More Edmundo Cassis »"/>More Edmundo Cassis »" /> Edmundo Cassis - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Edmundo Cassis

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Edmundo Cassis iniciou sua carreira musical em 1974 e desde então vem atuando como pianista acompanhando diversos cantores e artistas tais como Nana Caymmi, Fátima Guedes, Peri Ribeiro, Miele, Isaurinha Garcia, Martinho da Vila, Doris Monteiro, Rosa Maria Collins, Zezé Motta, entre outros.

Fez parte de grupos de música instrumental, com destaque a sua participação no quinteto do saxofonista francês, Idriss Boudrioua, no Free Jazz Festival de 1986, realizado no Hotel Nacional no Rio de Janeiro. Desse encontro participa da gravação de dois discos desse mesmo saxofonista e nos quais inclui três composições de sua autoria. 

Além de participar desse grupo também atua como band líder de seu quarteto, com o qual grava duas músicas (“Marcha Alegre” e “É terna”) para um álbum duplo – “O Som da Demo” do SESC Consolação em 1994. 

Além de pianista, Edmundo Cassis é compositor, arranjador, além de ministrar cursos sendo convidado para um curso sobre improvisação no estilo de jazz, bebop, na ULM – Universidade Livre de Música – Tom Jobim em São Paulo, entre os anos de 2007 e 2008, aos alunos do último ano de piano.

Após esse período atua como pianista em um navio cruzeiro por um ano e meio fazendo a rota do mediterrâneo. Desde sua volta em julho de 2010 vem atuando como professor em sua residência bem como participando como produtor e pianista de diversos álbuns: Monica Elizeche -Tempo Guardado, Carla Bezerra, Vera Figueiredo – Vera Cruz Island, Júnior Vargas – On & Off, Miguel Garcia – Miguel Garcia e A Beija, Paulo Henrique, Cesar das Merces, Sergio Hindssão alguns álbuns com sua participação, seja como pianista, seja como produtor e arranjador.

Dos grupos de música instrumental ainda vale mencionar: Hector Costita Sexteto, Alquimia, Grupo Agora (Duda Neves, Sizão, Léa Freire, Netão), Peter Farrel Quinteto, Robertinho Silva, Guilherme Rodrigues Quarteto, Maurício Einhorn Quarteto, entre outros. 

Em 2022 lançará três álbuns de música instrumental: o primeiro álbum “Give up isn’t an option” (pop/rock) lançamento agendado para 30 de agosto. O segundo álbum “Charles Martel” (rock progressivo) agendado para o final de outubro. O terceiro álbum “The Creation” (new age) agendado para o final de dezembro.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Edmundo Cassis para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 13.09.2022:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Edmundo Cassis: Nasci no dia 13/09/1954 em São Paulo – SP. Registrado como Edmundo Ramos Cassis.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Edmundo Cassis: Meu primeiro contato com a música foi aos 4 anos de idade, no jardim de infância. A minha professora do Jardim era professora de piano e um dia, ao entrar em sua sala para pedir um copo d’água me deparei com o piano pela primeira vez e, curioso, quis logo saber o que era “aquilo”. Então, ela começou a me mostrar o que fazer com “aquilo” e eu fiquei muito entusiasmado. Logo comecei a ter aulas com ela, me ensinando os primeiros rudimentos, e inclusive a ler música. Ela utilizava figurinhas com bichos significando os nomes das notas.

Mas meu pai, Nelson Cassis Netto, não tinha condições de comprar um piano na época. E talvez também por uma certa incredulidade. Coisa de criança que perde o entusiasmo depois de um certo tempo. De qualquer forma, uma vez por semana eu tinha alguma aula de piano, e nesse ritmo fui até chegar aos 9 anos de idade, quando finalmente meu pai, ou por condição financeira, ou por desistir de não acreditar, finalmente me comprou um piano.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Edmundo Cassis: Minha formação musical se deu em várias etapas, através de aulas em escolas particulares. Eu não tenho o curso superior por não ter terminado o colegial. Depois que passei do primeiro ano do colegial para o segundo senti que não consegui mais estudar o que a escola propunha. A música falava mais forte, as oportunidades para tocar eram mais constantes e isso acabava por tomar meu tempo.

Eu sempre me dediquei muito ao estudo da música, do instrumento. O que para alguns é mais fácil para mim não era, e não é. Portanto, praticar exercícios de todos os tipos relacionados ao que os trabalhos que apareciam exigiam era de fundamental importância. 6 horas, 8 horas, e até mais, dependendo da disposição, da saúde, eram comuns, e ainda são no meu cotidiano. Mesmo agora, aos quase 68 anos, pratico exercícios para ter uma boa execução ao piano e também nos teclados.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Edmundo Cassis: Influências! Bem, vamos por partes. De criança eu ouvia música erudita em casa e na igreja que meus pais (Nelson Cassis Netto e Yvette Ramos Cassis) e eu frequentávamos. Tinha um organista sensacional, tocando aquelas peças de Bach. Lógico que eu sabia bem pouco de música, mas aqueles sons me eram preciosos, a beleza que saía daquele órgão era indescritível.

Em casa tinha aquele negócio de ficar na sala ouvindo na vitrola discos de Artur Rubinstein, tocando todos os noturnos de Chopin, Villa-Lobos, Nat King Cole, que meu pai adorava. Depois veio a Bossa Nova. Tocava nas rádios, duas que me marcaram, “Só tinha de ser com você” (Aloysio de Oliveira / Antonio Carlos Jobim) e “Minha namorada” (Carlos Lyra / Vinícius de Moraes), com o grupo vocal Os Cariocas. Era sensacional! Ganhei um violão e comecei a tirar músicas da Bossa Nova. Mas não levei a sério o instrumento. Deveria.

Daí vieram os festivais de música da TV Record, o programa da Elis Regina e Jair Rodrigues. Eu não perdia nada. Também tinha o Wilson Simonal, que eu adorava, aliás, até hoje. Cheguei a pedir para minha mãe comprar o bonequinho Mug e fui assistir na TV Record o Simonal! Que artista! Quanto ao programa da Elis e Jair, era o Zimbo Trio que os acompanhava. Eu devia ter 12 anos de idade. Jamais imaginaria que anos mais tarde teria aulas com o próprio Amilton Godói. Então, essas foram as minhas primeiras influências.

Daí vieram The Beatles. Tudo mudou na minha cabeça. Que som era aquele! Eu não entendia nada das letras. Só bem mais tarde é que aprendendo inglês é que entendi a proposta daquele som. Mas a música marcou, independente das letras. Os significados? Bem, eles eram definidos pela emoção que cada música me causava. Hoje sei que muitas das letras não têm nada a ver com o que eu sentia, mas como demorou algum tempo para que eu pudesse entender as letras posso dizer que consigo ter a memória afetiva ativa quando as ouço. Meio esquizofrênico, mas consigo ouvir e sentir com dois significados. É como apertar a tecla SAP.

Então veio o desejo de fazer aquele som. Ganhei uma guitarra e um amplificador. Fazia um barulho infernal. Tinha um colega no ginásio que tocava bateria e um dia tentamos tocar juntos. Não rolou. Eu era muito ruim na guitarra. Mas a guitarra entrou porque eu não via o piano naquele tipo de som, embora não tenha parado de tocar.
Até festival de MPB entrei, defendendo “Januária” de Chico Buarque juntamente com outro amigo que a cantou. Pegamos o segundo lugar num festival do Clube de São Vicente, Ilha Porchat.

E finalmente, um órgão da marca Diatron. Rock Progressivo. Aí já dava para sonhar em ser roqueiro. Montei um power trio com mais dois amigos e eu já compunha as músicas.

Fizemos uma única apresentação num programa da TV Bandeirantes que foi apresentado e gravado ao vivo no Parque da Aclimação em São Paulo. Infelizmente o acervo da Bandeirantes pegou fogo e nada disso pode ser mostrado.

Finalmente, Bill Evans. Eu tinha 17 anos de idade (1971) e estava ouvindo acho que era a rádio Eldorado, um programa totalmente dedicado a esse fantástico pianista/compositor. Até então o máximo que eu sabia de jazz era um disco de Dave Brubeck, que na época não me animou muito. Mas aquele som do Bill Evans! Aquilo era demais.

Em 1973 abriu o CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical, a escola do Zimbo Trio, e comecei a ter aulas com Amilton Godói e depois com o Gogô, que era fã de carteirinha do Bill Evans. Eu já comprava alguns discos do Bill Evans e ficava ouvindo horas e horas a fio, todos os dias. E isso fez com que o “jeito” do Bill Evans tocar de alguma forma começasse a fazer parte de mim, não que eu tirasse o que ele fazia. Eu não consigo explicar melhor, mas era como que se a alma daquele som fosse de alguma forma compartilhada, mesmo que as notas, acordes, ritmo, não fossem o mais próximo dele.

Então, veio o dia em que eu não aguentava mais ouvir rock, fosse Beatles, Jimmy Hendrix, Led Zeppelin, Emerson, Lake and Palmer, Yes, Genesis, Gentle Giant, Jethro Tull, King Crimson, Soft Machine, etc. todas essas bandas fazem parte das minhas influências. Dei todos os vinis. Dalí então, só jazz, música instrumental, Bossa Nova. Mas rock? Durante quatro décadas não quis ouvir mais.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Edmundo Cassis: Em 1974 (aos 20 anos de idade) surgiu uma vaga para pianista num grupo de jazz tradicional, o Brazilian Jazz Stompers. Tinha aquele negócio de se vestir como os caras da época e eu não curtia fantasia. Mas trabalhei bastante, viajei muito com essa banda. Só que o que eu estudava no CLAM – Centro Livre de Aprendizagem Musical não funcionava bem com aquele som, então resolvi sair. Normalmente você me veria tocando com essa banda numa casa de show Opus 2004 na rua da Consolação, em São Paulo.

Ao mesmo tempo, durante os três anos e meio em que estudei no CLAM também tocava com outros músicos, em formações diversas e nos apresentávamos em bares onde rolava música instrumental, no Parque do Morumbi, no Museu da Imagem do Som. 

A lista é grande de músicos que comecei a tocar: Duda Neves, Sizão Machado, Léa Freire, Caito Marcondes, Claudio Celso, José Neto, Datcha, Amado Maita, Pete Woolley, Nestico, Dagmar, Vidal Sbrighi, Guedes, Hector Costita, Nenê, Cândido, Palhinha, Gerson Frutuoso, esse que me levou para o CLAM e também para a Fundação das Artes de São Caetano do Sul, onde estudei por três anos.
Mas basicamente foi com essa galera que comecei a tocar profissionalmente.

06) RM: Quantos CDs lançados? Cite os CDs que já participou como Tecladista/Pianista?

Edmundo Cassis: Desde outubro de 2021 estou produzindo sozinho meus primeiros três álbuns de música instrumental: um de rock/pop, rock progressivo, outro de new age, e outro de fusion. Em 2022, lançarei os três álbuns: o primeiro álbum “Give up isn’t an option” (pop/rock) lançamento agendado para 30 de agosto. O segundo álbum “Charles Martel” (rock progressivo); onde conto através das músicas pontos da vida desse personagem real da idade média, lançamento agendado para o final de outubro. O terceiro álbum “The Creation” (new age); música de ambiente, música eletrônica, mas não para pista de dança, lançamento agendado para o final de dezembro.

É estranho que depois de quatro décadas eu tenha voltado para o rock. Mas tem tudo a ver com raiva e fome, consequência da pandemia do covid-19 que afetou a todos, mas principalmente a nós que trabalhamos na área do entretenimento. O Rock me serviu de forma visceral para expressar sentimentos que o Jazz e a Bossa Nova não estavam sendo eficientes. Não estou afirmando que Jazz e Bossa Nova não possam ser viscerais, ao seu jeito, e expressar sentimento de revolta. Estou falando do meu momento. Amanhã? Sei lá. Nos dois primeiros álbuns, “Give up isn’t an option” e “Charles Martel”, eu toquei todos os instrumentos que será ouvido utilizando meus dois teclados e um notebook.

Eu participei de CDs de vários artistas, a exemplo: Monica Elizeche -Tempo Guardado, Carla Bezerra, Vera Figueiredo – Vera Cruz Island, Júnior Vargas – On & Off, Miguel Garcia – Miguel Garcia e A Beija, Paulo Henrique, Cesar das Merces, Sergio Hinds.

Duas músicas minhas (“Marcha Alegre” e “É terna”) estão no álbum duplo institucional, “O Som da Demo”, do SESC Consolação. Tem também os vinis do saxofonista francês, Idriss Boudrioua, onde também pude gravar três das minhas composições. Com Idriss fizemos muitas gigs, inclusive o Free Jazz Festival 86, no Hotel Nacional no Rio de Janeiro. Do grupo liderado por Idriss Boudrioua tivemos Paulo Russo e também Dean Kenhold no contrabaixo, Bob Wyatt na bateria, Claudio Rodit no trompete, Alexandre Carvalho na guitarra.

Morei no Rio de Janeiro entre 1982 e 1985, e pude acompanhar os grandes intérpretes da música brasileira. Eu tocava no hotel Rio Palace, com um quarteto formado por Ana Maria Martins, cantora, Jorge Rodrigues, contrabaixo, Ronaldo Alvarenga, bateria, e lá tivemos pocket shows de duração de 15 dias cada, onde se apresentaram com o mesmo trio que acompanhava a cantora Ana Maria Martins, Nana Caymmi, Fátima Guedes, Pery Ribeiro, Martinho da Vila, Olivia Hime, Dóris Monteiro, entre outros.

Fui convidado por Mauro Senise e Zeca Assumpção para substituir o fantástico pianista e compositor André Dequesh, do grupo de música instrumental Alquimia. Infelizmente uma única apresentação no Jazz Mania, justamente quando ocorria as Olimpíadas. Público quase zero. E foram muitos ensaios. Ah, o baterista era nada mais, nada menos do que Robertinho Silva, com quem toquei no Parque das Catacumbas.

Essa temporada em que morei no Rio de Janeiro só foi possível por conta de um convite do saxofonista Guilherme Rodrigues, que me conheceu em São Paulo e me levou para tocar próximo ao Largo São Conrado com ele, Paulo Russo, e o baterista Marcos André, o “Doutor”. Todas as terças rolavam canjas nesse lugar. Lá conheci Maurício Einhorn que nos convidou para acompanhá-lo. Fizemos mais ou menos um ano de gigs com ele e que também teve a participação de Meireles, o saxofonista/produtor, do Copa 5. Genial Meireles.

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Edmundo Cassis: Não tenho um estilo definido. Ouço de tudo, mas não toco tudo que ouço por não ter habilidade ou ser um multi-instrumentista. O teclado com um computador é que está abrindo mais possibilidades, tanto é que não me defino mais como pianista, mas sim tecladista. Sim, continuo tocando piano, fazendo gigs em bares, restaurantes, shows, mas sempre levo um teclado de 88 teclas, teclado similar ao de um piano de verdade e mais o notebook com os instrumentos virtuais que utilizo em casa para produzir. Não tenho mesmo um estilo definido, e estou muito bem com isso. Sou o que sou hoje. Amanhã tudo pode mudar, e penso: “que bom isso”. 

08) RM: Como é o seu processo de compor?

Edmundo Cassis: Complicado responder. Inspiração? Sim, quando ela vem. Técnica? Sim, partindo de modelos, ou mesmo criando um próprio modelo. A música do século XX mostrou que a Harmonia Funcional não era mais o único tipo de organização dos sons. Tortuosa? Sim, pois nem sempre o que começa bem continua fluindo. Tenho que muitas vezes ir para a pedreira, buscar o diamante, a pepita de ouro. Muitos projetos começados, poucos terminados, outros jogados fora.

O segredo é estar sempre fazendo alguma coisa, seja compor, reharmonizar canções, fazer arranjos, estudar técnica quando não tenho nenhuma ideia, estudar alguma peça da música “chamada erudita”, porque erudição significa conhecimento. E quem é que pode afirmar que para fazer um baião não é necessário ter o conhecimento? Convivi com pessoas (dessa área erudita) muito preconceituosas, mas se você colocasse um simples baião para que ele (a) tocasse, não rolava. Fácil falar, difícil fazer.

09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Edmundo Cassis: Eu não tenho principais parceiros, até porque minha área é a música instrumental. Posso citar o guitarrista/compositor/poeta/pensador Miguel Garcia que me deu o privilégio de compor uma música para uma de seus poemas. Mas parceiros na música instrumental eu não tenho.

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Edmundo Cassis: Se você se refere a ter uma carreira solo, sendo o artista principal, bem, eu sempre atuei mais como o que nos EUA chamam de “Side Man”, que significa o músico que “acompanha”. Sempre foi complicado eu montar um grupo para tocar minhas próprias composições, e principalmente do meu jeito. Tanto é, que em diversas bandas de música instrumental, eu aproveitava o espaço para propor algumas de minhas músicas. Até compunha de acordo com o perfil musical da banda em que estava tocando. Claro que, isso não se dava num primeiro momento.

Por exemplo, quando tocava com o Duda Neves, Sizão Machado, Léa Freire, José Neto, entre outros, entre 1973 e 1975, todo mundo sempre trazia alguma música própria, além das que tocávamos do lendário Real Book, e também dos discos que nós compartilhávamos. Assim fiz em diversas bandas de música instrumental pelas quais passei.

Se você tem uma compreensão de mercado, sabe se relacionar bem com pessoas influentes, as chances de sua carreira independente decolar são bem grandes. Não foi e não é meu caso. Sempre acreditei que por fazer boa música seria suficiente para convencer de que valia a pena me ouvir. Não é. É preciso marketing, como tudo que se coloca numa prateleira de supermercado, afinal de contas, música, não importa a qualidade, é entretenimento, e se você quer viver dela tem que saber como vendê-la. Sou um péssimo vendedor. O pensamento, “a arte pela arte” não me propiciou bons resultados financeiros, embora tenha conquistado diversos elogios, mas não foram estes que encheram minha geladeira.

11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Edmundo Cassis: Hoje, com o advento das redes sociais, entendo que postar o que você faz, independente de se isso retornará em ganhos financeiros, é de extrema importância. Por outro lado, a concorrência é enorme. Se você não sabe como colocar nas redes seu projeto em evidência, e isso é um trabalho constante, melhor contratar quem sabe. As facilidades que as novas tecnologias trouxeram proporcionaram este boom de artistas.

Eu, por exemplo, tenho três álbuns que serão lançados em 2022. Todos feitos em casa, sozinho, com instrumentos virtuais. Tive ajuda de quem sabe, que vai desde obter os ISRCs de cada faixa, até a capa dos álbuns. Aventurei-me a fazer uma capa. Ganhei um gongo! A explicação sobre o desperdício de algo tão importante, o espaço, o como ser preenchido, tudo isso me era desconhecido, aliado ao fato de que eu não tenho o menor talento gráfico. Até minha caligrafia é péssima. Então, buscar ajuda de quem sabe, entender todo o processo envolvido, além do “fazer” a música.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Edmundo Cassis: No momento estou utilizando as redes sociais para divulgar minhas músicas através dos álbuns que gravei.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?

Edmundo Cassis: A internet é uma ferramenta fantástica, e assim como qualquer outra coisa, precisa ser bem utilizada. No momento em que você começa a dispersar o foco do que realmente é importante para sua carreira, e isso pode acontecer facilmente devido a trilhões de sugestões que pipocam à sua frente, nessa hora ela realmente atrapalha. É como uma síndrome de onisciência. Você pode ter acesso a tudo, menos ao que de fato é importante.

Fiquei sem internet por três meses, sem grana, sem trabalho, cortei. O resultado disso a princípio foi uma síndrome de abstinência. Foi difícil, mas superei através do empenho em produzir. Eu não tinha mais nada para fazer. Então comecei a compor, uma, duas, até três músicas por dia. Depois vinha o trampo de gravar, reharmonizar, colocar os contrabaixos, cordas, sopros, sintetizadores, bateria, etc, etc, etc, e um tal de cortar, colar aqui, colar lá, quem mexe com estações de trabalho de áudio digital sabe do que estou falando.

E depois, a mixagem! Esse, um cavalo selvagem que você pretende domar, mas que muitas vezes lhe derruba. Existe uma frase que é: Chega uma hora em que você simplesmente desiste, e deixa a mixagem com está. Porque simplesmente cada vez que você mexe em alguma coisa, outra aparece no lugar. Pode ser bom, mas pode ser ruim. Antigamente era o telefone que tomava a atenção das pessoas. Desse eu escapei.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Edmundo Cassis: Só vejo vantagens, como descrevi na resposta anterior. Quando comecei a gravar, por volta de 1977, em produtoras de áudio, fazendo jingles, spots, utilizávamos gravadores analógicos, fita magnética. Para você editar era um problema. Se quisesse retirar alguma coisa você teria que regravar, ou mesmo cortar fisicamente a fita magnética e colar uma outra no lugar. Por outro lado, o tipo de música que era feito necessitava de músicos experientes, muito habilidosos, porque, afinal de contas, tempo sempre foi dinheiro, e era caro já naquela época.

Hoje não. As ferramentas que você tem a mão possibilitam qualquer um a produzir com alguma qualidade. Cortar um trecho não é mais físico. E é fácil. O custo de um home studio pode ser acessível. Claro que, existem opções caríssimas, desde um computador com o processador mais potente, muita memória ram, ssd’s no lugar dos velhos HDs, placas de vídeo, fontes. Enfim, se você quer o melhor vai gastar uma boa grana, mas dá para ter um equipamento bem mais acessível e produzir com uma certa qualidade.

Se voltarmos os ouvidos para os anos 50, 60, 70, enfim, e compararmos com a qualidade do que é obtido hoje, sem dúvida algum esse progresso será inegável, apesar dos puristas de plantão que teimam em afirmar que as gravações analógicas são melhores, “mais quentes”. Eu só agradeço de não ter que ouvir mais os chiados das agulhas nos discos de vinil que foram milhares de vezes tocados, nem os ruídos e perda de qualidade daquelas ficas K7.

15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Edmundo Cassis: Uso as redes sociais, postar incessantemente, saber colocar seu post em evidência, ou contratar quem sabe.

16) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Edmundo Cassis: Não tenho muito o que falar sobre isso, mas com certeza Chico Pinheiro é uma grande revelação, nível altíssimo. Mônica Salmaso, uma cantora excepcional. Tânia Maria, suingue fantástico. Dori Caymmi, não preciso falar nada. Fátima Guedes, Nana Caymmi, Toninho Horta. A lista é enorme, mas com certeza eu levaria os álbuns desses para uma ilha longe dessa muvuca.

17) RM: Como você analisa o cenário da música instrumental brasileira. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas e quais permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Edmundo Cassis: Não falo dos que regrediram, até porque, todos contribuíram ou contribuem para o planeta. Se para um, “fulano já não é mais inovador”, é bem provável que para outro ele seja. Ou talvez ainda não tenham ouvido direito. Vou citar alguns que sempre me emocionam: Eliane Elias, André Mehmari, Trio Corrente, Hamilton de Holanda, Jovino Santos, Keco Brandão, Pixu Borelli, Léa Freire, Duda Neves, Sizão Machado, José Neto, Caíto Marcondes, Nenê, Paulo Sergio Santos, Romero Lubambo, Toninho Ferragutti, Hermeto Pascoal, Egberto Gismonti, Airto Moreira, Arismar do Espírito Santo, César Camargo Mariano, Claudio Roditi, Guilherme Vergueiro, Vinícius Dorin, entre outros.

18) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Edmundo Cassis: César Camargo Mariano, Trio Corrente, Hamilton de Holanda, André Nehmari, só para citar os que vejo mais de perto atualmente. Mas são vários…

19) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?

Edmundo Cassis: Ah, ah, ah. Eu não vou contar não. Até porque, todas as situações citadas na pergunta já aconteceram comigo. Melhor deixar quieto.

20) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Edmundo Cassis: Mais feliz? Quando termino uma música e me sinto como sendo o maior compositor que eu poderia ser. Mais triste? Quando depois de alguns dias essa mesma música perde o encanto.

21) RM: Quais os estudos técnicos para independências das mãos?

Edmundo Cassis: Que pergunta!!!! Socorro. Vale o que Don Pedro I disse: Independência (no caso do pianista das mãos) ou morte! 

22) RM: Quais os estudos técnicos para o desenvolvimento da técnica das “três mãos” mão esquerda fazendo a linha do Baixo, a mão direita fazendo acordes e melodia?
Edmundo Cassis: Não dá pra responder esse tipo de pergunta sem poder descrever numa partitura e/ou vídeo. Há momentos em que você realiza as “duas mãos” na mão esquerda, e a terceira na direita, e vice-versa. Cada situação exige uma análise aprofundada. O tamanho da mão, comprimento dos dedos, na espessura, do braço, do antebraço, dos seus músculos de sustentação dos braços, é difícil responder sem exemplificar.

Depende das notas que você tocou num determinado ponto do teclado e para alcançar as próximas pode ser que você tenha que trocar as funções que suas mãos vinham fazendo. Casa situação é específica. O melhor a ser feito é resolver os problemas de execução em uma música, deixá-la pronta de acordo com os problemas que ela lhe apresentar. A próxima com certeza poderá trazer novos desafios e que um padrão estabelecido para uma não funcionará na outra.

Você pode estudar livros de exercícios tipo Oscar Beringer, Charles-Louis Hanon, Carl Czerny, entre milhares que existem. Sempre vai aparecer uma situação específica numa música e você terá que criar seu próprio exercício para superar a dificuldade.

23) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Edmundo Cassis: Sempre vai ter alguém que cobrará o jabá para tocar sua música. É da natureza humana.

24) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Edmundo Cassis: Siga em frente se você ama fazer música, mas ama acima de qualquer outra coisa. Você com certeza encontrará problemas e soluções, que serão só seus e de mais ninguém. Você é único. Seja resiliente.

25) RM: Quais os Pianistas e Tecladistas que você admira?

Edmundo Cassis: Você tem certeza de que quer a lista completa? (risos): Bill Evans, Oscar Peterson, Chick Corea, Keith Jarrett, Herbie Hancock, Amilton Godói, Cesar Camargo Mariano, André Mehmari, McCoy Tyner, Cedar Walton, Kenny Kirkland, Alan Pasqua, Antonio Faraò, Art Tatum, Jeff Lorber, Baptiste Trotignon, Barry Harris, Bill Charlap, Billy Childs, Christian Jacob, Clare Fischer, Cyrus Chestnut, Danilo Perez, David Kikoski, Denny Zeitlin, Dick Hyman, Don Friedman, Don Grolnick, Earl Hines, Eldar Djangirov, Erroll Garner, Fred Hersch, Gene Harris, George Cables, George Colligan, George Duke, George Shearing, Gonzalo Rubalcaba, Hampton Hawes, Hank Jones, Hiromi Uehara, Horace Silver, Jacob Collier, Jean-Michel Pilc, Jessica Williams, Jim Beard, Joe Zawinul, Joey Calderazzo, Joey deFrancesco, Kenny Barron, Larry Young, Lennie Tristano, Lyle Mays, Marcus Roberts, Mário Laginha, Martial Solal, Michel Camilo, Mike Ledonne, Monty Alexander, Mulgrew Miller, Omar Sosa, Paul Bley, Rachel Z, Randy Waldman, Red Garland, Renee Rosnes, Robert Glasper, Sonny Clark, Tete Montoliu, Gene Harris, Thelonious Monk, Tommy Flanagan, Valeriy Stepanov, Victor Feldman, Wynton Kelly, ufa (risos) e tem mais gente, mas eu não lembro de todos, ah, lembrei mais um: Jan Hammer, da Mahvishnu Orchestra.

26) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?

Edmundo Cassis: Kassia, Fulbert de Chartres, Hildegard Von Bingen, Léonin-Magister Leoninus, Bernart de Ventadour, Alfonso X el Sabio, Josquin Desprez, Monteverdi, Orlando di Lasso, Palestrina, Pachelbel, Corelli, Albinoni, Vivaldi, Couperin, Buxtehude, Bach, Scarlatti, Mozart, Haydn, Beethoven, Brahms, Debussy, Ravel, Wagner, Messiaen, Schumann, Tchaikovsky, Prokofiev, Rachmaninoff, Sibelius, Villa-Lobos, Copland, Vincent Persichetti.

27) RM: Quais os compositores populares que você admira?

Edmundo Cassis: Djavan, Antonio Carlos Tom Jobim, Toninho Horta, Dori Caymmy, João Donato, Amado Maita, Guinga, Milton Nascimento, Ivan Lins, Baden Powell, Vinícius de Moraes, Carlos Lyra, Cartola, João Bosco, Lenine, Monica Elizeche, Noel Rosa, Paulinho da Viola, Pixinguinha, Waldir Azevedo.

28) RM: Quais os compositores da Bossa Nova que você admira?

Edmundo Cassis: Antonio Carlos Tom Jobim, Newton Mendonça, Vinícius de Moraes, Toninho Horta, Carlos Lyra, Dolores Duran, Maurício Einhorn.

29) RM: Quais os compositores do Jazz que você admira?

Edmundo Cassis: Uau! A lista seria tão grande quanto a dos pianistas/tecladistas, até porque tem os instrumentistas de sopro, guitarra, baixo, etc…

30) RM: Nos apresente seus métodos para Teclado? 

Edmundo Cassis: Não tenho métodos publicados. Sou old school, com aulas presenciais ainda. Mas, sim. Tenho um vasto material de onde fui pinçando aqui e ali meus conhecimentos. A lista é enorme também.

31) RM: Quais as principais diferenças entre as técnicas de Piano e Teclado?

Edmundo Cassis: A ação do teclado de um piano varia entre o leve e o pesado, depende da marca, da série. Já toquei em Steinway pesadíssimo, mas também em um leve. O rebote, ou seja, a volta da tecla a sua posição de partida é mais lenta que a de um sintetizador, que além disso, pode apresentar dimensões de teclas menores que as de um piano.

32) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Pianista/Tecladista?

Edmundo Cassis: O estudo de exercícios sempre é bem-vindo, por exemplo, estudos que busquem desenvolver independência, precisão e força nos dedos. A passagem de polegar, o trabalho de braço livre para conduzir a mão. Uma posição estática é ruim. Escalas, terças, arpejos, oitavas, acordes, enfim, coisas que normalmente aparecem no repertório.

Mas acima de tudo é o estar “relaxado”. Evitar força desnecessária. Claro que, quando estudar alguma passagem específica é sempre bom praticar com articulação exagerada, essa em que você ergue seu dedo no máximo possível e em seguida ataca a tecla. Depois, articulação a meia altura, e finalmente, com os dedos encostados nas teclas e abaixá-las a partir desse nível. Lembrando que sempre se deve começar numa velocidade em que possa estar no controle de tudo que estiver acontecendo na aplicação desses movimentos. Seu braço está relaxado? Existe alguma tensão que poderia ser exagerada? Só experimentando, checando, e isso leva algum tempo para reconhecer todos os músculos envolvidos.

Existem outras maneiras na articulação baixa, essa em que seus dedos estão encostados nas teclas. É como puxar a tecla. Mas isso não dá para descrever em palavras. Serve apenas como uma dica e com o professor em aula presencial poderá mostrar como isso funciona. Aprendi isso com minha saudosa professora da Escola Magdalena Tagliaferro, Zilda Cândido. De fato, mudou completamente meu jeito de tocar, me aliviou das dores provenientes de tensões.

Os exercícios podem ser bons ou ruins, e depende do físico de cada pessoa, por isso não acredito em métodos miraculosos. Deu certo para um? Maravilha. Mas isso não quer dizer que funcionará com todos, e nem é para se sentir frustrado porque o que funcionou com um não funciona consigo. Tem que ter o sapato certo para cada pé. Ou então, arque com a bolha.

33) RM: Qual a importância dos conhecimentos tecnológicos para o Tecladista?

Edmundo Cassis: É vital. Claro que, tem pianista quem não quer tocar teclados, usar computadores, ferramentas que estão aí para “facilitar” o dia a dia. Por exemplo, Keith Jarrett. No início, ele chegou até a tocar o piano elétrico Rhodes com o Miles Davis, mas depois que montou o trio nunca mais quis saber de nada que fosse elétrico, e até reclamava disso.

Mas falando no geral, tem que buscar informações. Elas estão aí na internet. É só fazer a pergunta certa que a resposta vem. Como obter um efeito como o Allan Holdsworht usa? Aliás, um só não. Vários. Pois essa pergunta me foi feita pelo meu grande amigo, irmão, Miguel Garcia. E fui buscar. Vídeo no youtube, dicas de efeitos, no caso, o Valhalla, que tem um delay que pode chegar bem próximo a um dos efeitos. Mas não é só o Valhalla. Tem vários e principalmente uma combinação de vários Valhalla empilhados para se obter um dos efeitos.

34) RM: Você é adepto ao uso de VST e VSTI? Quais você indica para o Tecladista?

Edmundo Cassis: Como piano acústico e elétrico, o Pianoteq 6 (64-bit). Tem um rhodes com chorus sensacional, além de um Wurlitzer para fazer aquele som pop inesquecível. Uma clavineta com wah wah. SonicCouture-Clav. Um órgão do tipo Hammond, você encontra no pacote chamado Vintage Organs. Esses três já oferecem o básico para qualquer gig. Mas tem os Pads. Aí você poderia pensar no Zebra.

Ah, se você quiser um som de piano elétrico tipo o do DX7, minha sugestão é o MKSensation. Eu tive esse como hardware e posso garantir que fizeram bem feito o plugin. Cordas Orchestral Tools Berlin, Symphony Essentials String Ensemble. Brass, eu não posso indicar nenhuma ainda. As que experimentei nenhuma me satisfez.

35) RM: Quais os Teclados que você indica atualmente?

Edmundo Cassis: Nord, Roland. Mas eu não saberia agora especificar qual o modelo.

36) RM: Quais os Pianos Digitais que você indica atualmente?

Edmundo Cassis: Dexibell é pelo som o mais bacana que já ouvi, mas eu teria que colocar minhas mãos para saber da ação da mecânica do mesmo.

37) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Piano/Teclado?

Edmundo Cassis: Postura, costas arqueadas, sentar de qualquer jeito. É como se o cara já viesse cansado para aula. Tensão desnecessária. Sempre você terá alguma tensão, mas qual? Em que momento? Que músculo será tensionado? Descobrir isso é de fundamental importância, se conhecer, identificar os músculos necessários para realizar cada ação.

38) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Edmundo Cassis: Existe, em maior ou menor porção, e isso pode-se traduzir na facilidade em cantar, em tocar um instrumento, ou seja, ter habilidades que o possibilitem realizar as ações necessárias para começar a produzir sons. Agora, todos, independentemente da porção que tenham, devem praticar, se esmerar em avançar.

Artur Rubinstein sempre teve muita facilidade para tocar piano. Mas sofria críticas que diziam que suas interpretações eram desprovidas de profundidade musical. Ele acatou as críticas e passou a ter um “olhar” mais detalhado de cada peça. Isso foi dito pelo próprio. Ou seja, mesmo tendo uma extraordinária habilidade teve que se esmerar ainda mais. O que alguém pode pensar é que poderá alcançar o que um Artur Rubinstein conquistou se se dedicar com afinco redobrado. Pode? Talvez sim, talvez não. Mas o que se deve ter em mente é buscar fazer o seu melhor a cada dia, e deixar de lado qualquer comparação.

39) RM: Qual a definição de Improvisação para você? Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Edmundo Cassis: Você pode estudar escalas, acordes, pequenas frases, os chamados licks. Mas isso não lhe faz uma pessoa criativa. Onde você coloca um lick pode ser um lugar comum. O gênio criativo sempre busca uma colocação diferente e acaba nos surpreendendo, às vezes com soluções simples.

Improvisar é o mesmo que compor, só que na hora, sem tempo para corrigir um caminho. Não se ensina a compor. O que temos é sempre uma análise do que foi feito. Mas, e o momento em que foi feita a composição? Como ela surge? O mesmo se dá na improvisação. Mas quando falamos em improvisar num determinado estilo, como vemos inúmeras escolas ensinando sobre Jazz, então é realmente importante dissecar o que faz aquele estilo ser o que é.

Então, é improvisação? Sim, mas com abordagens pré-definidas. Então, sobre métodos, eu entendo as propostas, são de fato bem interessantes, mas nenhum desses métodos o transforma num improvisador. Improvisar é ter curiosidade, é ter vontade de experimentar coisas novas, diferentes, se arriscar, não ter medo da crítica. Agora, lembrando que também é o equilibrista sem rede de proteção, caso caia. É com essa equação que alguém tem que ter em mente quando decidir improvisar.

40) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Edmundo Cassis: Existe improvisação, mas também existe o estudado e aplicado depois, afinal de contas, improvisar sobre o que? Tem estilo definido? Quer citar melodia para o ouvinte ter alguma noção do que está acontecendo? E o ritmo da melodia? Não faz parte do discurso? Você pode se utilizar de vários elementos que já estão em uma determinada música e procurar desenvolver, encontrar pontos onde você pode colocar seu ponto de vista sobre um outro caminho melódico a partir de uma nota, ou frase da melodia.

41) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Edmundo Cassis: Harmonia! Esta palavra me assustava quando eu era adolescente. Estudar com exemplos sempre é bom, explicando os movimentos de um acorde para outro, entendendo o que é direção. Mas isso tem mais a ver com Harmonia Funcional. E isso envolve o que chamamos de “Cadência”, e mais, “Regiões da Cadência”, a afinidade que existe entre determinados acordes definindo um mapa que podemos utilizar com segurança para ir de um local para outro. Então, dito isso, os prós têm a ver com uma parte teórica recheada de exemplos. O contra ocorre quando apenas a teoria é explicada e carece de exemplos. Sempre, quanto mais exemplos mais fáceis de se compreender o “como é feito”, e fazer também. Ouvir sempre acaba sendo o melhor juiz na escolha de qual acorde segue qual.

Em um livro de Bill Dobbins, ele conta a seguinte história. Ele estava hospedado no mesmo hotel em que estava o grande arranjador, Gil Evans. E no mesmo andar. Claro que, por curiosidade ele foi até a porta do apartamento do Gil Evans e colou sua orelha para ouvir o que ele estava tocando. Sim, ele tinha um piano dento do apartamento. E assim ficou por uns bons minutos. O que ele ouvia o incomodou e não resistindo tocou a campainha. Logo que Gil Evans abriu a porta, depois de ter se apresentado fez a pergunta: “Porque você toca sempre tal acorde, vai para um outro. Depois você volta a tocar o mesmo acorde inicial e muda para outro diferente. E, me perdoe por estar ouvindo atrás da porta, mas eu queria entender isso?”. Lembrando, que ele ficou uns bons minutos ouvindo enquanto Gil Evans fazia isso. E Gil Evans respondeu: “É que eu quero saber para onde o acorde quer ir”. É como se o acorde tivesse vida própria. E de repente tem mesmo. Vai da sensibilidade harmônica de cada um, do dia, da noite, enfim, já falei sobre isso quanto a ter curiosidade. Bill Dobbins é um famoso educador com diversos livros sobre jazz.

42) RM: Como chegar ao nível de leitura à primeira vista?

Edmundo Cassis: Na minha experiência, somente lendo de tudo. Ler todos os dias. Mas isso envolve diversos problemas que estão relacionados a execução daquilo que você lê, o que pode dificultar o processo.

43) RM: Quais as principais diferenças entre o Piano e o Teclado?

Edmundo Cassis: Tirando o que descrevi anteriormente sobre a ação mecânica entre um e outro, o piano tem apenas “o som de piano”. Já o teclado oferece uma miríade de sons e cada um lhe trará novas abordagens no que diz respeito a melhor maneira de determinado timbre (ou instrumento) soar. Você não vai tocar instrumentos de cordas e de sopro como você tocaria num piano, mesmo sendo as mesmas notas. Sim, a partitura indica uma semínima de duração, isso não muda. Mas o som muda.

Enquanto o piano é um “Everytime we say goodbye”, porque seu som começa a morrer logo depois do martelo percutir a corda, um violino, uma flauta, um sax, são instrumentos que fazem com que a duração da tal semínima implique numa sonoridade mais incisiva, se posso dizer dessa maneira. A duração dessa semínima é percebida com mais ênfase. Dependendo do piano a nota poderá durar mais, mas independente disso, a vibração da corda tem como tendência parar de vibrar.

Já nos instrumentos que citei, num violino enquanto você friccionar as cordas com o arco ela continuará soando. Com os sopros você tem a quantidade de ar que permite isso por um determinado tempo antes que você tenha que parar para tomar novo fôlego. Claro, tem os que dominam a técnica da respiração circular, então, para esses é como o violino. Se pudesse desenhar um gráfico para demonstrar melhor, o do piano teria uma curva descendente logo após o martelo percutir a corda, enquanto que os outros não teriam. Também tem a ver com volume. Sim, você pode controlar o volume para obter o mesmo efeito de queda (decay) que naturalmente o piano realiza. Mas isso por opção. O piano não tem essa opção.

44) RM: Você se define mais como pianista ou tecladista?

Edmundo Cassis: Sou os dois. Depende da apresentação.

45) RM: Você toca outros instrumentos musicais?

Edmundo Cassis: Muito mal violão e flauta transversal.

45) RM: Quais os seus projetos futuros?

Edmundo Cassis: Não projeto. Vivo o dia a dia desde que me conheço por gente. Mas, nada contra quem se planeja. Para mim é um exercício de futurologia. Pode funcionar? Pode. Mas também não pode. Quem afirma que vai dar certo 100%?  Como pode ter tanta certeza? Ah, mas fulano projetou isso e aquilo e deu certo. Muito bom. Mas saber com 100% de precisão? É Mãe Dinah? Não tenho nenhum show programado, apenas os lançamentos dos três álbuns que produzi em minha casa. Esses estarão nas plataformas de Spotify, Deezer, Amazon, Youtube, Etc…

O primeiro deles: “Give up isn’t an option” tem seu lançamento agendado para dia 30 de agosto. Os dois restantes para final de outubro e final de dezembro. Só deixo claro que, nesses dois primeiros, “Give up isn’t an option”, que é pop/rock, e “Charles Martel”, que é rock progressivo, eu toquei tudo que será ouvido utilizando dois teclados e um notebook. Nesses dois álbuns eu me defino como um: “teclarrista”.

46) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Edmundo Cassis: (11) 99943 – 2224 | [email protected]

| https://www.instagram.com/edmundocassis.1954

Canal de Edmundo Cassis: https://www.youtube.com/channel/UCobi2263rg2Q6wspFFk9UmA

Playlist do álbum Give Up Isn’t An Option: https://www.youtube.com/watch?v=4FQl9Ibk3d4&list=OLAK5uy_mnN7LDCNfqYUEhvIOn__DnfjYxxBRpezE

Playlist do álbum Give Up Isn’t An Option:

ALMA – Edmundo Cassis: https://www.youtube.com/watch?v=_2i-rIsRXA4

EM ESPÍRITO – Edmundo Cassis: https://www.youtube.com/watch?v=VmYp2aFQ13o

Edmundo Cassis Sexteto Supremo Musical 1996 10 No pulo do gato: https://www.youtube.com/watch?v=MufHb6Nq-wM

Maurício Einhorn Sala Funarte RJ 1982: https://www.youtube.com/watch?v=30O0_Kbaqrg


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.