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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Carlos Poyares

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Carlos Poyares viveu com intensidade e alegria todos os momentos da vida. Acompanhado de pessoas que fizeram história e que somou a sua história profissional.

Músico do regional que Pixinguinha tocava. Gravou com diversos cantores da música popular brasileira desde Samba a Seresta, do Forró a MPB. Foi artista de Circo, de Rádio, TV, Boate e Botequim. Além de um músico de berço musical. É um artista completo na música e nas artes cênica. Fez uma trajetória profissional invejável. É um musicólogo preocupado e atencioso com a música popular brasileira, tem um Acervo  Musical vasto, no qual vai registrar em um livro.

Aos setenta e três anos continua ativo profissionalmente e talentoso acima de tudo. Optou pela música popular desde criança, contrariando a formação dos seus pais que era erudita. Fugiu de casa e foi morar e trabalhar num Circo aos dez anos. Hoje representa junto com seu Regional de Choro o Brasil além mar.

Viajando patrocinado pelo Ministério das Relações Exteriores, da Cultura e pela Embratur. Mostrando que nossa música instrumental popular é tão valiosa e anterior ao Jazz. Carlos Poyares é um acervo vivo e pulsante que o Brasil precisa descobrir e divulgar e se orgulhar. Nesta entrevista ele dá o prazer de relatar a sua trajetória digna de registro em livro.

Falar da importância do Choro como música instrumental popular brasileira e a origem desse estilo e suas historias. Relata convivências que teve com pessoas que são a história da música brasileira como Chiquinha Gonzaga, Pixinguinha, Jackson do Pandeiro e muitos outros. Seus relatos precisos e de uma coerência e lucidez privilegiada é uma aula de história da música popular brasileira.

Segue abaixo entrevista exclusiva de Carlos Poyares para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.01.2001:

01) RM: Como foi a sua iniciação musical?

Carlos Poyares: Ouvindo e vendo minha mãe tocar flauta, eu ganhei dela no Natal de 1933  uma “flautinha” de lata de seis orifícios. E criei uma escala, nessa flauta que não tinha escala.

Que me ajudou muito quando gravei três long plays, todos premiados, como melhores discos no Brasil. Um em 1975, o qual me deu também a chave do estado de São Paulo  pelo governador Franco Montoro. E o outro em 1980, no qual ganhei o titulo de gênio musical pela imprensa brasileira.

02) RM: Como você iniciou a sua carreira musical?

Carlos Poyares: A minha carreira musical é muito engraçada. Eu sou de uma família de músicos eruditos. Meu pai era violonista concertista. Meus avós eram maestros. E o pai do meu pai era maestro da Sinfônica de Lisboa – Portugal. E minha mãe era flautista e tinha um tio flautista. Eu tinha até um tio tonto; como era chamado, quem não era parente direto e era casada com minha tia, irmã do meu pai.

Ele era dono de cartório e também era flautista. Todos eram eruditos. Na casa do meu pai, eles se reuniam em Saraus aos sábados de Tarde. Eu ouvia todo mundo tocando e pegava minha flautinha de lata e ficava no porão do casarão construído por Jesuítas e repetia as músicas que minha mãe tocava na sua flauta transversal.

Quando foi um dia, eu estava com oito anos de idade e fazia três anos que eu tocava minha flautinha. Eles descobriram que eu tinha tendência para música popular. Tomaram minha flautinha de lata e não deixaram eu tocar mais. Porque eu não queria tocar música erudita.

Eles queriam me ensina música erudita. E eu não queria. Esconderam a minha flautinha. Eu roubei a flautinha  e fiz uma apresentação de calouro em um Circo e ganhei em primeiro lugar. O dono do circo, por brincadeira me convidou para ir embora com eles. Eu era um garoto simpático e todo mundo gostava de mim. Eu acreditei e embarquei no caminhão do circo e acordei no Rio de Janeiro.

03) RM: A partir dessa data e desse episódio não parou mais de trabalhar com Arte?

Carlos Poyares: Vivi nesse Circo até os dezenove anos. Fui trapezista de voo livre. Fui motociclista do globo da morte. Fui palhaço e aprendi a comer fogo. Alias, é que eu esqueci, se não estaria comendo fogo de graça, ao invés de comer comida.

Mas sempre comi fogo para sobreviver. No Circo tinha atos variados e tinha uma peça de teatro que eu participava, fiz o curso de teatro e saindo do circo fui para Companhia de Teatro de Pedro Celestino. Fiquei até os vinte anos e fui fazer Cinema e fiz nove filmes ao lado de Milton Rodrigues, Dari Reis, Elisângela e outros artistas. Depois largue a vida artística porque queria viver um pouco com meus pais. Foi quando minha mãe morreu e vivi muito pouco com a minha mãe. E meu pai era inspetor de um Ginásio e queria que eu fizesse Faculdade como meus irmãos.

Fui obrigado a me formar em Engenharia e fazer o projeto da Igreja na Sétima Comarca de Ara cruz no Espírito Santo, meu estado natal. Dei o Diploma para meu pai dentro da Igreja e pedi alforria a ele. E voltei para o Rio de Janeiro e entrei no para o Regional de Choro de Valdir de Azevedo que estava se formando na Rádio Clube do Brasil. Antes no Circo eu já tinha gravado meu primeiro disco em 78 rpm com o Regional de Choro de Claudionor Cruz e comecei grava novamente no Rádio.

Sai do Regional de Valdir e fui para o de Arlindo da Rádio e TV Tupi. Vim para Record de São Paulo com o Regional de Pernambuco do Pandeiro. Depois voltei para o Rio de Janeiro entrei no Regional de Rogério Guimarães para Rádio e TV Tupi. E voltei para São Paulo para inaugurar  dois canais de TVs. Depois voltei para o Rio de Janeiro para inaugurar a TV Globo. Até que entrei para o Regional de Canhoto do Cavaquinho (Valdiro F. Tramatano) e fiquei até 1964.

04) RM: Como você sofre com a Ditadura Militar do Brasil, já que você não era músico engajado politicamente? 

Carlos Poyares:  Quando a Revolução de 1964 se instaurou, me tomou o Emprego e o Direito de Trabalhar no meu país com a música popular brasileira. Deram-me  a fama de comunista e ninguém me ofereciam trabalho para quem tinha essa fama, mesmo não sendo. Eu tinha quatro filhos e não podia ficar sem trabalho. Fui obrigado a voltar para o meu Estado, no qual inaugurei todas as Rádios. Mas não consegui emprego nas rádios locais e a família de minha primeira mulher era muito rica e tradicional e contribuíram para minha separação.

Quando procurava um hotel para ficar encontrei Gerson Valadão que me convidou para fazer um filme: Vale do Cananhã. Fiz o Filme pela passagem de ida para Lisboa – Potugal, não queria mais voltar ao Brasil  e me deu algum dinheiro para as despesas. Abordo do Navio encontrei o conjunto brasileiro  que foram músicos que já tinha tocado. Paguei bebida e toda a farra. Cheguei duro em Lisboa e falei com um motorista de táxi que vinha do Brasil e queria que ele me levasse para o melhor Hotel.

Falei que como ele não estava para ouvir história, mas que eu não tinha dinheiro e iria pagar com um relógio de ouro que todos os músicos do Regional de Canhoto tinham como marca. Ele perguntou se eu tinha currículo e abri a mala e mostrei. Ele não quis o meu relógio e disse que queria ser meu amigo e me deixou num Hotel Dom Carlos que tinha Boate e comecei a trabalhar e um mês depois eu já tinha empresário e fui para o Cassino Estoril, no qual fiquei um ano e meio.

E depois fui trabalhar nos melhores Cassinos de Paris fique até 1972. Quando voltei para o Brasil e só voltei à Europa em 1994. Trabalhando pelo Ministério das Relações Exteriores e pela Embratur e Ministério da Cultura  até hoje, levando a história da Música Brasileira.

Além de músico, sou musicólogo com cinqüenta e quatro anos de pesquisa sobre a música instrumental popular brasileira. Reconhecido pela Imprensa e pelo público. E continuo viajando e fazendo show com os meus setenta e três anos de vida e música.

05) RM: Qual era o panorama do Choro brasileiro no seu início de carreira e nos dias atuais?

Carlos Poyares: O panorama era o mais lindo. Que chega a deixar saudade. O brasileiro tinha mais vergonha na cara e valorizava mais o que era dele. Como o Choro era moda na época, mais o Maxixe. Existia nessa época um Pixinguinha, Benedito Lacerda, João de Deus, Antonio de Sousa, Dante Sanatório, Eugênio Martins, todos esses Flautistas. Eu enfrentei uma barra pesada no Rio de janeiro por ser flautista no início de minha carreira para tocar entre a nata do Choro em 1947 e para enfrenta os mestres tinha que tocar muito.

Até 1964 quando o Rádio deixou de ser ao vivo e viraram toca-discos. A TV tomou conta do mercado. E foi a TV que deu uma oportunidade muito grande para o Choro. Na época muitos Programas de Choro. Eu tinha um Programa na TV Tupi de Flauta Cavaquinho e Violão. No qual recebia convidado. O Choro era uma música ouvida por toda a sociedade, por moços e velhos, por todo mundo.

O Choro enfrentou a concorrência musical do Mambo em 1947, que se popularizou através dos seus filmes. Nos anos cinqüenta o Bolero tomava conta do Brasil, foi que Altamiro Carrilho desbancou o Bolero criando o Samba Canção. Depois o Rock em 1960 quando se tornou mais popular no Brasil com suas bandas que fizeram histórias. Nessas épocas o Choro ficou de lado.

Mas não morreu nem saiu de cena. O Choro sempre levava pancada pela pancada, mas com cabeça erguida seguia em frente. Depois a TV começou a corta os Programas de Choro. Em 1970 a TV voltou até Programas de Choro. E Boates voltaram a colocar Regional de Choro para tocarem na casa. Foi inaugurada a Rua do Choro na rua João Moura em São Paulo. A TV Cultura tinha um Programa: Flauta Cavaquinho e Violão. Com o Regional de Daulia, no qual o Isaias era o flautista.

Eu fui convidado para participar de vários Programas. Depois o Programa mudou de o nome para: Alegria do Choro. Em 1980 voltou a enfraquecer as coisas para o Choro. As casas noturnas substituíram os Regionais por Violonistas e Pianistas que cantavam. Porque fica mais barato o cachê. Mas o Choro não morreu e não morrerá. As casas de família voltaram a fazer reuniões para ouvir Choro. Muitos Clubes do Choro foram abertos em São Paulo, Minas Gerais e em Brasília foi fundado o Clube nacional do Choro.

No qual fui com muita honra Diretor e da Escolar Rafael Rabello, uma das Escolas de Música de maior reputação no Brasil. Belo horizonte tem Clube de Choro e em Vitória do Espírito Santo tem seu Clube do Choro. E dia sete de outubro eu vou re-inaugurar a Casa de Choro de São Paulo que vai se instalar no Centro cultural Julio Prestes. Em fim o Choro está começando a renascer de novo.

06) RM: Na sua opinião quem são os mestres do Choro Brasileiro? 

Carlos Poyares: Bom o maior mestre é o santo, o deus da música popular brasileira, aquele que eu amo e respeito e tenho muita saudade: Alfredo da Rocha Viana Júnior (Pixinguinha), Benedito Lacerda; que foi seu colega de dupla, Claudionor Cruz , Dante Santoro, Altamiro Carrilho e eu  que pertencemos a esse passado.

Que somos os dois últimos Chorões do passado que fizeram nome no Brasil e o outro Raul de Barros que está vivo mais deixo de tocar. Conjunto Regional foi o de Dante Santoro e de Claudionor Cruz, de Rogério Guimarães, de Pernambuco do Pandeiro, do Arlindo Branco da TV tupi que foi um grande Regional, Valdir Azevedo , Abel Ferreira  que passou a ser o conjunto de Dilermando Reis na Rádio Globo, Jacob do Bandolim, que hoje é o Época de Ouro.

E a sua majestade Conjunto Regional de Canhoto do Cavaquinho. Que vocês podem ouvir nas gravações, tanto com o Regional solando ou acompanhando só ou junto com Orquestra, todos os maiores Cantores do Brasil.

Gilberto Alves, Silvio Calda, Orlando Silva, Vicente Celestino, Albenzio Perrone e gravou também com todos os cantores nordestinos como Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga.  Ludugero, Osvaldo de Oliveira e muitos sanfoneiros Nóca, Adolfinho, Abdias, Zé Calixto e muitos outros.

07) RM: Como você define o Choro Brasileiro?

Carlos Poyares: O Choro brasileiro além de ser a música erudita do povo brasileiro. O Choro é o jazz brasileiro. O Choro que nasceu antes do Jazz em 1866. Ele tem uma harmonia variada, tem a melodia que precisa ser estudada, tem que ser tocada por gênio para ser um bom Choro. O músico tem que ser bastante improvisador e os músicos que fazem à harmonia tem que ser improvisador também. O Choro é o nosso Jazz.

08) RM: Qual seria a pré história do Choro?

Carlos Poyares: A pré história do vem de uma necessidade, na segunda metade do século XIX , com o surgimento da classe média brasileira. Nessa época a classe alta se divertia com as Orquestras de Salão e com os quartetos de Câmera vindo de fora.

Todo o ambiente musical do Brasil era tipicamente Colonial até o papel para escrever música vinha  de fora, as canetas bico de pato vinham de fora. Os Índios tinham a sua música e instrumentos musicais  que os identificavam, os rituais a base de flautas, xequerés, ganzás.

Flautas feitas pelos índios usando taquara ou bambu. Os escravos tinham os seus rituais à base de percussão, os seus batuques com percussão de tambores, agogôs e atabaques. Os Portugueses colonizadores se identificavam com a sua música vinda de além mar. Havia na época os conjuntos formados por escravos negros que eram barbeiros, que eram chamado de música de barbeiro.

Mas tocavam música  populares da Europa ou Clássicos para festa de Igreja. Tinha um Grupo pequeno que acompanhava um padre com uma cruz pela rua. Tocando e batendo bumbo, que se chamava pedindo para Espírito Santo. E outras músicas no Brasil eram as Fanfarras Militares e os hinos cantados nas igrejas.

A Classe média não tinha uma música na qual a identificasse. Então, tocava dois violões e um cavaquinho e batiam palmas e cantavam os fados português. Foi quando nessa época apareceu um mulatinho no Rio de Janeiro que era um excelente flautista, filho de um mestre de banda que tinha  o mesmo nome do pai: Joaquim da Silva Calado jr. E o pai tinha morrido e ele estava casado e precisava sustentar a sua família.

Ele pegava alguns serviços nas sinfônicas tocando músicas clássicas e fazia festas de casamento e batizados. Como nas salas de visitas das casas de famílias não cabiam um instrumental  de uma banda. Ele olhou os dois violões e cavaquinho e teve a ideia de juntar a flauta e criando o primeiro quarteto de câmara brasileira: dois violões, cavaquinho e uma flauta de madeira.

Chamado de O Quarteto de Pau e Cordas. Mais tarde devido o Choro das Cordas, ganhou o nome de Quarteto de Choro. Esse Quarteto foi até a década de vinte, quando o deus da música popular brasileira (Pixinguinha) devido à necessidade das Gravadoras e das Rádios que nasciam naquela época pelas mãos de Roquete Pinto primeira estação de rádio no Brasil. Havia a necessidade pequenos conjuntos para acompanhamento de Cantores.

Pixinguinha acrescentou o Pandeiro ao Quarteto que o flautista Calado criou. Criando o que passou a se chamar Conjunto Regional Brasileiro. Com o Pandeiro acrescentado nasceu um balanço que ganhou o nome de Choro. E o Choro deixou de ser um tipo de conjunto para ser um gênero musical. Que é amado até hoje.

09) RM: Fale sobre Chiquinha Gonzaga. 

Carlos Poyares: Chiquinha Gonzaga foi um exemplo para mulher brasileira, como musicista, compositora, como mulher. Um mulher que trocou todo o conforto que tinha na família. Lutou contra regime escravocrata. Foi expulsa de casa pelo marido. Porque Chiquinha  queria tocar piano e mostrar as suas músicas ao mundo.

E um marido estúpido, um boçal militar, ignorante colocou Chiquinha abordo de um navio Uruguaio que comprou com o Barão de Mauá para transporta soldados e escravos para guerra do Paraguai. Chiquinha sentindo falta da música comprou um violão e ele quebrou o violão foi quando ela chegou ao Rio de Janeiro se separou dele e foi tocar seu piano e mora em São Cristóvão com um nível de vida bastante inferior.

Lecionando pianos de porta em porta para criar o filho João Alberto que ela lutou para dar condições do mesmo ser médico. Chiquinha foi para Europa visitar os parentes, porque os daqui não lhe aceitavam. A sociedade não aceitava Chiquinha Gonzaga. Ela voltou da Europa depois de compor para peças de teatro lá. E fez sucesso quando ela compôs aqui no Brasil  um peça de Luiz Peixoto: “Forrobodó”. E começou a  fazer sucesso no Brasil e foi para Itália e voltou para Portugal.

Fez seu nome na Europa quando ela voltou para o Brasil, já estava famosa compondo para peças de teatro. Compondo para grupos de Choro as músicas: “Corta Jaca”, “O Gaúcho” e “Atraente”. Ela teve um grande aliado que foi Henrique Alves de Mesquita Basto, que as maiorias dos músicos brasileiros não conhecem. Ele foi o primeiro professor de harmonia que o Brasil teve. Foi o primeiro compositor de música popular brasileira e tocava Piston e Piano.

Ela conheceu o flautista Calado que deu um apoio muito grande a ela. Tocaram muito tempo junto e a sua participação com o Choro veio dessa amizade. Depois ela conheceu Carlos Gomes. Que se tornou um fanático pela obra dela. Chiquinha Gonzaga viveu até 1935 fazendo sucesso e que nunca vai deixar de ser sucesso.

10) RM: Você ao longo de sua carreira musical gravou com muitos Cantores e Músicos. Cite alguns?

Carlos Poyares: No gênero Seresta e Boêmio: Orlando Silva, Nelson Gonçalves, Silvio Calda, Vicente Celestino, Gastão Formenti, Albenzio Perrone, Carlos Jose. No Samba: Roberto Silva, Ciro Monteiro, Ari Cordovio. Gravei com todos nordestinos do passado: Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, Osvaldo de Oliveira, Gordurinha (Valde Cardurio de Macedo) que foi um dos grandes cantores e compositores da música nordestina. Sanfoneiro gravei com todos além dos já citados a cima.

11) RM: Fale de sua convivência com o rei do ritmo, Jackson do Pandeiro.

Carlos Poyares: Jackson do Pandeiro foi o meu grande irmão. Ele além de grande interprete da música brasileira. Como pessoa foi maravilhoso, é uma saudade. Foi meu colega de shows e foi meu colega  de rádio na Mayrink Veigas. Viajamos juntos para fazer shows em muitos lugares. Gravamos juntos. Hoje é uma saudade. O maior balanço e swing que o Brasil teve, no gênero dele. Ninguém apareceu com balanço superior.

Quando ele veio para o Rio de Janeiro. O primeiro Programa que ele fez foi na Rádio Mauá. Eu era do Regional de Pernambuco do Pandeiro. Ele procurou oportunidade para divulgar o seu primeiro disco. Ele fez uma amizade com o Regional de Pernambuco. Jackson era um cara fácil para fazer amizade. Era meio quente; meio estourado. Se quisesse briga com ele era fácil. Mas se quisesse amizade ele era maravilhoso.

Na mesma noite fez um programa com agente. Tínhamos um Programa que chamava: No meu Brasil é Assim. Era nosso não era da Rádio. Quem mandava era nós e demos oportunidade para ele divulgar seu disco. Depois dessa participação no programa ele começou a vida profissional. Ele era uma pessoa dócil e carinhosa. Gostava de conversa muito.

Devido ele tocar Pandeiro, ele fez uma amizade muito grande com Pernambuco do Pandeiro que era classificado na época com melhor pandeirista do Brasil. Mesmo depois do programa ele sempre procurava agente para almoçar, bater papo, para se entrosar mais no Rio de Janeiro. A gente já conhecia todo mundo. Então a gente apresentou o Jackson do Pandeiro a todo mundo também. E nas gravações que ele fazia estamos sempre com ele. Depois ele foi para o Regional de Canhoto do Cavaquinho. Jackson deixou saudades.

12) RM: Como você vê a receptividade do público estrangeiro para música regional brasileira ?

Carlos Poyares: O que eu posso dizer como brasileiro é que eu me sinto honrado de toca Choro. Eu digo honrado porque eu viajo pelo Ministério das Relações Exteriores, Banco do Brasil e Embratur. O Choro é abraçado, querido e amado lá fora, mais que no Brasil.

Eu gostaria que ele fosse mais amado aqui. Apesar de ter um grande público no Brasil. Basta dizer uma coisa, com toda modesta, eu faço show na Holanda, país que muita gente diz que as pessoas são frias. Superlota o teatro, a ponto da rainha mandar emissário nos convidar para fazer um apresentação no Palácio.

Na França, eu superloto qualquer Teatro que me apresento. Lá eu sai vencedor entre seiscentos conjuntos do Mundo inteiro com a melhor apresentação musical e visual. Com direito a uma crônica do cronista mais exigente de Paris: Jean Sopram. Na Espanha, eu lotei um teatro em Madri e o embaixador veio pedir para mim fazer uma apresentação lá fora no dia seguinte, porque tinha gente para lotar mais de dois teatro.

Na Alemanha, eu toquei para mais de dez mil pessoas na feira do livro. E gente gritava “Carinhosa” , “Pixiguinha” alemães que não sabiam pronunciar em “Carinhoso” em português. O povo aplaudia freneticamente. Em Portugal não falo, porque Portugal é Brasil. Eu gosto de trata o português muito bem aqui, porque somos bem tratados lá. Eu sou recebido como se fosse um deus.

O Choro é amado na Europa e já existe conjuntos tocando Choro nas casas de família. Eu recebo correspondências e telefonemas de amigos meus dizendo que nas casas deles já estão tocando Choro. Isso é uma honra para nós. No Japão em Tókio e Osaka já tem conjunto de Choro profissionais. Que já gravaram e vieram se apresentar no teatro Municipal do Rio de Janeiro.

13) RM: Qual o nome do seu Regional?

Carlos Poyares: O nome do meu Regional é: Carlos Poyares Internacional Show. É formado por dois violões de sete cordas (Joca, Clóvis), um pandeiro, um cavaquinho (Lúcio), um acordeon (Zezinho) e a minha Flauta. E tem uma apresentadora bilíngüe, aliais bilíngüe não, ela fala quatro idiomas (Claudia Poyares) que é minha filha. Esse é o meu Regional de Choro.

14) RM: O mercado internacional é mais viável para desenvolver um trabalho de música instrumental como o Choro?

Carlos Poyares: Eu não conheço  o mercado Internacional como músico autônomo, porque quando viajo vou patrocinado por órgãos brasileiro como relatei, mas pelo que vejo o mercado internacional é muito bom para o CHORO. Porque outros conjuntos de amigos meus, são contratados parar ir fazer trabalhos na Europa. E fazem sucesso e voltam mais vezes.

15) RM: Fale da sua discografia.

Carlos Poyares:  Eu gravei oitenta e um trabalhos entre Long play e CDs. Gravei três 78 rpm e um compacto duplo em várias Gravadoras. Relatar os nomes ficar difícil.

16) RM: Você já gravou ou tocou com orquestra?

Carlos Poyares: Aqui no Brasil não. Porque eu sempre evitei fazer participação com Orquestra. Mas na Europa logo quando cheguei a Portugal e na França, eu tive que trabalhar com Orquestra me acompanhando. Levei muitos arranjos de Choro para Europa. E as orquestras me acompanhavam, porque não havia conjunto de Choro. No Brasil nunca fiz.

17) RM: Você gravou outros gêneros musicais?

Carlos Poyares: Eu  gravei vários gêneros musicais. De Roberto Carlos ao Beatles em Choro. E gravei muitos discos de Seresta. O material de Seresta hoje é encontrado na Europa e não tem no Brasil. O meu disco para você ter um, tem que ser via internet, porque não tem no Brasil.

18) RM: Fale do seu Acervo Musical Particular?

Carlos Poyares: Eu não tenho muita coisa. Mas tenho material do Brasil antes do Choro, quando um Baiano cantava seus Lundus. Xisto Bahia e outros que encantavam o Brasil com suas modinhas. A Seresta que é um costume ibérico, que veio para o Brasil antes do Lampião de gás, que se tornou popular. E tenho alguma coisa ainda antes da Seresta que em outra oportunidade vamos emenda os bigodes novamente e vou relatar.

19) RM: Você e Altamiro Carrilho são dois ícones da Flauta e do choro. Qual a sua relação profissional e pessoal com ele?

Carlos Poyares: Altamiro  também tem o reconhecimento do seu trabalho internacionalmente. É um irmão que eu tenho que amo muito. E que eu considero a maior Flauta do Brasil. Tecnicamente é perfeito e um compositor da atualidade mais moderno e melhor compositor de Choro. Quando toco, no meu repertório sempre tem obras do Altamiro.

Eu tenho certeza que é meu amigo e gosta de mais de mim como eu gosto de mais dele desde de 1947. Quando ele saiu do Regional de Canhoto do Cavaquinho para forma a bandinha do Altamiro Carrilho, eu o substitui em 1957 no Regional. Tratamos-nos com muito carinho. E Vida longa para nós continuarmos a comungar  dessa amizade.

20) RM: Fale da importância da obra e do músico Pixinguinha para música Brasileira.

Carlos Poyares: A importância do Pixinguinha para música popular brasileira todo mundo sabe. Agora o Pixinguinha que eu conheci não foi só o músico e o compositor. Eu conheci a pessoa de Pixinguinha. Aquele homem que eu sentava no colo dele com oito anos para tocar minha flautinha de lata. E ele me apresentava as pessoas, dizendo: “Esse é meu músico”.

Quando Benedito Lacerda morreu em 1957, quem fez dupla com Pixinguinha foi eu. Ele achava que eu tinha a interpretação e o som de Benedito. Apesar de eu ter meu som e minha interpretação. Pixinguinha tinha o coração maior que o Brasil. Amava todo mundo e era amado por todo mundo. As pessoas no Rio de janeiro de toda classe social,  se ajoelhavam  e tomavam a benção a ele como se fosse um santo. O mesmo morreu numa Igreja.

Dois ladrões foram assaltar Pixinguinha e ele levou os dois homens para toma banho, jantar, dormir e tomar o café da manhã na casa dele e deu dinheiro para eles não saírem duros. Quando os mesmo sabendo que era Pixinguinha a vitima, eles chorando entregaram as armas a Pixinguinha.

E o mesmo aconselho os dois a parar de assaltar. O Pixinguinha é a música instrumental popular brasileira. Eu mesmo o conhecendo pessoalmente pesquisei tudo sobre a vida dele. Conheço mais sobre ele do que sobre mim.

21) RM: Como você se define como músico e flautista e qual seu estilo?

Carlos Poyares: Eu não sei definir o meu estilo. Eu só sei que toco com o coração, toco música tradicional e sou fiel à composição do autor. Toco como ele fez a música. Não fantasio a música de ninguém, porque eu respeito demais o autor. E toco para um povo que tem um coração do tamanho do Brasil e que sabe valorizar a minha música e meu trabalho. Eu tenho muito amor a esse povo e muito amor à música que toco.

E talvez  por ser um cara muito machucado pela vida. Porque para ser Flautista no meu país, eu enfrentei barras pesadíssimas. Eu coloco na hora de tocar o meu instrumento toda essa vivencia que a vida me deu. Eu não vou mudar e não vou me modernizar, porque eu não toco para mim, eu toco para aqueles que me admiram. Eu sou mais alma que técnica.

A técnica para mim é a ferramenta necessária para tocar as músicas dos compositores. Se ele faz uma música que exija mais técnica, eu uso a técnica. Se ele faz uma música que precisa mais alma. Eu toco com mais alma. Técnica para mim é para executar a obra dos compositores e não para me exibir.

22) RM: Qual foi a sua formação musical?

Carlos Poyares: Eu  não tive professor. Eu criei minha formação musical. Apesar de não repudiar a música erudita. Eu toco também música erudita. Mas, eu amo a música popular. Eu autodidata.

23) RM: Você já tocou nos lugares mais luxuosos e mais suspeitos. Conte um pouco sobre essas experiências. E Quais as interpretes brasileiras que você trabalhou?

Carlos Poyares: Na noite do Rio de Janeiro, eu trabalhei em todas as casa noturnas do Leme até a Barra da Tijuca. Trabalhei nas casas mais luxuosas como o Copacabana Palace e hotéis importantes.

Mas trabalhei também nas boate chamadas de “muquifos”. Trabalhei com muitos vultos da música instrumental internacional. E trabalhei nos cabarés do Rio de Janeiro. Trabalhei com o pai de Taiguara, o Ubirajara. Trabalhei do luxo a casa mais humildes.

E para mim as maiores cantoras que tive o prazer de conhecer foram no gênero Boemia e Seresta: Dolores Duran, Maísa, Helena de Lima, Elizeth Cardoso que para mim foi a maior desse gênero.

Ângela Maria   e Luciene Franco. Em outros gêneros: Elis Regina e Elza Soares foram as melhores. No samba com relação a cantores: Jackson do Pandeiro e Miltinho que ainda está vivo. No gênero Boemia e Seresta: Nelson Gonçalves e Silvio Caldas. Quanto à música nordestina inegavelmente o meu irmão Luiz Gonzaga, foi o maior.

24) RM: Conte um pouco dos fatos tristes que você presenciou.

Carlos Poyares: Um  fato triste que eu registro foi à morte de Augusto Calheiros, de Luiz Americano que é respeitado por todos os Chorões e Edu da gaita,um dos maiores gaitista  do mundo. Todos foram enterrados como indigentes.

Isso retrata o desprezo lamentável que muitos músicos que fizeram história na música popular brasileira sofrem. Esses são três fatos tristes que são representam centenas de fatos tristes relacionados com artistas que convivi. E talvez, será o meu livro sobre a história sobre a música brasileira no futuro.

E fatos tristes também marcaram a vida de algumas cantoras como: Silvinha Telles, que era sucesso absoluto. Morreu quando vinha entregar o seu carro que tinha vendido. E um caminhoneiro que estava bêbado e dormiu no  volante, esmagou ela e o carro na estrada de Macaé no Rio de Janeiro. Maysa  que o carros despencou da ponte Rio – Niterói. Dolores Duran que se suicidou em sua banheira.

Elis Regina que também se suicidou. Hoje eu sinto uma tristeza de ser junto com Dino Sete Cordas, que é o melhor sete corda do mundo. Nós dois somos os últimos músicos vivos do Regional de Canhoto do Cavaquinho.

25) RM: Fale das alegrias na vida profissional e pessoal que merecem registros.

Carlos Poyares: Um fato feliz da minha vida foi quando conheci minha segunda esposa Claudia, a qual eu já amo há vinte oito anos. E o nascimento da minha filha com ela. E o nascimento dos meus três filhos do primeiro matrimonio, são os fatos felizes da minha vida pessoal. E um fato feliz na minha vida profissional foi quando fui convidado para gravar o disco inaugural da Gravadora Eldorado.

Outra felicidade foi ter conhecido um amigo que perpetuamos trinta anos de amizade e que faleceu no ano passado em julho: Dr. Francisco de Assis Carvalho da Silva, conhecido como Ciquís. Ele era boêmio e tinha muito dinheiro. Ele chegou a me levar para trabalhar com ele na consultoria de Minas e Energia. Juntos fizemos muita farra bonita e que vale a pena registrar.

Ele ganhou um Catamarã  por quinze dias para fazer farra no rio Amazonas. Eu e Ele e mais quinze Chorões fomos para Belém do Pará. E lá tinha dois aviões de dez lugares nos esperando para nos levar para Carajás, lá ficamos num Hotel da Vale do Rio Doce e passamos quinze dias. Depois fomos pro Quatro Rodas pro Maranhão e passamos um mês. Foram dois meses de Farra.

Eu e ele fomos para Alemanha para rua principal de Berlin. E ele mando colocar três caixotes que era o sonho dele. Eu sentado em um com minha Flauta e ele sentado em outro um cavaquinho e um prato de salgadinho no outro caixote e um litro de Uísque, dois copos  e um balde de gelo. Em Berlim tocando Choro e os Alemães jogando dinheiro. Ele achava uma graça os alemães jogando dinheiro na caixa do cavaquinho. Com ele fiz farras maravilhosas que pouca gente conseguiu fazer.

Ele fechou um Restaurante no hotel Gloria,  ficando a nossa disposição quem entra e quem sai. Turistas querendo entrar e tendo que pedir autorização para ele para ouvir Chorinho. Viajamos o Brasil todo. Fazíamos farra em qualquer lugar que alguém quisesse ouvir música. Reunia Chorões aonde chegava. Em Brasília reabrimos o clube do Choro. Fundamos a Escola de Choro. Mesa de vinte mil reais de farra.

Ele era o Boêmio e ironicamente morreu de cirrose que não foi alcoólica, deu ferrugem no sangue dele, atingindo o fígado. Ele está no céu com Pixinguinha e Valdir Azevedo, Jacob do Bandolim, Benedito Lacerda  e a turma toda. Que ele amou aqui na terra. Enquanto estamos aqui com quatro latinha de cerveja, na qual bebi três e você uma. Você não é de beber. Ele deve está com umas quinhentas e uns duzentos litros de Uísque. Meu amigo é uma saudade.

Eu amo minha profissão, porque ela me dá dinheiro para sustentar minha família, me dá  prestigio e me dá o prazer de tocar de graça em qualquer lugar, no qual eu ache que deva tocar e na hora que eu quero. Porque eu também toco por prazer, por amor e não só por dinheiro. Minha Flauta é minha companheira, ao ponto dela acompanha-me na mesa de cirurgia. E pegava minha Flauta no quarto do hospital, colocava um tufo de papel dentro e estudava minha flauta sem fazer barulho.

26) RM: Qual a Flauta você usa?

Carlos Poyares: Várias. Mas a que eu trabalho é a escala Boeme. A Flauta tradicional.

27) RM:  Fale um pouco do Carlos Poyares como pai e esposo.

Carlos Poyares: Eu  não gosto de falar da minha pessoa como marido para não parecer convencido. Mas desconheço que alguém possa ser melhor. Amo demais minha mulher. Amo mais que a mim. A única mulher que fui fiel. Mesmo sendo um artista assediado na noite. A minha vida é minha mulher que conheci quando ela tinha quatorze anos e eu quarenta.

Quanto ao pai não acredito que alguém ame mais seus filhos. Meus filhos são o meu orgulho maior. Minha filha pula no meu pescoço e me abraça e me beija dizendo que sou o homem mais lindo do mundo e o melhor músico do mundo.

Meu segundo filho é violonista concertista, mas pedi a ele que usasse o Violão para se divertir. A minha filha escuta música o dia inteiro e estuda a vida de músicos. Para homenagear ela e sua mãe. Eu fiz uma música que se chama um concerto para duas Claudias.

28) RM: Carlos Poyares, Quantos anos de carreira? E quais os projetos musicais para futuros?

Carlos Poyares: Eu  comecei minha vida  profissional aos oito anos, faço no dia cinco de dezembro de 2001 setenta e três anos. Vocês façam as contas.

E tenho um projeto de grava no Brasil. Um gênero que gravei no passado com o Regional de Canhoto do Cavaquinho. E tenho certeza que quando eu lançar, vai ser sucesso, talvez mundial. Porque é uma música vibrante, com melodias muito bonitas  e com uma harmonia que vai ser admirada pelo mundo. Vai fazer história e o conjunto vai se vestir de acordo com o Gênero.

PS : Carlos Câncio Poyares nasceu em Colatina, no dia 5 de dezembro de 1928 e faleceu em Brasília, no dia 5 de maio de 2004. Em decorrência de um acidente vascular cerebral, aos 75 anos de idade.

 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.