Amarildo Silva
O cantor, compositor e violonista mineiro Amarildo Silva, desde muito cedo despertou seu interesse pela música e pela poesia. Aos doze anos de idade escreveu seu primeiro poema.
Ele gostava de ler os poetas brasileiros da fase romântica, (Tomaz Antonio Gonzaga, José de Alencar, Castro Alves), passava horas e horas lendo uma antologia escrita por Manuel Bandeira, sobre os poetas da fase romântica, que o fazia viajar em sonhos e fantasias daquelas noites no sertão.
O contato com o avô materno, tocador de Viola Caipira, despertou seu interesse pela música. Aos 15 anos já dava seus primeiros passos em direção à composição, fazendo letra e música, que sempre mostrava para os amigos nas calçadas das ruas de Vermelho Velho, distrito de Raul Soares – MG, aonde nasceu e cresceu. Aos 20 anos se mudou para o Rio de Janeiro – RJ, início dos anos 80, conheceu seus primeiros parceiros musicais.
Ele participou de diversos Festivais de Música no Rio de Janeiro, Minas Gerais e outros Estados. Desde então, enveredou-se pela música, tocando na noite carioca em bares e restaurantes.
Em 1995, lanço seu primeiro CD – RIOS AFLUENTES, autor de todas as músicas, fez a produção executiva e começou a atuar como produtor fonográfico. A partir daí, atuou como produtor fonográfico em seus próximos trabalhos, em 1998 no seu CD – ESTAÇÃO, e em 2004 no seu CD – VIRGEM SERTÃO ROSEANO. E atuou como produtor fonográfico no primeiro, segundo, terceiro e quinto CDs do grupo Cambada Mineira (com João Francisco e Rodrigo Santiago), grupo que ajudou a fundar em 1999 e que participa até hoje. Assinou a produção executiva da maioria dos shows do Cambada Mineira. Atualmente, trabalha na produção da cantora Cátia de França.
Em 2004, nos intervalos de shows do Cambada Mineira, iniciou um trabalho instigante e delicado sobre a obra de Guimarães Rosa, intitulado “VIRGEM SERTÃO ROSEANO”, que desaguou em um CD homônimo, que foi muito elogiado pela crítica e por vários integrantes de Clube da Esquina, tais como, Marcio Borges, Fernando Brant e Tulio Mourão. Atualmente, se debruça sobre o projeto do sétimo CD do Cambada Mineira e na produção da cantora e compositora paraibana Cátia de França.
Segue abaixo entrevista exclusiva com Amarildo Silva para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado com Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01 de novembro de 2014:
Índice
Amarildo Silva: Eu nasci em 12 de novembro de 1959 em Raul Soares – Minas Gerais.
Amarildo Silva: No interior de Minas Gerais se ouvia muito o radio nos finais dos anos 60, eu tinha uns 10 anos e ouvia de tudo, desde a música caipira, (Tonico e Tinoco, Tião Carreiro e Pardinho, Lourenço e Lourival, Cascatinha e Ana, Pedro Bento e Zé da Estrada, dentre outros tantos). Eu ouvia os cantores da Jovem Guarda e seus grandes sucessos, a música Brega, (Evaldo Braga, Waldick Soriano, Lindomar Castilho, Aldair José), como o radio naquela época ainda era democrático, e as Rádios AM alcançavam todo o Brasil, eu ouvia Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento. A minha formação musical vem desse turbilhão de influências, sou um privilegiado, pois, vivi essa época.
Amarildo Silva: Aprendi a tocar Viola Caipira com meu avô materno, é um assunto que passava de pai para filho. É um ensinamento prático, olhando e executando.
Depois fui aprender o Violão, nos encontros com amigos, nas rodas de Violas. Só mais tarde fui para escola de música, aprendi teoria musical, estudei Violão, mas não fiz Conservatório, minha opção foi pelo popular. Então, apesar de mineiro, minha carreira musical começou no Rio de Janeiro, na década de 80, participando de Festival de Música e tocando nos Bares da cidade.
Amarildo Silva: Minhas maiores influências musicais no passado foram a música Caipira (prefiro falar assim, porque a música sertaneja de hoje é uma falsidade), a Jovem Guarda que era maravilhosa e os movimentos que surgiram dos Festivais de Música, da Tropicália. E principalmente o movimento que veio de Minas Gerais, o Clube da Esquina.
No presente, gosto muito de alguns elementos do rock feito no Brasil, principalmente, Lulu Santos, Barão Vermelho, Titãs. Algumas boas cantoras.
Mas grandes compositores estão no anonimato, não paramos de fazer boa música, mas a mídia de hoje vive em função do consumismo, do descartável, fomentando a subjugação cultural. E ofusca o surgimento de grandes criações musicais e literárias. O que hoje é assunto nas Rádios e TVs , para mim não tem nenhuma importância.
Amarildo Silva: Gravei três CDs solo e cinco CDs e um DVD com Cambada Mineira. Trabalhei com grandes músicos, desde os meus amigos de estrada, como Heitor Brandão, Moacir Neves, Marco Antonio Bachur, Luis Makarra, João Francisco Neves, até nomes consagrados que gravaram com o Cambada Mineira, como Toninho Horta, Wagner Tiso, Robertinho Silva, Zé Renato, Davi Tyguel, Gabriel Gross, Nicolas Crassik, Marcio Montaroyos, Victor Biglione, Eduardo Neves, Marcelo Martins, Tulio Mourão, Simone Guimarães, Mauricio Maestro, Lô Borges, Márcio Borges e tantos outros.
Amarildo Silva: Eu sou um compositor/cantor de música popular brasileira, em toda sua extensão, minha identidade é maior com a música mineira, mas não me prendo só a isso, sou um compositor brasileiro.
Amarildo Silva: Sou um compositor/cantor. Ser intérprete é outra viagem.
Amarildo Silva: Meus grandes ídolos como cantores são: Milton Nascimento, Elis Regina, Gal Costa, Maria Bethânia, Nana Caymmi, Maysa, Ângela Maria, Caetano Veloso, Selma Reis, Emilio Santiago, Agostinho dos Santos, Simone Guimarães. E gosto da Mônica Salmaso e da Júlia Vargas, que é uma cantora novíssima e de um talento enorme, mas que a mídia ignora.
Amarildo Silva: Sou compositor, me defino assim. Tenho muitos parceiros: Paulo Peres, Chico Pereira, Marcelo Pacheco, Tanussi Cardoso, Paulo George, Jorge Vieira dos Santos, João Francisco Neves, Rodrigo Santiago (esses todos do Cambada Mineira), Márcio Borges, grande letrista do Clube da Esquina, e atualmente com Wander Lourenço, no projeto Grande Sertão Gerais, baseado na obra de Guimarães Rosa.
Amarildo Silva: Fazer música independente hoje é quase que uma necessidade. O mercado fonográfico vive uma grade crise e quem quer seguir fazendo um trabalho autêntico só lhe resta esta opção. Tem a limitação da divulgação, distribuição, vinculação na mídia, mas do outro lado, lhe sobra autonomia para fazer aquilo que acredita e a internet é no momento, uma boa fora de divulgação.
Amarildo Silva: As Rádios respondem isso: só se ouve algo de bom nas FMs, dos artistas já consagrados, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Chico Buarque, Zé Ramalho, Fagner, Geraldo Azevedo, Elba Ramalho. O Rock Brasil e algumas novidades boas, como Maria Rita, Marisa Monte e algumas outras, o resto é um lixão cultural. Isso não quer dizer que não tenham grandes cantores/compositores, tem sim, mas estão segregados pela mídia. Vivemos uma ditadura cultural no nosso país.
Amarildo Silva: Vários, a começar pelo Tom Jobim, que é, não só o nosso grande maestro, mas também nosso grande compositor. E com ele tantos outros, Arrigo Barnabé, Hermeto Pascoal, Guinga, Wagner Tiso, Nelson Ângelo, Tulio Mourão. A nossa música é um espetáculo, o que falta é o seu reconhecimento.
Amarildo Silva: Já toquei e não recebi, mas o que mais me angustia é não ter estrutura para mostrar o trabalho. A maioria das Casas de show não tem som adequado, o artista tem que improvisar, eles acham que você pluga um instrumento numa tomada e tá tudo certo. E ainda acham que estão fazendo um favor em te ouvir.
Amarildo Silva: O que me deixa mais feliz é poder cantar, compor, criar, fazer arte. É a vida do artista, exercer o seu ofício. Triste é a falta de respeito para com o nosso trabalho, nosso país ainda não aprendeu a reconhecer a importância de sua cultura.
Amarildo Silva: Moro no Rio de Janeiro – RJ, é uma cidade linda, porta de entrada pro mundo, mas os problemas daqui em relação à cultura são os mesmos de todos os outros lugares, vive-se o superficial, não tem um compromisso cultural, isso é um problema do nosso país.
Amarildo Silva: Do que está na mídia, não recomenda nada, mas tem sons acontecendo por baixo, da melhor qualidade: indico um compositor de Minas Gerais: Marcelo Dinis, Julia Vargas e Cambada Mineira.
Amarildo Silva: Tocar em Rádio comercial sem jabá não rola. Isso faz parte de uma política intencional de supressão da nossa identidade cultural em troca do descartável. É o novo formato de um colonialismo cultural. É parte desse modelo capitalista selvagem em que vivemos hoje.
Amarildo Silva: Até o momento minhas canções foram gravadas por mim e pelo Cambada Mineira e pelo grupo Seresta Moderna. Então, não pago jabá, logo não toca nas rádios.
Amarildo Silva: Se a arte está no sangue, se é um dom, não tem outro caminho. Mas hoje, não se faz mais arte só sendo artista, você tem que criar, tem que divulgar, tem que produzir. Ou seja, tem que fazer cabelo, barba e bigode.
Amarildo Silva: Não, desde a década de 90 que não participo mais de Festival de Música.
Amarildo Silva: Os Festivais de Música seriam a melhor saída, como foram nas décadas de 60/70, mas naquela época tinha o interesse do mercado fonográfico em garimpar e divulgar novos talentos, hoje o interesse é de ocultar os novos talentos, então, não os vejo como saída.
Amarildo Silva: Trabalho atualmente, junto com um grande parceiro e poeta, professor de literatura e especialista em Guimarães Rosa, o nome dele é Wander Lourenço. Nosso projeto, Grande Sertão Gerais, é um espetáculo/palestra baseado no romance Grande Sertão – Veredas. A nossa intenção é lançar um CD com as canções que estamos fazendo sobre esse tema.
Amarildo Silva: rildo.silva@gmail.com | www.cambamineira.com.br | (21) 9.8103 – 7439 | 3796 – 5898 | www.facebook.com/amarildo.silva.395891 | www.facebook.com/pages/Amarildo-Silva/158154524379806
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