More Jorge Ribbas »"/>More Jorge Ribbas »" /> Jorge Ribbas - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Jorge Ribbas

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O cantor, compositor e professor de música pernambucano Jorge Ribbas é considerado o mestre de todos os instrumentos. Atua como violonista, contrabaixista, guitarrista e cantor.

Seja, em uma aula de música ou os palcos, o músico tem nome consolidado no meio musical. Bacharel em Violão pela Universidade Federal da Paraíba – UFPB, e professor de composição, Violão e guitarra na Universidade Federal de Campina Grande-UFCG.

Como Produtor musical, já produziu, dirigiu e arranjou diversos CDs de artistas de Campina Grande. O artista também possui um disco gravado com o grupo Albatroz e alguns CDs gravados com participações de artistas campinenses. Gravou e produziu vários trabalhos da cantora e compositora Socorro Lira, cuja carreira artística acompanha desde o início. Ele criou e participou em grupos de jazz, música regional, ética, popular e rock e realizou concertos de violão em importantes eventos. Sua produção inclui peças para grupos de câmera, solistas e orquestra.

Segue em abaixo entrevista exclusiva com Jorge Ribbas para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa  em 01.08.2016:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Jorge Ribbas: Nasci na Casa de Saúde Santa Terezinha em uma sexta-feira de 06 de março de 1964 às 9:55 em Garanhuns – Pernambuco. Os anos 60 da gestação da MPB, do auge do Baião que vai ceder espaço pata jovem guarda – iê, iê, iê, no caldeirão da revolução. Fui batizado como Jorge José Ferreira de Lima Alves e meu nome artístico é Jorge Ribbas.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Jorge Ribbas: A minha primeira memória musical consciente veio através de minha mãe cantando GITÁ de Raul Seixas e Paulo Coelho, acho que a música tinha acabado de ser lançada, pois tocava muito no rádio. Depois as valsas brasileiras, rapaziada do Brás, Saudades de matão, músicas de Julio Iglesias e por aí vai.

Mais crescido passei a ouvir as músicas que meu pai ouvia no carro, muito samba e músicas desde Agnaldo Timóteo até Altemar Dutra. Em casa havia discos de Maria Betânia, Chico Buarque Gal Costa, João Nogueira, Chico da Silva, uma verdadeira salada estilística. Ouvia de tudo, mas a música que me emocionou mesmo foi Travessia de Milton Nascimento. Lembro que fiquei quase uma tarde inteira voltando a fita K7 para ouvir de novo.

Na escola acompanhei amigos que sonorizavam as festas de aniversário dos colegas e aí passei a conhecer Elba Ramalho, Zé Ramalho, Fagner e muito Rock: Pink Floyd, Rush, Rolling Stones, Beatles, Frank Zappa, Led Zeppelin, nessa linha. Daí para querer aprender Violão foi um pulo e alguns amigos foram imprescindíveis pois tocavam Toquinho e Vinícius, Roberto Carlos, Djavan, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Ivan Lins, Fagner. Ou seja, não podia haver ambiente mais propício para o envolvimento afetivo e social com a música.

03) RM: Qual a sua formação musical e fora da área musical?

Jorge Ribbas: Desde Criança fui incentivado pela família em todas as minhas invencionices. Assim, desenho, esportes, mais tarde química e finalmente música formavam meu universo de interesses. Quando estava em idade de fazer o vestibular, escolhi o curso de Química Industrial por gostar e também por não conhecer ninguém que vivesse de música ou de desenho. Após ingressar no curso de Química, no ano seguinte prestei vestibular para Desenho Industrial. Assim fiquei levando os dois cursos e, paralelamente, ainda encontrei tempo para estudar Violão e Teoria musical no DART (Departamento de artes da UFPB) e frequentar as oficinas de pintura no Museu de Artes Assis Chateaubriand. Inevitavelmente os amigos me apresentaram outros que tocavam e para formar uma banda foi bem rápido. Mesmo sem guitarra, nem contrabaixo e nem bateria.

Resultados: Como esportista não consegui destaque em nada que não fosse o banco. Concluí o curso de Química, mas a situação das indústrias na era Collor de Mello era de demissão e não de contratação. Embora espalhasse currículos e entrevistas, não vi perspectiva como químico. Cheguei a experimentar o fabrico de materiais de limpeza no quintal de casa, mas não consegui um produto bom e barato e após quase dois anos de tentativas desisti.

Faltando apenas um ano para concluir o curso de Desenho Industrial tive que trancar o semestre para concluir os estágios necessários para concluir o curso de Química Industrial e terminei não voltando. As atividades de pintor que desenvolvia no Museu de Artes foram engolidas pela única atividade que me dava resposta financeira e de ocupação do tempo, além de ser extremamente divertida, cansativa e estressante: a Música.

Nessa época já tinha uma resposta positiva em Campina Grande-PB com a banda Albatroz, grupo de Rock criado por mim e o guitarrista Moisés Freire. Passei então a lecionar Violão a convite da FACMA – Fundação Artístico Cultural Manuel Bandeira, fui gostando da atividade e assim, para viver em contato mais direto com a música, me tornei professor de Violão e fui estudar música mais a sério, pois já havia decidido viver de música e queria “recuperar” o tempo gasto na formação de Químico Industrial e aprender tudo sobre música.

Após sair da FACMA fui professor de outras escolas e resolvi ensinar em domicílio (de bicicleta). Assim fui vivendo até o momento de criar a minha própria escola de música: A Musidom. Prestei novo vestibular para o curso de bacharelado em Violão em João Pessoa na UFPB. Depois fiz mestrado em composição.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Jorge Ribbas: Do passado, tudo o que ouvi se tornou ponto de partida ou de referência para o que faço hoje. Nada perdeu a importância, pois, como produtor, tenho que ouvir criticamente tudo e daí sistematizar processos de trabalho. No presente, pouca coisa me emociona. Chico Science foi uma exceção, assim como o trabalho do Lenine que fornecem algo mais original.

Tenho ouvido muito, músicas do interior de São Paulo, do Norte, e tenho descoberto artistas de grande talento e envolvimento com a música, com belíssimas canções. Mas, de modo geral não existe uma diferença estética que possa ser mencionada. É como se estivessem todos andando em círculos. O que melhorou foi a performance ao vivo. Nesse aspecto a tecnologia contribuiu sensivelmente.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Jorge Ribbas: Profissionalmente, minha carreira começou quando resolvi formar o grupo “Albatroz” junto com meu parceiro musical Moisés Freire em 1984, quando comecei a receber meus primeiros cachês, e também quando aceitei ministrar aulas de Violão mais ou menos em 1985.

06) RM: Quantos CDs lançados (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que se destacaram?

Jorge Ribbas: Meu primeiro Disco foi um LP com o Albatroz em 1988, era um disco de rock pop filho do Rock’n’Rio e do grande boom do rock nacional. Quando começamos a aparecer o rock nacional começou a perder espaço para outros estilos. Esse foi um dos motivos que ocasionou a não projeção do disco e das músicas em outras cidades do Brasil. A mídia começou a diversificar as apostas na Lambada, no Sertanejo e no Axé. Apesar disso uma das músicas, “Me libera polícia” ficou entre as dez melhores em Campina Grande-PB e projetou a banda pela segunda metade da década de 80 até o início da década de 90. A banda era composta por Jorge Ribbas (baixo e vocal); Moisés Freire (Guitarra e voz); Paulo Pelee (teclados) e Marquinho Drums (Bateria).

O segundo foi um trabalho com a obra de Noel Rosa, em que produzi arranjos originais para algumas canções do Noel para apresentar no “Projeto Sete Notas” promovido pelo SESC em Campina Grande. A ideia era as pessoas levarem o show para casa. Jorge Ribbas (voz, violão e percussão); Edmilson Santos (Percussão); Breno (Flauta) e Breno Tavares (Violão de sete cordas).

O terceiro foi um disco cover com a banda Across the Beatles. Fomos a um estúdio e gravamos um ensaio com algumas músicas dos Beatles. Daí, decidimos lançar com a finalidade de divulgar a banda.

O quarto lançamento foi, também, com a banda Across the Beatles. Dado o bom resultado do primeiro, decidi produzir um com a mesma técnica de mixagem dos originais.

O quinto foi um trabalho sobre a obra de Rosil Cavalcanti. Nesse trabalho, selecionei algumas músicas do compositor pernambucano radicado na Paraíba e me permiti a liberdade de transformar a peça plasticamente no ritmo, na forma e na instrumentação. Chamei dois criativos instrumentistas, Rainere Travassos no Contrabaixo e Marquinho Drums na Bateria e a partir de algumas ideias que eu lançava nos ensaios, deixava o ambiente livre para a criação. As ideias fluíram e logo tínhamos um trabalho original baseado nas canções de Rosil cuja melodia se mantinha, mas o resto estava completamente modificado.

O sexto é um trabalho com o Grupo de Cultura Latino-Americana Canto Andino Brasil e é um trabalho voltado para a música latina e de suas influências e interferências no Brasil. É um trabalho que para os componentes representa o fechamento de um ciclo de canções que fizeram parte desde a criação do grupo e que não tinham sido gravadas. Daí a ideia de iniciar o trabalho fonográfico do grupo com essa coleção de canções.

O sétimo, realidade virtual, surgiu de uma parceria com um dos meus primeiros alunos de Violão e, depois, guitarra, o Markel Trindade. Aqui e acolá nos encontrávamos e Markel provocava sugerindo algum trabalho juntos. Algum tempo depois, ele morando em João Pessoa e eu em Campina Grande, iniciamos uma troca de e-mails com idéias de músicas e o processo continuou assim pela internet, daí o nome: Realidade Virtual. É um trabalho voltado para o pop rock baseado em canções e trechos que havia composto a um tempo atrás. Foi então o ponto de partida para que ele pudesse acrescentar, modificar ou sugerir o que quer que fosse para que pudéssemos concluir as canções. Foi um trabalho super prazeroso de se fazer. Já estamos a pensar no segundo.

07) RM: Como é o seu processo de compor?

Jorge Ribbas: Existem dois caminhos mais sistematizados. O primeiro deles é desenvolvido através de alguma letra que me passam para pôr melodia. O segundo é mais técnico. Busco um ponto de partida. Pode ser qualquer coisa. Daí crio relacionamentos sonoros e vou desenvolvendo o tema ou motivo criado com relação à finalidade, duração final da música, estilo, andamento, harmonia, arranjos e por ai vai. Mais raramente, se algum acorde ou levada me inspira para desenvolver algo. Daí, gravo a ideia e, se depois de alguns meses ela continuar com a mesma energia, merece ser trabalhada. Basicamente é isso.

08) RM: Quais são seus principais parceiros musicais?

Jorge Ribbas: No meu entender, parceiro musical é aquele que está junto, compondo, tocando, planejando, produzindo. Nessa perspectiva posso dizer que o Across the Beatles, o Albatroz, o Canto Andino, os professores que atuam na MUSIDOM, os colegas da UFCG, Markel Trindade e Socorro Lira, representam uma boa paleta de parcerias que me preenchem o tempo.

09) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Jorge Ribbas: Pró: Liberdade de criação.

Contras: dependência de estúdio, músicos, arranjador, artista gráfico, divulgador, distribuidor, contador, advogado, produtor executivo, produtor artístico, diretor de turnê, empresário. Ou seja, tudo exceto a liberdade de criar. Quem tiver dinheiro suficiente para ter um estúdio em casa pode brincar de ser artista. Porém viver da arte precisa muito, muito mais. No fim cada um vai se virando à sua maneira e por vezes algo bom surge. Talvez essa seja a forma que a nossa época encontrou de selecionar o que pode aparecer, onde pode aparecer e por quanto tempo ficará em evidência.

10) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Jorge Ribbas: Com a morte da indústria fonográfica, ficaram órfãos os artistas da velha guarda e isso trouxe dificuldades para todos. Muitos investem em estúdios, mas não se configura uma enxurrada de novos trabalhos. Ao contrário. A “independência” apresenta problemas de distribuição, agenciamento, produção e divulgação. Fica assim tudo canalizando para o mundo virtual. Agora em pé de igualdade com produções de novos artistas, o cenário aponta para uma democratização em que qualquer pessoa pode produzir algo bom. A questão é: constância. Qual o artista que produz com constância engajado em seus ideais artísticos? Muita música é produzida para atender demandas de momentos. Apostar na identidade de expressão é tarefa para poucos, pois nem sempre é lucrativo. Há de ser considerada a produção audiovisual, ou seja, a música justificada pelo vídeo.

Continuo ouvindo meus gurus: Caetano Veloso, Chico Buarque; Milton Nascimento, Guilherme Arantes; Ivan Lins; Elis Regina (sempre atual), a turma do Clube da Esquina, Tom Jobim e tudo relacionado a estes. Na atualidade, para mim, Chico Science foi uma bomba atômica, o Lenine é simplesmente único. No momento, estou mais interessado naqueles novos e velhos artistas que placidamente seguem suas carreiras e produzem suas pérolas. Ouço de tudo e, dada a facilidade de conseguir as gravações mais difíceis, descubro muita coisa que antes tinha passado despercebido. Que pais musical é o Brasil!

Quanto a possível regressão, não vejo como regressão propriamente dita, mas como um momento de experimentação ou de má divulgação, às vezes uma ideia que não se configura proveitosa, alguma falha de concepção, são muitos fatores, especialmente hoje onde a produção fica a cargo dos próprios artistas. Com certeza, sendo a carreira consistente, esse momento passará e novos trabalhos compensarão os prováveis deslizes.

11) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Jorge Ribbas: Atestar a qualidade em arte é uma tarefa complicada. Mas, segundo minha formação, acho que Guilherme Arantes, Caetano Veloso, Ivan Lins, Chico Buarque, Tom Jobim, Lenine, Zeca Baleiro, Zé Ramalho, Paulinho Pedra Azul, dentre muitos outros têm uma carreira sólida e definida. Não é por acaso que isso acontece. Hoje, mais que nunca, deve o artista estar muito a frente de sua carreira, tomando conta de todos os processos envolvidos na criação, produção e comercialização de sua arte.

12) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?

Jorge Ribbas: Praticamente já aconteceu de tudo citado na pergunta. Platéia caindo por cima dos músicos e instrumentos, dada a superlotação; falta de condições técnicas é um tema recorrente, e quanto mais você vai para o interior e para as zonas periféricas das cidades, a situação piora; A falta de pagamento ou a demora extrema em receber, mesmo com contrato foi um problema especialmente quando se trabalha com prefeituras. Daí adotei uma postura de, com prefeituras só tocar com o cachê no bolso. Se não faço de conta que a situação não existiu e sigo em frente. Já fiz serenata e levei carreira de cachorro, toquei e cantei em funeral e por aí vai.

13) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Jorge Ribbas: O que me deixa mais feliz é saber que apesar de toda a dificuldade, a boa arte sempre prevalece. A prova é que muitos talentos surgem e conseguem sobreviver de sua arte. A tristeza se dá pela grande mídia que inconsequentemente faz dos artistas instantâneos seu material de veiculação, relegando a um segundo ou terceiro plano as obras mais sérias. Talvez o momento político e social que estamos passando seja a causa dessa desarmonia. Mas, sinto que a ética no trato com o humano e com a arte (expressão desse humano) está em desacordo, ou mesmo abandonada, gerando essas distorções.

14) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora.

Jorge Ribbas – Quando cheguei à Campina Grande-PB para estudar me deparei com uma cidade muito ativa culturalmente dada a multiplicidade de universitários advindos de vários Estados. Logo me integrei ao Museu de Artes Assis Chateaubriand onde comecei a pintar em tela e também iniciei meus contatos com músicos amadores da cidade por intermédio do artista plástico Anfus Pombo que me apresentou a Paulo Marcio, cuja amizade guardo com carinho até hoje, e, através dele conheci Moisés Freire com quem fundei, mais tarde, o Albatroz. Era uma efervescência de bares a apresentar artistas como Capilé, Gilmar, Ferreti; era o auge do grupo Ogírio Cavalvanti, do Festival de Inverno de Campina Grande, enfim, uma cena propícia para o desenvolvimento da arte. Com o passar das décadas de 90 e na virada do milênio, a cidade absorveu a decadência da mídia nacional e foi minguando enquanto espaço de arte viva e ativa. Veio a Lambada, o Sertanejo, o Forró, o Axé, e a cidade passou a valorizar mais os de fora. Desde então o São João emprega uma grande quantidade de recursos em arte que tem apelo fácil e muito homogênea sem novidades. Tudo isso dificulta e obriga os produtores locais a praticamente mendigar espaços. Só para ter uma ideia, durante cerca de dez anos os cachês dos bares foi o mesmo. Sem reajuste. É só analisar o sucateamento do Festival de Inverno cuja representatividade para a arte nacional é inconteste. Assim é nossa cidade hoje.

15) RM: Quais os músicos e bandas que atua na cidade que você recomenda ouvir?

Jorge Ribbas: Val Donato, Aerotrio, Toninho Borbo, Fianraisi, Oxente Groove, Boy, Biliu de Campina, Canto Andino, Kátia e Gabmar, Emerson Uray, Tony Dumond, Tan, Pepysho Neto, Duduta e seu Regional, Choro Novo, Hijack, Eloísa Olinto, Adília Uchôa, dentre outros. Conhecendo-os e tendo acompanhado um pouco da trajetória de cada um, posso dizer que vivem para a música. Não conheço muitos novos artistas ainda, mas posso garantir uma coisa: quando ouvir algo novo, procure a emoção do artista. Se ela estiver lá, você vai gostar.

16) RM: Quais os fatores que faltam para uma cidade universitária e de forte comércio como Campina Grande, ter um mercado melhor para a profissão de músico?

Jorge Ribbas: Vivendo nesta cidade desde 1981 posso enumerar diretamente os três fatores principais: 1-) Organização da classe artística; 2-)projetos sérios de ordem institucional, pública e privada, para dar condições ao florescimento de grandes obras e 3-) o trabalho de auto-estima do artista para aceitar-se paraibano e valorizar a sua cultura nativa, entendendo-a como original e de valor.

17) RM: Campina Grande que realiza o Maior São João do Mundo gera de fato um mercado profissional para os músicos locais?

Jorge Ribbas: Para alguns, sim, para outros, não. São muitos interesses que estão em jogo. O destaque da festa em nível nacional atrai investidores que de certo modo impõem algumas atrações, durante o ano não há um roteiro preparatório dos artistas locais que podem participar da festa e assim, acabam não se preparando adequadamente deixando a desejar em suas apresentações e o resultado muitas vezes não chega a convencer. Muita parte do recurso financeiro vai para a mão de poucos artistas, a maioria que não representa a música tradicional da época. Ficam os artistas locais para receber “depois” e em muitos casos nunca chegaram a receber seus cachês.

A falta de respeito com o artista da nossa região é generalizada, desde a contratação passando pela simples passagem de som e da comunicação dos produtores. Já vi muita coisa ruim acontecer. Isso tem que mudar. Afinal, as pessoas que cuidam dessa produção, em sua maioria, caem de paraquedas na função e simplesmente não dão conta. É um processo de construção e aperfeiçoamento contínuos.

18) RM: O que falta para o Festival de Inverno ter o mesmo destaque que o Maior São João do Mundo?

Jorge Ribbas: Um projeto de gerenciamento mais profissional, uma equipe melhor capacitada e um programa de investimentos sério, além de uma campanha de divulgação profissional.

19) RM: Campina Grande que faz o Maior São João Mundo, tem espaços para dançar forró fora do mesmo de junho?

Jorge Ribbas: Poucos espaços. Na verdade, temos que aceitar que o São João é uma festa sazonal. Acontece no mês de junho e pronto. Não sei se é interessante tornar o ano um grande mês de junho. Em minha opinião, o forró deve constar nos programas de rádio e TV para manter a tradição da festa. Agora: festa de São João mesmo, a meu ver, só em junho.

20) RM: Quais os outros gêneros musicais que são fortes em Campina Grande?

Jorge Ribbas: Hoje o que tomou conta da mídia em geral foi o forró estilo do Ceará e isso vem monopolizando as casas de show, bares restaurantes e outros espaços. Apesar disso, por Campina Grande ser uma cidade universitária, muita gente que vem morar aqui e acaba promovendo uma mescla de culturas. Na década de 70 e 80 tínhamos uma cena mais engajada e diversa. Nos anos 90 com a popularidade midiática do Pagode, Sertanejo, Lambada e outros, essa realidade mudou. Existe uma cena de rock em suas mais variadas formas, um movimento (não instituído) de MPB e outras formas de expressão, mas tudo isso sem muita projeção tipo “movimento” a coisa acaba andando por conta das individualidades.

21) RM: Quais os principais espaços de música ao vivo em Campina Grande?

Jorge Ribbas: Bares e restaurantes. Existem muitos teatros e auditórios, mas não há uma política de ocupação baseada em editais nem apoio de mídia, principalmente para artistas iniciantes que ficam praticamente exclusivos dos bares e restaurantes. Os eventos que a cidade conta começam pelo Encontro para a Nova Consciência, São João e Festival de Inverno. O SESC promove alguns projetos com êxito já há vários anos e a TV Itararé também começou a movimentar a cena com concursos de música e dança, além de ser um canal que sempre tem priorizado em sua programação artistas da cidade e do Estado. Em sua V Edição, o festival Internacional de Música promovido pela UFCG em parceria com a UEPB também tem se tornado um espaço importante, visto que trás artistas internacionais e esses, interagindo com os artistas locais, tem deixado um saldo positivo.

22) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com João Gonçalves?

Jorge Ribbas: Cresci ouvindo João Gonçalves pelo rádio. Nunca havia imaginado interagir profissionalmente com ele. A oportunidade apareceu quando estava produzindo um disco para o artista Benedito do Rojão, em que ele canta uma das músicas em parceria com o João. Até então não o conhecia pessoalmente. O encontro se deu em níveis profissionais apenas e, findo o trabalho, restou a admiração pelo compositor mais censurado da história da música brasileira e que tantos sucessos legou ao nosso Nordeste.

23) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Amazan?

Jorge Ribbas: A primeira vez que encontrei com Amazan já foi para tocar. Acompanhamos Biliu de Campina no circo do forró em 1987 ou 1988. Foi um encontro do jeito que o forró se faz. De repente estávamos no palco, sem ensaio confiando na direção do canto de Biliu e das músicas já conhecidas que no máximo variavam o tom. Toquei contrabaixo, Moisés na guitarra, Amazan na sanfona, não recordo a turma do ritmo. Anos depois Amazan cresceu como poeta e músico com uma carreira organizada e eu já com a escola de musica, fui procurado pelo mesmo para aulas de música para seus filhos: Amazan filho, Tereza, Amanda, Maricleide e Luan. Acho que quase todos estudaram comigo, inclusive o próprio Amazan por um tempo teve contato com a leitura musical. É uma pessoa a quem devo meu respeito e amizade.

24) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Júnior Cordeiro?

Jorge Ribbas: Apologista e estudioso da cultura nordestina, poeta de primeira, com ideias inteligentes, um tanto maneirista em suas melodias, mas tem uma energia que considero indomável, o que atrapalha um pouco a formação de uma carreira na música. Produzi e arranjei os dois primeiros discos, depois seguiu por outra linha de pensamento e encerramos aí nossa colaboração musical.

25) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Socorro Lira?

Jorge Ribbas: Socorro Lira me foi apresentada por José Nobre (do Museu de Luiz Gonzaga). Estava precisando de uma vocalista para o Canto Andino. Ela precisava de alguém que topasse, com pouca grana, produzir uma ‘fita’ demo. Ouvi, gostei e a fita demo se transformou no seu primeiro CD: Cantigas. Era pra ser voz e violão. Mas, fui pondo uma percussão, uma violinha, um acordeom. Daí seguimos em parceria pelas ‘Estradas do Nordeste’ e já produzimos: cantigas de bem-querer; intersecção; pedra de amolar em homenagem a Zé Marcolino, Cores do atlântico, o samba do rei do baião, delicadeza e Amazônia (entre águas e desertos). Uma pessoa correta e honesta com suas relações e com a arte. É sempre uma satisfação produzir musica com ela. Através dessas produções tive contato mais estreito com meu conterrâneo Dominguinhos, com Oswaldinho do Acordeon, Papete, Elifas Andreato, Julio Santim, Irah Caldeira (de quem produzi um CD com canções de Maciel Melo), Vital farias, além de Maria da Paz, Sivuca e Flávio José. Só pra citar alguns.

26) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Gabmar Cavalcanti e Kátia Virginia?

Jorge Ribbas: Simplesmente adoráveis! Pessoas de mais fino trato, talento de sobra para navegar em qualquer estilo que seja necessário. Começamos a estreitar os laços musicais em 1988 quando arranjei e produzi o primeiro disco de Tony Dumond. Sou fã dessa dupla e me considero um afortunado em dividir essa amizade. Já fui cliente do estúdio, já tocamos numa banda denominada “Quinteto de Ouro”, com Giovani Leão na Bateria, Serginho do Sax, Mano Marques na guitarra, eu no Contrabaixo, Gabi no Teclado, Kátia Virgínia na voz com participação de Tony Dumond. Aqui e acolá desenvolvemos algum trabalho como o show: Modinhas e canções que apresentamos no projeto Sete Notas do SESC. Infelizmente uma doença no intestino consumiu as forças e a vida de Gabmar em 2016. Somos gratos pela luz, talento e alegria musical por ele inspirados.

27) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Tan?

Jorge Ribbas: Acompanhei uma boa parte de sua carreira de cantor acompanhando e também produzi um disco dele o “Reencontro” em que interpreta duas músicas de minha autoria. É um artista intenso e talentoso. Nossos caminhos seguiram direções opostas quando decidi cuidar de minha vida acadêmica.

28) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Emerson Uray?

Jorge Ribbas: Conheço desde 1988 quando fez show no teatro junto com Tony Dumond e Flávio Vianna. Um grande intérprete com um grande carisma. Colaborei em alguns shows e apresentações em bares.

29) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Alquimides Daera?

Jorge Ribbas: Quando veio morar em Campina Grande tivemos uma relação mais próxima, pois o Albatroz era a banda que apoiava suas criações musicais. É um compositor super talentoso e excelente intérprete de suas próprias músicas. Nos apresentamos em shows no Teatro Municipal Severino Cabral, Teatro Minerva na cidade de Areia, além de ter participado de coletâneas produzidas por ele com artistas campinenses nos bares da cidade.

30) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Biliu de Campina?

Jorge Ribbas: Não tenho muito contato com o Biliu, nos encontramos às vezes, uma vez cheguei até a tocar com ele, logo no início da carreira. Mas é só. Admiro o talento do artista.

31) RM: Qual a relação pessoal e profissional com Eloísa Olinto?

Jorge Ribbas: Conheci a Eloísa apresentada pelo amigo e músico, Edmilson Santos. De início cantava mais música lírica, e desejava integrar-se ao meio musical cantando algo na linha da salsa. Por isso, Edmilson que tocava comigo no Grupo de Cultura Latino-Americana Canto Andino fez o contato. Daí, fizemos algumas apresentações e ela demonstrou desde cedo um grande talento e potencial. Depois de um tempo ela interpretou uma música de minha autoria, Niños Sin Rumbo, e o fez magistralmente. Hoje não nos apresentamos com frequência, mas a amizade permanece forte e sempre que nos encontramos é uma festa.

32) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Gitana Pimentel?

Jorge Ribbas: Com a Gitana nunca cheguei a trabalhar. Fica minha admiração pelo trabalho sério que ela desenvolve, buscando seu caminho, produzindo, aperfeiçoando sua arte e vivendo a música.

33) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Tony Dumonnd?

Jorge Ribbas: Trabalhei com Tony Dumond muitos anos como side man, acompanhando-o com o violão ou com o contrabaixo, nos bares e restaurantes de Campina Grande. Tony foi o primeiro a acreditar no meu trabalho de produtor e me entregou a produção seu primeiro CD. Podemos dizer que por meio deste disco provei a mim mesmo que eu poderia produzir música de qualidade com arranjos apropriados, o que me deu força para topar outros trabalhos. Hoje não trabalhamos mais juntos, mas ficou uma forte amizade que nos permite cruzar caminhos vez em quando.

34) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Capilé.

Jorge Ribbas: Lembro que saia de casa para assistir as apresentações do Capilé. Uma pessoa muito carismática. Não me lembro de ver o Capilé de outro jeito que não seja sorrindo. Talvez essa seja a receita de seu carisma. Músico talentoso que se adéqua a qualquer estilo musical. Mantenho uma relação de amizade, respeito e admiração por esse artista. Nunca chegamos a trabalhar juntos, apenas dividimos palcos ocasionalmente.

35) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Pepysho Neto?

Jorge Ribbas: Conheci o Pepysho tocando em João Pessoa e Campina Grande, dividimos palco algumas vezes, cheguei a coproduzir o primeiro disco dele onde fiz vários arranjos, considero um intérprete de talento, mas nossos caminhos divergiram, muita coisa aconteceu em minha vida me distanciando não só dele, mas de muitos colegas de trabalho.

36) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Fábio Dantas?

Jorge Ribbas: Pessoa que admiro por sua integridade e sensibilidade. Tocamos juntos em 1988 num show de músicas autorais denominado de “Raro Prazer” foi um momento bem marcante já que fizemos bons amigos àquela época. Posteriormente chegamos a trabalhar em apresentações especiais como shows em tributo a Elis Regina e em algumas comemorações de aniversário do “programa arte e som” no qual ele é locutor. Uma pessoa do bem que, sempre que precisamos, cede espaço em seu programa.

37) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Fidélia Cassandra?

Jorge Ribbas: Comecei a tocar com a Fidélia porque fui convidado a tocar (acho) violão ou contrabaixo, não me recordo bem, e daí, sempre que aparecia uma oportunidade ensaiávamos para a apresentação. MPB, jazz, música francesa, música autoral, bossa-nova, tudo isso constituía a base do repertório. Cheguei a produzir um CD com ela (Nú Artístico) que não chegou a ser lançado. Após um tempo nos distanciamos em virtude dos caminhos pessoais de cada um.

38) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Sócrates Gonçalves?

Jorge Ribbas: Conheci o Sócrates Gonçalves quando constituímos uma Associação aqui na cidade a ACORDE, que tentava organizar a classe musical e obter força para reivindicar as lutas da classe. Infelizmente alguns membros se deslumbraram com possíveis cargos políticos e a associação perdeu força e credibilidade. O Sócrates revelou-se um artista bem talentoso. Além de cantor e compositor, também desenha. Ainda não chegamos a trabalhar juntos.

39) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com os membros do grupo Albatroz?

Jorge Ribbas: Neste grupo comecei a viver o sonho e a realidade de ser músico, aprendi a profissão por meio dos trabalhos que este grupo me proporcionou, a primeira vez num palco, o primeiro disco, o êxito, a dignidade, o enfrentamento das dificuldades, muito do que sou devo ao Albatroz. Ainda estamos em atividade e espero assim continuar.

40) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com os membros do Across the Beatles?

Jorge Ribbas:  Fui convidado pelo idealizador do grupo, o doutor Antônio Henrique Bandeira a fazer parte do grupo no ano de 2001. Daí, muito aprendi estudando e tocando as músicas dos Beatles, sentindo a alegria dos fãs dos Beatles que nos emocionam com suas demonstrações de carinho e agradecimento. É uma satisfação fazer parte desse grupo de amigos que, em primeiro lugar, simplesmente gostam de tocar a música dos Beatles.

41) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Jorge Ribbas: Lamento, mas não espero que minhas músicas toquem em rádio. Não é do interesse dos programadores das rádios tocarem nada que não seja pago. Alguns amigos locutores até colocam uma vez ou outra. Mas, no jogo de quem dá mais, a integridade (lamentavelmente) vem em segundo plano. Agora. Se pagar é outra coisa. Mas não se engane. Sempre foi assim. A diferença é que antes existia ética nos conteúdos, hoje vale tudo. A maioria das rádios do lugar em que vivo perdeu a conexão com o interior do homem, a transcendência. Ficam os estilos efêmeros, sem compromisso com a arte fazendo uma onda de mediocridade e falta de originalidade. A prioridade é para quem copia. A desculpa (esfarrapada) é sempre: “…a gente tem que tocar o que o povo quer”. Tá! Mas quem apresenta a música para o povo? O rádio e a TV. Houve tempo em que existia ética moral na seleção musical a ser veiculada. O resultado nos deu: Chico Buarque, Zé Ramalho, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Elba Ramalho, Fagner, João Gilberto, Roberto Carlos. Será que é tão difícil assim tocar Lenine, Zeca Baleiro, Chico César, Socorro Lira, Forró Gente Boa, Sandra Belê, Val Donato, Gitana Pimentel, Eloisa Olinto, Emerson Uray, Jorge Ribbas, Gabmar Cavalcanti e Kátia Virgínia, Thaise Porto, Tan, Junior Cordeiro, Tony Dumond, Fábio Dantaspeço perdão por não continuar a lista que é grande. O que não temos é dinheiro para pagar por volta de um salário mínimo por mês por algumas inserções diárias. É o mundo dos negócios. Salvem-se quem puder.

42) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Jorge Ribbas: Seja verdadeiro com a música e ela será verdadeira com você. Leia as biografias dos artistas consagrados. Todos contam histórias de provações e dificuldades. Entenda o momento histórico em que vive e não tente comparar com épocas que passaram. Os modos de produção e comercialização de música hoje são outros. O artista do século XXI tem que entender de gerenciamento de carreira, editais de fomento à cultura, processos de gravação e muito mais. É um envolvimento de corpo e alma, além de emprego de tempo integral. Tenha muita paciência.

43) RM: Fale de sua atividade como produtor. Quais os músicos que você já produziu os CDs?

Jorge Ribbas: Alguns dos trabalhos que produzi foram: Tony Dumond (Uneversos), Socorro Lira (Cantigas; Cantigas de bem-querer; Pedra de amolar; Intersecção; Cores do atlântico; Singelo tratado sobre a delicadeza; O Samba d Rei do baião, Os sertões do mundo e Amazônia), Pepysho Neto (O Brasil dos festivais), Jediel Veras (Gaita Romantica I e II), Tan (Reencontro), Fábio Silva (Quase acústico), Sinédei Moura (Cena de Perigo), Jataí D’Albuquerque (Artérias), Irah Caldeira (Canta Maciel Melo), Junior Cordeiro (Psicodelia de Um Quixote dos carrascais e Lago Misterioso). Dentre outros. A atividade de produção chegou naturalmente devido ao meu envolvimento profissional com a maioria dos artistas durante muito tempo, o que gerou a confiança necessária para desenvolver um trabalho de registro fonográfico. Considero um aprendizado constante e curto mesmo a atividade de dar forma a uma composição de acordo com o estilo de cada um e todo o trabalho que decorre desse direcionamento; os arranjos, a arregimentação, o contato com os músicos, o estúdio com suas surpresas.

44) RM: Fale de sua atividade como músico de Estúdio. Quais os pros e contras?

Jorge Ribbas: A minha primeira experiência em estúdio foi na gravação do disco do Grupo Albatroz. Antes já tinha ouvido sobre a frieza do estúdio e tudo o mais. No final, aprendi que realmente o estúdio pode ajudar a melhorar ou piorar o som de qualquer banda ou artista. Claro que nos tempos de hoje, até quem não canta ou toca pode chegar a gravar se tiver um bom técnico de som. Mas, o legal mesmo é que já esteja definido na sua sonoridade e perspectiva artística a médio e longo prazo. Assim a busca do “som” estará mais próxima do que se quer. Sinceramente não vejo contras. Em estúdio para mim é tudo lindo. Já produzi mais de trinta trabalhos diferentes desde produções caseiras até trabalhos mais engajados artisticamente.

45) RM: Conte como começou a Musidom? Quais os pros e contras de montar uma escola de música?

Jorge Ribbas: Comecei a ministrar aulas de violão na Fundação Artístico Cultural Manuel Bandeira (FACMA), em seguida prossegui com aulas em domicílio. Após um tempo, a procura aumentou e me fez refletir se não seria mais adequado criar uma escola de música. Assim, entre um sono e outro, ou entre um sonho e outro, me veio o nome de MUSIODOM que sintetizaria dois sentidos; música em domicílio e dom musical. Queria constituir uma cooperativa de arte, mas os artistas convidados não compraram a ideia e segui meu rumo sozinho com alguns amigos a ensinar flauta doce e teclado. Em paralelo ao trabalho na escola, concluí o bacharelado em música em João Pessoa-PB e fui especializando a escola que em 2015 se encaminha para seus 25 anos de atividade no ensino de música.

Não vejo “contras” em trabalhar com o ensino de música. Apenas fico triste com alguns alunos que, mesmo com muito potencial, abandonam bem próximos de desfrutar uma prática mais consciente e todo aquele trabalho de formar a base praticamente se perde. Os prós apontam para um trabalho sistemático de ensino de música, o que faz o professor estar sempre alerta e em permanente reciclagem, o oferecimento de um serviço de qualidade para a população da cidade, o contato com pessoas de diversos níveis sociais, diversas idades e profissões, enriquecendo e forjando a técnica de ensino, a perspectiva de um ganho financeiro mais constante, a aprendizagem constante no trato com as diferentes pessoas.

46) RM: Fale de sua experiência como professor universitário na UFCG. Quais as principais diferenças de fazer um curso livre de música e fazer um curso universitário? Quais os prós e contras das duas formações?

Jorge Ribbas: Aprovado em primeiro lugar no concurso público para professor da na Universidade Federal de Campina Grande – UFCG, iniciei no ano de 2009. Ministrei disciplinas para os cursos de Bacharelado em Música habilitação em Violão, curso de licenciatura em música com ênfase em Violão, curso de produção musical com ênfase em Guitarra, Contraponto modal, Contraponto tonal, teoria musical e harmonia. Nesse período, tive a oportunidade de receber excelentes alunos e pude ajudá-los a dar mais um passo em direção às suas carreiras musicais, refletindo sobre a atuação profissional e direcionando para resultados aproximados ao estilo de cada um, buscando desenvolver suas habilidades natas e reforçar aquelas ainda não tão bem desenvolvidas. No que se refere ao curso livre, o aluno muitas vezes prescinde dos aspectos teóricos que são fundamentais para uma continuidade em patamares mais elevados de performance, além da disciplina que nem sempre é estabelecida, ficando o estudo associado a uma forte vontade de tocar alguma música. Vale lembrar que na hipótese do aluno se voltar para o ensino, mais será exigido e um título será necessário. Entretanto, a liberdade do estudo deixa o aluno mais atento e o ouvido mais apurado no que se refere à música popular. No curso universitário o título já é uma das recompensas pelo tempo dedicado à formação orientada de modo progressivo e interdisciplinar. A disciplina de trabalho e pesquisa se configura desde o princípio e os resultados vêm bem mais rápidos. O estudo das várias disciplinas como percepção musical, harmonia, contraponto, história da música, prática interpretativa, música de câmera, dentre outras, promovem uma formação global necessária para despertar o desejo por pesquisa e por altos patamares de performance. Já no caso de execução de música popular, alguns alunos se sentem um pouco retraídos já que passaram a maior parte da vida acadêmica tratando da música escrita. Isso leva a certa “preguiça” de utilizar o ouvido de uma forma mais aplicada. O ideal é que os alunos de música em geral sejam testados das duas formas, assim o aprendizado e a prática se complementam efetivamente.

47) RM: Quais as principais características para o educador musical?

Jorge Ribbas: Amar o que faz, conhecer bem o que faz em todos os aspectos e aplicar criativamente o que ama.

48) RM: Quais as principais características para um aluno avançar nos estudos musicais e na carreira musical?

Jorge Ribbas: Primeiramente gostar realmente de música. Muita gente gosta de música por curtição, o que não é suficiente, arranhar um violãozinho não dá substância para fazer um curso superior. Precisa realmente entender que precisa estudar muito e ser solícito para os ensinamentos. Além disso, humildade, persistência, paciência, planejamento e organização.

49) RM: Quais os projetos futuros?

Jorge Ribbas: Continuar gravando minhas músicas, produzindo CD’s, ensinando música, formando professores, ler bastante, compor muito, escrever as histórias do que produzi e viver a música enfim.

50) RM: Quais os seus contatos para show e para seus fãs?

Jorge Ribbas: [email protected] | www.musidom.com.br | (83)3341 – 0075 – (83) 98873 – 6949 (Oi) | (83) 99628-4119.


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.