More Ilana Volcov »"/>More Ilana Volcov »" /> Ilana Volcov - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Ilana Volcov

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A cantora e compositora paulistana Ilana Volcov iniciou sua carreira no grupo Barbatuques. Como intérprete, atuou ao lado de Guinga, Ed Motta e artistas da nova geração, como Rubens Nogueira, Mário Seve e Brasil Guitar Duo. Ela fez vocais para Vanessa da Mata e Zeca Baleiro. Cantou com Eduardo Gudin, gravando seu CD – Um jeito de fazer samba (Dabliú/2006) e o“3 Tempos”.

No seu primeiro CD solo – Banguê assina a produção musical, ao lado de Ricardo Mosca e Michi Ruzitschka. O CD, lançado também no Japão, foi indicado ao 22º Prêmio da Música Brasileira na categoria Melhor Canção com “Procissão da Padroeira” de Guinga e Paulo César Pinheiro, concorrendo com gravações de Dona Ivone Lara e Zeca Pagodinho.

Ilana é educadora musical e autora de trilhas para o teatro e cinema, e reafirma a cada projeto, seu compromisso com a Arte e sua paixão pela Música.

“Como canta bem a moça, Deus do céu! Seus agudos são tão certeiros como acertada é a sua afinação. Sua voz, doce e afinada, tem uma profundidade que parece cavoucar espaço nos ouvidos de quem a ouve, buscando aconchego onde possa melhor se deixar sentir. (…) A serenidade da intérprete que sabe o que quer com o seu canto”. Aquiles Reis, jornal Brazilian Voice Newspaper.

Bangüê acabou sendo o título do CD que apresenta a voz límpida de Ilana Volcov – de afinação e emissão perfeitas, atestadas na interpretação à capela de Morada (tema de autor desconhecido) – ao país das cantoras”. Mauro Ferreira, blog Notas Musicais.

Ilana é uma intérprete perfeita, além de ter um bom gosto musical admirável”. Camões Filho, jornal Voz do Vale.

“Na sua música não há ecos de rock, música eletrônica, mesmo o Tropicalismo (o Caetano Veloso que ela grava, Onde eu nasci passa um rio, é anterior). O que há um passo adiante no desenvolvimento de um formato de canção brasileira, em que a harmonização rica pós-bossa nova se encontra com as tradições regionais”. Tulio Villaça, blog Sobre a Canção.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Ilana Volcov para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.07.2012: 

01) RitmoMelodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal? 

Ilana Volcov: Nasci no dia 02.07.1974 em São Paulo. 

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Ilana Volcov: Adoraria saber qual foi meu primeiro contato com a Música. Mas não sei qual era a minha compreensão de Música, quando ela apareceu pra mim. Durante a faculdade, em visita ao IPT, entrei numa sala completamente silenciosa, onde foi possível ouvir meu sangue circulando, a respiração e as batidas do coração. Os sons internos se mostraram tão volumosos e musicais, que passariam por bases rítmicas da música eletrônica. No livro ‘O som e o sentido’, José Miguel Wisnik relaciona os ritmos corporais à nossa compreensão de mundo. Através de ‘medidas’ como o passo, a pulsação sanguínea, o fluxo da respiração, os impulsos cerebrais e o piscar dos olhos, podemos dimensionar e organizar todos os outros sons e acontecimentos. Ao imaginar a conversa entre os diferentes ritmos internos, vejo que o corpo é um instrumento musical polivalente, ou melhor, um instrumento-orquestra. Quando estive com Bobby McFerrin, perguntei quais as suas práticas de improvisação, e, entre elas, estava o exercício de cantar com os sons do ambiente: o carro passando, a passarinho, o rojão, o grito do carteiro. Quer dizer, além de perambular com nossa ‘orquestra pessoal’, passamos a maior parte do tempo interagindo com sons aleatórios, e podemos fazer isso de maneira consciente. Temos muitas experiências sonoras antes de conhecer as palavras Música e Arte. Sondei a memória em busca de meu primeiro contato com a Música, e me deparei com a imagem de um bebê. Procurei ‘desembaraçar’ as reflexões suscitadas pela imagem, como quem desvenda o significado de uma pista, mas permaneceram as dúvidas: E se a voz falada da minha mãe soasse como um acalanto, enquanto eu boiava em sua barriga? Será que nossos corações batucavam para me alegrar? Será que eu repousava ao som de suas ondas sanguíneas? Como seria a experiência da ‘Ilaninha’ ao ouvir os primeiros sons e qual o momento em que os receberia como Música? Deixo aqui a única informação ‘histórica’ que conservo, nas palavras da minha mãe: ‘quando bebê, você sempre acordava cantando.

03) RM: Qual a sua formação musical e acadêmica fora música? 

Ilana Volcov: Sou formada em Arquitetura e Urbanismo. E Música, eu sempre ouvi em família, desde muito pequena. O “disco novo” do Chico Buarque, eu escutei deitada no chão da sala, ainda sem mobília, com minha mãe e minha irmã. Eu devia ter uns quatro a cinco anos de idade. Apaixonei-me pela “Pequena Serenata Diurna”. Às vezes, meu pai nos colocava sobre o piano e cantávamos Noel Rosa, João Gilberto, e outras bossas. Sabíamos de cor o repertório das fitas cassete que ficavam no carro. Minha avó materna foi a primeira “diva” que conheci. Cantava, sorrindo, lindas canções da Era do Rádio, e ”com o avental todo sujo de ovo”, invadia a casa com sua voz e seus perfumes de cozinha. A maior parte dos meus primos começaram a estudar música clássica desde cedo, então, “já com atraso”, lá pelos oito anos de idade, iniciei meus estudos de piano. Foi absolutamente esquisito, já que eu não ouvia música clássica. Não durou. Aos 16 de idade fiz aulas de violão com o professor de uma amiga de escola, com quem eu passava o “recreio” cantando. Ele me apresentou Janis Joplin. Durante a faculdade, busquei aulas diversas: grupo vocal, percepção musical, improvisação, violão. A técnica vocal eu comecei com Leilah Farah, já depois de formada, enquanto trabalhava como jornalista de arquitetura numa revista especializada. A D. Leilah foi uma professora extraordinária, nem sei como me aceitou, tinha entre seus alunos grandes nomes do canto lírico. Na época, com 74 anos de idade, exibia um timbre de contralto ainda belíssimo, encorpado, aveludado, gigante. Sempre que pude, investi na minha formação musical. Passei pela ULM (Universidade Livre de Música), quando o curso de canto tinha a duração de três anos. O meu interesse ali era conhecer linguagem musical – que a gente costumava chamar de teoria musical. Então, fiz uma coisa totalmente irregular/proibida, que foi assistir, durante o primeiro ano, as aulas de “Percepção Musical” do segundo e terceiro anos, como ouvinte. Fiz “três anos em um”, larguei o curso de canto, e me ‘infiltrei’ em um curso de formação para compositores – exclusivo para instrumentistas – que incluía aulas com Arrigo Barnabé, Cláudio Leal e Nenê. Tive diferentes professores de canto, de piano, de violão, de percepção. Com o Claudio Leal, fiz os cursos de Harmonia, Arranjo e Fraseologia, após a ULM. Vou citar alguns dos professores que mais me marcaram, mesmo quando em ‘cursos-relâmpagos’: Ricardo Breim, Marcos Ferreira, Guga Murray, Mané Silveira, H.J. Koellreutter, Regina De Böer e Mônica Salmaso. (Além de todos os citados acima). Durante os dois anos, eu, como integrante do grupo Barbatuques, aprendi muito com Barba, Stênio Mendes e Lu Horta. Para finalizar, eu jamais poderia cantar ou dar aulas de canto com a mesma qualidade se não tivesse feito aulas de técnica Alexander. Estudei com Regina Vieira e Izabel Padovani, e fiz algumas aulas com Reinaldo Renzo, Gabriela Geluda, Ana Thomaz e diversos professores internacionais.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais deixaram de ter importância? 

Ilana Volcov – Ouço música clássica, popular, vocal, instrumental, folclórica, radiofônica, antiga, contemporânea, oriental, ocidental, simples, sofisticada… Sou influenciada por tudo, pelas coisas que acho bonitas e pelas coisas que não acho. Coisas que escolhi e que não escolhi ouvir me influenciam e mudam minha perspectiva constantemente. Acho que nada deixa de ter importância. Tudo que ouvi me compõe. Compõe minha visão de música. Coisas que ouvi muito ou que ouvi pouco podem ser igualmente importantes, podem disparar ideias, percursos estéticos: Jackson do Pandeiro, Pierre Boulez, Toninho Horta, Mayra Andrade, Jackie Paris, Meredith Monk, Mel Tormé, Zé Barbeiro, Rita Lee, Elton Medeiros, os hits da lambada, os senhorzinhos do Moçambique, as gravações da Casa Edison, Sakamoto & Alva Noto, Sérgio Ricardo, Gil Evans, Aca Seca, Dee Alexander, José Miguel Wisnik, Jards Macalé, Orlando Silva, Anne Sofie von Otter, Scott Walker, Capiba, Walter Santos, as trilhas de desenhos animados da infância, os boiadeiros, a bandinha que passa no Natal, a fadistaRaquel Tavares no Bar do Cidão… A Cada hora estou debruçada na linguagem de um determinado intérprete, vivo testando a emissão vocal dos cantores. Tenho como principais ‘professores de canto’ (em português): Guinga, Paulinho da Viola, João Gilberto. Aprendo demais sobre canto com compositores. Normalmente são os que têm o fraseado mais musical e mais sintético, com a intenção mais definida, concentrada. Aprender uma do Tom Jobim tem que ser ouvindo Tom Jobim, uma do Chico com o Chico… Uma das coisas que mais está mexendo com a minha compreensão de musicalidade é dançar nas aulas da Morena Nascimento. 

05) RM: Quando, como e onde  você começou a sua carreira musical? 

Ilana Volcov: Comecei cantando com Rubens Nogueira, em 1999 ou 2000, no Sanja ou no Villagio Café, em São Paulo. Criei meu primeiro show solo em 2005, quando recebi o convite do jornalista Mauro Dias para participar do projeto Prata da Casa (SESC Pompéia). Depois só retomei o “solismo” pouco antes de gravar o disco.

06) RM: Fale do seu primeiro disco solo. Quais os músicos que participaram nas gravações? Qual o perfil musical do CD? E quais as músicas que se destacaram? 

Ilana Volcov: Lancei meu primeiro CD solo, o Bangüê, em 2010. A “frase-embrião” do disco é “Recife, cidade lendária das pretas de engenho cheirando a banguê”, da canção de Capiba. Quando descobri que bangüê é o engenho da cana-de-açúcar, compreendi que o perfume adocicado das pretas  contava a história do Brasil escravocrata, do Brasil da monocultura, do Brasil africano. Em busca de outros “perfumes” brasileiros, escolhi o repertório como quem organiza um livro de crônicas. A inédita “Procissão da Padroeira”, do Guinga e Paulo César Pinheiro, foi selecionada pelo Premio da Música Brasileira, na categoria melhor canção. Fiquei muito honrada: o Guinga não era indicado há 14 anos, desde o disco Cheio de Dedos.  Músicos: Michi Ruzitschka (violões), Daniel Amorin (baixo acústico), Pedro Ito (bateria), Alexandre Ribeiro (clarinete e clarone), Rodrigo Y Castro (flautas e flautim).  Participações: Guilherme Ribeiro (acordeom), Cristóvão Bastos (piano), Caê Rolfsen, Mariana Elisabetsky e Helô Ribeiro (vocais). Arranjadores: Michi Ruzitschka, Dante Ozzetti e Rodrigo Bragança.  Produtores Musicais: Ricardo Mosca, Michi Ruzitschka e eu. 

07) RM: Como você define o seu estilo musical? 

Ilana Volcov: Prefiro não definir.  

08) RM: Como você se define como cantora/interprete? 

Ilana Volcov: Prefiro não definir. O que eu fiz no meu disco é uma pequena parte do que posso fazer com a voz. Quero continuar experimentando e criando, mais do que avaliando e delimitando contornos. Estou em momento de expansão…

09) RM: Você estudou técnica vocal? 

Ilana Volcov: Minhas principais professoras de técnica vocal foram Leilah Farah e Regina De Böer, mas aprendo demais em meu exercício como professora de canto. Costumo estudar com o disco – “o melhor professor”, nas palavras de Mané Silveira. As aulas de técnica Alexander foram muito importantes. E minha passagem, como professora do canto do Brasil, pela escola da Regina Machado me ajudou a criar novos desafios para o estudo vocal. 

10) RM: Quais as cantoras que você admira?

Ilana Volcov: Vou citar algumas das que mais ouvi e outras que ando pesquisando nos últimos tempos. A Carmen Miranda, Aracy de Almeida, Elizeth Cardoso, Nara Leão, Alaíde Costa, Ana Lúcia, Rosana Toledo, Elis, Gal, Bethania, Nana Caymmi, Márcia, Mônica Salmaso, Billy, Ella, Sarah, Betty Carter, Abbey Lincoln, Joni Mitchell, Meredith Monk, Irene Krall, Aretha Franklin, Dione Warwick, Phillys Hyman, Maria João, Jaye P. Morgan, Marlena Shaw, Bjork. 

11) RM: Você compõe? Quem são os seus parceiros musicais? 

Ilana Volcov: Compor é um exercício sazonal na minha história. Tenho músicas com Dante Ozzetti e Rodrigo Bragança. Com Helô Ribeiro e Vanessa Bumagny fiz trilhas para Os Satyros. 

12) RM: Fale de sua experiência compondo para trilha de cinema e teatro. 

Ilana Volcov: Pura diversão. Faço como quem brinca. Criadores, como o Hermeto Paschoal e a Meredith Monk, que fazem Música com tanta liberdade, são uma inspiração pra mim. Quando trabalhei nas trilhas – para teatro, documentários e pequenos vídeos -, simplesmente, eu brinquei. Agora, o desafio é levar essa experiência para as canções.

13) RM: Qual foi a importância pessoal e profissional  de participar do grupo Barbatuques? 

Ilana Volcov: Foi uma escola de música maravilhosa. Aprendi bastante sobre ritmo e arranjo, desenvolvi coordenação motora e improvisação. Também contribuiu para formação como educadora, pois aprendi diversos jogos e dinâmicas de grupo. 

14) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com a Vanessa da Mata? 

Ilana Volcov: Cantei com a Vanessa da Mata no ano 2000. Ela é admirável, determinada, sabe sonhar grande e realizar. Comecei a compor depois que vi a Vanessa criando apenas com um caderninho, a voz e um gravador.

15) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com o Zeca Baleiro? 

Ilana Volcov: Gravei vocais para os discos “O coração do Homem-bomba” vol.s 1 e 2. Fui com a Josyane Mello, da “Banda Glória”. Nossas vozes ficam muito bem juntas quando gravamos vocais! Foi o único contato que tive com o Zeca Baleiro. Ele foi muito profissional e generoso, deu liberdade para as nossas ideias. 

16) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com o Guinga? 

Ilana Volcov: O Guinga é um dos poucos artistas de que tenho todos os discos. Sou completamente fã e ele sempre foi muito generoso comigo. Dei canjas com ele diversas vezes e sempre aprendi muitíssimo sobre música ao seu lado. No ano passado, participou de um dos shows do CD – “Bangüê. 

17) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com o Rubens Nogueira? 

Ilana Volcov: Foi o primeiro compositor com quem trabalhei. Debrucei-me sobre sua obra, cantei com o Rubens por cinco anos. Aprendi a estar no palco com ele. Suas músicas eram desafios musicais que me ajudaram a desenvolver a técnica vocal e a linguagem do samba. Tive muita sorte de começar cantando coisas tão lindas, ao lado de uma pessoa tão sensacional.

18) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com o Eduardo Gudin? 

Ilana Volcov: Cantei de 2003 até o começo desse ano com o Gudin. A convivência com o Gudin me ensinou demais sobre música e como dirigir um trabalho artístico. Ao seu lado, tive a oportunidade de cantar para públicos grandes, de dividir o palco com grandes artistas como Alaíde Costa, Marcia, Paulo César Pinheiro, Paulinho da Viola, Elton Medeiros, Paulo Vanzolini, Jair Rodrigues, Arrigo Barnabé e Vânia Bastos. Gravei com Gudin “Um jeito de fazer samba” (2006), trabalho que me levou a Berlin (Alemanha) e resultou na minha primeira voltinha pela Europa. Em janeiro, lançamos o DVD “3 Tempos”, com todos os cantores que integraram seu grupo Notícias Dum Brasil. Um fechamento bonito para um trabalho tão especial.

19) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com o Ed Motta? 

Ilana Volcov: O Ed Motta é um artista brilhante, um esteta, faz tudo com excelência, canta, toca, compõe, arranja, conhece muito sobre instrumentos e equipamentos, sobre técnicas de gravação e finalização. É colecionador de discos, de filmes, de quadrinhos. Conheci uma parte da sua coleção, trabalhos maravilhosos, que ampliaram imensamente minha visão estética nos últimos dois anos. Cantou nos shows de lançamento do CD – “Bangüê” em São Paulo (Sesc Pompéia) e no Rio (Solar do Botafogo). Cantei em dois shows que fez no Teatro Rival, no Rio de Janeiro. 

20) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente? 

Ilana Volcov: Essa é uma questão bem ampla, requer uma reflexão sobre as transformações do mercado, políticas culturais e inovações tecnológicas! Vou me restringir à minha experiência. Só atuei de forma independente, não saberia comparar com outras formas de trabalho. O artista independente normalmente se torna responsável por inúmeras tarefas não artísticas. Além disso, precisa usar a criatividade não apenas para produzir música, mas também para inventar sua carreira. Se por um lado, desenvolve habilidades, por outro, deixa de dedicar esse tempo ao estudo e à criação musical.  

21) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro? Em sua opinião quem foram as revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu? 

Ilana Volcov: Sobre o mercado cultural brasileiro e as leis de incentivo, recomendo esse pequeno vídeo do Benjamim Taubkinhttp://www.youtube.com/watch?v=YZXMfo_dqiw

O cenário é sempre repleto de talentos, sejam os artistas muito, pouco ou nada conhecidos. A mídia não consegue mostrar boa parte do que acontece, e dá preferência a determinados tipos de som, conforme a época. Cabe ao amante da música, pesquisar. Não me sinto muito à vontade para elencar tão poucos em meio a um panorama tão rico e tão vasto. Só sobre a música pernambucana tem livros! Mas vou citar alguns artistas que “surgiram” nesse período, e que, pela proximidade, pude acompanhar melhor: Guinga, Mônica Salmaso, André Mehmari, Célio Barros e Céu, que exalam uma relação muito linda com a Música. 

22) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Ilana Volcov: Chico Buarque, por sua inventividade absurda, tanto musical como textual. Caetano Veloso, por sua sofisticação-simples, pela espacialidade que alcançam suas melodias e harmonias, por sua poesia agridoce, por sua inquietude. O Guinga por sua criação sublime e exuberante, por seu conhecimento musical e dedicação descomunal. Ed Motta por sua pesquisa extraordinária, por sua capacidade de entrega tanto na criação como na execução das músicas, por agregar o humor à estética e pelo dom de alegrar. Bjork, por sua habilidade de provocar espanto a cada novo trabalho, e expressar sua criatividade de tantas formas. João Gilberto, por sua síntese poderosa, por suas variações impensáveis, por fazer música ser Amor e descanso. Paulinho da Viola (príncipe), por suas crônicas magistrais, por sua elegância, por ser contemporâneo e tradicional ao mesmo tempo. Tom Jobim, por transformar tudo em beleza, por orquestrar as coisas mais profundas e harmoniosas que existem. Nana Caymmi, por seu timbre lindo, seu entendimento profundo da letra e do fraseado melódico, e sua interpretação “sem filtro”Nara Leão, por sua força delicada, pela capacidade de se reinventar e correr riscos. Essa lista não tem fim.

 23) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Ilana Volcov: Já me apresentei em um lugar importante, cujo banheiro estava com problemas. Enquanto os instrumentistas passavam o som, eu me maquiava no camarim. O ralo do banheiro começou a transbordar em uma velocidade impressionante. Eu tinha duas opções: sair correndo; ou salvar os cases dos músicos. Escolhi a segunda.

 24) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Ilana Volcov: O que me deixa feliz é a própria Música. Cantar, tocar, ouvir, criar, perceber, viver Música. O mais triste é ver artistas esquecidos ou sem dinheiro.

25) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora.

Ilana Volcov: Que tarefa difícil! Vou esquecer gente, claro, e é impossível acompanhar tanta coisa. Mas, aceitando promover essa resposta de “alto risco”, vou mencionar artistas que “surgiram” recentemente e já gravaram CD(s). Lembrar que Alaíde Costa, Márcia, André Mahmari, Gudin, Arrigo, Alzira, Ná e Dante Ozzetti, Maurício Pereira, Virgínia Rosa, Zé Miguel Wisnik, Theo de Barros, Arismar do Espírito Santo, Proveta e outros grandes, tá todo mundo aí, fazendo coisas lindas. Cantores: Adriana Godoy, Dona Inah, Bia Goes, Izabel Padovani, Tatiana Parra, Giana Viscardi, Luciana Alves, Verônica Ferriani, Fabiana Cozza, Juliana Amaral, Mariana Aydar, Juçara Marçal, João Macacão, Adriana Moreira, Mateus Sartori, Marcelo Pretto, Cris Aflalo, Mairah Rocha, Bruna Caram, Karina Ninni, Karine Telles, Ligiana, Barão do Pandeiro, Marina de la Riva, Celso Sim, João Borba… Compositores (canções): Chico Pinheiro, Chico Saraiva, Fábio Torres, Manu Maltez, Gui Amabis, Rodrigo Bragança, todos os compositores do ‘5 a Seco’, Dani Black, Céu, Luisa Maita, Tulipa Ruiz, Natalia Mallo, Bluebell, Karina Buhr, Rodrigo Campos, Kiko Dinucci, Dudu Tsuda, Marcelo Jeneci, Ana Cañas, Curumin, Lu Horta, Consuelo de Paula, Leandro Bomfim, Maurício Sant’Anna, Vanessa Bumagny, Helô Ribeiro, Rodrigo Campos, Rita Figueiredo, Cecília Bernardes, Luciano Garcez, Nô Stopa, Tata Fernandes, Juliana Kehl, Andréia Dias, Danilo Moraes, Ricardo Teté, Guilherme Meyer, Anelis Assumpção, Manu Lafer, Leo Cavalcanti, Iara Rennó, Fábio Barros, Rômulo Froes, Cacá Machado, Beba Zanettini, Marko Concá, Rafa Barreto, Caê Rolfsen, Breno Ruiz, Pipo Pegoraro, Swamy Jr., Regina Machado, Fabio Cadore… Grupos/bandas: Choro Rasgado, Afro Electro, Improvisado Trio, Sinamantes, Axial, Los Pirata, Bixiga 70, Conversa Ribeira, Projeto B, André Marques e Vintena Brasileira, O Vento (Luiz Felipe e Ana Luíza), Cochichando, Sambanzo, Mani Padmi Trio, A Barca, Batuntã, Pitanga em pé de amora, Trio Corrente, Vento em Madeira, Mawaca, Grupo Quatro a Zero, Coração Quiáltera, MarginalS, Alessandro Penezzi & Alexandre Ribeiro, Brasil Guitar Duo, Banda Glória, Orquestra Mundana, Barbatuques, Movimento Elefantes (com 10 bandas de sopros), Soukast… Compositores (música instrumental): Danilo Brito, Zé Barbeiro, Guilherme Ribeiro, Ricardo Herz, Paulo Gusmão de Mendonça, Thiago Espírito Santo, Guizado, Ana Fridman, Ronen Altman, Zeli, Rogério Bottermaio… Projeto “Música de Graça” (internet), da cantora e compositora Dani Gurgel, que apresenta artistas e suas canções inéditas. Shows: Casa de Francisca, Ó do Borogodó, Casa do Núcleo, Stúdio SP, Centro Cultural Rio Verde, Sala Crisantempo, Jazz nos Fundos e SESCs. Entre outras coisas, faltou listar instrumentistas, produtores e DJs.

26) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?

Ilana Volcov: Recomendo a pesquisa. Tive a ideia de anotar algumas músicas/intérpretes que ouvi enquanto redigia as respostas dessa entrevista. Now I Know (Moacir Santos); Roda Mundo (Ana Mazzotti); Children of the World (Phyllis Hyman); Barra Limpa (Luiz Henrique e Oscar Brown); El cigarrito (Victor Jara); Olha aí (Johnny Alf); Long distance love (Little Feat); Farinha do desprezo (Jards Macalé); Ask me nice (Mose Allison); Debaixo do sol (Carlos Walker); Lover Man (Gil Mellé); Aleluia (Quarteto em Cy e Tamba Trio); Gal Costa (Mansidão);Mirandolina (Burnier & Cartier) 

27) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?  

Ilana Volcov: Já acontece. Canções e entrevistas já circularam por diferentes rádios do país e do exterior. Existem jornalistas e programas mais comprometidos com a cultura do que com o jabá. Quero muito que meu trabalho possa atingir mais pessoas, ainda não sei como isso vai acontecer ou se vai acontecer. Apenas sei que vou me dedicar à Música enquanto estiver no mundo.

28) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?  

Ilana Volcov: A Música é generosa, sempre nos retribui imensamente a todo e qualquer gesto de dedicação. A Música cura.

29) RM: Quais os seus projetos futuros?

Ilana Volcov: Estou preparando um show em homenagem ao centenário do Mazzaropi, ao lado do talentoso Alexandre Ribeiro e de seu grupo. Estreia em julho, em Campinas – SP. Agora, em junho, começo o curso de Rearmonização do professor Cláudio Leal, com duração de um ano e meio. Fazer o segundo disco no segundo semestre. Cantar em outros estados e países. Compor.

 30) RM: Quais os contatos?

Ilana Volcov: www.ilanavolcov.com.br | Ilana Volcov / Facebook

@ilanavolcov / Twitter


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