar apenas ao meu estúdio de gravação, que construí em 2000 e sempre atuei como engenheiro de som, produtor e músico. De lá para cá, subir no palco só com amigos ou em projetos temporários.

06) RM: Quantos discos lançados a Rasta Joint e quais os anos de lançamento(quais os músicos da banda e que instrumento tocavam)? Qual o perfil musical de cada álbum? E quais as músicas que você acha que caíram no gosto do seu público?

Thomas Medeiros: A banda Rasta Joint lançou apenas uma Fita K7 Demo em 1994 e um CD em 2000. As condições para se gravar, nessa época, não eram tão simplicíssimas e acessíveis como é hoje. Gravar foi um processo de dois anos de muita economia e esforços de todos da banda para conseguir realizar esse sonho. Membros da banda era:

Charlin Reis – Vocais. Thomas “Bulldog” Medeiros – Baixo, Vocais (Direção Musical, Produção Executiva). Claudio Soares – Guitarras. Silvio Ferreira Jr – Teclados. Marcus Rocha – Bateria. Antônio Carneiro – Percussões. Fernanda Andrade – Backing Vocais. Verônica Bonfim – Backing Vocais. O CD – União, tem a base no reggae raiz, com fusão com a música regional brasileira, e experimentalismos como samples e climas, que eu particularmente coloquei no trabalho.

Como citei anteriormente, minhas influencias são muitas, e resolvi colocar isso no trabalho da banda. Considero o disco União, à frente do seu tempo, pelo tanto de informação e inovações que ele traz, como por exemplo uma faixa interativa com entrevistas e depoimentos.

O nosso CD foi o segundo do Brasil a ter isso, o primeiro foi o do Barão Vermelho, que você tinha que pular a primeira faixa para não destruir suas caixas de som. O nosso já funcionou redondinho. No CD você também pode ouvir Sitar indiana, tambores de Olodum, Dijeridú, efeitos sonoros, takes que gravei na rua e inseri no disco, entre outras coisas.

As músicas que mais se destacaram foram: União (que dá nome ao disco), Jah no Quintal (roots a lá Alpha Blondy), Foi Deus Quem Fez Você (sucesso dos Festivais de Música que resgatei e fiz arranjo em reggae, pela sua letra que para mim é 1005 reggae). Essas foram de maior destaque mercadológico, tendo participado de diversas coletâneas pelo pais. Mas em shows destaco também Me Diz Oh Jah, Grilhões, Consciência e Águas Turvas (que fizemos uma versão muito mais power ao vivo que no CD).

07) RM: Como você define o estilo da Rasta Joint dentro da cena reggae?

Thomas Medeiros: Uma banda pioneira no reggae nacional de 1993, que teve uma enorme importância na divulgação do reggae em Minas Gerais, e também de mostrar o reggae mineiro para o Brasil.

08) RM: Como você se define como baixista?

Thomas Medeiros: Considero-me um baixista mediano. Sem falsa modéstia. Eu nunca fui um cara focado em me dedicar à um instrumento, ou seja: ser um instrumentista. Minha preocupação maior é com a canção. Eu uso o instrumento para me expressar na música, estou à serviço dela, e não o inverso.

Nunca fui virtuoso. Eu toco um pouco de vários instrumentos, mas em nenhum me considero bom instrumentista. Mas sou bom em saber o que a música pede, ela fala comigo e me diz o que devo colocar no arranjo. Em uma banda, sei todas as viradas de bateria, timbres de guitarra, solos, naipes, enfim tudo de todo mundo. Meu papel numa banda é esse, de organizar as ideias e os egos e colocar todos à serviço da canção.

09) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?

Thomas Medeiros: São tantos. Mas, os que me vem na cabeça agora: Cantoras: Baby Consuelo (sou muito fã), Elza Soares, Sandra de Sá… Cantores: Milton Nascimento, sem comentários! É um anjo que desceu na terra para entoar melodias celestiais e sensibilizar o coração dos homens.

10) RM: Quem são seus parceiros em composições musicais?

Thomas Medeiros: Quando era mais novo, era menos compromissado e compunha mais letras. Quando comecei a produzir e a dirigir, fiquei criterioso demais e passei a exigir muito de mim mesmo, o que fez com que eu parasse de compor.

Mas por outro lado, sou parceiro de arranjos e composições de quase todo mundo que grava comigo no meu estúdio. Estou sempre ajudando a todos que passam por aqui e me realizo muito fazendo isso.

11) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Thomas Medeiros São muitos prós e alguns contras. O mercado e o sistema de produção é que mudou muito nos últimos 20-25 anos. A forma do artista gerir a sua carreira mudou demais. Antigamente se batalhava para ficar sob a guarita de uma gravadora, a qual se responsabilizava por gerir a parte artística.

Isso tinha muitos prós, entre eles: ter à sua disposição acesso a equipamentos e tecnologia impensáveis sem uma gravadora; um time de músicos, arranjadores, diretores artísticos, engenheiros de áudio, todos à sua disposição para você desempenhar o seu trabalho com um altíssimo padrão de qualidade; transitar e conhecer os grandes artistas que também faziam parte do seu “time”, trocando muita informação e construindo parcerias.

Outra consequência era a inserção do seu trabalho nos meios de comunicação e as grandes vendagens de cópias do seu disco, o que lhe rendia um bom dinheiro, além dos shows para grandes públicos, por ser conhecido nacionalmente.

Os contras ficavam pela restrição de acesso à um grupo seleto de artistas, pela pressão de se produzir com tempo determinado, com estilo determinado, tendo como finalidade agradar o mercado; salvo exceções de grandes medalhões da música que tinham total liberdade artística.

Ser “in-dependente” nessa época era muito difícil. Era quase impossível imprimir suas obras em plataforma de discos de vinil, ou mesmo ter acesso à estúdios de gravação pelos seus altos custos ou por serem próprios das gravadoras. Mas com certeza, a grandeza da música brasileira não estava totalmente representada dentro das gravadoras.

Com o avanço e a popularização da informática, a chegada do CD, da pirataria, da internet, do mp3, do Napster; a indústria fonográfica passou por uma crise de identidade e de mercado, pois não conseguiam mais dominar o mercado, nem obter lucros exorbitantes de vendagem de discos.

Além disso, ela perdeu muito tempo em bater de frente com essa tecnologia ao invés de aderi-la e reestruturar suas ações. Neste momento, a maior parte dos seus artistas se viu sem essa tutela, e teve que aprender a se autogerir não apenas artisticamente como também nas áreas administrativas e mercadológicas.

Mas, por causa esses mesmos avanços tecnológicos, o artista teve acesso à tecnologia, à softwares e plugins de gravação e consequentemente à autoprodução, venda e divulgação de seus fonogramas.

No panorama de hoje, já não considero que o termo independente represente o segmento musical. Considero que existem microempreendedores e grandes empresários, com domínio e acesso de maneira igualitária ao processo de produção fonográfica. O que acontece é que quem faz mais investimentos no segmento tem mais retorno. Normal se não estivéssemos falando de cultura, de manifestações de um povo.

O que vivemos hoje é uma indústria fonográfica voltada para o entretenimento vendendo música como outro produto qualquer, em detrimento de uma indústria fonográfica cultural, que apresenta conceitos e valores artísticos-culturais de uma país de grande pluralidade por sua diversidade regional e cultural.

Neste ponto, vivemos uma ditadura mercadológica que impõe valores no mínimo duvidosos, privando a população ao acesso a essa pluralidade. Mas, ao nosso lado temos a internet, que é uma ferramenta importantíssima hoje para essa resiliência cultural e musical.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver sua carreira musical?

Thomas Medeiros: Hoje, nos meus 45 anos de idade e quase 30 de carreira, me dedico à produção musical e à formação de público e de cidadãos mais conscientes culturalmente. Depois de 25 anos nos palcos, em produções de eventos, a criação e elaboração de espetáculos, não estou mais atuando diretamente em shows.

Há 21 anos eu atuo como produtor musical gravando e produzindo artistas. Há 16 anos possuo um estúdio profissional de gravação, o Estúdio Horizontes, onde sou engenheiro de som e produtor musical. Componho e produzo trilhas sonoras para vídeos e espetáculos teatrais e de dança.

Desde 2000 desenvolvo e atuo como arte educador em projetos sociais relacionados à cultura, arte e cidadania através da música. Já trabalhei cinco anos com o Movimento Hip Hop, 11 anos com percussão à frente do Grupo Perifonia (em atividade até hoje) e 4 anos com Áudio Visual.

Possuo desde 2014 um programa de TV, o Estúdio Acústico, na TV Viçosa (Rede Minas). Um programa semanal com 1:00 h de duração onde entrevisto bandas e artistas locais e da região que se apresentam ao vivo no programa. Também produzo e apresento o Reggae Power, programa de rádio veiculado nas rádios Universitária FM 100,7 de Viçosa e na webrádio ReggaeBR, semanal, com 1h de duração.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?

Thomas Medeiros: Na divulgação do meu trabalho, das minhas ações e de produções que participo; Na plataforma de trabalho, como webrádio, you tube, site, blog, etc; Nas redes sociais e whatsapp, agilizando contatos e agrupando pessoas com interesses afins. Não me sinto prejudicado.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (Home Studio)? Quais os principais erros cometidos por técnicos e engenheiros de som nos Home Studio?

Thomas Medeiros: Vantagens: Entendimento por parte do músico, das etapas e processos da produção fonográfica; Desenvolvimento e aprimoramento do músico, por poder se gravar e auto-avaliar;

Da possibilidade de o músico fazer a pré-produção de suas músicas, facilitando o processo de gravação; Possibilidade de músicos, depois dessas vantagens citadas, se qualifiquem e ingressem na profissão de engenheiro de áudio e/ou produção musical.

A desvantagem e os erros cometidos em home estúdio está diretamente vinculada a falta de formação técnica e acadêmica, e a assimilação de conceitos errados propagados livremente na internet. Muitos se esquecem que engenharia de som é uma engenharia, ou seja: está pautada em princípios físicos e matemáticos.

Desde frequências, comprimentos de ondas e como elas se comportam em determinadas condições, até transdução de energia mecânica em elétrica, e depois conversão AD-DA, isso sem falar em cada parâmetro de cada plugin ou periféricos.

Acredito que, por sorte, dedicação e ouvido, possa se chegar algumas vezes em resultados “satisfatórios”, mas isso é pouco para quem quer se tornar e assumir a posição de Engenheiro de Som. Por consequência disso, a cada dia nos deparamos com produções de baixa qualidade técnica depondo contra a qualidade artística.

16) RM: Quais os cantores (as), bandas que gravaram no seu estúdio?

Thomas Medeiros: Difícil mensurar ou enaltecer um em favor de outro, pois como atuo desde 1994 em estúdio, já passaram centenas de artistas pela minha mão, seja gravando, dirigindo e/ou produzindo.

Pala ilustrar cito alguns que possam ser conhecidos dos leitores, por eu estar em Viçosa, interior de Minas Gerais: Rasta Joint, Seiva Reggae Resistência, Aline Calixto (hoje na Warner), Verônica Bonfim (participante do FAMA, da TV Globo), Rua da Virada (que me rendeu o prêmio de segundo melhor disco de MPB do ano, pelo site Jardim da MPB), Arthur Vinih (revelação da MPB aqui em Minas Gerais), Felipe Radiceti, O Quinto, Liz Valente, Scrotinhos, Degrador, e tantos outros…

17) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Thomas Medeiros: GILBERTO GIL, meu maior ídolo em todos os sentidos: genialidade, simplicidade, melodias, letras, arranjos, sensibilidade, leitura de Brasil que ele faz… poderia ficar falando dele horas.

18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Thomas Medeiros: Nossa… Para cada um desses itens, várias situações… Mas duas são emblemáticas para mim: Uma vez estávamos programados para tocar num estádio de futebol, U2 Cover Brasil, Zé Ramalho e Rasta Joint. O camarim era no vestiário debaixo do campo. Após a apresentação da U2 Cover, começou um buchicho que, apesar de estar no local, Zé Ramalho não iria tocar, pois não tinha recebido a segunda parte do cachê.

O evento ficou no vazio por uns 40 minutos até que alguém subiu no palco, pegou o microfone e incitou o público (estimado em 10 mil pessoas) a quebrar tudo. O estádio se transformou em uma praça de guerra, o público quebrou tudo, destruiu o palco, derrubou o PA, quebrou as barracas.

E nós presos dentro do vestiário, com uma porta de madeira que não tinha tranca. Em um determinado momento, alguém gritou que a produção do evento estava no vestiário, e passaram a tentar quebrar a porta e entrar. Ficamos todos fazendo pressão com o próprio corpo para evitar que entrassem.

Ficamos assim por duas horas, até que todos abandonassem o Estádio. Isso causou um trauma psicológico em vários integrantes da banda e acompanhantes.

O outro foi uma situação parecida no Tributo à Bob Marley no Anhembi-SP, em 2001. Ficamos presos debaixo das arquibancadas, precisando tocar, e o público havia invadido e a polícia não nos deixava ter acesso ao palco. Foi uma luta até que conseguíssemos atravessar a multidão e convencer aos policiais a nos deixar adentrar na área restrita aos músicos.

19) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Thomas Medeiros: Mais feliz: o retorno direto do público durante e após um show bem-sucedido; e a satisfação quando entrego uma master para um artista: é impagável!

Mais triste: a falta de respeito para com o profissional da música que persiste até hoje, seja nas condições técnicas, nos pagamentos e acordos não cumpridos, no trato pessoal, como se não fossemos profissionais como outro qualquer de outro segmento.

Mais irritante: Curiosos e bagunça em um ambiente de gravação. Isso atrapalha em muito não só ao artista como ao produtor.

20) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Thomas Medeiros: Viçosa-MG sempre foi uma cidade musical. É uma cidade universitária, com uma Universidade Federal de Viçosa (UFV) e mais duas particulares. Quando cheguei, em 1990, o cenário era de festas em sítios, em repúblicas, em eventos da universidade. Não existiam casas de shows, no máximo bares com música ao vivo. Havia uma infinidade de bandas de estudantes, de variados estilos.

Havia fanzines especializados, programas de rádio e outras ações. Na década de 90-2000 nasceram casas de shows, produtores de eventos e começaram a vir mais shows de fora, e as bandas locais a se profissionalizar, gravar suas músicas, festivais de bandas.

Nos dias atuais, a indústria do entretenimento se apoderou das universidades de forma global, e com isso os gêneros universitários se tornaram quase que uma unanimidade.

As bandas de estudantes e as festas hoje são poucas, mas são resilientes, voltaram a acontecer festas em sítios e shows em casas de shows, mas o grande público comparece mesmo às festas de bebidas liberadas, com shows midiáticos de duplas e MCs.

21) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?

Thomas Medeiros: No Reggae: Terra Prometida, que me surpreendeu positivamente com a produção musical do seu último CD – “Está em Tudo”; Celso Moretti, grande amigo e parceiro musical de mais de 20 anos. Lançou recentemente o CD-Estilingue, muito bem produzido e gravado.

Artistas em geral:   Arthur Vinih, que sou produtor musical dele e ele vem apresentando um trabalho de muita qualidade em termos de composição e arranjo. É muito criativo e generoso em suas músicas, muito fácil de dirigi-lo. Ouçam seu último CD – O InVerso, o qual gravei e produzi – https://soundcloud.com/arthurvinih

O Quinto, banda de rock viçosense que funde progressivo, tropicalismo e classic rock com maestria. Foi um desafio entender o conceito da banda, administrar as “loucuras” e traduzir isso em um disco. Orgulho-me muito de ter produzido esse disco, Sobre Velhos Pensamentos – https://oquinto.bandcamp.com/releases

Discoteca básica: Novos Baianos, Mutantes, Black Rio, Tim Maia, Airto Moreira, Nana Vasconcelos, Milton Nascimento, Toninho Horta, Hermeto Pascoal, Gilberto Gil, Dominguinhos; Steel Pulse, Burning Spear, Third World, Alpha Blondy, Aswad, Wailers, etc, etc, etc…

22) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Thomas Medeiros: Sim, em rádios de caráter cultural, educativo, de fundações. Em rádios comerciais, que estão à serviço de grandes gravadoras/empresas, só se eu pagar, assim como elas próprias os fazem. Ou em pontos isolados onde há a concessão para programas assinados, onde o programador / produtor tem autonomia para trabalhar.

23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Thomas Medeiros: Que esteja preparado e qualificado para enfrentar a carreira, pois lhe será cobrado mais que nas outras. Não é fácil gerir sua carreira; sua profissão não é reconhecida, nem sindicato ou carteira de trabalho o músico tem. Não tem salário, 13º, jornada de trabalho, lei trabalhista.

Que se decida o quanto antes, o seu objetivo na música: fazer arte ou fazer dinheiro/sucesso. Seja qual decidir seguir, o faça o quanto antes, pois não há o caminho do meio, pelo menos conceitualmente.

24) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o uso da maconha?

Thomas Medeiros: Acho que é uma coisa cultural. Cada estilo tem sua tribo, seu estigma. Se toca blues, tem que beber whisky; se toca samba tem que beber cerveja; se curte música eletrônica tem que tomar bala; se ouve reggae tem que fumar maconha…

Eu acho um equívoco, uma perda de tempo, vincular a sua arte à algum psicotrópico ou a drogas ilícitas ou não. Primeiro que está levantando uma bandeira de muitos interesses e consequências que na maioria das vezes não tem domínio de causa.

Eu acho que o uso de qualquer substancia desse tipo deve ser decidido no âmbito pessoal, apenas com você mesmo, e não ficar propagando e convencendo à outras pessoas para que faça o mesmo que você. Ainda por cima colocar a sua arte a esse serviço ou vinculá-la a isso.

Por outro lado, tabus e preconceitos, devem ser quebrados, e existem trabalhos que tem essa função, como a banda Planet Hemp. E acho também que não é “proibido” tocar nesse ou outro assunto polêmico em alguma canção. Estou falando de rótulos, modismos, de hipocrisias e de suas consequências.

25) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com a religião Rastafari?

Thomas Medeiros: Os Rastafaris entoam e tem como base cultural a música reggae. É uma associação cultural-religiosa que surgiu na Jamaica, dentro de um contexto que foi constituído com base de muitas influências culturais e ancestrais, que vem atrelada à vinda dos escravos africanos à Jamaica, com sua cultura e seus ritmos, e o uso de música em seus cultos religiosos.

Inclusive uma pesquisa do grande pesquisador e amigo Leo Vidigal, publicada no Estado de Minas, descreve muito bem essa relação: http://divirta-se.uai.com.br/app/noticia/pensar/2016/04/08/noticia_pensar,178877/vibracoes-positivas-conexoes-desvendadas.shtml . Por outro lado, os músicos e aficionados pela música reggae, não tem como obrigação se converter ou falar sobre o Rastafarianismo.

O reggae é um gênero musical. O Rastafarianismo é uma religião. Não há obrigação de um acontecer somente em função do outro. Seria o mesmo que dizer que um budista não poder tocar reggae, ou um cristão não poder tocar heavy metal, e assim por diante.

26) RM: Você já usou os cabelos dreadlock. Você é adepto a religião Rastafari?

Thomas Medeiros Já usei, por 10 anos, de 93 a 2003. Naquele momento, o reggae não era um gênero musical difundido como é hoje. Então como mergulhei no reggae de cabeça, entendia que era importante que dentro das minhas ações no reggae também estivesse representada a imagem do reggae, como as cores, as roupas, e os dreads.

O Dreadlock não era modismo, só quem usava era quem tinha uma relação estrita com o reggae ou com o rastafarianismo. Os dreads não eram aceitos comumente como estética, pelo contrário, era muito criticado e mal visto. Já nos anos 2000, o reggae se tornou mais popular, e os dreads viraram um modismo, sendo utilizado por qualquer um, perdendo esse vínculo com a música reggae ou com o rastafarianismo.

Foi nesse momento que entendi que não havia mais sentido em usar dreads para minhas palavras e ações serem ouvidas e reconhecidas. Eu também não queria ser rotulado como modismo.

Poderia antes ser rotulado com algum movimento cultural ou religioso, mas não com modismo. Nunca fui Rastafari. Mas, de forma ecumênica, absorvi alguns conceitos na minha vida e na minha música. Inclui-se aí a relação com a natureza, o vegetarianismo, e a conexão com a espiritualidade.

27) RM: Os adeptos a religião Rastafari afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa essa afirmação?

Thomas Medeiros: Já comentei acima, mas cada um tem o seu ponto de vista, e eu respeito. Se eles acham isso…

28) RM – Na sua opinião porque o reggae no Brasil não tem o mesmo prestigio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?

Thomas Medeiros: Acho que é uma série de fatores, entre eles: O vínculo ao discurso do uso da maconha em suas letras, o que nos EUA e Europa já é um tema mais desenvolvido e esclarecido, até em termos de sua legalização para consumo, ou uso medicinal; pela qualidade das produções e gravações apresentadas pelos artistas de reggae, até por não ser um gênero incorporado por grandes gravadoras; por não ser um gênero comercial no Brasil, ou seja: não está no esquema mainstream; pelos produtores de eventos de reggae, que são em sua maioria despreparados enquanto empresários do segmento cultural, agindo na informalidade.

Muitas vezes os eventos são produzidos pelos próprios músicos ou amantes do reggae, pela ausência de espaços e oportunidades. Mas vejo que esse quadro está mudando. Um sinal disso é que já se ouve reggae na programação das rádios comerciais, já se ouve jingles em forma de reggae, bandas de reggae tem conseguido espaços em programas de TV, e as produções musicais tem apresentado maior qualidade de gravação, arranjos, músicos…

Acho que vivemos também um novo ciclo, onde se separou o joio do trigo e as bandas que estão agora na ativa tem longos anos de experiência e não estão nessa por modismo, o que aconteceu nos anos 2000-2010, onde se teve quase que um segmento reggae universitário.

29) RM: Como você analisa o cenário reggae brasileiro? Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Thomas Medeiros: O cenário do reggae no Brasil vive de altos e baixos, até pelos fatores que citei acima. Mas tem nomes que estão na batalha há muitos anos, com um trabalho coeso e de respeito. Da primeira geração de 1980-1990, cito: Edson Gomes, Tribo de Jah, Cidade Negra, Celso Moretti e o próprio Gilberto Gil.

Da segunda geração de 1990-2000, que é a do Rasta Joint; Jahcareggae, Jah Live, Adão Negro, Djambi, Nengo Vieira, Natiruts. A terceira geração de 2000-2010: Leões de Israel, Ponto de Equilíbrio, Planta e Raiz, Filosofia Reggae, Mato Seco. E da quarta de 2010-2016: Essa estou descobrindo, pelo meu afastamento direto do reggae nesse período. Mas tenho visto boas coisas.

Tenho vistos novas estéticas do reggae como soundsystems, vocalistas solos sem banda cantando sobre riddims, bandas das antigas que se tornaram bandas de projetos. Como estou me situando, prefiro não citar nomes por hora. Apenas a Pedra Rara, do Zé Orlando, ex vocalista da Tribo de Jah.

30) RM: Fale sobre seus projetos sociais em Viçosa – MG.

Thomas “Bulldog” Medeiros: Desde 2000 desenvolvo projetos socioculturais em minha cidade. No período de 2000 a 2005 estive à frente do Movimento Hip Hop, que não existia até então. Com o apoio da Secretaria de Cultura de Viçosa, abri uma Oficina de Hip Hop, onde eu dava aulas de DJ; com toca-discos de vinil, de composição de rimas e canto, de produção de loopings e bases, de Teoria do Movimento Hip Hop; onde aplicava textos nos alunos, como de Martin Luther King, Steve Biko, entre outros, além de trazer todo o histórico do movimento, desde sua origem na Jamaica – EUA e sua chegada no Brasil.

E ainda tinha 2 oficineiros, de Break e de Grafitti. Deste projeto surgiram inúmeros grupos de RAP nas periferias da cidade, e toda uma cena se desenvolveu. Até hoje existe uma cena forte do Hip Hop em Viçosa, e muitos dos cabeças de hoje foram meus alunos, confira NVRap no youtube). Em 2005, deixei o Hip Hop andar por ele mesmo e decidi dedicar minas ações às crianças e pré-adolescentes em zona de risco.

Criei então o Projeto Perifonia, que trabalha a cidadania, a inclusão e a cultura através da música, com instrumento de percussão. Estou à frente deste projeto desde 2005 e já passaram mais de 500 alunos pela oficina, com mais de 300 apresentações em escolas, praças, eventos e casas de shows em 3 estados. De 2009 a 2013 desenvolvi o Projeto Arte Educação Digital com apoio da TIM, que trabalhava a produção de animação, documentários e vídeo-arte com jovens de periferias.

31) RM: Fale do projeto da ViReggae Band acompanhando outros cantores.

Thomas Medeiros A ViReggae Band surgiu de um movimento interno meu e dos meus amigos-irmãos ex-integrantes da banda Rasta Joint. Depois que a banda acabou em 2005, todos os integrantes foram mudando de cidade e assumindo empregos e constituindo família, e em sua maioria não se dedicam mais à carreira musical.

Em 2001 eu fiz uma grande festa para comemorar o meu aniversário de 40 anos e tive o privilégio de juntar todos os integrantes para um private-show. Desde então, alguns de nós viemos nos encontrando algumas vezes por ano para tocarmos juntos, ensaiar e fazer algum show, não necessariamente tocando reggae.

Mas, em 2014, eu e a ViProduções escrevemos juntos um projeto para a Lei Estadual, de um festival de reggae itinerante, e ele foi aprovado. Com isso, eu resolvi voltar às minhas atividades no reggae e montei a ViReggae Band, uma banda de apoio para receber grandes nomes do reggae, e que tem na sua formação esses amigos da Rasta Joint. Voltei também para as rádios com o Reggae Power.

Mas, nós enfrentamos dificuldade na captação de recursos para o projeto, e eu resolvi passar a produzir shows da Vireggae Band de forma independente, sem apoio financeiro institucional. Dessa forma, já fizemos shows com Zé Orlando, ex vocal da Tribo de Jah, com Celso Moretti e tocamos em um dos maiores Festivais de Jazz do Brasil, o ViJazz and Blues Festival, tocando apenas Ska instrumental.

32) RM: Fale do projeto com Zé Orlando, ex vocal da Tribo de Jah, e hoje na Pedra Rara.

Thomas Medeiros: Nessa vinda do Zé Orlando para Viçosa-MG, ele conheceu o meu estúdio e o meu trabalho como produtor e estamos analisando a possibilidade mixar e masterizar o seu segundo CD, o que para mim será uma honra.

33) RM: Quais os seus projetos futuros?

Thomas Medeiros: Dar sequência nas minhas ações com o Reggae Power e a ViReggae Band, recebendo grandes amigos e ícones do reggae, pois sempre é um prazer reencontrá-los, ainda mais tocando juntos. Continuar com meu programa de TV, pois é uma ilha cultural onde artistas compromissados com a música de qualidade tem acesso a veicular seus trabalhos em uma TV aberta. Continuar com o Perifonia. Lançar 2 discos próprios, de reggae, mas são 2 projetos que ainda não posso comentar, por uma série de fatores (hehehe).

34) RM: Thomas Medeiros, quais os seus contatos para show e para os fãs?

Thomas Medeiros:

[email protected] | [email protected] | [email protected] | www.facebook.com/thomas.medeiros.16  


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.