beto brito
O CD Imbolê de Beto Brito, é um místico de repente, peleja, côco, toré, baião, martelo, cordel, rabeca e viola. É um caldeirão borbulhante de todas as influências sonoras e literárias do nordeste brasileiro, sem o estereótipo do conservadorismo tradicional e imutável.
O Imbolê é um disco para o mundo, marcante, definitivo, atemporal, poético e percussivo; regional e contemporâneo; primitivo e transcendental. Assim caminha o Imbolê, entre guitarras distorcidas, violas e rabecas, zabumbas, cítaras e grooves eletrônicos, reverenciando a alquimia das fusões entre o pop e o regional, flertando com o rap-rock, sampleando com as baladas e cirandas, na pancada irreverente do baião elétrico.
Produzido por Robertinho de Recife, com participação especial de Zé Ramalho e a poesia surrealista de Zé Limeira, o “Imbolê – cordel e som na caixa”, é acompanhado ainda, de doze livretos autorais, recheados de martelos, ditados populares e emboladas, completando assim, essa brilhante obra músico/literária brasileira.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Beto Brito para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.11.2012:
Índice
Beto Brito: Eu nasci no dia 27.02.1962 (oito anos depois da morte física do poeta Zé Limeira) na cidadezinha de Santo Antonio de Lisboa, a Capital do Caju, no interior do estado do Piauí. Registrado como Edilberto Brito.
Beto Brito: Nos mercados públicos e feiras livres eu enxerguei pela primeira vez a música popular. Nas feiras livres fui criado, ao lado do meu pai, tocador de fole, vendedor de fumo e tirador de reisado.
Beto Brito: Estudei por pouco tempo na Escola de Música Antenor Navarro em João Pessoa, quando decidi aprender rabeca; lá eu pude contar com a compreensão do maestro Carlos Durier para me ensinar técnicas de arco e execução em na Viola erudita, para depois aplica-las na rabeca, o que faço até hoje. Sou formado em psicologia, porém nunca exerci a profissão.
Beto Brito: No passado, os repentistas anônimos das feiras livres, a jovem guarda, o rock dos anos setenta, especialmente Raul Seixas, cuja música Ouro de Tolo me levou a cantar pela primeira vez em público, na minha escola primária e sonhar em ser artista, um dia.
Não posso deixar de citar nomes como Beto Guedes, Belchior, Zé Ramalho, Fagner, Alceu Valença, Cátia de França, Gilberto Gil, Odair José, Waldick Soriano, Bartô Galeno, Credence, The Beatles, Diana, Luiz Gonzaga e tantos outros que ouvia na loja de discos onde trabalhava…
Nenhum deixou de ter importância para minha formação musical, todos continuam ecoando nas minhas lembranças de adolescente, fazendo parte da minha vida, tanto quanto os atuais: Nicolas Krassik, Luiz Paixão, Siba, Thomaz Rorher, Antonio Nóbrega, Chico César, Quinteto da Paraíba, Xangai, Caju e Castanha, Eminem, porém todos eles entrelaçados com audições dos meus ídolos do passado.
Beto Brito: O destino já tinha me alertado para a necessidade de tomar uma decisão e seguir uma carreira profissional, até então apenas me divertia com meu violão e meus versos de Zé da Luz e Augusto dos Anjos, porém, certa vez numa manhã de abril do ano de 1995 o apelo foi mais forte, amanheci com a notícia de que estava acometido por um grave problema hepático, em consequência tive que partir para um tratamento doloroso e fiquei em casa durante doze meses.
Nesse período me dedicava à composição e audições para me livrar do tédio do tratamento. Quando recebi a notícia de que estava curado, já não tinha mais dúvidas: vendi o que me sobrou de uma loja que construíra durante vários anos de trabalho e parti para meu sonho de adolescente – É agora ou nunca!
Nesse mesmo ano gravei meu primeiro disco e venho, até hoje, nessa busca incansável, às vezes o coração sofre no lugar do fígado, porém é uma dor que alimenta minha alma e me bota na estrada todos os dias de minha vida.
Beto Brito: Oito discos: “Visões”; “A Cara do Brasil”; “Doidinho por forró”; “Pandeiro Sideral”; “Mei de feira”, “Imbolê”, “Bazófias”; ” E Tome forró!”. Vários músicos e produtores participaram de alguns deles: Costinha, Teinha, Sérgio Galo, Chiquinho Mino, Beto Preah, Betinho Muniz, Carlos Trilha, Robertinho de Recife…
O disco “Visões” foi um disco incipiente, sem grandes expectativas, porém a partir dele comecei a procurar minha própria estética sonora: “A Cara do Brasil”, com a produção de Tovinho e João Linhares já se apresentava com uma sonoridade mais definida, porém com um repertório ainda mesclado, de baladas a reggae; “Doidinho por forró” já mostrava definitivamente o meu lado regional que carrego até hoje; “Pandeiros Sideral” e “Mei de Feira”, produzidos por Carlos Trilha, levaram “Xote Mei de Feira” e “De cair o queixo” a ser uma das músicas mais tocadas no São João de 2001 e 2005, respectivamente; “Imbolê” e “Bazófias”, produzidos por Robertinho de Recife, trouxeram as características da chamada “world music”, com fusões regionais entre rabecas e guitarras; “Imbolê” e “Ciranda do amor” foram destaques; mais recentemente …
“E tome forró!” foi o retorno ao meu velho e bom forró nordestino, onde a “Maria Isabel” foi destaque.
Beto Brito: Uma profusão de sons que se fundem entre o primitivo e o contemporâneo. Eu diria que é uma casa de chão batido com teto solar; um aviãozinho de papel com transponder; um trenzinho bate-bate com turbina de foguete…
Beto Brito: Tenho minha maneira própria de cantar, minhas limitações e meu sotaque. Não sou um grande intérprete, porém minhas canções caem bem na minha voz e me agrada o que canto.
Beto Brito: Sim, com Fabíola Lanusa que me ensinou durante muito tempo e na EMAN também, estudei técnica vocal.
Beto Brito: Raul Seixas e Zé Ramalho são meus cantores nacionais favoritos: de fora, Bob Dylan e Elvis Plesly: de cantoras Cátia de França e Marinês.
Beto Brito: Sou um compositor meio solitário, porém recentemente Bráulio Tavares e Fuba, têm sido muito presente nessas tardes regadas à vinho e muitas histórias, duas canções já estão prontas…
Beto Brito: Na forma atual em que se encontra o meio artístico-musical, não vejo outra maneira de se desenvolver uma carreira, senão independente. Os prós são liberdade de escolha de repertório, estilo, etc. E os contras são as responsabilidades financeiras por todas as ações, prensar disco, divulgar, etc. Não tem volta esse caminho… É guardar o almoço pra comer no jantar.
Beto Brito: Caótico! O talento ficou relegado a momentos raros de pequenas e cinzentas apresentações; a vulgaridade musical tomou de conta de todos os canais da mídia e o dinheiro fala, onde o talento se cala.
Nas últimas décadas muita coisa boa apareceu no meio independente: Chico Correa, Zé Renato, Crioulo, Mestre Ambrósio, Lenine, Vanessa da Mata, Falamansa, Chico César, Zeca Baleiro e muitos outros; altos e baixos todos têm, porém a maioria continua criando e recriando com muito talento. Quem regrediu? Não me apraz tecer críticas, afinal isso faz parte das curvas sinuosas das Estradas de Santos.
Beto Brito: Todos, que eu já citei acima e outros mais, quem não tem profissionalismo não sai de casa, nessa e em qualquer outra atividade.
Beto Brito: Agora sim, essa é minha área, como diz o Bebê Jonhson. O Cordel é minha música, sua importância é vital e inseparável de minha obra. O Cordel é o meu passo, meu olhar, meu cheiro e minha inspiração: Sem Cordel não respirava; não sorria nem compunha; não vivia nem sonhava; era só, roendo unha; o Cordel é minha seta; minha vida se completa; ele é minha testemunha.
Beto Brito: É um livro-cordel gigantesco, com 1400 estrofes em sete linhas, em que viajo desde a pangeia até o apocalipse: O maior cordel do mundo / é completo, mitológico / criador de profecias/com seu verbo antológico / sai da lama do dilúvio/ profundezas do Vesúvio/ com seu verso escatológico.
Beto Brito: Manoel Monteiro, Marco Di Aurélio, Astier Basílio, José Alves Sobrinho, Bráulio Tavares e por aí vai…
Beto Brito: Oliveira de Panelas, Severino Nunes Feitosa, Daudeth Bandeira, Edmilsom Ferreira, Antonio Lisboa, João Furiba (recentemente), Jonas Bezerra e por aí afora…
Beto Brito: A beleza da sonoridade e a sua relação direta com o cordel e o repente. Quando eu ainda morava no Piauí, passava grande parte da minha adolescência nas feiras livres, e parte desse tempo, ouvindo esses nobres e anônimos artistas que faziam desse instrumento o acompanhamento para cantar suas loas em calçadas e bares. Aquele som nunca saiu da minha cabeça, até que um belo dia eu tentei aprender um pouco desse instrumento e fazer dele o meu principal acompanhamento.
Beto Brito: Um Festival na França chamado Zik Zak, o horário marcado pra começar era nove horas da noite, nós chegamos e tocamos com o Sol em nossa cara, foi terrível… é como receber um presente sem embalagem, entende? A luz do palco cria uma atmosfera muito singular para qualquer show, mas a luz do Sol deixa tudo igual, sem contraste, mas no fim deu tudo certo…
Beto Brito: Feliz por saber que eu posso tocar, compor e cantar. E triste por saber que é muito difícil fazer com que as pessoas possam ouvir essas canções.
Beto Brito: João Pessoa (PB) tem uma cena musical madura, praticamente em todos os estilos encontramos grupos e/ou artistas fazendo alguma coisa, do samba de raiz ao rock hardcore, a potencialidade desses artistas é que se torna bastante complicada, pelos perrengues naturais de quem ainda não tem a fonte sustentável para suas produções.
Beto Brito: Totonho, Chico Correa, Escurinho, Cabruêra, Mona, Zeferina Bomba, Jackson Envenenados, Jaguaribe Carne (ainda vale a pena), Chico Limeira, Clã Brasil...
Beto Brito: Com todos eles, João Pessoa, é uma cidade pequena, todos nós nos conhecemos e nos relacionamos muito bem…
Beto Brito: Em algumas sim, em outras com jabá!
Beto Brito: Se prepare, tenha paciência e faça bons contatos, esteja em todos os lugares, seja Deus, onipresente, onde não puder ir.
Beto Brito: Para os meus, particularmente, quase nenhuma. Todos os meus Projetos foram bancados por mim, exceto o disco “Imbolê”, que teve uma parceria com a Chesf, mas tenho a convicção que todas as formas de apoio são sempre muito interessantes e necessárias para todos aqueles artistas que desejam publicar suas obras, embora eu ainda continue achando que poderia ser muito mais potencializado, principalmente o pós produção.
Outro ponto que me inquieta é a pouca possibilidade de um artista sem muita projeção conseguir financiamento para seus Projetos através de Leis, feito a Rouanet, que só privilegia os grandes nomes, que não precisam mais de apoio Estatal, porém essa boca é muito grande e o saco deles não tem fundo…
Beto Brito: Tem muita coisa boa sendo feita. O problema é o mesmo que me referi anteriormente: o pós-produção. Quem pode, vai, quem não pode, fica. Muitos estão ficando…
Beto Brito: Encontrar-me com ele, com o futuro. Continuar produzindo, compondo, tocando e escrevendo.
Beto Brito: betobritobb@terra.com.br | www.facebook.com/betobrito
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