Eduardo Abranttes
Cantor e compositor paraibano Eduardo Abranttes mora em Recife há anos. Canta uma música brasileira, com confluências nordestinas, advindas da música de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Elomar, e da poesia de Pinto do Monteiro, Augusto dos Anjos.
Participou da banda “A Uzyna”, na qual gravou o disco “Cantigas de Sertões”, em 2006. Cantou a sua música em estados como São Paulo, Santa Catarina, Paraná. Em 2011, gravou seu disco autoral “Dois Tempos”, com participações importantes, como Maciel Melo e Irah Caldeira.
Abriu cantorias de Xangai, Renato Teixeira. Como compositor, ganhou Festivais de Música com música própria, em Pernambuco, na Paraíba e no Paraná. Em São Paulo, foi finalista com sua música “Saga Humana”. Em seu repertório consta o rico acervo rítmico nordestino: o xote, baião, ciranda, caboclinho, maracatu.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Eduardo Abranttes para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 21.10.2019:
Índice
Eduardo Abranttes: Eu nasci no dia 21 de outubro de 1957 em Sousa, Paraíba.
Eduardo Abranttes: A música fluiu na minha vida, ouvindo minha mãe, junto com outras mulheres, cantarem lindas ladainhas à beira do Rio do Peixe em Sousa – PB, enquanto lavavam roupa. Aquilo ficou tatuado em minha memória.
Eduardo Abranttes: Eu comecei a gostar de música cedo, através principalmente de uma irmã mais velha. Ela era atriz do teatro amador de Sousa – PB, e cantava em festas, na igreja e no coral. Assim, ela me levou para o teatro e para o coral. Em Recife – PE, estudei Violão Popular e Clássico por 4 anos e técnica vocal, por um bom tempo. Na área acadêmica, eu me formei em Estudos Sociais, licenciatura de História e Ospb, na UFRPE.
Eduardo Abranttes: Na minha infância, ouvi muito, num velho rádio que meu pai tinha, grandes cantores da velha guarda musical: O Rei da Voz, Chico Alves. Carlos Galhardo, Alcides Gerardi, Ângela Maria, Cauby Peixoto.
Depois conheci a música e a voz de Nelson Gonçalves, Altemar Dutra, Agnaldo Timóteo. Mas, foi só através da música nordestina que estourou Brasil afora, que vim entender a importância da música nordestina, através de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Marinês, Ari Lobo, Trio Nordestino.
Depois Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Dominguinhos, Elba Ramalho, Ednardo, Belchior. Nos anos 80, conhecei a obra de Elomar Figueira, na qual me inspirei durante bom tempo de minhas andadas musicais.
Eduardo Abranttes: Eu comecei a cantar e compor em Sousa – PB, a partir dos 14 anos de idade. Inclusive participando de Festivais de Música. Mas, foi em Recife – PE, no inicio dos anos 80, que comecei a cantar profissionalmente, na noite. Conseguia conciliar a música, com o trabalho em um banco.
Eduardo Abranttes: Em 2006, participando de uma banda chamada A Uzyna, gravei meu primeiro CD. Éramos quatro componentes. Eu, voz e violão e compositor de cinco músicas. Talis Ribeiro, voz e violão, compositor de sete músicas. Samucka, percussão e Alberto Oliveira, poeta e letrista de quase todas as músicas, e também, o produtor.
O disco chamou-se “Cantigas de Sertão”. Trata-se de uma ode ao Sertão. Divulgamos em Rádios, TVs e teve uma boa aceitação, mesmo sendo independente. Em 2011, com o patrocínio da Chesf, gravei meu disco: “Dois Tempos”.
Disco autoral, com todas as músicas minhas. Com 15 músicas. Duas parcerias: “Luas”, cuja letra é da poetisa Ceci Alencar, e “Noturno”, com bela poesia do grande cronista, jornalista, ganhador de quatro prêmios Esso – Ronildo Maia Leite, em parceria com a Isa Fernandes M. Leite. Em “Dois Tempos”, tive músicos fantásticos: Renato Bandeira, violão, viola 10 cordas, direção artística e produção musical. Luizinho de Serra, sanfona.
Anatálio, cello. Samucka, percussões. Bigode, baixo. Samuel Lira, flauta transversa. Vocal, Gysa Alencar. Tive ainda as participações luxuosas de Maciel Melo, na música “Passatrilho” e Irah Caldeira, na música “Vida”. Algumas músicas deste disco foram mais tocadas: “Dois Tempos”, “Saga Humana”, “À Flor que Aflora”, “O Poder do Sonho”, “Menino Bonito”, “Passatrillho” e “Zênite”, tanto no Spotify, quando no Deezer.
Eduardo Abranttes: Eu me defino como um compositor de MPB com influências de cantoria, onde eu priorizo bastante a melodia, sem me esquecer da importância de uma bela letra, uma emocionante poesia.
Eduardo Abranttes: Sim, estudei técnica vocal. Tive grandes professores: primeiro, o maestro Zé Queiroga, do Coral Eládio Melo, que eu fiz parte, dos 13 aos 17 anos de idade; Geni Katz, Henrique Lins, Michelângelo de Carvalho – embora apenas num curso, o maestro Benedito da Fonseca, maestro do coral de Maceió, e o prof. Uziel Lima.
Eduardo Abrantes: Tem grande importância o estudo da técnica vocal. Com técnica, já se cuida da voz. Pode-se, como eu faço há tempo, cantar três horas seguidas na noite, e aguentar o tranco. Sem técnica, e na base da bebida e do cigarro, não se canta muito tempo, e prejudica sistematicamente o aparelho fonador e a qualidade do canto.
Eduardo Abranttes: Dos cantores que já se foram, gostava muito, na música brasileira, de Altemar Dutra, Agostinho dos Santos, Jessé, Gonzaga, Emílio Santiago, Ângela Maria, a fantástica Elis Regina. Na música lírica, Luciano Pavarotti, sem dúvida era o melhor. Hoje, gosto de Milton Nascimento, Caetano Veloso, Zizi Possi, Maria Bethânia, Monica Salmaso, Ceumar, Elomar, Lenine.
Eduardo Abranttes: A minha forma de compor tem um misto de técnica e inspiração. Gosto de usar o que eu aprendi, no Violão, com a inspiração. Respeito quem o faz, mas, eu não gosto de “construir” música. A melodia tem que ter sentimento: musical, emocional. E a letra tem que combinar com o sentimento da canção. Tenho certeza que o misto de inspiração com técnica é o que resulta em grandes canções.
Eduardo Abranttes: Não tenho parceiros fixos. Tenho poucas parcerias. Não é egoísmo, mas, me sinto melhor compondo só, na maioria das vezes. Sou meio vaidoso nesse sentido. Gosto de sentir que fiz uma boa melodia, uma linda poesia e um ótimo arranjo de base. A melodia vem quase sempre quando não se espera.
Eduardo Abranttes: Até aqui, ninguém. Não gosto de oferecer minhas músicas. Se me pedirem, eu dou. Mas, não ofereço. Já me sugeriram dar parceria em música minha já pronta. Nunca concordei.
Eduardo Abranttes: Não é fácil desenvolver carreira musical de forma independente. Sinto isso diretamente. Ainda sinto dificuldade em vender minhas apresentações. E vejo que a concorrência com produtores malandros, furões, dificulta pra gente. Averiguei isso com muitos colegas artistas. Vi que não é só eu.
Eduardo Abranttes: Infelizmente, sem um produtor, ou empresário, planejo muito pouco estratégias para a minha carreira musical. O Nordeste, onde moro, é difícil o mercado musical independente. E sem um CNPJ, até projetos de apoio à carreira, são vetados à pessoa física. Recorro às apresentações públicas e em outros eventos.
Eduardo Abranttes: Poucas ações empreendedoras. O que tenho feito é apresentar meu trabalho nas redes sociais e nas plataformas digitais. E através de quem já conhece o meu trabalho, ao longo de muitos anos na noite, conseguir apresentações, shows, etc.
Eduardo Abranttes: A internet mais ajuda que prejudica. É onde a gente pode divulgar o trabalho, sem custos. As plataformas digitais ajudam a divulgar nosso trabalho.
Eduardo Abranttes: Tudo o que vier para facilitar o trabalho de quem canta, compõe e toca, é bem vindo. Temos que gravar, divulgar e cair em campo. Essa tecnologia é muito mais acessível que os caros estúdios de gravação de outrora.
Eduardo Abranttes: Eu penso que até para se diferenciar no meio de tanto estilo, artistas, caminhos musicais, o importante é a qualidade musical. Mesmo vendo o mercado musical, principalmente o popular, consumindo tanta coisa fraca, ruim e sem valor. O que não pode é desistir. Se deixar levar pelo pessimismo, ou se vender musicalmente a estilos comerciais ruins.
Eduardo Abranttes: Há um tempo, o cenário musical brasileiro, é dominado pela grande mídia, ou melhor, pela Rede Globo, através das Novelas e da gravadora Som Livre. O mercado musical tem sido bombardeado com muita coisa ruim. Tanto que ninguém imaginava que hoje os tops são: Wesley Safadão, as duplas do breganejo e grande parte do MC de FUNK. Mas, em meio a isso, surgiu um Lenine, um Paulinho Moska, uma Maria Gadú.
Eduardo Abranttes: Gosto do Lenine, do Antonio Nóbrega, da Mônica Salmaso, a Vanessa da Mata.
22) RM : Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?
Eduardo Abranttes: Que eu me lembre: já cantei para uma plateia de apenas quatro pessoas. Mas, como tinha que gravar o show, eu fiz assim mesmo. Já passei por uma situação: a contratante me deu um beijo na boca na frente de todo mundo. Tinha tomado umas (risos). E já fiquei sem o dinheiro da apresentação, uma única vez.
Eduardo Abranttes: Triste, ainda é a falta de apoio, de compreensão, de valorização por parte, às vezes, até de gente conhecida. O que me deixa feliz, é saber da minha capacidade de compor bem, cantar mais ou menos, e sonhar sempre.
Eduardo Abranttes: Recife – PE é uma cidade cosmopolita. Grande no tamanho e na tradição musical. Uma das maiores riquezas musicais e rítmicas do planeta. Uma riqueza detentora de mais de 30 ritmos. Mas, é também uma madrasta para os artistas que nela vivem.
Talvez seja culpa dos produtores, que só pensam no dinheiro, e contratam qualquer coisa, em detrimento da riqueza musical que a região tem. Nós temos o frevo, o maracatu, a ciranda, o galope, o caboclinho, o xote, o xaxado, o baião, o coco, em suas variedades, o samba em suas divisões, além do galante, o cavalo-marinho, o bumba-meu-boi, o reizado.
Eduardo Abranttes: Aqui tem músicos como Marrom Brasileiro, Banda Som da Terra, Renato Bandeira, Spock Frevo Orquestra, Maciel Salu e seu Cavalo Marinho, Maciel Melo, Santanna, o cantador.
Eduardo Abranttes: Levei meu disco em várias rádios, em pelo menos três Estados do Nordeste. Só ouvi tocar, quando eu estava presente. O jabá ainda existe por aqui.
Eduardo Abranttes: Tem que ter coragem, paciência, apoio, resiliência, principalmente. Viver de música hoje, no Brasil, é pra corajoso com coragem pra mamar em onça (risos).
Eduardo Abranttes: Eu já participei de alguns Festivais de Música. Ganhei três e fiquei em finais em pelo menos cinco. Foi bom para o começo da carreira. Hoje, não quero mais. É desgastante para o artista, compor uma bela música, e ser julgado por um jurado sem qualidade. E ver uma música fraca ganhar. Por isso, Milton Nascimento não queria saber de Festivais de Música.
Eduardo Abranttes: Não acredito. Penso que é bom só para o artista. Porque não há planejamento dos Festivais de Música para quem ganha. Hoje, o projeto de música para o Brasil, é feito pela gravadora Som Livre. E não há interesse para o sistema apoiar as músicas de qualidade dos Festivais de Música.
Eduardo Abranttes: Sinceramente, eu não vejo direcionamento da grande mídia brasileira para a música nacional. Não existe projeto, não existem programas musicais. O único sobrevive é o programa Sr. Brasil, de Rolando Boldrin. Mesmo assim, não passa aqui no Nordeste, em Recife – PE. Só no youtube.
Eduardo Abranttes: Vejo de muita importância. Acompanho de há tempo, os projetos musicais nos Sescs. Os Sescs do Brasil tem dado exemplo do não abandono da música brasileira, como o fazem a mídia e o país. Projetos do Itaú Cultural, Caixa Cultural, são sempre bem vindos. Eu fiz uma cantoria no Centro Cultural Banco do Nordeste – CCBNB, em 2011. Infelizmente, esse instrumento, o CCBNB, está fadado à extinção pela nova política cultural.
Eduardo Abranttes: Já foi mais. Toquei em vários bares, hotéis. Diminuiu bastante por aqui. Hoje, tenho feito festas em condomínios, residências, eventos dos governos municipal e estadual.
Eduardo Abranttes: Continuar na luta. Compor, cantar, viajar. Fazer mais discos e sonhar sempre. Porque sem sonho não há realizações.
Eduardo Abranttes: eduardoabranttes@hotmail.com | (81) 99825 – 5287 | 98680 – 0301
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