More José Leal »"/>More José Leal »" /> José Leal - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

José Leal

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O jornalista, escritor, poeta, compositor e produtor musical carioca José Leal, suas produções Musicais na Alemanha são: CD duplo “Viva Brasil” com a participação de vários artistas (Sony Music/1991 – Alemanha).

Foi Diretor de Produção e Artístico do Label “Tupirama Music”, gravadora GNSER & HANKE/Alemanha que lançou os CDs: “Planeta Amapari”, intérprete Grupo Senzala; CD – “Cristalino” intérprete Antonio Adolfo; CD – “Festejo”, intérprete Grupo Negro de Nós; CD – “Tudo Índio” intérprete Nilson Chaves; CD – “Dancing in Rio” com a participação de vários Artistas; CD Duplo – “Brasil 500 Anos de Groove” com a participação de vários Artistas (Ganser & Hanke/Tupirama Music-1999/2001 – Hamburgo – Alemanha);  CD – “Beats of Brazil”, com a participação de vários Artistas (BMG Brasil/RCA – Distribuição União Europeia/2001); Box 4 CDs – “Carnival in Rio”,  com a participação de vários Artistas (Edel Classics – Hamburgo – Alemanha/2005).

As suas composições gravadas na Alemanha: CD – “The International Commission”, intérprete Mike Hertimg – música “Metamorfose” – VeraBra Records – Colônia – Alemanha/1992. Filme Documentário “Yanomami Brasil” Rede de Televisão ZDF da Alemanha/1986. CD “Carnival in Rio”, intérprete Ana Pompéia – música “Yanomami Brasil” – Edel Classics/2005. CD “Carnival in Rio”, intérprete Leila Pantel – música “Swingol”, parceria com Leila Pantel – Edel Classics/2005. CD “Nadador” intérprete Dudu Tucci – música “Gol Glorifica”, parceria com Dudu Tucci – Weltwunder Music/2006.  

As suas composições gravadas no Brasil: LP e CD “Meu Samba Encabulado” intérprete Nara Leão – Polygram-Philips/1983, Brasileirinho melodia de João Pernambuco e letra José Leal. CD “Asas da Liberdade”, intérprete Gil de Carvalho, músicas: “Asas da Liberdade”, “Poesia Peregrina”, “Do Fruto à Raiz”, ”Sorrindo no Choro”, “Gosto de Quero Mais”, “Pés no Chão”, “Grãos de Uma Nova Estação”, “Lavas da Palavra”, “Canto da Floresta” músicas em parceria e interpretadas por Gil de Carvalho – José Leal Produções Musicais, Rio de Janeiro/2017.

Seus livros publicados no Brasil: “João Pernambuco – Arte de Um Povo” (Funarte – 1982). Prêmio Nacional de Monografia “Projeto Lúcio Rangel”. “Vozes que Vibram a Vida” (Romance – Editora Multifoco/RJ – 2013). “Livres e Ávidos Sentidos” (Poemas – Editora Pachamama/RJ – 2016). Obra em finalização: “Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco” – 2021. Livros publicados na Alemanha: “Diese Würze de Lebens” (Poesia – Editora VKF -1987). “Kanniballade – Anthropophagische Erzählungen” (Contos), IKV- Internationales Kulturwerk e V/ Hildesheim – Alemanha – 1995. “Gala Diner der Zukunft” (Peça Teatral) encenada no Internationales Sommertheater Festival – Hamburgo – IKV- Internationales Kulturwerk e V. – Hildesheim – Alemanha – 1995. “Stille Reise – über die Erde von Abaporu” (Romance) BKV- Brasilienkunde Verlag – Institut für Brasilienkunde – Mettingen – Alemanha – 1999. Biografado na obra “Interkulturelle Literatur in Deutschland” Verlag J.B. Metzler – Stuttgart – Waimar – Alemanha – 2000.

Autor de diversos contos, artigos e poemas em jornais e revistas alemães (1984/2021). Assessor Especial de diversos programas de Rádio Difusão para as Emissoras NDR e Rádio Bremen, na Alemanha, sobre literatura e música brasileiras. Livros Obras publicados em Portugal: Participante da VI Antologia da Poesia Contemporânea (Editora Livros Universo Lisboa -1989). Antologia Poética “Nós Poetas” V e VI (Editora NPE – Almada 2014).

Seus projetos especiais: Tradutor Português / Alemão dos textos poéticos do CD “Circuladô” de Caetano Veloso (Polygram – Alemanha – 1991. Tradutor Português/Alemão dos textos poéticos do CD “Livro” de Caetano Veloso” (Polygram – Alemanha – 1997. Fundador e Diretor da Agência Cultural José Leal em Hamburgo/Alemanha – 2002. Registro IGN: 00281706 – Ministério da Economia e Camara de Coméricio – Hamburgo- Alemanha. Fundador e Secretário Geral do Instituto de Arte Popular João Pernambuco – Recife – 2021.

Segue abaixo entrevista exclusiva com José leal para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 08.12.2021:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?

José Leal: Eu pulei para dentro da vida no dia 28 de junho de 1946 no Rio de Janeiro. Registrado como José de Souza Leal.

02) RM: Quais as suas preferências musicais? Quais deixaram de ter importância?

José Leal: Admiro muito a música popular brasileira, mas como eu sinto que música é como passarinho, que nasceu para voar e não para ficar preso em gaiola, nem para ficar isolada por cercas e muros, desde que me sensibilize e tenha substância, eu gosto de música criada em qualquer país. Para mim a arte musical é itinerante, seja ela instrumental ou funcional (com letra). O grande exemplo é o Choro instrumental “Sons de Carrilhões” de João Pernambuco, que ouço desde menino, que é uma composição inspirada nos ruídos dos carrilhões de carro de boi. Esta música foi gravada e continua sendo gravada por um incontável número de intérpretes em 15 países de 5 continentes. Isso comprova que, quando a arte musical provoca emoção, tem substância melódica, rítmica e harmônica, ela é atemporal e pode correr o mundo. Isso certifica que, se eu ficar no quintal cercado de um só gênero ou forma de expressão, eu elimino o caráter de diversidade e itinerante da arte musical popular. Essa mentalidade de manter-se preso à monocultura da música como se fosse produto agrícola como o café, ou cana-de-açúcar é retrógada. Aliás o café também é solúvel, mas sua monocultura cria problemas insolúveis. Assim como da cana se faz açúcar, mas sua monocultura também faz um mal muito amargo ao solo. Respondendo à sua segunda pergunta, tenho a dizer que algumas músicas deixaram de ter importância, a partir do momento em que fui apurando meus ouvidos musicalmente e também me inteirando e assimilando cada vez mais os sentidos das letras. Deixei de ouvir músicas com letras imperativas, ufanistas, as que enaltecem machismo, xenofobia, discriminação e tudo que o ser humano não precisa. Além disso, há uma grande quantidade de músicas que são produzidas como uma pasta melódica, rítmica, harmônica impossível de se ouvir. Por isso deixaram de ter importância e não fazem parte do meu cardápio. Digo cardápio porque música é arte que nutre os sentimentos.

03) RM: Qual a sua formação acadêmica?

José Leal: Estudei história e jornalismo. Profissionalmente sou jornalista, escritor, letrista e produtor musical. Mas minha formação acadêmica mais importante foi peregrinar por diversos ruas e vielas destes Brasis, conhecendo a história, a cultura e a arte do povo brasileiro. Aí pude aprender com a simplicidade do modo de viver, a aprofundar minha consciência social, apurar a visão para ver as valiosas sutilezas não muito aparentes e as coisas onde escondem as mutretas. Tudo isso contribuiu muito para desenvolver e fortalecer minha criatividade, além de dar muito mais substância para tudo que faço.

04) RM: Como e quando você começou a sua atividade de letrista em parceria com compositores? Quais são os seus parceiros musicais?

José Leal: Compor letras para música nasceu quando comecei a sentir e ver os desenhos, as imagens melódicas, as figuras rítmicas que se moviam através de caminhos harmônicos com criativas imagens e paisagens. Estas foram as minhas primeiras fontes inspiradoras. Eu sempre gostei muito de música e poesia, fazia meus versos como diversão, pois no idioma brasileiro as palavras têm muito essa ginga prazerosa de te convidar para brincar, dançar e também refletir. Assim comecei a fazer letra no ginasial com um amigo de escola Osmir Generoso, que tocava violão e fazíamos parceria musical caseira apresentando só para os amigos. Depois compus músicas e letras sozinho. Meus parceiros são Osmir Generoso, Paulo Siqueira, Wado Barcelos, Leila Pantel, Dudu Tucci, Mike Herting, Gil de Carvalho, recentemente o violonista e arranjador Rodrigo Procknov do Coletivo Contratempo e com grandiosa honra João Pernambuco.

05) RM: Você escolhe sistematicamente quem será o seu parceiro musical ou deixa acontecer espontaneamente?

José Leal: O processo é livre e espontâneo, baseado na sintonia e intuição, pois criatividade não dá para programar. Se programar, planejar e teorizar muito, eu perco a criatividade, além de me provocar alergia.

06) RM: No processo da parceria na criação da canção, você envia a letra/poema para o compositor para ele colocar a melodia? Você coloca letra em melodia que o compositor envia para você?

José Leal: Há casos em que um amigo gosta de um poema meu e compõe melodia, em outros casos, eu ouço a melodia e se despertar bons sentimentos, componho a letra. Com já falei quando a música revela um conjunto de imagens e caminhos me inspiram, como foi o caso de “Sons de Carrilhões”, “Pinheirada”, “Graúna”, “Sonho de Magia” que são algumas das relíquias da arte musical de João Pernambuco, para as quais tive a imensa honra de compor letras recentemente.

07) RM: Você permite o compositor de alterar a sua letra?

José Leal: Eu costumo fazer a seguinte relação. Gosto de esporte e de fazer exercícios físicos. Mas no cotidiano da minha vida eu gosto muito de fazer exercício democrático, pois é bom não só para mim como para as outras pessoas. No campo musical, também pratico sempre este exercício que é uma troca de conhecimentos e não é diferente em caso de parceria musical. Às vezes o compositor sugere um ajuste de uma palavra no verso, bem como há casos que sugiro a mudança de alguma nuance na melodia. Mas na maioria das vezes letra e melodia se entrelaçam sem nenhuma alteração.

08) RM: Cite as principais canções que você é o autor da letra e quem já gravou?

José Leal: No Brasil tem “Brasileirinho” de João Pernambuco, gravado por Nara Leão, Polygram do Brasil; “Lavas da Palavra”, “Pés no Chão”, “Do Fruto à Raiz”, “Asas da Liberdade”, “Canto da Folesta”, “Sorrindo no Choro”, “Gosto de Quero Mais”, “Poesia Peregrina”, “Grãos de Uma Nova Estação”, todas em parceria e gravadas por de Gil de Carvalho. Na Alemanha tem “Yanomami Brasil”, música e letra minhas gravada por Ana Pompéia para um documentário da TV ZDF na Alemanha, “Metamorfose” gravada por Vered Harari, Gol Glorifia, em parceria e gravada por Dudu Tucci, “Ginga”, em parceria e gravada por Paulo Siqueira“Sabor de Vida” e “Magia do Tambor”, em parceria e gravada por Wado Barcelo, “Swingol”, em parceria e gravada por Leita Pantel.

09) RM: Alguns compositores já declaram o fim da canção. Qual a sua opinião sobre essa afirmação?

José Leal: Não compartilho desta afirmação. O que ocorre é que as gravadoras empilharam produtos em determinadas prateleiras do mercado musical que precisam ser consumidos rápido e massivamente. Neste tempo de correria das máquinas aceleraram o ritmo de vida, impuseram também a aceleração e padronização nos andamentos das composições. Imperativamente, hoje para a maioria das gravadoras tem que ser tudo rápido e nada dolente, com dinâmica como a canção é, mas que também não precisa ser melodramática. Com isso as criações de canções são produzidas esporadicamente pelas turbinas controladoras do mercado. Ocorre que a música estimula e supre nossa necessidade de comunicação social e de viver emoções de ternura e isso é perene como a canção. Ela não morre e nem vai morrer. É patente que existem pessoas que se brutalizaram devido à violência que infectou a sociedade com vírus do ódio, mas se você perguntar – Quem gosta de afeto e afago? A maioria vai responder que gosta. É como dizia Leila Diniz: – cafuné eu quero até de macaco -.

10) RM: Hoje ainda existe espaço e ouvinte para música com letra que se sustenta como um poema/poesia?

José Leal: Com certeza que sustenta. O que acontece é que nós aprendemos a separar as coisas que são inseparáveis. Veja o absurdo “civilizatório” que cometem separando até o ser humano da natureza. Nenhum indígena se expressa – nós e a natureza -, porque são conscientes de que são componentes integrantes da natureza. Acontece que tem muita gente superinteligente, que sabe tudo e acha que só se aprende e adquire conhecimento nos círculos acadêmicos. São os letrados analfabetos que fazem toda força para separar e nada para unir.

Neste sentido, música e poesia são como a fauna e aflora, que se interagem, se completam e juntas se revitalizam e se recriam. Nas letras de música existe um caráter simples, especial que eu chamaria de mais igualitário. Por serem cantadas, as letras têm mais potencial de se sustentarem do que a poesia, porque fundidas com músicas elas possuem uma energia reprodutora de maior alcance e de grande efeito multiplicador, pois permite que pessoas que não sabem ler e escrever cantem. Esta é uma base de sustentação enorme.

11) RM: Na Rádio e na TV o autor da música quase não é informado. Quem canta passa a ser “o autor” da canção. Esse fato te incomoda?

José Leal: Profundamente. Por tratar-se de uma questão de reconhecimento e sobretudo de ética. Individualizar é preceito básico da estrutura do sistema e da superestrutura da qual as Rádios e Tvs também fazem parte. A individualização está permanentemente imposta na pauta dessas empresas. Aí o que ocorre? O musico compõe a melodia, você cria uma letra, outro musico faz o arranjo, reúne-se os músicos acompanhantes e o (a) intérprete. Tudo isso é fruto de trabalho coletivo, mas quem determina o que será apresentado e o que será informado são os donos das Rádios com a Tvs. Acontece que estas empresas que fazem parte da superestrutura do sistema, não estão interessadas em estimular a energia produtiva da criação coletiva, muito pelo contrário, eles só anunciam o nome da música e do intérprete. Quando o intérprete é o compositor, aí não tem como esconder. Mas para as Rádios, Tvs e para o sistema o processo de criação coletiva não tem a menor importância. Acontece que nas artes e na vida as ações são coletivas e até para gerar uma nova vida é preciso que haja uma ação coletiva, que saia do “um”. Mas priorizam o individual e abafam o coletivo, porque o coletivo pode ser politicamente perigoso. Existe um outro fato a este respeito que é bom registrar. Durante muitos anos foram criados inúmeros grupos instrumentais e também vocais entre eles Os Cariocas, MPB 4, Viva Voz, Céu da Boca, Momento Quatro, Quinteto Violado, O Pessoal do Ceará, Banda de Pau e Corda, Roupa Nova e etc. Muitos destes grupos foram desfeitos devido ao grande apelo que o sistema faz pela carreira solo, pelo protagonismo. Hoje em dia o número de grupo musicais você pode contar nos dedos de uma só mão. A propósito, existe um ditado que diz: – Vão-se os anéis ficam-se os dedos – Acontece que as Rádios e TVs estão interessados única e exclusivamente no anel e não nos dedos.

12) RM: Você tem músicas que tocaram e tocam em Rádio, TV e em casa de show? O direito autoral é pago corretamente?

José Leal: As músicas gravadas e tocadas na Alemanha, os direitos autorais funcionam muito bem, mas no Brasil é preciso ficar sempre em alerta e lutar por seus direitos, porque a luta é contínua, é cotidiana.

13) RM: É possível sobreviver exclusivamente de direito autoral de suas músicas?

José Leal: Isso é para poucos. Pois o sistema afunila e estimula uma imensa concorrência. Mas música não é concorrência e sim confluência. O que me gratifica é o trabalho coletivo e poder manter a criatividade na minha vida para poder contribuir um pouco com a difusão da arte musical popular. Não tenho anseios de viver de arrecadação de direitos autorais, simplesmente sobrevivo de outras atividades correlatas e sigo trabalhando com o que mais gosto.

14) RM: Depois que você teve letras de canções que se tornaram conhecidas, aumentou a procura de compositores em busca de parceria?

José Leal: Bom, até agora não tenho letras que ficaram conhecidas. Por isso não aumentou o número de procura. Tudo caminha modestamente, sem ansiedade, sem pressa e bem sincopado.

15) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na função de letrista?

José Leal: Mais feliz é quando crio uma letra que se harmoniza e expressa perfeitamente os desenhos descritos pelas melodias e as figuras rítmicas. Triste é quando busco uma palavra que expresse melhor o sentimento e não encontro, as vezes é difícil, porque eu extraí diversas palavras com conotações perniciosas do meu vocabulário. Sigo procurando e quando sinto que vou ficar triste, canto uma estrofe do poema “Pés no Chão” que eu fiz e o parceiro Gil de Carvalho compôs a melodia: “…Basta ternura e coragem / Com fibra e muita vontade / Com os braços alados da amizade / Comovida e abraçado com a igualdade / Pra tristeza se alegrar e sorrir de verdade”.

16) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira profissional?

José Leal: Eu sigo um caminho mais espontâneo e intuitivo e não estabeleço muitas estratégias e táticas, porque senão vira quartel. Eu planejo dosadamente e isso faz parte para seguir com dedicação, criatividade, perseverança e tranquilidade, tentando dar minha contribuição para a produção e difusão da arte musical popular brasileira.

 

17) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

José Leal: Como meu principal instrumento de trabalho é a palavra, apuro minha visão política, minha concepção de vida, aprimoro minha criatividade e perseverança. Além disso dedico muito sentimento, boa energia e bom humor.

18) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

José Leal: Sem ficar internado na Internet eu sinto que ela ajuda um pouco com algumas fontes de pesquisa e facilita a comunicação social. O que prejudica é achar que tudo precisa ser resolvido através da Internet, mas este é problema de cada um e não da Internet. Para mim não prejudica, pois quando busco informações específicas e não encontro na Internet, não me aperreio, pois aprendi ir a campo. O importante é não parar, superar os estorvos e meter o pé na estrada.

19) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quais foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

José Leal: Neste período, estamos vivendo tudo que o ser humano não precisa, pois está uma verdadeira catástrofe provocada por um desgoverno que está destruindo e fazendo o país regredir em todos as áreas; social, econômica, ambiental e humana. Este poder devastador vem tentando aniquilar as fontes de atividades e os centros de criação da arte e da cultura popular brasileira. Mas minha esperança caminha de pés no chão, sabendo que mais do que nunca é preciso revigorar as energias, manter-se fundamentado na combativa história do povo brasileiro. Nas resistentes e fecundas raízes da cultura popular, que produziram e continuam produzindo nutritivos frutos. No entanto, eu considero que a indústria que controla o cenário musical brasileiro vem produzido e difundido muita baboseira. Nós temos a antropofagia cultural, mas estão produzindo antropomerdia.  Ainda bem que nas últimas décadas tivemos substanciais revelações como Chico Science, Zeca Baleiro, Lenine, Ana Carolina, Chico César, Maria Gadú, Gean Ramos Pankararu, Maria Rita, Coletivo Contratempo, Teresa Cristina, João Cavalcanti, a cantora, acordeonista Lucy Alves, o violonista Caio Cezar Sitonio e alguns outros. Quanto a quem regrediu é bom nem comentar, pois já ficou para trás mesmo.

20) RM: Você acredita que as suas músicas tocarão nas rádios sem pagar o jabá?

José Leal: Raramente tocam e se não tocarem, não vou pagar nenhum jabá. Que treco é esse? Eu crio e ainda tenho que pagar para tocar esperando obter sucesso? Nada disso! É preciso ter respeito para com a música, musicistas e com os poetas populares.

21) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

José Leal: Bem, não existe receita, mas talvez seja bom se dedicar com determinação, estimulando a criatividade e sempre lembrando que, para a maioria não existe caminho pronto, pois que ele é construído a cada passo de nossa caminhada.

22) RM: Quais os prós e contras de Festival de Música?

José Leal: Enquanto movimento musical, foi uma iniciativa importante para estimular e ampliar os espaços para inúmeras (os) intérpretes, músicos e compositores. O fator contrário advém das expectativas de cada artista, pois quem entra em Festival já sabe que se trata de uma competição e se entra com espírito e objetivo único de vencer a corrida vai se decepcionar. Mas quando se tem consciência de que fazer música é um ato criativo de agregar, de expressão de sentimentos e não de competição, o melhor é meter o pé na estrada, arriscar, ocupar os espaços e tocar em frente.

23) RM: Hoje os Festivais de Música revelam talentos?

José Leal: Existe um aspecto que seria bom ressaltar. Existiam Festivais de Música que haviam encampado os movimentos musicais espontâneo e alternativos que revelaram inúmeros talentos. Os Festivais de Música revelavam um potencial de gerar muito lucro para os promotores e gravadoras.   Devido ao fetichismo do disco, planejadamente as gravadoras passaram rapidamente a controlar e se apoderaram dos Festivais. Com isso desmobilizaram este movimento coletivo de criação musical deixando de revelar talentos. Mas como dizia Geraldo Vandré – a vida não se resume em festivais – então parceiro não deixa a vida te levar. Reverte como diz uma estrofe do poema “Lavas da Palavra” que fiz e o parceiro Gil de Carvalho compôs a melodia: “Vou tocando com zelo e carinho / As cordas do meu cavaquinho / Assim lá vou eu /  Tecendo com as linhas das mãos / Novos fios do caminho que se perdeu /  Pois a vida não me leva / Quem leva minha vida sou eu” .                 

24) RM: Como você analisa a cobertura feita pela mídia da cena musical brasileira?

José Leal: Agora, talvez seja bom ouvirmos os alto falantes precursores da indústria de telecomunicações e fonográfica no Brasil. No início do século XX foi implantada a indústria fonográfica no Brasil pelos americanos que tinham explorado o caminho da mina no EUA. Eles tinham transformado a arte musical em produto comercial pelas máquinas devoradoras do processo de industrialização fonográfica que geravam enormes benefícios financeiros, para eles, claro. Tanto que nos Estados Unidos em 1919, esses benefícios totalizaram uma arrecadação de 159 milhões de dólares. Já com a indústria fonográfica instalada no Brasil, realizaram uma dobradinha com as empresas radiofônicas. No decorrer dos anos 30, após ser sancionada a lei que regulamentou a radiodifusão no Brasil, passando a permitir a veiculação de propaganda nas rádios, provocou primeiramente um aumento do número de estações de 7 para 16 em 1930 e em 1937 existiam 43 estações. Esta retrospectiva nos ajuda a refletir sobre as origens básicas do sistema corporativo que a mídia edificou e aperfeiçoou para direcionar o mercado cujo o interesse é meramente financeiro que suga o bem cultural. O aspecto mais pernicioso é o de formatar, controlar e direcionar o pensar sem crítica, o expressar da criação da arte musical, estimulando ferrenha competição para quem busca um espaço. Trata-se de uma mídia excludente que só abre espaço para o (a)s grandes estrelas que rendem altas vantagens financeiras para as empresas. Resultado é que está tudo extremamente comercializado onde o bem cultural virou produto de consumo descartável porque a ganância é devoradoramente acelerada e tudo tem que seguir o roteiro pré-estabelecido por eles.

25) RM: Bob Dylan ganhou o prêmio Nobel de Literatura em outubro de 2016. Será que este fato anima outros letristas a “sonharem” com prêmios na área de Literatura ou é um fato isolado?

José Leal: Bem cada um tem seus próprios sonhos. Para mim o grande sonho é o reconhecimento do público. Ouvir o povo cantando uma música para a qual você fez letra é uma imensa realização. Parabéns ao Bob Dylan, mas este desejo de prêmio literário está mais para ilusão do que sonho, pois é um fato isoladíssimo. Mas também é uma questão de opinião e quem quiser, pode ficar com sua ilusão, porque eu sigo abraçando as desilusões que estimulam minhas inspirações.

26) RM: Os músicos americanos são conhecidos como grandes cantores, melodistas e arranjadores. Qual a sua opinião sobre a qualidade deles como letrista?

José Leal: No repertório da música americana possuem grandes letristas.

27) RM: Nos apresente os livros lançados. 

José Leal: Em 1982 a biografia de João Pernambuco – Arte de Um Povo, editado pela FUNARTE. Em 1986, livro de poema Sabor de Vida, editado em alemão pela editora FKV, Canibalada – Contos Antropofágicos – lançado em alemão pela editora Internationales Kulturwerk e V. em 1994, Banquete do Futuro (peça teatral) lançada em alemão pela editora IKW em 1995, encenada no Internationales Sommertheter Festival – Hamburg em 1995, Serena Viagem Pelas Terras de Abaporu (romance) lançado em alemão pela editora BKV – Brasilienkunde Verlag em 1999, Vozes que Vibram a Vida (romance) editado no Brasil em 2013 pela editora Multifoco, Livres e Ávidos Sentidos – A Energia Revolucionária da Poesia – (poemas) editado no Brasil em 2016 pela editora Pachamama. Junto a estas publicações, incluo a edição dos encartes com minhas traduções para o alemão das letras de música do CD “Circuladô de Fulô” de Caetano Veloso lançado na Alemanha/Polygram em 1991 e CD Livro do mesmo artista lançado na Alemanha/Polygram em 1997.  Obra em finalização: “Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco” – 2021.

28) RM: Qual a sua opinião sobre a função positiva do crítico musical?

José Leal: Acho importante a função de analista musical, principalmente quando a análise é bem fundamentada, criativa e com abordagem crítica.

29) RM: Qual sua opinião sobre os livros ou sobre a análise do Luiz Tatit sobre a função da letra na música?

José Leal: Considero muito elucidativo e original como ele identifica a palavra dando origem à canção. É claro que a palavra tem sua sonoridade, sua métrica e espontaneamente sinto isso em meus poemas. É sentimento, nada cerebral. Eu parto do princípio que não existe uma forma única de compor, muito pelo contrário, a composição tem métodos e muitos caminhos diversificados. E isso não é somente para compor música e letra, mas também para se chegar ao conhecimento em nossas vidas.

30) RM: Nietzsche comenta que a melodia (música) sem letra perturba a alma. O que você acha dessa afirmação? 

José Leal: É uma pena que não seja mais possível estabelecer uma interlocução direta com Nietzsche, mas podemos abrir um diálogo sobre seus pensamentos. Sinto que a música sem letra não perturba, pois ela em si possui uma grafia de notas que soam e descrevem desenhos melódicos, figuras rítmicas que se movem por caminhos harmônicos com belas imagens. Neste sentido, para mim existem músicas instrumentais que são poemas escritos em notas musicais. Além disso a música tem uma força sensorial grande. Ela move e estimula alguns de nossos sentidos, como ouvir e ver. Digo ver, porque existem músicas instrumentais que criam paisagens claras de serem vistas. O que eu considero é que quando a letra é adicionada à música, a fala destrava o canto, amplia e revigora a dimensão dos sentidos.

31) RM: No tempo da Ditadura Militar no Brasil as letras que tinham engajamento político fizeram sucesso. Qual a importância de letras que não tratem só do tema Amor? 

José Leal: Sabemos que a vida é composta de diversos elementos que se entrelaçam e dentre eles, é claro que a expressão de sentimentos emocionais é vital. Quando você vive em períodos em uma sociedade que prega o ódio, violência, exclusão e individualismo, versar sobre amor, solidariedade, companheirismo é um ato político. Não podemos separar e deixar de ver que em alguns casos falar de amor vai contra o regime que impede e reprime não só que estes sentimentos sejam vividos, mas também contra a fome, a desigualdade, a falta de democracia e liberdade. Isso além de ser uma ação de engajamento político é ao mesmo tempo uma profunda declaração de amor a tudo que é humano. Eis aí como a temática se entrelaça em uma mesma letra. Mas o que acontece? Desponta logo a visão que separa os elementos essenciais da vida. Veja só! Tem um poema que fiz e foi musicado pelo parceiro Gil de Carvalho, cuja estrofe inicial versa: “Nós vamos à luta/Sempre que a justiça popular clamar/No alento dos bons ventos/Que movem as ondas do mar…

Na sequência, em outra estrofe versa: E assim/O nosso canto há de florir, ecoar/Fazer o tambor do peito vibrar/Romper o Rumpí, com o Rum do Ilê/Pro amor florir, reviver, crescer…” Aí vem alguém e diz para mim: – Esta letra tem uma pegada política forte, você precisa versar mais sobre amor. Eis um bom exemplo de como existe uma estrutura formatada e compartimentada pelo mercado para que você faça uma letra que expressa e versa somente sobre amor para facilitar a venda do produto rotulado para o consumidor. Quer dizer, você não pode versar simultaneamente contra a estrutura que impede e reprime que se viva o sentimento de amor. Sinceramente, isso nada mais é do que uma grande declaração de amor à vida.

32) RM: Qual a sua opinião sobre “as letras para acasalamento” que tocam no rádio (FUNK, Sertanejo, Pagode, Forró, etc)? 

José Leal: Esse tema haver com os mecanismos que distorcem e manipulam os pensamentos e sentimentos. De um modo em geral na educação familiar e na instrução escolar reprimem e fazem da sexualidade tabu. Os meios de comunicação, as propagandas da indústria e comércio usam a sexualidade como apelo de consumo impregnada de machismo. Em meio à repressão e distorção deste instinto, surge uma válvula para extravasar o sufoco revestido de liberação e acaba inventando a vertente da vulgarização. Ocorre, que posicionam a mulher como objeto responsável pela tentação, de sedutora sexual como se fosse a figura feminina do capeta como Eva, e o homem mantem a concepção de macho e se coloca como vítima inocente que não pode resistir a esta sedução como Adão. Aí desembestam com estas letras de músicas que corrompem este instinto natural das pessoas com este festival de agressão pornográfica que assola o país. O pior é que a oportunista indústria fonográfica percebe que estas músicas não combatem o sistema como sendo a raiz do problema e investem com pesos. Aí essas músicas passam a ter forte ressonância na mídia que coloca estas músicas violentando os ouvidos do consumidor.

33) RM: Renato Russo comentou que as letras que falam de amor sempre estarão na moda. Qual sua opinião a respeito dessa afirmação? 

José Leal: Versar sobre amor eu não sei se vai sempre estar na moda, porque moda é onda passageira. É bom frisar que o sentimento de amor de que normalmente se fala está focado apenas entre duas pessoas. Mas como ressaltei em uma resposta anterior, existem declarações e atos que expressam amor a diversos componentes da vida humana. Mas na maioria das vezes, só versam sobre amor para quem está vivendo este sentimento com outra pessoa que é extremante estimulante e atraente. Para quem não está vivendo este amor, é um clamor para vivenciar e suprir a necessidade deste essencial sentimento da vida. Tem também o problema de só falar do amor e não praticar, que gera desastrosa frustração e angústia. Ocorre que numa sociedade cujo o sistema estimula individualismo, desafeto, agressividade e não atos que compartilham respeito, ternura, companheirismo, gentileza e carinho, o amor vira fábula e só resta cantar para compensar o que não se vive e isso pode ser moda que não transforma nada.

34) RM: Você acha que as pessoas no geral estão mais para aceitar as letras que buscam o entretenimento ou a divagação lírica do que proporcionar reflexões humanas e sociais profundas?

José Leal: Olha só, cada letrista expressa o que ele vive e sente, escolhe suas temáticas e usa a linguagem que expressa seu grau de consciência. As letras das músicas têm diferentes formas de serem vivenciadas e absorvidas. Existem letras de música que querem expressar alegria, contentamento e entretenimento festivo, o problema é que existem pessoas que só querem letra e música para este fim e aí afunila. Tem também letras que, como você diz, proporcionam reflexões sociais e humanas. Mas existe possibilidade de compor letra e música que expressam alegria festiva e ao mesmo tempo estimulem reflexões humanas. Agora, tem outras que são verdadeiros delírios líricos e, diga-se de passagem, não é necessário teorizar, fazer elucubração intelectual, muito menos malabarismo poético, do contrário acaba perdendo a mágica energia social da troca de sentimentos e interação. O grande desafio é realizar a síntese, que é o caráter essencial da poesia, entrelaçando satisfação prazerosa do viver e reflexão humana. Neste último caso me recordo de Charlie Chaplin que conseguia realizar esta síntese com maestria, quando passou expressar em seu cinema falado, ressaltando temas sociais com muita simplicidade e consistência. Suas músicas com letras mostrando a potência da suavidade com profundas reflexões sociais e humanas. Aí está a grandeza da arte.

35) RM: Quais os prós e contras da sua atuação como biógrafo? 

José Leal: Eu não sei se sou biógrafo. Até hoje eu escrevi apenas a biografia sobre João Pernambuco, porque sua vida e obra têm uma substância social e humana muito forte. Ambas têm trajetória com uma intensa pulsação muito simples e visceralmente relacionada aos períodos históricos e com as mudanças políticas, sociais, culturais e econômicas de sua época em vida. É uma biografia que contém amplos componentes que permitiram enfocar o indivíduo João Pernambuco dentro do contexto social da criação coletiva da cultura popular. Razão pela qual resolvi me dedicar à pesquisa, pois ele é um dos expoentes da expressão vital da arte do povo. Assim sendo, não vivenciei nenhum aspecto desfavorável ao biografar vida/obra do Poeta do Violão. Pelo contrário, foi uma satisfação imensa, e grande fonte de aprendizado sobre a arte musical popular brasileira.

36) RM: Quais são os seus projetos futuros? 

José Leal: Sobre projetos futuros, eu e algumas pessoas fundamos o Instituto de Arte Popular João Pernambuco em Recife, do qual sou secretário Geral. Neste momento estou me dedicando com afinco e afeto nas ações de consolidação do Instituto de Arte Popular João Pernambuco. Paralelamente estou desenvolvendo os trabalhos de produção de dois projetos fonográficos com músicas do mestre João Pernambuco, um em São Paulo com o Coletivo Contratempo e outro em Recife que reúne vários artistas pernambucanos, para interpretarem as magistrais obras de João Pernambuco, entre as quais recentemente tive a imensa honra de compor letras para as músicas: “Sons de Carrilhões”, “Graúna”, “Pinheirada”, “Sonho de Magia”, incluindo Brasileirinho música também com letra minha gravada por Nara Leão em 1983/Polygram. Completando, estou finalizando um novo livro Raízes e Frutos da Arte de João Pernambuco e um livro infanto-juvenil ilustrado, em homenagem ao João Pernambuco com título O Menino João e Seu Amigo Violão.

37) RM: Quais são seus contatos com o público? 

José Leal: De um modo específico meus contatos se transcorrem quando realizo pesquisas de campo ou realizo projetos. Além disso compondo letras de música que me gratifica imensamente, porque assim posso ter a possibilidade de me conectar com uma parcela do povo brasileiro que não teve e nem tem condições de aprender a ler nem escrever. Esta é a grande dimensão que a letra de música alcança e o livro não alcança. Isso aumenta ainda mais o zelo, o esmero, minha responsabilidade e o carinho no ato de compor. E pelo email: [email protected]

Canal: https://www.youtube.com/channel/UCLc4JBf0Dw_VB0ZHrQqYFiw

ASAS DA LIBERDADE – Gil de Carvalho & José Leal: https://www.youtube.com/watch?v=wAV9U3aQFaQ

Pés no Chão – Gil de Carvalho/José Leal: https://www.youtube.com/watch?v=fMOh7yTXm-E

LAVAS DA PALAVRA – Gil de Carvalho José Leal: https://www.youtube.com/watch?v=3jp4nalMoDw

CANTO DA FLORESTA – Gil de Carvalho/José Leal: https://www.youtube.com/watch?v=oQADzd5SXJQ

“Brasileirinho” melodia de João Pernambuco e letra José Leal – Nara Leão: https://www.youtube.com/watch?v=8HuKwPhFU2Y

  • Mestre José Leal caiu de uma escada dentro de casa no dia 10/09/2023 vindo a óbito no Hospital Restauração do Recife-PE no dia 13/09/2023 as 13:00 aos 77 anos.

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.