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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Diego Davi

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O produtor cultural, DJ, radialista e produtor musical Diego Davi começou a sua carreira em 2003 trabalhando na produtora K-Rootz onde ficou até 2009, atuando na produção executiva, marketing, apresentador de rádio (RCP FM 99,7, Programa Reggae Beat) e DJ.

No ano de 2012 foi contemplado com o Programa VAI I, onde teve início o Coletivo Econsciencia, nesta oportunidade foram lançadas duas revistas e a coletânea Selectah Coletiva. Nos anos seguintes o coletivo se manteve ativo com projetos de festivais de cultura (2013 Praia do Sono RJ e 2014 Ilha Grande RJ) e principalmente com produção fonográfica, focando no cenário urbano independente de São Paulo. Licenciado em música pelo Centro Universitário Unisantanna e atualmente fazendo pós graduação em Educação Musical na FPA (Faculdade Paulista de Artes). Depois de alguns anos estudando produção musical, Diego acaba de lançar seu segundo álbum (Coletanea Novos Tempos Vol. 2) reunindo artistas de vários estilos tendo como principal linguagem o Reggae.

Participa também do movimento Fórum do Reggae de SP, que vem acontecendo reunião mensalmente a cinco anos por grupos, coletivos e indivíduos interessados no fortalecimento da cultura Reggae de SP, movimento que conseguiu duas fortes conquistas junto a Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo, o Dia Municipal do Reggae SP e Edital de fomento ao Reggae e atualmente está tramitando o PL 478/19 que se aprovado trará expansão e rigidez para essas políticas públicas que estão sendo construídas.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Diego Davi para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 16.04.2021:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Diego Davi: Nasci no dia 09.11.1981 em São Paulo – SP.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Diego Davi: Desde muito novo sempre gostei muito de ouvir música, a 89 rádio rock e MTV foram as principais influências de quando era moleque, como não tive músicos na família. Meu primeiro contato com o fazer musical foi no ensino médio, quando fui convidado para cantar em uma banda da escola que tocava covers de clássicos do rock. E tocamos em um festival de final de ano na escola, esse evento foi marcante na minha vida, mas foi o único show valendo dessa banda, pelo menos com minha participação. Eu, precisei encarar a vida real e ir atrás de trabalho para ajudar a minha família.

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Diego Davi: Quando conclui o ensino médio, fiz um curso técnico em eletrotécnica na ETEC Getúlio Vargas no qual me permitiu trabalhar na área alguns anos, até que resolvi abandonar a área, quando tive a oportunidade de fazer um “estágio” em uma produtora de música (K Rootz/Circuito) foi onde iniciei meus trabalhos culturais. Só depois de um longo tempo, aos 37 anos me formei em licenciatura em Música pela Unisantanna e atualmente estou fazendo pós graduação em Educação Musical na FPA (Faculdade Paulista de Arte).

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Diego Davi: Na década de 90, minhas influências eram Rock, do clássico ao New Metal. Nos anos 2000 comecei a ter mais contato com o Reggae foi onde minha vida mudou muito. Eu, sempre fui um pesquisador e colecionador de música e hoje em dia tenho um gosto musical mais plural, ouço música de acordo com cada momento, mas minhas principais influências são: Rock, Reggae, RAP.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?

Diego Davi: Na música, minha carreira começou em meados de 2002, quando eu ouvia um programa de rádio do Circuito Reggae em uma rádio local que ficava perto de onde eu morava na zona leste. O Carlinhos K era o apresentador do programa e como eu ouvia e ligava para participar do programa quase diariamente e ainda estava desempregado, acabei buscando uma oportunidade de trabalho nessa produtora. Eu, sentia um chamado de trabalhar com a música, até que consegui uma entrevista nessa produtora, no mesmo dia comecei a fazer um teste e acabei sendo efetivado e permaneci durante uns seis anos. E tive oportunidade de desenvolver várias funções que me trouxeram um grande aprendizado, fora as pessoas maravilhosas que acabei criando vinculo.

06) RM: Quantos CDs lançados como produtor musical?

Diego Davi: Comecei em 2016 minha carreira de produtor musical. Em 2018 lancei a coletânea Novos Tempos Vol. 1. Em 2020 iniciamos o projeto RLab, onde lançamos a coletânea Novos Tempos Vol. 2, com apoio do edital de fomento ao reggae, tendo o objetivo de trazer oportunidade para artistas em vulnerabilidades social e que estejam precisando de estrutura para gravar/lançar seus trabalhos musicais e desenvolver suas carreiras.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Diego Davi: Reggae, com influências e experimentações de outros ritmos e estilos, sem apego a nenhuma limitação.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Diego Davi: Sim, em 2006 me formei em locução na Rádio Oficina e atualmente estou fazendo aulas particulares de canto, para me preparar, porque recentemente fui convidado para gravar vozes em algumas músicas do projeto Cientistas Interplanetários, de um parceiro chamado Alex, que fez graduação comigo. Rolou de cara um feeling muito forte e estamos trabalhando no projeto de um disco, que em breve estaremos lançando os primeiros singles.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Diego Davi: Para todos que trabalham com a voz o acompanhamento de um profissional é totalmente necessário, para aperfeiçoar as técnicas e cuidar do aparelho vocal, pois é muito arriscado trabalhar com a voz sem acompanhamento profissional e acabar criando vícios ou até mesmo provocar lesões nas pregas vocais.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Diego Davi: Nossa essa é difícil, mas vou citar as(os) primeiras(os) que me vem à mente, que mais marcaram minha história, Lauryn Hill, Erykah Badu, Selah Sue, Zack de la Rocha, Ed Veder, Jamiroquai, Bob Marley, Don Carlos, Júnior Reid, entre outros.

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Diego Davi: Já escrevi muito encima de um tema específico, escolhendo as rimas e aí vai desenvolvendo a lírica. E, já compus algumas letras com o dicionário aberto, com a intenção de pegar palavras que tivessem a uma combinação nas primeiras sílabas também. Nesse novo projeto “Cientistas Interplanetários” tive uma experiência que deu muito certo, que foi desenvolver a letra em freestyle e depois vim acertando as partes que não ficaram boas.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Diego Davi: Geralmente componho sozinho, meus brothers Clebsoul, Léo Almeida, Peter Young Lion, Navi, Alex Bighetti me incentivaram bastante a começar.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Diego Davi: Na real foi a única opção que eu tive, desenvolver a carreira musical de forma independente. Prós, enxergo que é uma forma de ter autonomia de realizar tudo do jeito que imagina, sem precisar seguir alguma ideia que não acredite tanto. É uma forma de seguir buscando nosso sonho e nosso proposito sem depender de ninguém. Os contras são que na maioria dos casos, acabamos tendo que trabalhar em outras áreas ou funções para sustentar os projetos musicais. O que na maioria das vezes acaba se tornando um grande desafio, falta de recursos, falta de tempo, acabam adiando o andamento dos projetos e muitos acabam desistindo de trabalhar nessa área.

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Diego Davi: Hoje, tenho noção de como traçar uma estratégia e colocar o plano em ação, focar em determinadas atividades naquele período. E como eu atuo em diversas frentes. Ultimamente tenho focado por projetos semestrais, que as vezes acaba passando do prazo. E preciso ir ajustando a estratégia conforme necessário, é um malabarismo (risos). Dentro do cenário independente muitas das vezes não conseguimos recursos para se dedicar integralmente a um projeto especifico e acabamos tendo que trabalhar em alguma coisa por fora pra conseguir a sobrevivência. É uma triste realidade, perceber pessoas ficarem no meio do caminho; começaram junto comigo e só os persistentes que resistiram e ainda estão por ai. São poucos os que continuaram; no meio do reggae, muitos não conseguem ter uma estratégia bem definida e ampla do seu trabalho e acabam morrendo na praia.

16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Diego Davi: Formamos o coletivo Econsciencia em que se reunimos para pensar os próximos projetos, discutimos em grupo e definimos se podemos escrever para algum edital ou se conseguimos trabalhar de forma alternativa. Temos também um braço do Econsciencia, que é a produtora de vídeo clipes “Reali7e” focada em parcerias com bandas do cenário independente. É mais uma forma de estarmos ativos dentro desse meio artístico. Atualmente procuro desenvolver meus trabalhos musicais também ligados de alguma forma a esse coletivo, conseguindo mais consistência com a colaboração dos envolvidos.

17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Diego Davi: Hoje existem inúmeras ferramentas para você empreender digitalmente e conseguir ter visibilidade, porém precisa ter muito tempo para decifrar as plataformas e investir de uma forma consistente para fazer a arte chegar em mais lugares. A internet se popularizou muito e “democratizou” o acesso para artistas independentes divulgarem seus trabalhos e o público tem uma diversidade maior na escolha de músicas para ouvir. E a parte ruim é a distração que a internet traz, se não nos educarmos, perdermos muito tempo com inúmeras futilidades que estão sendo “servidas” de bandeja a todo instante.

18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Diego Davi: Quem tem acesso ou tem um home estúdio, já consegue estar um passo à frente para fazer a suas pré-produções ou até mesmo finalizar os seus trabalhos, estudar, criar com mais eficiência e experimentar mais possibilidades. O que é para poucos, porém não está tão difícil para os artistas poderem produzir, montando um home estúdio, mesmo que seja com um notebook e um fone de ouvidos. E com um investimento mínimo o artista já consegue ter recurso para fazer a suas produções e ir melhorando essa estrutura com o tempo.

19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Diego Davi: Minhas produções são experimentais o que já diferencia o meu trabalho. Sim, a concorrência hoje em dia é muito grande, mas se buscarmos a excelência e profissionalismo, na nossa arte e na forma de trabalhar, já nos colocará em um outro patamar. E a cada dia entendendo melhor o mercado e mantendo a consistência, nos levará a um lugar de destaque.

20) RM: Como você analisa a relação que se faz do reggae com o uso da maconha?

Diego Davi: Natural, o reggae e a maconha sempre foram “um grande caso de amor”. A maconha ajuda no processo de expansão da mente e a conscientização que temos no reggae, muito tem haver com essa relação. Talvez um dia a ganja seja descriminalizada e talvez até legalizada e o reggae vai ter grande participação nesse processo. O reggae que é o único estilo musical que tem em seu discurso essa questão explícita e traz os benefícios dessa erva que ainda há muito a ser compreendida.

22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

Diego Davi: Tudo que foi citado na pergunta tem bastante, mas vou destacar uma situação que me marcou muito. Eu fui convidado para ser DJ em um evento em Taipas, zona noroeste de São Paulo, na época eu não tinha meus equipamentos de DJ e o contratante falou que tinha tudo na casa e poderíamos fazer o trabalho tranquilamente. E chegando lá, tinha dois DVDs para tocar e fazer a mixagem dos sons (na época tocávamos com nosso case de CDs), tipo se vira nos 30, mas isso foi o de menos. O ambiente estava com uma energia tão boa das pessoas que estavam presentes, que acabou sendo um dos melhores shows que fiz.

23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Diego Davi: O que me deixa mais feliz na minha carreira é o legado que a gente constrói de amizades, de conhecimento, de aprendizado, de amadurecimento mental, emocional e espiritual. E toda essa bagagem que a música nos trás principalmente a música de consciência, de ideologia. E o que acaba me deixando triste as vezes, é a falta de reconhecimento, muitos artistas acabam tendo que se apresentar para divulgar o trabalho, sem cachê e como a concorrência é grande, muitas vezes somos pegos por algumas dessas. Mas a persistência e consistência é o que trará os melhores resultados para podermos valorizar cada dia mais nossa arte.

24) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Diego Davi: Nas grandes rádios, infelizmente sempre tem que ter essa “troca”, é muito injusto. A rádio é uma concessão pública e deveria ter um acesso mais livre para maior diversidade musical e mais oportunidade para a classe artística como um todo.

25) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Diego Davi: Se sentir no coração que é de verdade, vai pra cima, investe, estuda, se dedica, aperfeiçoa sua arte. Só o prazer de você expressar a sua arte já é uma libertação muito grande. O sucesso será uma consequência que irá depender de todos esses fatores de estudo, dedicação e persistência.

26) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Diego Davi: A grande mídia sempre foi tendenciosa, divulgando apenas artistas que estão fechadas com elas, visando lucro e direcionamento ideológico, nunca teve como fugir muito disso, infelizmente. Mas talvez, nesse momento, como um dos principais meios de comunicação do Brasil está do lado oposto ao atual presidente, que tem um posicionamento de extrema direita. A grande mídia acaba tendo que trazer o lado oposto dessa situação e de certa forma acaba fortalecendo um pouco uma ideologia mais diversa. Acredito que seja um momento de renovação fazendo parte de uma transição planetária, não apenas em função disso, mas em vários aspectos, isso é um outro assunto, que podemos falar mais em outro momento.

27) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Diego Davi: Desconheço um pouco esses acessos.

28) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Diego Davi: Nas últimas décadas poucas bandas se firmaram no cenário reggae, mesmo dentro do mercado alternativo podemos ver poucas bandas se destacando. Esses dias vi a lista das 500 bandas mais tocadas no Spotify em 2020 e apenas o Maneva e o Natiruts estão em uma colocação razoável, ainda precisa muito trabalho pra colocar o reggae de fato na cena.

29) RM: Você é Rastafári?

Diego Davi: Não sou rastafári, mas aprecio muito essa cultura e trago muita coisa do rasta para o meu dia a dia. Eu vivencio a muito tempo a cultura reggae e consequentemente não tem como não sofrer influência da filosofia rastafári, ela é a base da ideologia contida na música reggae raiz.

30) RM: Alguns adeptos da religião Rastafári afirmam que só eles fazem o reggae verdadeiro. Como você analisa tal afirmação?

Diego Davi: Então, é meio polêmica essa questão, porém faz um certo sentido, só que, como podemos afirmar que um reggae é verdadeiro e o outro não? Entendo o posicionamento de entender o reggae roots como uma vertente mais autêntica na questão ideológica, mas sinto que as misturas com outras vertentes também são importantes para a propagação da cultura reggae/rasta nos quatro cantos do mundo.

31) RM: Na sua opinião quais os motivos da cena reggae no Brasil não ter o mesmo prestígio que tem na Europa, nos EUA e no exterior em geral?

Diego Davi: Enxergo a cenas músicas culturais artísticas como ondas, que vem e vão. E a cultura reggae por ser de certa forma marginalizada, principalmente pela associação com a ganja, muitas vezes acaba sendo mal interpretada e acaba perdendo adeptos até mesmo os próprios artistas não conseguem se sustentar vivendo da própria arte. Hoje em dia no Brasil sinto que tem uma base no reggae muito forte, mais até do que na década dos anos 2000, onde vivemos uma época de ouro do reggae no Brasil, mas hoje sinto que existe uma base mais forte e preparada para quando essa nova onda surgir e sinto que com virá e se tornará mais forte e resistente.

32) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Diego Davi: Acredito que dom seja uma coisa relativa, às vezes até mesmo associada ao ambiente familiar, por exemplo: uma criança de família de músicos terá mais convívio com musicalização, então culturalmente terá mais identidade e afinidade com a música, isso com certeza poderá despertar um “dom” maior do que uma criança que não tem músicos na família.

33) RM: Quais os prós e contras de Festivais de Música?

Diego Davi: Os festivais de música são ótimos, só vejo pontos bons, pois na maioria das vezes acaba sendo oportunidades para se formar os movimentos musicais. E, claro que tem uma tendência de sempre as mesmas bandas formarem o “line up”; o que muitos falam que são as “panelas”, mas acredito que sempre que uma banda estiver pronta terá espaço para participar de diversas panelas. E os festivais principalmente de gêneros específicos, ajudam, no meu ponto de vista, a formar e reforçar o cenário dentro do nicho.

33) RM: Hoje os Festivais de Música revelam novos talentos?

Diego Davi: Não podemos generalizar que todos os festivais revelam novos talentos, mas com certeza é uma ótima oportunidade para que isso aconteça. E acredito também que seja essencial dentro de qualquer cena, o que acaba sendo automático quando uma cena vai tomando grandes proporções.

34) RM: Quais os pros e contras de se apresentar com o formato Sound System? 

Diego Davi: Dentro da cultura reggae, o Sound System é um elemento a parte, as cantoras (es) podem fazer suas intervenções dentro de uma apresentação Sound System, mas no meu entendimento a(o) cantora(os) para seguir uma carreira artística mais consolidada, em determinado momento será importante ter um show com banda.

35) RM: Quais as diferenças de se apresentar com banda em relação ao formato com Sound System?

Diego Davi: O cantor fazer “Formato Sound System” é como se fosse a apresentação do MC com DJ no RAP e no reggae seria o cantor com seletor. O Sound System mesmo é diferente, tem toda uma estética que deve ser observada. Mas acredito que o cantor fazer o show com o DJ/Seletor, é valido, até mesmo por ser um formato reduzido que acaba facilitando na questão logística do show, porém nada como ter os músicos ao vivo acompanhando o cantor no palco, com certeza faz uma diferença muito grande.

36) RM: Recentemente você lançou o projeto RLAB. Fale um pouco sobre ele.

Diego Davi: O projeto RLAB (Laboratório de Resgate) surgiu em 2017, no momento em que comecei a desenvolver minha carreira como produtor musical. No começo tive dificuldade de encontrar cantoras(es) para fazer uma parceria e comecei a me aproximar de cantores e cantoras independentes que estavam em uma situação parecida com a minha, precisando de parceria para gravar seus sons, assim como eu estava precisando desse resgate, para colocar as músicas para rodar. Em 2018 lançamos a coletânea Novos Tempos Vol 1:

https://youtube.com/playlist?list=PLtfeJysynSic9swXU85i9twVD1i_j-CoY Então identificamos esse resgate como principal conceito dentro do nosso projeto, que acabou sendo nosso maior apreço, pois o contato com essas pessoas que estavam nessa situação de vulnerabilidade e dificilmente conseguiam pagar uma boa produção para ter um trabalho lançado profissionalmente. E, para nós foi muito importante, percebemos a sinceridade e uma identidade muito forte dentro da arte de cada artista presente no projeto. Em 2020 fomos contemplados a participar do edital de fomento reggae e lançamos a segunda fase desse projeto RLab com a coletânea Novos Tempos Vol.2, com a parceria da REALI7E Records lançamos dois vídeos clipes. O primeiro foi Stellaria com “Diamante da Lama” e o segundo foi a música “Deserto Cinza” de Karol Shontee e Babyllon Zero11: https://www.youtube.com/watch?v=Hi94Ol5lXxM

37) RM: Fale da sua atuação no Circuito do Reggae. E quem foram os organizadores na sua época?

Diego Davi: O principal organizador do Circuito Reggae, sempre foi o Carlinhos K, grande visionário que lançou vários artistas não só no Reggae, mas também no RAP, no Samba, entre outros. Em 2002, entrei para trabalhar no Circuito Reggae; na época que migrei da minha profissão de técnico de eletrônica, pelo amor a música. E foram seis anos de muito aprendizado trabalhando no Circuito Reggae e considero como a minha primeira graduação. Eu tive a oportunidade de aprender e atuar no campo de produção executiva, marketing, editorial de revista, produção e locução de rádio, produção de eventos e muitas outras frentes no campo da produção artística. Recentemente incentivei Carlinhos a voltar com as atividades e em 2020 começamos um a nova história com o Circuito, em pleno ano de pandemia do Covid-19, voltamos com o programa na rádio Brasil Atual 98,9 FM SP. E dentro desse período de tempo foram lançadas varias novidades, o que começou um reaquecimento na cena paulistana.

38) RM: Qual sua relação pessoal e profissional com Carlinhos K da Kaskatas?

Diego Davi: Carlinhos K é um grande paizão, aprendi muito com ele, temos nossas diferenças, assim como todos seres humanos tem. E acredito que temos que apreciar o que as pessoas tem de bom e enaltecer isso. E se não tiver alinhando as ideias é cada um pro seu lado, de qualquer forma sou muito grato por toda a vivencia que tive com ele.

39) RM: Fale de sua atuação como produtor musical e quem você já produziu?

Diego Davi: Minha situação com produtor musical sempre foi de muita luta para conseguir continuar, pois a dificuldade de ganhar dinheiro com a música é bem grande. Eu sempre precisei trabalhar em outras áreas para investir no sonho. O que que mais me salvou foi a profissão de dreadmaker, onde atuo mais 15 anos, foi o que sempre me deu estrutura para continuar acreditando nos projetos culturais. E tenho dois álbuns lançados, Coletânea Novos Tempos Vol. 1 e Vol.2 com artistas independentes da cena reggae/rap paulistana.

40) RM: Fale de sua atuação como Dj.

Diego Davi: Comecei a me aventurar como DJ na época dos eventos do Circuito Reggae, sempre fui pesquisador e colecionador assíduo de música. E quando comecei assumir a locução do Programa Reggae Beat na RCP 99,7 FM SP, comecei a fazer a seleção musical nos eventos não apenas do Circuito Reggae, mas de outras produtoras que realizavam eventos principalmente de reggae em São Paulo. E foi uma imensa batalha até conseguir montar o meu set e depois para conseguir ter tempo suficiente para ensaiar a ponto de conseguir um resultado efetivo e consistente. Esta batalha ainda continua e agradeço muito a parceiros como Dub Del Lest (grupo que toquei de 2011 a 2016) onde tive a oportunidade de aperfeiçoar mais meu trabalho como DJ e onde despertou mais o meu interesse por produção musical.

41) RM: Apresente o Fórum do Reggae de São Paulo.

Diego Davi: O Fórum do Reggae é um movimento organizado que se reúne uma vez por mês, em reuniões ordinárias e deliberativas, onde temos como principal objetivo a construção de políticas públicas para a linguagem reggae na cidade de São Paulo, basicamente é isso. Através de muita articulação, nesses cinco anos de existência (a partir de 2016), conseguimos conquistar coletivamente, o Edital de Fomento ao Reggae, que está indo para sua quinta edição e o Dia Municipal do Reggae que também aconteceu todos esses anos consecutivos, menos nesse ano de pandemia do Covid-19. Entendemos a importância também desse movimento na formação profissional de produtores e também de artistas de modo geral, enxergamos quantas possibilidades. E portas se abriram para profissionais da cena seja produtoras(es) ou artistas, seja se interessando mais pelas questões de políticas culturais da cidade, ou até mesmo pelo fomento a arte, onde o resultado final sempre acaba tendo um aperfeiçoamento artístico e logístico para os grupos.

42) RM: Qual a importância do Fomento ao Reggae de São Paulo?

Diego Davi: Muito importante para o aperfeiçoamento da arte e de trazer sempre um novo incentivo aos trabalhos artísticos e ao sonho de cada artista. E entendemos como é difícil viver da música e da arte no Brasil e um incentivo desse pode ser determinante para a carreira artística das pessoas envolvidas.

43) RM: Fale de sua atuação no Encontro das Tribos e quem foram os organizadores na sua época?

Diego Davi: Os organizadores do Encontro das Tribos sempre foram Paulinho Correria e Charles Leandro, grandes professores, aprendi muito com eles também e agradeço muito pela oportunidade de ter trabalhado junto. Lembro que foi bem na época que eu tinha saído do Circuito Reggae, pois o Carlinhos K encerrou as atividades com o Circuito na época. Eu trabalhava na equipe de marketing do Barracuda (uma casa de eventos na zona leste de São Paulo) e não lembro bem o porque, mas em algum momento eu procurei o Paulinho e perguntei se eles estavam precisando de algum parceiro para fazer algum quadro no programa na rádio. A partir dessa conversa comecei a produzir um quadro semanal, chamado Tribo Selecta que ficou três anos no ar tendo diversas temporadas: “Grandes Nomes da Jamaica”, “Open Mic” que tinha como objetivo divulgar a nova cena do reggae nacional e “Reggae pelo mundo” trazendo o reggae feito mundo a fora. Consequentemente comecei a fazer discotecagem nos eventos do EDT – Encontro das Tribos e tive oportunidade de estar ao lado de grandes nomes do reggae mundial, como, Israel Vibration, Don Carlos, Groundation, SOJA, Dezarie, The Abyssinians,,The Congos, Kimany Marley, O Rappa, Cidade Negra, Charlie Brown Jr, Racionais MCs entre outros, foram quatro anos de muita troca no qual eu sou muito grato.

44) RM: Como estar o andamento do Projeto de Lei do Reggae em São Paulo?

Diego Davi: Esse projeto de lei é a principal pauta que o Fórum do Reggae SP está trabalhando nesses últimos tempos, pois entendemos a importância de efetivarmos essa lei para proteger a continuidade e permanência com consistência e crescimento das políticas públicas do reggae na cidade de São Paulo. E nesse momento o projeto está tramitando, aguardando o melhor momento para entrar em segunda votação, passando dessa fase, teremos que articular para que o prefeito da cidade aprove o projeto para se tornar lei e solidificar essa política pública para o reggae em São Paulo.

45) RM: Apresente o projeto Econsciencia.

Diego Davi: O projeto Econsciencia surgiu em 2010, com a ideia de lançarmos uma revista com uma coletânea, pois percebemos a falta que fazia esse veículo na cena independente de São Paulo, foi bem no começo do streaming, nem imaginávamos que existiriam possibilidades de explorar o YouTube, Spotify entre outros, para gerar renda e que teriam total relevância na forma de distribuição musical. Com muito trabalho e dedicação conseguimos em 2012 aprovação em um edital de incentivo à cultura de São Paulo (Programa VAI) para lançarmos e tiramos da gaveta esse projeto, foi um divisor de águas novamente, não só na minha, assim como de todos os profissionais que participaram do projeto. E lançamos duas revistas “Econsciencia” e uma coletânea “Selecta Coletiva” reunindo vários dos principais nomes do reggae do Brasil, entre eles Rodrigo Piccolo do Mato Seco, Solano Jacob, Kuky Lughon, Luiz de Assis, entre outros. Nos anos seguintes continuamos com o projeto tendo a linha de atividades mais direcionada para festivais, eventos, produção fonográfica e audiovisual. E é nessa linha que estamos trabalhando ainda hoje, inclusive o projeto RLab é mais um braço do coletivo Econsciencia.

46) RM: Quais seus contatos?

Diego Davi: [email protected] | https://web.facebook.com/diegodaviroots

| https://pt-br.facebook.com/djdiegodavi

Canal Revista Econsciencia: https://www.youtube.com/c/RevistaEconsci%C3%AAncia 

Canal Diego Davi: https://www.youtube.com/channel/UChHMDQV4CQPJwEtvulhW0Ng

Novos Termpos vol1: https://www.youtube.com/playlist?list=PLtfeJysynSic9swXU85i9twVD1i_j-CoY 

Projeto RLAB: https://www.youtube.com/watch?v=BmO4LUTmiN4&list=PLtfeJysynSieayVkd405k8i3l9SLWjWjZ


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.