More João Gonçalves »"/>More João Gonçalves »" /> João Gonçalves - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

João Gonçalves

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O cantor e compositor paraibano João Gonçalves ao longo dos mais de trinta anos de carreira, manteve a majestade de ser o rei do duplo sentido.

Seu primeiro sucesso nacional: “Severina Chique, Chique” proporcionou projeção nacional a Genival Lacerda.  A música de duplo sentido divide opiniões dentro e fora do meio musical. Alguns acham as letras obscenas, vulgares e outros compreendem com bom senso o humor do compositor em tratar as coisas “sérias” e populares com a criatividade do uso do português em concordância e fonética, que deixa margem a dupla interpretações bem humoradas.

Como toda censura, busca calar o que todo mundo sabe e não tem coragem de dizer, a música de duplo sentido coloca o espelho da hipocrisia na frente do falso moralismo. Ele tem outras músicas de sucesso entre as mais de 500 músicas gravadas, exemplo: “Pescaria em Boqueirão”, “Locadora de Mulher”, “Empregada Doméstica”, “Galeguim do Zói Azul”.

O fato é que o humor sempre foi censurado e mal compreendido, na verdade o compositor apenas queria fazer músicas alegres e populares. Hoje as charges estão na moda, não poupa ninguém e não são ortodoxas. A música de duplo sentido era criticada por estrelas do Forró, como por exemplo: Luiz Gonzaga que por ser moralista não queria desagradar seus fãs conservadores apoiando a música de duplo sentido. Na década de 70, período ditatorial, João Gonçalves teve três discos queimados em Campina Grande-PB pela Polícia Federal e foi proibido de fazer shows no seu torrão natal.

O motivo para essa agressão a liberdade de expressão era o refrão de uma música que dizia: “O bode comendo, acaba”.  As letras do compositor satirizavam: o falso moralismo, a política e políticos, a fama artística focada no dinheiro e etc. Mas o compositor criou vários forrós sem duplo sentido e por sua nova convicção religiosa, fez músicas evangélicas.

Em 29/05/2003 fez 67 anos de idade e continua fazendo o que mais gosta: Compor para alegrar o povo. Atire a primeira pedra quem despojado do falso moralismo não concorda com as letras de João Gonçalves. Suas letras refletem a sabedoria popular e o que “corre na boca miúda do povo”.

Quem sabe no futuro, ele e a sua obra sejam entendidos e reconhecido o seu valor artístico, como aconteceu com o poeta Gregório de Matos que não fazia duplo sentido, mas também colocou a hipocrisia frente ao espelho do falso moralismo, e virou o: “Boca do Inferno” para a sociedade conservadora. O duplo sentido da obra de João Gonçalves é pura ingenuidade comparada ao FUNK pornográfico e fútil.

01) Ritmo Melodia: Fale da sua origem e seu primeiro contato com a música. 

João Gonçalves: Nasci no dia 29 de Maio de 1936 em Campina Grande – PB. Desde de criança cantava e inventava paródias. Gostava de cantar música de qualquer ritmo. Na fase adulta em roda de Bar e “tomando umas e outras” com os amigos; continuei cantando e compondo.

02) RM: Fale das primeiras composições.   

João Gonçalves: Em 1966, o irmão da minha esposa que era universitário e morava com a gente trazia sempre aulas gravadas e eu ficava escutando as aulas junto com ele. Tive a ideia de comprar um gravador e tudo que pintava na mente registrava no meu gravador e depois passava para o papel foram surgindo minhas primeiras composições. 

03) RM: Fale do seu primeiro sucesso como compositor.

João Gonçalves: Em 1969, fui assistir ao show de Messias Holanda e alguns amigos me apresentaram a ele e mostrei algumas composições. Ele me pediu uma fita com algumas músicas. Em 1970 fez sucesso com minha primeira música gravada: “Minha Margarida”.  Ele continuou gravando as minhas músicas e outros cantores que vinham à Campina Grande, eu mostrava meu trabalho.  Em 1974, Messias me apresentou a Genival Lacerda que me pediu uma fita com algumas composições e ouvimos juntos. Genival queria gravar quatro músicas, mas pediu que o colocasse como parceiro. Eu registrei a parceria e ele gravou as músicas como prometeu. E uma das músicas foi sucesso nacional: “Severina Chique, Chique”.

Em 1975, Messias Holanda fez sucesso com a música: “Mariá”. E o Trio Nordestino com a música: “Por Causa da Pepita”. Essas foram as principais músicas de sucesso nacional e outras fizeram sucesso regional na voz de Forrozeiros, Sanfoneiros e Trios.  

04) RM: Fale dos discos gravados.

João Gonçalves: Em 1975, trabalhava como gerente em uma empresa de Campina Grande. E recebi a visita de Oséias Lopes e Bastinho Calixto. Oséias era recente contratado da gravadora Typa Car para formar um Casting de forrozeiros. Como eu era um compositor de destaque no gênero fui convidado para em 1976 gravar o primeiro LP no Rio de Janeiro. Nesse primeiro lançamento fiz sucesso com a música: “Pescaria em Boqueirão” e assinei um contrato por cinco anos.

Em 1977 lancei: Só João Gonçalves.  E a música de sucesso foi : “Trambique da Butique”. Em 1978 lancei: Nordeste de Hoje. Em 1979 lancei: Bicho Macho. Em 1980 lancei: João Gonçalves. O melhor disco da minha carreira.

Em 1981 lancei: Forró em Água.  A Typa Car foi vendida para Continental. Fui contratado pela CBS (Hoje Sony). Lancei em 1982: Preserve os Pássaros. Fiquei um ano sem gravar prejudicando minha carreira. Em 1984 lancei pela Lança Discos: Dá chuchu pra ela. A gravadora fechou e fiquei mais um ano sem gravar.

Em 1986 lancei pela Continental: Forró Pra Gente de Bem. 

Em 1987 lancei: João Gonçalves.  Por conta de promessas não cumpridas pedi rescisão de contrato. Em 1989 gravei pela Guriatan Discos que não foi lançado.

Em 1990 fiz uma gravação pelo selo independente Music Color – SP não foi lançado. Eu resolvi parar de gravar como cantor. E continuei como compositor pela voz de outros artistas.

Em 1994 fui convidado pela gravadora Gogó da Ema – AL para gravar o meu primeiro CD: João Gonçalves . E a música de destaque foi: “Empregada Doméstica”.

Em 2001 lancei um CD independente com cinco músicas inéditas e regravações minhas: João Gonçalves Ontem e Hoje.

Em 2002 gravei: João Gonçalves Ontem e Hoje Vl. 02.

05) RM: Fale das músicas de duplo sentidos presente no seu trabalho. Quais as discriminações que você sofreu por conta desse gênero? 

João Gonçalves: O duplo sentido nas minhas composições surgiu por acaso. A minha intenção era fazer músicas engraçadas. Mas na proporção das músicas que fizeram sucesso fui me envolvendo no estilo e desenvolvendo e aperfeiçoando nesse gênero chegando a ter o título de Rei do Duplo Sentido. E a discriminação mais forte que ocorreu contra o meu trabalho foi no programa de Flávio Cavalcanti na TV Tupi, em que ele quebrou ao vivo o meu segundo disco. Depois desse fato a nível nacional a Polícia Federal de Campina Grande começou a me perseguir com a proibição dos meus shows e me prenderam por duas vezes. No terceiro LP fui pedir autorização na Polícia Federal para fazer shows e vender meus discos. Por conta de uma das músicas que o refrão dizia: “O Bode Comendo, acaba”.  Eles recolheram todos os meus discos das lojas e queimaram e proibiram shows na Paraíba. Tive que sobreviver fazendo shows em outros Estados.

06) RM: Você compõem só gênero de duplo sentido? 

João Gonçalves: Eu faço músicas em todos os gêneros (Samba, Forró, Evangélica).

07) RM: Fale do panorama da música nordestina na década de 70.  E quantas composições já gravadas? 

João Gonçalves: Na década de 70 nossa música era representada por grandes estrelas como: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Genival Lacerda, Trio Nordestino, Messias Holanda, Elino Julião e entrei no meio dessas feras e consegui me destacar como compositor. Hoje somando todas a minhas composições gravadas chegam a 1000.

08) RM: No decorrer da sua carreira musical quais foram suas glórias e infortúnios? 

João Gonçalves: Minhas glórias foram muitas. E destaco que nos altos e baixos da carreira consegui criar meus filhos junto com minha esposa Glória. Não fiquei rico com a música, mas vivo satisfatoriamente sem dever a ninguém. E os infortúnios foram por conta da falta de experiência e os maus amigos, farras e bebidas.

*João Gonçalves, faleceu aos 85 anos na madrugada do dia 21.06.2021 após um infarto em Campina Grande – PB.

Show de João Gonçalves no São João de Salgadinho em 1994: https://www.youtube.com/watch?v=MD2gjzJOr9w

João Gonçalves – Locadora de mulher com Ton Oliveira: https://www.youtube.com/watch?v=ohr_NXlbVfM

Despedida do Mestre João Gonçalves: https://www.youtube.com/watch?v=JFaEjHQTNDw

Falecimento do cantor e compositor João Gonçalves – O Rei do Duplo Sentido – 21.06.2021: https://www.youtube.com/watch?v=fBGjgiowX_s

Morre, aos 85 anos, cantor e compositor João Gonçalves – TV – Itararé: https://www.youtube.com/watch?v=p_xvsxkHrQo

VELÓRIO JOÃO GONÇALVES | 21/06/2021 TV – Borborema: https://www.youtube.com/watch?v=izKASnmhvgk

Pequeno Perfil do Artista Paraibano – 4ª Edição: João Gonçalves – 12 de set. de 2017: https://www.youtube.com/watch?v=zCBVI4KlwjE

João Gonçalves 20 Super Sucessos: https://www.youtube.com/watch?v=Si2LnxTUhoQ

Homenagem a João Gonçalves – 22/10/2019 – TV Nordestina: https://www.youtube.com/watch?v=1ccfEqiIkQY

Bastidores João Gonçalves EP 3 – Sandrinho Dupan – álbum TODO MUNDO DANÇA de meu amigo Roninho do Acordeon, gravado em 2017, onde tive a honra produzir e o mestre João Gonçalves: https://www.youtube.com/watch?v=YCYiZU34cZA

O Dia Que Conheci João Gonçalves, A Lenda Viva conversa Com O Forrozeiro Zé Duarte: https://www.youtube.com/watch?v=4pBy6Jg7t6g


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.