More Orlando Freitas »"/>More Orlando Freitas »" /> Orlando Freitas - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Orlando Freitas

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O baixista, compositor e produtor musical paraibano Orlando Freitas vem desenvolvendo atividades musicais desde 1995, quando inicia sua carreira de contrabaixista.

Orlando Freitas é autodidata, passeou por vários estilos musicais, sua profissionalização se deu em 1999 com o grupo CABRUÊRA, com o qual excursiona pelo interior e capitais do Nordeste e Sudeste. Em 2001, viaja com o grupo para a Europa, perfazendo um total de quatr países e 11 shows. Dentre eles o HEIMATKLANGE FESTIVAL em Berlim (Alemanha), SFINK´S FESTIVAL em Bruxelas (Bélgica), LORE´S FESTIVAL em Lisboa (Portugal) e também se apresenta no BARBICAN CENTER em Londres (Inglaterra). É nesse ano que gravam o primeiro CD do grupo CABRUÊRA, tendo este, distribuição nacional pelo selo carioca NIKITA RECORD’S. Ainda com a CABRUÊRA vai morar no Rio de Janeiro e por lá fica durante todo o ano de 2002, travando um grande contato com produtores e artistas de projeção nacional.

Orlando Freitas de volta à Paraíba forma o AEROTRIO: grupo popular de música instrumental com influências jazzísticas, com o qual se apresenta nos principais festivais de arte do estado, bem como na FMI – Feira de Música Internacional de Brasília. Em 2006, o grupo grava seu primeiro CD, apoiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos – FIC. No mesmo ano, fixa residência em João Pessoa, após ter sido convidado para integrar a banda paraibana CHICO CORREA & ELETRONICBAND. Em 2007, junto ao saxofonista suíço Esthephan Büler, forma o NÉCTAR DO GROOVE – grupo instrumental popular que funde ritmos africanos e brasileiros que tem CD gravado apoiado pela Lei Estadual de Incentivo à Cultura Augusto dos Anjos – FIC. Desde então, também trabalha como freelancer – acompanha, por exemplo, o músico TOTONHO & OS CABRAS no Festival de Inverno de Garanhuns – FIG.

Orlando Freitas nos anos de 2017, 2018 e 2019 lança respectivamente seus três álbuns solo de música experimental/eletro acústica sendo os dois últimos pelo selo de Los Angeles/USA PanyRosasDiscos intitulados ORLANDO FREITAS & MAKINA GURU e TWO FRAMES OF TIME este com a participação vocal da performer colombiana Julia Beltrán, radicada em Buenos Aires – Argentina. Em abril de 2019 produz e dirige a performance multimídia intitulada TR3S IMPROVISAÇÕES E O TEMPO.

Orlando Freitas em junho de 2019 participa do álbum PERCURSOS SONOROS – UFRB que é composto por 14 faixas de diversos lugares do Brasil e um da Colômbia. Em agosto do mesmo ano tem sua faixa WALK THROUGH CAMPINA GRANDE CENTRAL FAIR (Caminhada pela Feira Central de Campina Grande) divulgada no site inglês WALKING MUSEUM e pela revista online KURUMA’TÁ. 

Orlando Freitas em março de 2020 lança seu quinto álbum intitulado “HOME”.  Este trabalho é uma bricolagem sonora experimental sobre um recorte do cotidiano em uma pandemia/quarentena na qual o musico e sua família se encontravam. Textos melódicos se sobrepõem aos sons domésticos, levando as linhas e temas de contra baixo para outras direções e percepções. As improvisações em camadas (over dub) são costuradas em texturas ruidosas que criam atmosferas quase palpáveis. Rompendo as barreiras do que o próprio artista convém em eleger como aceitável ao se expor e lançando-se nas incertezas do improviso e dos novos sentimentos que tal situação lhe influenciou. 

Orlando Freitas desde 2017 é aluno do curso de música com habilitação em Produção Musical na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Orlando Freitas para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 23.09.2020:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Orlando Freitas: Nasci no dia 23.09.1971 em Campina Grande – PB.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Orlando Freitas: O meu primeiro contato com a música foi muito espontâneo e natural. Desde a infância tive contato com a música resultante do convívio com meus pais e irmãos mais velhos. Eles com gostos musicais variados que iam da música das orquestras populares e crooners do rádio, MPB, rock além do rádio AM que tocava muita música regional.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Orlando Freitas: Fui aluno nos anos 90 dos cursos de Ciências Sociais e Comunicação Social na Universidade Federal da Paraíba e Universidade Estadual da Paraíba. Infelizmente não concluídos, muito por na época estar sendo literalmente arrebatado pela música e seus compromissos como baixista da banda Cabruêra em 1999. Em 2017 comecei cursar Música com habilitação em Produção Musical na UFCG – Universidade Federal de Campina Grande.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Orlando Freitas: São muitas as minhas influências. Passando pelas quais só tenho vagas lembranças, mas que com certeza marcaram minha primeira infância e adolescência. Lembro do rock com suas diversas vertentes, principalmente o rock progressivo dos anos 60/70 e o heavy metal dos 80.  Aí veio o jazz dos anos 50 até os dias de hoje. Muita música experimental, eletrônica, música de orquestra, world music, reggae, música étnica, regional, brasileira. É um caldeirão danado que as vezes nem sei muito bem de ondei veio, se deixou ou não de ter importância e nem para onde vai.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?

Orlando Freitas: Considero que minha carreira profissional começou em 1995 em Campina Grande – PB junto com outros amigos tocávamos em Universidades, Bares e Festivais de Música e já ganhávamos um cachê suficiente para saber que dali poderia surgir muitas oportunidades profissionais. Comecei como autodidata, passei por vários estilos musicais, e o batismo profissional se deu mesmo em 1999 como baixista do grupo CABRUÊRA, com o qual excursionei pelo interior e capitais do Nordeste e Sudeste do Brasil e em alguns países do Exterior.

06) RM: Quantos discos lançados? Cite alguns discos que você já participou como contrabaixista? 

Orlando Freitas: Os álbuns que atuei como contrabaixista em grupos: Cabruêra (1999), Aero Trio (2007) e Néctar do Groove (2010).

Já meus trabalhos solos: O primeiro é o Orlando & Makina Guru (2016) que é uma viagem por múltiplas sonoridades em que toco diferentes instrumentos como trompete, baixo elétrico /upright e Viola de 10 cordas. Eu os executo, processo e transformo usando o computador como ferramenta. O bacana que nesse trabalho é que além de ter usado as texturas e ruídos do meu cotidiano o resultado se deu em uma espécie de “tecido de sensações e percepções”. Tudo surgiu a partir do momento e ambiente em que eu vivo. Foi um desafio entrelaçar esses sons que não se pretendem ou pretendiam ser “musicais”.

Em 2017 lancei o álbum Orlando & Makina Guru “Small Studies on String Theory”, este é meu segundo álbum solo em parceria com MAKINA GURU (meu computador). Neste trabalho trago 08 músicas tocadas na Viola de 10 cordas que foram mantidas da forma que foram executadas, ou seja, sem edições ou “overdubs”. Além de uma referência a teoria unificadora da física (Teoria das cordas) esse trabalho chama-se “pequenos estudos” visto que tem um caráter semi-experimental no seu fazer e características que soam em algo sonoramente quase inacabado. Alguns “erros” que propositalmente foram deixados permitem não só ao ouvinte, mas para eu compartilhar e abrir meu ambiente de produção e que somente os momentos de estudos e experimentação composicional possuem e/ou propõem.

Em 2018/2019 lancei o meu terceiro álbum “Two-frames-of-time”. Foi nesse momento que surgiu uma parceria on-line super criativa com a atriz e performer colombiana Juliana Beltran, radicada em Buenos Aires – Argentina. Fiz a proposta e ela declamou um poema e fez uma interpretação vocal recheada de efeitos e improvisações fantásticas. Fiquei muito feliz com sua colaboração e empenho em tentar declama-lo em português e o resultado foi surpreendente! É um poema em que trata e representa um momento/tempo de nossa história como espécie. Essa noção e relação com o tempo que está se tornando cada vez mais valiosa, onde não apenas o que é sólido, mas absolutamente tudo está se fragmentando no ar. Hoje não é tão fácil perceber-se como ator/autor/participante e observador desse fluxo. Este trabalho se propôs criar pontes e parcerias e além de tudo a nos ajudar a ser um com esse tempo/fluxo. Lançado em 23 de dezembro de 2018, produzi a arte, gravei, fiz mixagem e masterização.

Já o mais recente álbum – “Home”, foi lançado em março (2020), ou seja, no início no isolamento social. Este trabalho é uma bricolagem sônica experimental sobre um recorte do meu cotidiano, resultado das primeiras impressões causadas pela quarentena pela pandemia infligida pelo COVID- 19. O contrabaixo está presente em uma única música de 28 minutos ininterruptos na qual tenho um diálogo com a “paisagem sonora” da minha casa. O resultado é que as linhas melódicas se somam como palavras em um texto e se acrescentam e justapõem a sons domésticos levando as linhas e temas do Baixo a outras direções e percepções. São improvisações em camadas (overdub) que foram costuradas em texturas barulhentas que resultaram em uma atmosfera quase palpável e por que não intimista.

07) RM: Como é seu processo de composição musical? 

Orlando Freitas: No meu trabalho solo prezo pelo espontâneo, experimental e improviso. Sempre que tenho a oportunidade e quando surgem ideias musicais um pouco mais sugestivas e que podem de certa maneira indicar um caminho ou direção tento gravá-las. As guardo como elemento que pode ser utilizado em bricolagens sonoras, texturas eletrônicas que surgem no momento da produção, retalhos sonoros ou algo do tipo. Creio que o espontâneo e o buscado e/ou induzido também podem caminhar juntos.

08) RM: Você compõe melodia para letra? 

Orlando Freitas: De certa maneira não. O meu trabalho atual é mais voltado para o instrumental/experimental. É um terreno onde não necessariamente as melodias são comumente identificadas e definidas. Não há uma conexão explícita que poderia ser considerada como sendo uma linha melódica composta para uma ideia ou algo textual.

Quando o texto/letra se faz presente geralmente vem como “poesia sonora”. Na minha música a “letra” é e também faz parte do som, do ruído, da textura… enfim, do todo que surge e resulta dessa reunião.

09) Quais são seus principais parceiros de composição?

Orlando Freitas: Ultimamente minhas composições e produções são fruto de um trabalhado solo, tipo banda de um homem só. Quando tenho parcerias geralmente são convites para participações como leitura de poemas e/ou algum instrumento/textura especiais.

10) RM: Como você define seu estilo como contrabaixista? Você toca outro instrumento musical?

Orlando Freitas: Defino meu estilo como sendo de um baixista primeiramente autodidata, mas que está em movimento e aprendizado contínuo. Não descartando os conhecimentos formais e/ou acadêmicos sobre o instrumento. De toda forma tento aplicar e expressar esses conhecimentos o mais livre e espontaneamente possível.  Toco outros instrumentos e tenho um trabalho solo, Small Studies on String Theory de 2017 dedicado a Viola de 10 cordas.

11) RM: Quais as principais técnicas que o baixista deve se dedicar?

Orlando Freitas: Como sou um músico que na maior parte do meu processo foi de autoaprendizado e autodidatismo não tenho como elencar técnicas específicas às quais o baixista iniciante possa se dedicar. Sempre fui muito espontâneo e livre. Porém, hoje já posso dizer que conhecer as técnicas mais básicas e comumente utilizadas pode ser a melhor forma de evoluir no instrumento. Ter um som próprio, pode-se considerar como um caminho para se chegar a uma técnica e um estilo pessoal.

12) RM: Qual a importância de o baixista equilibrar a função de condução e de solista?

Orlando Freitas: É primordial. Dependendo dos estilos musicais pretendidos, ter as noções, pelo menos básicas, por onde as harmonias caminham é uma das formas mais bacanas de ser um baixista mais seguro, livre e proativo.

13) RM: Quais os principais vícios técnicos ou falta de técnica tem os baixistas alunos e alguns profissionais?

Orlando Freitas: O principal vício dos baixistas, tanto iniciantes como profissionais, pode ser não prestar muita atenção às harmonias (acordes) e ao que os outros instrumentistas estão tocando.

14) RM: Quais as principais características de um bom baixista?

Orlando Freitas: Duas características são bem bacanas de desenvolver e cultivar. Desenvolver segurança rítmica não faz mal a ninguém e manter-se a maior parte do tempo atento aos companheiros de grupo nos faz músicos melhores e mais versáteis.

15) RM: Quais são os contrabaixistas que você admira?

Orlando Freitas: Tenho alguns “oásis” que guardo com muito carinho já que foram e são como fontes em que posso beber referências: Charles Mingus, Stanley Clark, Ron Carter, Bill Laswell, Steve Swallow, Charlie Haden e Eberhard Weber.

16) RM: Existe uma indicação correta para escolher um contrabaixo de mais de 4 cordas? Quais os gêneros musicais correspondentes a quantidade de cordas do instrumento?

Orlando Freitas: Sempre fui um fã das Quatro Cordas, mas durante um curto período de tempo quando ainda estava no grupo Cabruêra cheguei a usar Baixo de seis cordas. Confesso que foi uma transição um pouco difícil, mas como eu tinha muitos arranjos e efeitos na região aguda o de seis cordas me possibilitou expandir para novos timbres e texturas. Não há indicações, limitações nem estilos específicos para 04,05,06 e até mais cordas já que cada baixista/instrumentista/músico tentará exteriorizar o que está dentro de sua cabeça independente da maneira que o estilo é tocado. Aí os estilos musicais serão como um quadro em branco e o instrumento; independentemente da quantidade de cordas, será o pincel com as cordas representando suas cores.

17) RM: Qual a marca de encordoamento da sua preferência? Existe marca ideal para cada gênero musical ou é preferência pessoal?

Orlando Freitas: Tenho dois contrabaixos. Um fretlles escala curta e um Uprigh ¾. Ambos são carregados com encordoamentos Flatwould um pouco mais caros que os comuns. São encordoamentos muito específicos por conta do espelho liso de ambos os instrumentos e tento sempre mantê-los em dia. O fator preço é determinante, contudo, não tenho marcas preferidas. Já usei tantas marcas de encordoamentos diferentes que nem me lembro mais, que me auxiliaram a tocar diversos estilos e gêneros musicais sem que por isso tenha que trocar de encordoamento para isso.

18) RM: Quais os prós e contras de ser músico freelancer acompanhando outros artistas?

Orlando Freitas: Ser músico freelancer tem vários pontos positivos. Creio que o maior deles é o fato de tocar múltiplos estilos e trabalhar com os mais diversos músicos traz um repertório enorme não só musical, mas também aprendizados e aumento das habilidades de convivência tão importantes para o trabalho em grupo.

19) RM: Quais bandas que já participou?

Orlando Freitas: São várias, dentre elas as principias foram: Cabruêra, Aero Trio, Néctar do Groove, Chico Correa & Eletronic Band, Burgo! Totonho & Os Cabras.

20) RM: Quais os prós e contras de tocar em uma única banda?

Orlando Freitas: Tocar em uma única banda por muito tempo pode ser um grande privilégio, mas chega um momento na carreira do músico em que se tem uma necessidade de trabalhar solo, variar estilos e diversificar parcerias com outros artistas. Mas é um escolha muito pessoal, mas ao perceber esse sentimento é chegada a oportunidade em começar a pensar em expansão criativa, diversificação de parcerias e experimentações criativas.

21) RM: Quais principais dificuldades de relacionamento que enfrentou em bandas?

Orlando Freitas: Creio que as minhas dificuldades bem como para a maioria dos músicos que trabalham em grupos é a equalização de desejos e percepções sobre os rumos da carreira musical. Os egos e frustrações pessoais as vezes se sobrepõem aos motivos que levaram às buscas em comum. Isso é bem natural e meio que faz parte da profissão de músico.

22) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Orlando Freitas: Desde 2017 sou estudante do Bacharelado em Produção Musical na UFCG – Universidade Federal de Campina Grande e isso tem de certa maneira me ajudado a pensar estrategicamente minha carreira musical tanto fora como no palco. Tenho produzido e lançado meus próprios trabalhos de forma que utilizo os conhecimentos adquiridos ao longo do curso nesses projetos. Tento aplicar tudo, desde conhecimentos técnicos como elaboração de projetos até técnicas de mixagem e masterização etc. Tem sido um período muito rico e desafiador.

23) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Orlando Freitas: A principal ação empreendedora que apliquei nesses últimos anos na minha carreia musical foi ter me filiado a uma associação arrecadadora de direitos autorais que pode me representar frente ao ECAD. Isso me permitiu oficializar-me como produtor musical. Só a partir daí pude tem o controle mais consciente sobre toda minha obra.

24) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Orlando Freitas: Sempre fui muito ligado a internet. Tanto para consumir como para produzir e difundir/distribuir conteúdo. A internet representou na minha vida profissional um grande salto e isso me ajudou de forma inimaginável. Creio que se fui prejudicado em algo ainda não tive noção disso.

25) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)? 

Orlando Freitas: As vantagens são inúmeras, mas creio que como desvantagem posso citar que as tecnologias de áudio geralmente são muito caras e de certa maneira inacessíveis. Dependendo do home studio corre-se o perigo de ter um trabalho com cara de algo inacabado ou mesmo amador. Para o produtor iniciante ter um home studio que produza um material comercialmente apresentável, contraditoriamente por mais profissional que seja, pode sair um pouco dispendioso inviabilizando assim os seus projetos.

26) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje isso não é mais um grande obstáculo. Mas a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Orlando Freitas: Sim, realmente a internet possibilitou que um grande fluxo de novas produções chegasse até nós e se isso resulta em um excesso de informações pode ser que aí resida um problema. Creio que o próprio nicho em que me encontro, música experimental, por si só já é muito específico e por isso díspar. Só sigo minhas intuições e vou em frente sem sentir muito incômodo em trabalhar nele. Não observo que exista uma concorrência, logo esse nicho até agora parece-me bem espaçoso e confortável.

27) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental brasileira. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Orlando Freitas: A música instrumental desde o início de 2000 pelo menos aqui na Paraíba tem tido um grande movimento e evolução bem interessantes. Isso foi reflexo e se fez refletir no que estava rolando no país como uma forma geral. Muitas bandas tem produzido material desde então e algumas bandas se foram, porém, deixaram legado já outras têm mantido sua produção de forma consistente e criativa.

28) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Orlando Freitas: Gosto muito do Hamilton de Holanda.

29) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc.)?

Orlando Freitas: Já são mais 20 anos de carreira musical. Inúmeras coisas citadas na pergunta já aconteceram, mas tem algumas que persistem em reaparecer. Uma delas ainda é a falta de condições técnicas para show em alguns locais que toco. É uma pena que isso até o momento continue sendo um grande gargalo e desafio para o exercer profissional de nossa atividade.

30) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Orlando Freitas: Ser músico é um privilégio. Estar na estrada por tanto tempo tocando um instrumento tão especial quanto o Contrabaixo realmente é uma fonte de felicidades e algo para ser grato sem ressalvas. Porém, algumas coisas me fazem lamentar nessa atividade, mas uma que certamente me deixa entristecido ainda são as várias formas de desrespeito com que temos que lidar no dia a dia ao longo de nossa carreira musical.

31) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Orlando Freitas: É meio que consenso, mas algo a ser dito para quem está nos primeiros passos da profissão é basicamente o que os profissionais mais experientes ainda se dizem: pratique e continue praticando!

32) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Orlando Freitas: O dito “dom” ou talento nato musical bem como os infinitos outros “dons” podem ser jogados fora se a pessoa não tiver muita atenção, dedicação e trabalho.  Como diz magistralmente o escritor catalão Carlos Luiz Zafon pela boca do escritor David Martín no livro o Jogo do Anjo: “O talento natural é como a força de um atleta. Alguém pode nascer com maior ou menor capacidade, mas ninguém chega a ser um atleta simplesmente porque nasceu alto, forte ou rápido. O que faz o atleta, ou o artista, é o trabalho, o domínio do ofício e a técnica. A inteligência inata é simplesmente munição. Para chegar a fazer alguma coisa com ela é necessário transformar sua mente numa arma de precisão.”

33) RM: Qual a definição de Improvisação para você?

Orlando Freitas: A improvisação se parece como um terreno amplo, fértil e extremamente fascinante. Pronto a ser experienciado e criativamente cultivado.

34) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Orlando Freitas: Creio que de certa maneira improvisação tem muito de conhecimento prévio que vai ser utilizado de forma criativa no momento mais conveniente. Existem músicos/instrumentistas que parecem uma máquina de tocar notas bem lubrificada, mas previsível. Já outros são mais imprevisíveis e espontâneos, mas ambos possuem algo em comum que é seu repertório ou o que costumo chamar de sua biblioteca musical interna. Essa biblioteca: conhecimentos subjetivos adquiridos através das mais variadas vivências e que são próprias e particulares, vai funcionar e ser acionada quando o memento surgir. Ao improvisar essa carga de conhecimentos pode emergir e ser livremente utilizada ao bel-prazer do improvisador. Essa mistura entre conhecimento adquirido mais sugestões do momento é o que pode resultar em um ato criativo e único. A isso pode-se chamar improvisação em que tudo se soma, ou seja, um resultado original e inesperado que “surge” de muito estudo teórico como também de muita música tocada e experimentada na prática com a velha e boa estratégia da tentativa e erro.

35) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Orlando Freitas: Por mais que às vezes seja um assunto um pouco tortuoso para nós baixistas é indiscutível, que a depender do método, claro está, que não existam fatores negativos em estudar harmonia musical. É muito legal conhecer nem que seja de forma básica um pouco de harmonia. Com essa compreensão podemos nos expressar com mais liberdade e desenvoltura e contribuir com mais assertividade para arranjos e ideias musicais. Enfim, são conhecimentos fundamentais para quem quer ser um baixista e/ou músico mais expansivo, seguro porque não mais criativo.

36) RM: Você indica algum método para estudo de Harmonia musical?

Orlando Freitas: Sim, utilizo e indico o Harmonia Tonal – Com uma Introdução à Música do Século XX de Stephan Kostka & Dorothy Payne.

37) RM: Desde 2017 você está cursando o bacharelado em Produção Musical. Como ele está contribuindo para melhorar o resultado final de seus trabalhos e qual a importância de ser o seu próprio produtor?

Orlando Freitas: O fato de estar fazendo um curso superior em Produção Musical (Universidade Federal de Campina Grande – PB) tem me ajudado de forma significante em melhorar os resultados das minhas produções. Por mais experiencias que tenha tido em estúdios de gravação tenho utilizado os vários conhecimentos técnicos que não tinha acesso antes de entrar no curso. Por exemplo, é fantástico como o simples fato de entender como as frequências se comportam vai resultar no seu som final. É sensacional ver os resultados que a escolha de um simples plugin, ou o uso de microfones ideais para determinadas funções surtem efeitos numa dimensão não antes percebida. Está sendo uma realização quase que milagrosa e isso é muito em conta dos conhecimentos adquiridos e aplicados ao logo do curso. Perceber as diferenças que tenho experenciado desde o primeiro até o mais recente trabalho é bem gratificante.

Sempre nutri o desejo de produzir meus próprios trabalhos. Hoje como compositor me sinto muito mais à vontade e seguro para produzir, gravar, mixar e masterizar minhas ideias. Creio que é um momento de extrema liberdade onde tenho o total controle desde a concepção da identidade visual do projeto até a masterização culminando na sua divulgação e sua distribuição.

38) RM: Com a pandemia do Covid-19 a quarentena/confinamento resultou, graças à internet, em intercâmbios musicais inimagináveis em outros momentos. Você participou de alguma live ou sala de encontro entre músicos durante esse período?

Orlando Freitas: Sim. Foi uma experiência bem bacana e cheia de surpresas já que nunca tinha tocado e muito menos improvisado com outros músicos de forma remota. Participei em seis salas de improvisação on-line pela plataforma https://jitsi.org/ com a Comuna Colapsa que é um projeto paralelo da SPIO ORQUESTRA (Orquestra de Improvisadores de São Paulo) que constava de um jogo para improvisadores, uma comuna “open source” de interação com artistas da improvisação com sala de visualização pública. Outra experiência enriquecedora foi a participação também on-line junto a Juliana Beltran (Atriz Colombiana) e a Miriam Fernandez (Pianista Argentina) em um jogo de improvisação livre intitulado Provocaciones Creativas promovido pelo grupo argentino Experimental Teatro.

39) RM: Quais os prós e contras de tocar um upright sem a caixa acústica?

Orlando Freitas: O Contrabaixo upright é uma solução muito bacana para que o baixista possa ter acesso ao timbre do baixo acústico. Por possuir um espelho (escala) e cordas com a mesma medida e calibragem do baixo acústico esse instrumento que a pesar de ser é elétrico possibilita uma pegada e uma performance bem próxima ao seu “irmão” acústico. Sem contar que seu custo de manutenção, peso, volume e facilidade de transporte são atrativos bem relevantes na hora de pegar a estrada. Por ter captadores seu timbre difere um pouco, mas apesar disso ele tem sua própria personalidade e aplicabilidade quase sem limites.

40) RM: Você também toca Contrabaixo Acústico usando o arco?

Orlando Freitas: Além de tocar com arco no baixo acústico também o utilizo no upright. Esse instrumento aceita muito bem e sem problemas o uso do arco.  É um recurso a mais que traz beleza aumentando o leque de técnicas e explorações sonoras.

41) RM: Quais as principais diferenças e dificuldade da técnica do Pizzicato e do uso do arco para tocar o Baixo Upright/Acústico?

Orlando Freitas: Tenho que o espaçamento entre as cordas, tenção e sua calibragem(espessura) são a princípio os elementos que mais custam ao baixista uma adaptação. No baixo acústico tocar pizzicato e arco requer atenção e estudo já que são técnicas bem diferentes entre si e podem ser conflitantes em algum momento. A princípio o arco (basicamente tem dois modelos e/ou escolas a Francesa e a Alemã) pode ser considerado como de difícil controle, mas com estudo e dedicação chega-se a um momento que a troca entre as duas técnicas fica quase automática.

42) RM: Quais os prós e contras de tocar com Baixo acústico na música Popular?

Orlando Freitas: Creio que o baixo acústico na música popular é super bem vindo e traz uma beleza e sofisticação bem interessantes. Muitos artistas e grupos de música popular tem em suas formações baixistas que trazem esse elemento como algo a mais contribuindo assim pra uma atmosfera de novos timbres e sonoridades diversificadas. Creio que uns dos principais pontos negativos é que o baixo acústico, dado ao seu volume e características do timbre que requerem muitas vezes técnicas de captação apropriadas, requer uma logística maior e que talvez isso seja um pouco impeditivo para alguns músicos e/ou grupos populares.

43)RM: Orlando Freitas, Quais os trabalhos mais recentes e quais os seus projetos futuros?

Orlando Freitas: Em março deste ano logo no início da pandemia/quarentena lancei pelo selo Pan Y Rosas Discos e pelas plataformas de música o meu quinto álbum – “HOME”. É uma leitura dos dias de confinamento em família. Uma bricolagem sonora experimental sobre um recorte do cotidiano sonoro (paisagem sonora) em minha casa com meus familiares e tendo o contra baixo como elemento improvisador que costura e traz unidade ao trabalho. Já para 2021 estou trabalhando em um novo álbum que terá algumas participações das parcerias feitas durante a pandemia.

44) RM: Você está presente em alguma plataforma de streaming? Suas redes sociais, contatos e como os fãs podem ter acesso aos seus trabalhos?

Orlando Freitas: Sim. Orlando & Makina Guru é o nome de um dos meus projetos solos e que podem ser encontrados nessas plataformas. Além de ter meus trabalhos lançados por uma netlabel norte americana especializada em música experimental (Pan y Rosas Discos) também estou nas principais plataformas de streaming como o Bandcamp, Soundclound, Spotfy, Apple Music, Tidal, Deezer, Itunes dentre outas.

Por fim, para ter contato direto: [email protected] / https://www.facebook.com/contatorlandofreitas / www.instagram.com/orlandoinsta1

Orlando & Makina Guru (2016): https://orlandomakinaguru.bandcamp.com/album/makina-guru-2

Orlando & Makina Guru – “Small Studies on String Theory” (2017): https://orlandomakinaguru.bandcamp.com/album/small-studies-on-string-theory

Orlando – “Two-frames-of-time” (2018/2019): https://orlandomakinaguru.bandcamp.com/album/two-frames-of-time

Home (2020/2021): https://orlandomakinaguru.bandcamp.com/album/home

Canal: https://www.youtube.com/channel/UCI7Fu2QfAkQb66fL-4-8MdA

Playlist – ORLANDO & MAKINA GURU:  https://www.youtube.com/watch?v=ZuFFBFD4yNw&list=PLm8QqPTU–Z15T2pdtHpYoqfyoBMzOSbx

Playlist – I Am in Place of This Man: https://www.youtube.com/watch?v=5ObSWEla0PI&list=OLAK5uy_kTxDSAgBh6nYx9w0oXBZsqOEM2IwjGYtM

Playlist – Small Studies on String Theory: https://www.youtube.com/watch?v=NtftHYanNDY&list=OLAK5uy_kZa4UqUvcjRpiyhXRw2ZEBlzrN_IZWnNw 

 

 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.