sonekka
O cantor e compositor paulistano Sonekka, nome artístico paradoxal, quando se conhece essa figuraça que tem atitude e personalidade que não o permite dormir, se quer cochilar no ponto, seja na carreira musical e na vida. Osmar Lazarini, o seu nome de batismo, só cai bem, para a sua função de consultor em tecnologia.
Sonekka traz nos seus dois CDs lançados, Incríveis Amores em 2003 e Agridoce em 2007, elementos de suas influências musicais: Cazuza, Gonzaguinha, Zé Rodrix, Chico Buarque, Gilberto Gil e Caetano Veloso, revisadas para o seu tempo. Define-se como um roqueiro pop com um pé na MPB. Um cantor de voz singular e agradável sem enfeites vocais. Um bom compositor e quando o assunto é colocar melodia nas letras dos seus parceiros mais constantes mantém a homogeneidade de sua obra. Quando escutei suas música me surpreendeu a força de suas letras que falam de cotidiano com simplicidade sem ser simplório. Um romântico realista, agridoce, hardcore sem perder a ternura. Sua obra para mim é o que tem o cheiro de novo e original nesse século XXI na música brasileira, tratando de forma atual os temas que já foram tratados por ícones da MPB. Atualizando o nosso cancioneiro popular sem perder a essência da qualidade e pujança.
Ele optou em arregaçar as mangas e ir a luta sem esperar por gravadoras, nem vendas em lojas. Um artista ligado a novas tendências, lançou o novo disco, Agridoce, somente na internet, pelo iTunes, em 25 países. E para o mercado brasileiro, há uma versão na forma de livro (Murilo Martins é o responsável pelo design) que traz todas as letras e pequenas crônicas que orbitam o universo do disco. A mistura é uma marca de Sonekka. As doze músicas do CD não respeitam um único estilo. Vão do rock, do pop e do blues a ritmos brasileiros. A suavidade e acidez aparecem nas letras. Algumas têm como base a crônica social, como em “Jornal das Dez” (Sonekka/Gilvandro Filho) e “Como Diria Agenor” (Sonekka/Vlado Lima). Outras falam de relacionamentos, desfeitos e refeitos, numa linha que remete ao disco anterior do artista, “Incríveis Amores”.
É o caso de “Mala sem Alça” (Sonekka/Léo Nogueira) e “A Marca da Cal” (Sonekka/Ricardo Moreira). Em todas, boas sacadas de letristas da nova geração, que deixam o lugar-comum de lado para explorar novas fronteiras. É o caso de “Cisco no Olho” (Sonekka/Lis Rodrigues/Ricardo Soares), que diz “hoje você é somente um cisco nesse meu olho/não significa nada e ainda assim me faz chorar”. A música que dá nome ao disco, “Agridoce” (Sonekka/Zé Edu Camargo), funciona como uma espécie de elo entre os dois lados do artista. Não à toa, a letra diz: “eu sou duro na queda, hardcore/mas não perco a ternura jamais”. As participações especiais também demonstram a preocupação com a pluralidade.
Vão da verve roqueira e contestadora de Zé Rodrix, que toca piano e teclado em duas faixas, à percussão arrebatadora do inglês Cris Wells, em “Batendo Água”. O grupo paulistano de compositores 4+1 participa de “Será Que Estou Viajando?” (Sonekka/Márcio Policastro), um rock de letra bem-humorada. E, fechando o disco, mais três participações especiais: Celso Viáfora, Élio Camalle e Guarabyra juntam-se a Sonekka para cantar “Balada Perdida”, composição de Camalle, que fala do difícil dia-a-dia (ou seria noite-a-noite?) dos cantores de bar. Nos shows, Sonekka é acompanhado pela mesma banda que participou das gravações, Nando Lee (arranjos, violões e guitarras), Schmidt (bateria e percussão), Ricardo Bocate (baixo) e Ayrton Boka (teclados).
Segue abaixo entrevista exclusiva com Sonekka para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 02.02.2008:
Índice
Sonekka: Nasci em São Paulo no dia 15 .03.1970 no bairro de São Miguel Paulista – Zona Leste, mas fui criado desde os 2 anos em Tabatinga-SP. Fui registrado como Osmar Ricardo Lazarini.
Sonekka: Temos que separar o que é primeiríssimo contato e o que é contato com a arte de tocar. Quando eu era muito pequeno, tipo 4 ou 5 anos de idade meu irmão – que era 10 anos mais velho – já construía instrumentos de sucata e tirava um som bacana. Eu tava sempre junto com ele nas “brincadeiras de banda”. Ensinar-me a tocar Violão, ele só começou quando eu tinha uns 12 anos. Ainda assim ele não tocava muito, tive mais é que aprender sozinho mesmo.
Sonekka: Completamente autodidata, daqueles de mergulhar nas revistinhas VIGU até ter os acordes nas mãos, o ritmo já era nato. Tive algumas aulas de harmonia, mas que ao todo não deve ter dado 6 meses de estudo.
Sonekka: Minhas influências passadas foram os artistas dos festivais da TV Record dos anos 60. A geração de Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil foram os primeiros. Depois vieram Sá, Rodrix e Guarabyra, Xangai, Elomar, Gonzaguinha. Os que tocavam bastante nos anos 80 como Barão Vermelho, Cazuza, Rita Lee (o rock brazuca). E por morar no interior, muita moda de viola. Eu sempre gostei de música nova, de gente desconhecida do grande público. Recentemente tenho sido muito influenciado pelos compositores do Clube Caiubi e da lista de discussão M-Musica e a cena paulistana de compositores, tais como Marcio Policastro, Álvaro Cueva, Ricardo Soares, Vlado Lima, Fernando Cavalieri, Ricardo Moreira, Zé Edu Camargo, Elio Camalle, letristas como Leo Nogueira e Elder Braga. Alguns razoavelmente conhecidos como Kleber Albuquerque, Celso Viáfora, Zé Rodrix, Tavito. Componho muito com letristas de diversos estados como Gilvandro Filho (Recife-PE), Caíto Spina (Vitória-ES), Alexandre Lemos (Itamonte-MG), Apá Silvino e Sérgio Veleiro (Fortaleza-CE), Sérgio Napp (Porto Alegre-RS). Muita influência de Tavito e Zé Rodrix, também.
Sonekka: Comecei tocando em bares do interior de São Paulo em 1987.
Sonekka: Em 2003 lancei o primeiro CD – Incríveis Amores, participaram na gravação Nando Lee, Fábio Schmidt, Ivan Peliciotti, Rodrigo Peninha. Em 2005 tive um projeto ao vivo, de tiragem limitada, só com canções minhas e do Zé Edu Camargo (Nando Lee, João bani, Fábio Schmidt e Ricardo Bocate). Em 2007 lancei o Agridoce, um livro-CD com arte de Murilo Martins e muitas participações, além de Nando Lee, Schmidt, Ricardo Bocate, tivemos Ayrthon Boka, Paulo Faria, Sizão Machado, Roberto Lazzarini, Zé Rodrix, Fábio Andrade, Cajé, Guarabyra, Celso Viáfora, 4+1, Chris Wells, Elio Camalle e muitos outros.
Sonekka: Um roqueiro pop com um pé na MPB.
Sonekka: Zé Edu Camargo, Alexandre Lemos, Caíto Spina, Gilvandro Filho, Leo Nogueira, Elder Braga, em volume de criação. E muitos outros que me acompanham como Apá Silvino, Zé Rodrix, Vlado Lima, Ricardo Soares, Ricardo Moreira, Sérgio Napp, Lis Rodrigues, Nando Távora, vixe! Tem mais gente, não vai caber.
Sonekka – O pró: não ter compromisso com o que se chama de “qualidade estabelecida”. Faz-se o que se deseja, em linguagem e musicalidade, sem compromisso com tendências passada, presente ou futura de som. Tudo cabe e tem seu valor. O contra: falta de estrutura financeira pra suportar a veiculação dessa criação toda.
Sonekka: O cenário é um mercado em transição. Exploraram décadas de sucesso muito previsível, o que se investia em dinheiro tinha um retorno proporcional. Não havia talentos natos ganhando espaço por força da obra. Havia um grupo de multinacionais ditando regras e público sem saber como funcionava a engrenagem ia acompanhando, comprando e movimentando isso tudo. Alguns músicos, eu vejo manterem uma obra clara e consistente há muito tempo como Celso Viáfora, Kleber Albuquerque sem encontrarem o merecido público. Não vejo casos de regressões, mas heróis de tempos atrás eu tenho visto darem sinais de desgaste como Chico Buarque e o pessoal da Bossa Nova que insistem em regravações. O Caetano Veloso passou duas décadas de trevas, mas parece que ainda tem o que mostrar. Chico César, Zeca Baleiro, Nando Reis ainda tem bala na agulha, além de já terem feito coisas bacanas. Sinto a falta de Sérgio Sampaio, Gonzaguinha, Raul Seixas e Cazuza, estes fazem mais falta do que tudo que ainda está por aí. Agora dos artistas-projetos, aqueles que a gente percebe que houve todo um projeto de marketing pra acontecerem, pro meu gosto, ainda não bateu nenhum.
Sonekka: Festival de Música Universitário na década de 90 principalmente, não mais que dez. Serviu pra que eu visse que não é um bom caminho. É um caminho, mas é mais “involutivo” do que evolutivo. Submeter uma canção ao gosto de meia-dúzia de jurados com seus gostos pessoais não é o melhor dos mundos para um artista. Vejo gente boa demais que perde décadas de vida artística em Festival de Música e não encontra nem público e nem oportunidades, sobrevivem de prêmio aqui e ali. Eu gosto da música que alguns fazem, mas o lance de passarem anos a fio defendendo em Festival, a mesma canção vencedora de sempre, acho uma crueldade com a própria carreira.
Sonekka – No bar Vila Teodoro sobrevive as segundas autorais, herança do Clube Caiubi que rolava na Rua Caiubi em Perdizes. Existe um encontro assim em Santo André-SP. Também rola autorais no Clube da Cana em Santa Cecília, começou recentemente. O Villagio Café concentra bastantes shows autorais, gente que pulou o degrau da mostra e já tem bons shows. Algo parecido também tem esporadicamente no StudioSP e nos teatros Satyros e Crowne Plaza.
Sonekka: Acho que minha apresentação mais bizarra aconteceu em uma Quermesse de sítio em Ibitinga – SP onde eu e os músicos tocávamos num caminhão palco. Havia um barracão de pessoas e uns 30 metros de tempestade entre nós e eles. Ninguém ouviu nada. Ainda tomei um banho de lama pra desencalhar o Chevette na volta.
Sonekka: Faço música (melodia) sobre letra. É a letra que me diz que rumo melódico tomar.
Sonekka: Mais feliz é quando alguém grava uma música minha. E triste é não ter muitos meios de veicular as minhas canções, formar público e etc. Fazer um show todo caprichado e ter que me virar do avesso pra conseguir plateia é a maior tortura, tenho evitado tentar.
Sonekka: Faria uma pergunta clássica que o Zé Rodrix costuma fazer, começaria perguntando: -Você quer ser artista pra quê? Seja sincero. Definidas as razões claras, havendo certeza de que existe talento, o resto é trabalho, estudo, audição, leitura.
Sonekka: Zé Rodrix, Tavito, Zeca Baleiro, Jammie Cullum, Jorge Drexler, Celso Viáfora, Pablo Milanês, Álvaro Cueva, etc.
Sonekka: Eu acredito e tenho fé!
Sonekka: Acompanhei apenas, te confesso que meu gosto não foi convencido. Quem sabe no futuro eu possa vê que era bom e eu não soube identificar. Mas me parece que o futuro é hoje em dia e nada mudou ainda. Tinha muita forçação e pouca beleza para se ouvir.
Sonekka: A única semelhança é que é um grupo de autores que compõe entre si, se reúnem para tocar projetos juntos. Esteticamente são muito distantes, embora um ou outro autor lembre nuance dos vanguardeiros. Participo desde o começo e o que vejo é que no Clube Caiubi são autores que fazem música porque gostam sem se importar se isso será sucesso ou não, alguns não se importam absolutamente nada. Mas a partilha de sonhos e parcerias é muito sadia.
Sonekka: É um apelido de infância, eu tinha uns 6 ou 7 anos quando adultos começaram me chamar de Soneca. Aí a história é sempre a mesma, cai na escola e acaba acompanhando a gente pra sempre, em todo lugar que eu fosse tinha alguém que conhecia o apelido e virava efeito dominó, em pouco tempo tava todo mundo me chamando de Soneca. Mas não é por dormir muito, tenho olhos pequenos e pacatos e que obviamente me dá cara de sono. Como eu percebi que dificilmente alguém esquecia do nome resolvi assumi-lo e pronto. Houve quem dissesse que era nome “nada artístico”, mas o mais importante que um nome seja bom, é que se tenha personalidade.
Sonekka: Meu maior projeto é ter condições de realizar tudo que imagino. Trabalhos que embora conserve raízes no gosto popular, rompa com formatos e estilos de veiculação criados e explorados à exaustão pela indústria fonográfica.
Contatos: www.sonekka.com.br \ sonekka@sonekka.com.br
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