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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

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O cantor, compositor e violonista Ozias Stafuzza, O Zi, trabalha com música brasileira há cerca de trinta e cinco anos.

É integrante do grupo Cantilena, com quem lançou o CD – “Parceiros” em 2000, e “Lira dos batuques” em 2010. Acompanha as cantoras Ana Lee, Cristina Pini, e o grupo de samba Escambau. Participou como violonista ou arranjador da gravação de três CDs de Ana Lee, do cantor, compositor Wimer Bottura, e ainda do grupo A Quatro Vozes, que integrou por onze anos. Com o A Quatro Vozes, excursionou pelo Nordeste, Minas Gerais, apresentando-se na Festa Del Fuego em Cuba (1997), e no Festival Olodum, na Bahia (1998). Produziu, compôs trilhas sonoras e cantou em CDs institucionais na área de educação.

Lançou em 2007 o seu primeiro CD solo ”M.I.B. , Música Impopular Brasileira”, selecionando 15 de suas composições, e uma do poeta Antonio Lázaro Almeida Prado. Nele, passeou por ritmos brasileiros e universais, do carimbó ao mambo, da balada pop à toada mineira, ciranda, samba de raiz, entre outros. A música título, o manifesto que dá nome ao CD, é uma crítica à música brasileira como produto consumível e descartável e reflete sobre a inversão de valores, como manifestações populares folclóricas ou a música como obra de arte, fadadas a desaparecer, e a música fabricada pelo marketing das gravadoras para ser a “música popular”. O CD contou com a participação de muitos convidados, como Zé Rodrix, Ana Lee, Oswaldinho do Acordeon, Walmir Gil, e está disponível nas principais plataformas digitais.

Entre 2009 e 2010 montou e apresentou com as cantoras Aurora Maciel e Cristina Pinio o show ”Noel tira Cartola pra Zé Ketti”, interpretando a obra desses três magistrais compositores e cantores.

Em 2013 teve composições suas gravadas por novos intérpretes, como Sandra Nunes, Gabriel Medeiros e Rose Santana. Em 2015 fez o show de abertura para Chico César no CEU Alvarenga.

Participa de saraus e encontros culturais, como Toca do Autor, Clube Caiubi, Sarau da Maria, feiras de artes, interpretando suas composições e fez temporada de shows em 2019, homenageando Belchior, em casas como Bar Brahma, ECLA e Bar d’Hotel Cambridge, atraindo um grande público aos locais.

Segue abaixo entrevista exclusiva com OZi para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 30.10.2020:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

O Zi: Nasci no dia 05 de outubro de 1963, em Mariápolis – São Paulo, uma pequena cidade ao norte de Presidente Prudente, para onde me mudei depois, com 6 anos de idade e residi até os 17 anos. Registrado como Ozias Angelo Stafuzza.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

O Zi: Não sei precisar, mas diria que foi entre os 4 e 5 anos de idade. Segundo relato de minhas irmãs, eu já me sentia atraído pela música, não desgrudava do rádio e cantava de cor duas canções da Jovem Guarda. Cheguei a ganhar um Cavaquinho de um amigo da família, mas nem cheguei a brincar com o instrumento, pois ele caiu acidentalmente de um guarda-roupa e só fui manusear um Cavaquinho depois de adulto. Ao ser alfabetizado, costumava copiar canções que ouvia no rádio com uma taquigrafia própria e depois passava a limpo para poder cantar, e esse sonho foi se intensificando. Eu não pensava em tocar um instrumento, e sim cantar, tanto que por volta dos 9 anos de idade, havia uma geladeira velha quebrada no quintal de minha casa, e eu a usava como bateria para me acompanhar cantando. Mais tarde, subia nas árvores e cantava lá de cima, para ouvir a voz com eco. Mas a infância inteira e adolescência ouvia rádio, que tinha uma programação muito variada.

03) RM: Qual sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

O Zi: Aprendi violão sozinho, com o instrumento que ganhei de um de meus irmãos, aos 15 anos de idade. Olhava o método com os acordes e inventava os ritmos, pois estes não constavam no método. Bem mais tarde fiz umas aulas de teoria musical quando tentei aprender Teclado, depois dos 30 anos. Fiz graduação em Psicologia, na Unesp de Assis (SP), e, apesar de não exercer a profissão específica, o curso abriu as portas para minha atuação como educador e instrutor de treinamento, que exerço até hoje.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

O Zi: Como disse anteriormente, o rádio me influenciou bastante, e ouvia gêneros variados, desde Beatles, MPB, Samba, Rock, Forró, Blues,Música caipira, Jovem Guarda e seus sucessores. Mas acho que os que mais determinaram para eu começar a compor foram o pessoal do Clube da Esquina (Lô Borges, Milton Nascimento, Beto Guedes), 14 Bis, Raul Seixas,  Caetano Veloso, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Belchior, Ednardo, Fagner,Luiz Gonzaga, Luiz Melodia. Posteriormente as bandas e cantores(as) de Pop Rock nacional dos anos 1980, o som urbano paulistano, de Walter Franco, Premeditando o Breque, Tom Zé, Itamar Assumpção, entre outros. Ainda a geração que despontou nos anos 90:Zélia Duncan, Chico César, Zeca Baleiro, Adriana Calcanhotto, Lenine

O que deixou de ter muita importância no caldeirão de misturas foram os mais populares românticos, herdeiros de Roberto Carlos. Já me relataram que vêem similaridades nas minhas canções com Sergio Sampaio ou Ednardo, que são dois cantores/compositores que admiro muito. Mas ouço de tudo pra pesquisar sonoridades, da música folclórica, ritmos brasileiros, passando pelo jazz e blues ao indie rock.

05) RM: Quando, como e onde você começou sua carreira musical?

O Zi: Comecei adolescente cantando em concursos de música de 1978 a 1980,e a partir de 1981 fazendo shows na Faculdade em Assis. Meu primeiro cachê foi num bar em Cândido Mota – SP, aos 18 anos de idade. Consegui um destaque com uma composição no II Festival Universitário da Radio e Televisão Cultura, entre 1984 e 1985, chegando até a semifinal. Comecei a tocar mais frequentemente a partir de 1985, conciliando Bares de Presidente Prudente e de São Paulo, para onde me mudei em 1986. Ao chegar na capital, comecei imediatamente a tocar em Bares do bairro do Bexiga (Bela Vista), fazendo uma dupla com Edgard Mitio, um guitarrista excepcional com quem já tocava há um ano em Presidente Prudente. Fizemos Bares por muitos anos, mesclando MPB, Pop Rock e alguns standards de jazz.

A partir de 1990, como me dedicava muito a um trabalho de educador na área social, com coordenação técnica de arte-educação, me afastei de trabalho em Bares e comecei a organizar as composições e letras que possuía, guardadas, para intensificar o processo de criação e investir mais tarde no trabalho autoral. Depois desta pausa, voltei a tocar como violonista acompanhando Aurora Maciel e também o grupo A Quatro Vozes. Fundei o grupo Cantilena com Wellington de Faria, meu maior parceiro musical, e com os dois outros integrantes, Adriana Cerqueira Cesar (voz) e Fabio Bizarria (sax),montamos shows cantando nossas músicas e relendo obras de grandes autores da MPB. Posteriormente, juntamente com o violonista Bráu Mendonça comecei a acompanhar a cantora Ana Lee.

06) RM: Quantos CDs lançados? 

O Zi: Como cantor e compositor lancei o CD – “M.I.B. Música Impopular Brasileira” em 2006, produção independente distribuída pela Fonomatic/Trattore.

Como integrante do Cantilena, em que divido os vocais e composições com Wellington de Faria, temos: o CD – “Parceiros” (2000) e o CD – “Lira dos batuques” (2010), já com nova formação, incorporando Marcelo Adrio (bateria) e Ricardo Bueno(percussão). Como músico ou arranjador vocal participei dos três CDs do grupo A Quatro Vozes, das cantoras Ana Lee, Aurora Maciel e do cantor/compositor Wimer Bottura. Participei também, como compositor, cantor e produtor musical, de três CDs institucionais de Educação de trânsito pela CET de São Paulo.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

O Zi: Eu costumo dizer , por conta de meu cd, que faço música impopular brasileira, pra destacar a ideia de que a música brasileira criada como obra de arte e não como produto descartável, não tem mais espaço nos ambientes tradicionais, rádios, casas de shows, com raras exceções. Mas posso afirmar que faço música brasileira e universal, de diversas influências e ritmos, do samba ao xote, da balada mineira ao blues, do pop ao regional…

08) RM: Você estudou técnica vocal?

O Zi: Estudei de maneira intermitente, com algumas professoras, como Ná Ozzetti, Sira Milani, Paula Molinari, Marcia Prado, mas sempre por curto tempo.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

O Zi: O estudo de técnica nos dá mais segurança e domínio da voz, você amplia sua capacidade, melhora a extensão vocal com a técnica. No entanto, penso que não se pode dispensar a interpretação, pois uma completa a outra. No meu caso, sinto que estudei pouco, fui mais intuitivo, ainda tenho muito a desenvolver. Quanto aos cuidados, penso que há alguns gerais como dormir bem, saber relaxar, aquecer a voz antes de cantar, e evitar o que faz mal em dia de show, que varia de pessoa pra pessoa. Eu evito bebidas geladas e ar condicionado, pois não me dou bem com estes.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

OZi: Puxa, pergunta difícil de responder, pois há uma legião de cantoras e cantores que aprecio. Vou citar alguns que sou fã: Ná Ozzetti, Marisa Monte, Maria Bethânia, Zélia Duncan, Roberta Sá, Madeleine Peyroux, Diana Krall,Milton Nascimento, Sting, Joss Stone, Caetano Veloso, Renato Braz, Gilberto Gil, Paulinho da Viola, Ednardo, e muitos outros que já se foram, como Nelson Gonçalves, Elizeth Cardoso, Cauby Peixoto, Johnny Alf, Dalva de Oliveira, Tim Maia, Cazuza, Sergio Sampaio, uma lista enorme …

11) RM: Como é seu processo de compor?

O Zi: Meu processo de criação tem muito a ver com o amor às palavras, à sonoridade destas. Sempre gostei de escrever coisas que observava, sentia, tentando exprimir estados de espírito, questões existenciais, afetivas, e depois tentava sentir a musicalidade dos meus escritos, se pendiam mais pra poesia ou pra letra de música e a partir daí, experimentava. Os versos surgiam, e à medida que ia me apropriando deles, num momento de isolamento, geralmente caminhando sem rumo, vinham as melodias. Acho que pouco mais de 10 músicas da minha produção foi feita ao contrário, colocando letra em uma melodia já existente. Uma pequena parte delas também surgia um pouco junto, letra com melodia, e com o tempo ia criando outras partes.

No início, quando comecei a brincar com música, era diferente. Lá pela idade de 12 anos, eu tinha algumas melodias que eu cantarolava com poucas palavras e anotava com um nome fictício, para não esquecer. Uma delas vim fazer a letra completa e a harmonia lá pelos 40 anos de idade, que é “Minha ciranda”. E com meus parceiros, na quase totalidade, envio a letra para eles musicarem, com raras exceções.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição? 

O Zi: A maior parte das minhas composições, pouco mais da metade, fiz sozinho, letra e música. Meu maior parceiro é o Wellington de Faria, com quem tenho mais de 50 canções. Outros com quem fiz mais de duas músicas são: Wimer Bottura, William de Faria, Bráu Mendonça, Delmo Biuford, Pablito Morales. Com muitos tive apenas uma música, e são marcantes, como com a poetisa Etel Frota, e tenho encontrado parceiros novos como Galba, Alexandre Taricano, Rei Salles, entre outros.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

O Zi: Além de mim, o grupo Cantilena, o grupo A Quatro Vozes, as cantoras Ana Lee, Sandra Nunes, Rose Santana e os cantores, compositores Wimer Bottura e Gabriel Medeiros. É uma sensação inusitada e especial ver tua criação sendo cantada por outro intérprete, porque se revelam outras sonoridades, outras visões de arranjo e a letra muitas vezes ganha novas dimensões de significados.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

O Zi: Os aspectos positivos de ser independente é realizar a sua criação da maneira que você concebe, imagina, com os arranjos e instrumentos que deseja, com liberdade para experimentar, escolher repertório e ousar sem freios de produção ou direcionamento comercial, sem concessões, com o orçamento disponível ou patrocínio que conseguiu. Isso foi o que fiz com meu disco autoral, graças às outras atividades que desenvolvo, não dependendo financeiramente da música. Os aspectos negativos são as dificuldades de divulgação e distribuição de seu trabalho, sem contatos e estrutura de marketing e mídia que um trabalho produzido por outros possa ter. Mas citando Sergio Sampaio, “Não há nada mais bonito do que ser independente/ E poder se conquistar, sair, chegar assim tão simplesmente./ Não há nada mais tranquilo do que ser o que se sente…”

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco? 

O Zi: Gosto de planejar disco ou show conforme as vivências que tive como músico e como plateia também, dosando cada momento, buscando transições entre os ritmos e as músicas no espetáculo ou gravação, formando um conceito. Procuro abarcar os vários estilos, gêneros que aprecio, seja num disco ou imaginando os próximos trabalhos com um peso maior em determinada faceta de minha obra. Quanto à carreira, gosto de ouvir e avaliar com quem tem mais experiência, como o produtor de meu show de 2019 “Lendo e relendo Belchior”, Alexandre Tarica. E além dele, os músicos que me acompanham,que sempre dão dicas muito preciosas tanto na concepção do show e apresentação quanto nos passos seguintes, na mescla de repertório, em canções que desejo dar outra roupagem e que se afinam com meu trabalho autoral. Mas a estratégia básica para cada novo projeto é pensar o que desejo interpretar e o que pode encontrar um eco maior entre o público que compartilha minhas preferências musicais.

16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

O Zi: O principal ponto é aproveitar os espaços que surgem, por menor que pareçam, conhecer mais pessoas, trocar experiências com outros artistas, descobrir novos caminhos, circular para mostrar seu trabalho e aumentar a visibilidade. Saraus, novos espaços culturais, bares alternativos, feiras de arte, mídia alternativa. Outra ação, que na pandemia tem sido a tônica, é fazer vídeos, sozinho ou à distância em grupo, pra apresentar novas canções ou releituras de clássicos, abrindo um leque para que o público conheça as novidades que o artista está pensando.

17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

O Zi: A internet dispõe de ferramentas muito práticas, mas, como tudo, depende do tipo de uso que se faz.  Além de conectar o mundo, facilita a pesquisa, principalmente no quesito música, que aproxima e traz de imediato sons que você gostaria de conhecer e que, sem a internet levaria muito mais tempo pra obter esta informação ou aquele arquivo. Auxilia na divulgação, mas é limitado, pois tem muito material, e quem tem patrocínio e dinheiro sai muito mais à frente. Abriu espaço para muita coisa boa e coisa ruim também. Penso que facilitou a questão das parcerias, com pessoas que não se encontrariam tão fácil devido à distância geográfica. Permitiu o compartilhamento de músicas e o comércio através das plataformas digitais, mas como toda informação, hoje sofre com o excesso, que confunde e nem sempre tem qualidade.

18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

O Zi: Vejo apenas vantagens, como a facilidade para gravar guias, experimentar, fazer arranjos, pré-produções e até mesmo um disco. Não tenho disponível, mas alguns amigos artistas e produtores tem. À medida que cai o custo, facilita para muito mais artistas registrarem suas canções, você não precisa de um orçamento tão grande ou esperar tanto tempo para mostrar novos trabalhos.

19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

O Zi: Creio que a autenticidade do que se faz, imprimindo uma identidade com qualidade, pode ser um diferencial, no mínimo para quem aprecia o seu trabalho e espera que você seja fiel a si mesmo, sem se repetir. Mas a concorrência não me preocupa porque minha música não é voltada para o mercado, não tem um viés comercial, faço o que acredito, não tenho nada a perder.

20) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

O Zi: Não sei se conseguirei me lembrar de todas revelações nas duas últimas décadas, mas citaria, além da geração que despontou nos anos 90 que enumerei na pergunta número quatro e que mantém a consistência de sua obra, algumas que me impressionam: Roberta Sá, Teresa Cristina, Renato Braz, Monica Salmaso, Filipe Catto, O Terno, Criolo, Edu Krieger,Mart’nália, Tatá Aeroplano, Kiko Dinucci, Juçara Marçal, Marcelo Camelo, Emicida.E vários compositores novos que encontro nos saraus e que ainda não tem uma projeção. Sem contar alguns que não citei antes e que gosto cada vez mais do trabalho e da respectiva trajetória, como Vitor Ramil, Moacyr Luz, e quem me impressiona sobremaneira como Elza Soares, que se reinventa, se moderniza e esbanja qualidade. Não lembro de quem eu tenha gostado muito e regrediu em sua obra.

21) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado etc)?

O Zi: Certa vez o amigo parceiro Edgard Mitio montou uma banda com os amigos músicos para gente abrir o show da Patrícia Marx em Presidente Prudente, lá pelos idos de 1987. O show dela estava marcado para as 16:00, mas a produção resolveu que ela só entraria as 17:00 ficamos uma hora tocando pop rock para adolescentes com o Ginásio de Esportes lotado. O som começou a falhar e parte do público ameaçou vaiar e começou a clamar pela artista principal, foi um sufoco. No entanto, dois sucessos da época salvaram a nossa pele, “Uma noite e meia” (Marina Lima/Renato Rocketh) e “Será que vai chover” (Paralamas do Sucesso) e conseguimos, suando frio, encerrar o show com o público, 4.000 pessoas, cantando junto.

Outro episódio, bem recente, foi num dos shows que fiz “Lendo e relendo Belchior”, no Espaço de Cultura Latino Americana (ECLA). Passamos o som, o produtor conseguiu ajustar e deixar “tinindo” e assim que começamos o show, uma britadeira começou a trabalhar na rua e a interferência era terrível. O pessoal da produção tentou conversar para ver se adiavam a obra, mas não teve jeito; mas depois de um ganho no som, dava para esquecer o ruído da máquina.

22) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

O Zi: O que traz muita satisfação é o momento que você compõe algo que gosta muito; mas a etapa seguinte quando, além de sua subjetividade, outra pessoa se sente tocada por sua canção e principalmente, quer gravá-la, é um estado de pura alegria. Ou seja, saber que mais pessoas curtem o que você criou, já vale a pena todos os percalços. Triste é constatar muitas pessoas conhecerem apenas os produtos musicais da grande mídia, da indústria do entretenimento e não descobrirem o mundo maravilhoso que há na criação artística, no poder transformador e catártico da música como obra de arte. Pois , para além de eu ter gravado a provocação “Música impopular brasileira”, lembro-me do maestro Julio Medaglia, bem antes, numa entrevista que exemplificava,  comparando a música erudita e a popular, que se você expusesse as pessoas à música erudita começando pelas mais melodiosas e simples e inserindo as mais complexas aos poucos, a música erudita seria popular. Assim é o paralelo entre o que ele diz sobre música erudita e hoje a música autoral, independente, brasileira, que não encontra o espaço merecido, ou não tem público.

23) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

O Zi: Não acredito exatamente em dom, como algo divino, mas certamente algumas pessoas nascem ou crescem com mais facilidade que outras, e algumas, muito acima da média. Acho que existe uma potencialidade, que pode ser explorada ou não. Uma configuração das características de cada um, que pode ser revelada ou nomeada como talento. Todos podem aprender um instrumento, em diferentes níveis, mas creio que alguns terão mais dificuldades que outros. No fim, o que fará o artista ou diletante evoluir é o estudo, o exercício daquele talento, a prática com perseverança, que resulta na evolução de cada um.

24) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

O Zi: Como sou mais intuitivo, acho difícil definir Improvisação. No grupo Cantilena, costumava criar solos ou improvisar às vezes na guitarra semi-acústica. Normalmente parto do tema para criar variações, como se estivesse compondo livremente, variando as células rítmicas para incrementar mais balanço e inventando outras melodias, como contraponto. Uso o instrumento mais como um apoio para o canto, por isso nunca me dediquei seriamente a estudar improviso, sempre me voltei para a harmonia. 

25) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

O Zi: Improvisação existe, mas para que ela faça sentido ou fique boa é imprescindível estudo, trabalho em cima de escalas, harmonias. E daí o músico pode filtrar naturalmente o que aprendeu, o que o influenciou, de maneira que soe espontâneo o improviso.

26) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

O Zi: Como disse anteriormente, improviso não é meu forte. Mas creio que os métodos, em geral, trazem evolução pro músico. Talvez, ao longo do tempo se perceba se é válido este ou aquele método, mas acredito que pra início de estudo ele forma um esteio que permita improvisar com segurança e a partir de sua intuição e vivências musicais, criar seu próprio estilo.

27) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

O Zi: Não consigo ver dano algum nos métodos de estudo, só vejo aspectos positivos. A Harmonia é uma base importante para tudo, e estudá-la só pode enriquecer o seu trabalho de criação, improvisação ou interpretação. O único ponto que pode ser falho é a teorização excessiva, que pode tolher a criatividade.

28) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

O Zi: Na canção que fecha meu disco “Música Impopular Brasileira” falo disso, contrapondo o que é pago para tocar, um produto muitas vezes descartável, e a obra de arte, a composição em si… Minha música não tocará em rádios comerciais, só consegue espaço em rádios universitárias ou alternativas, que foi o caso de minhas músicas, na Rádio USP Ribeirão Preto, Rádio Brasil Atual e Rádio USP São Paulo.

29) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

O Zi: Não é um caminho fácil, mas se você sente a música como algo imprescindível na sua vida, corra atrás, sonhe, crie, aperfeiçoe-se, não desista e lembre-se que nunca sabemos tudo, estamos sempre aprendendo.

30) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

O Zi: Acho que os prós é fazer circular a sua música, mostrar a cara do seu trabalho ainda que isto não resulte em prêmios, conhecer trabalhos diversificados e ótimos cantores(as) e compositores(as), testar suas composições para variadas plateias. Eu apontaria como fatores negativos o fato de submeter à sua criação a uma fórmula, a um tipo específico de música que empolgue nos Festivais de Música e isso te impeça de experimentar. E também a questão da competição, não consigo entender como alguém julga que determinada balada romântica é melhor que um samba ou um Forró, ou uma balada de rock, ou uma letra melhor que a outra, a estrutura de uma canção ser superior às demais. Acho que alguns parâmetros conseguimos ter, como a execução, a interpretação, mas passada esta linha, resta a subjetividade e o gosto musical. Por isso prefiro que se façam mostras de músicas ao invés de festivais competitivos.

31) RM: Os Festivais de Música revelam novos talentos?

O Zi: Eu não participei muito de Festivais de Música, foi mais na década de 1980, e depois apenas por volta de 2002, no Novos Talentos do SESI, e neste último vi vários talentos revelados. Acredito que revela alguns talentos e uma parte se consagra ou torna-se mais conhecido. Ainda é relevante, apesar de limitado em relação aos grandes festivais dos anos 1960 e 1970.

32) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

O Zi: A cobertura feita pela grande mídia da cena musical é muito ruim, pois em geral só enfocam o que é veiculado pelos grandes selos e gravadoras, em que jorra o dinheiro e a música é produzida para vender e ser apenas consumida e esquecida. Hoje em dia há uma variedade de blogs musicais e mídia alternativa que destaca as produções independentes, mas o alcance é muito menor em relação à “mídia gorda” (no sentido financeiro).

33) RM: O Zi, Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

O Zi: Essas entidades tornaram-se imprescindíveis para a promoção e divulgação da cultura, chegando à proeminência das atividades culturais, ocupando o espaço, pois as Secretarias de cultura foram diminuídas em sua importância pela escassez de verbas e falta de prioridade por parte do Poder Público. Isso acarretou uma sobrecarga nas entidades que promovem cultura, porque os artistas consagrados disputam espaço com os independentes, ou menos reconhecidos, e estes perdem mais espaço para se projetarem.

34) RM: Quais os seus projetos futuros?

O Zi: Meu projeto, de imediato, é gravar alguns vídeos, enquanto dura a pandemia do novo corona vírus, e após isso, continuar a preparação de um EP, do qual comecei a fazer as guias. Este EP contemplará minhas composições que têm mais influência do pop rock. Também planejo continuar o show “O Zi canta Belchior” em outros espaços de cultura, como prefeituras de outras cidades, centros culturais e teatros. Por fim, um projeto que está em andamento é a audição de minha vasta produção dos anos 1990, no qual estou mergulhado, reaprendendo canções que nunca gravei e que pretendo registrar de alguma forma.

36) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

O Zi: (11) 3871 – 8634 / (11) 98777 – 9806 / [email protected]

/ [email protected]

https://www.facebook.com/o.stafuzza  

/ https://www.facebook.com/O-ZI-284084021687689

/ http://ozistafuzzamusic.blogspot.com/p/musicas.html 

/ http://www.cantilena.com.br

/ http://www.musicaimpopularbrasileira.com.br 

Tributo a Belchior: https://www.facebook.com/taricaprodutor 

Canal: https://www.youtube.com/user/oziasstafuzza 

Venda do CD: https://tratore.com.br/um_cd.php?cod=7898906663480 

Clipes:https://youtu.be/SI5LDy4PSr0(Juízos finais) 

https://youtu.be/2fjWG7dYg3A(Rumo ao arrebol) 

https://youtu.be/2m1c6zJjXmw(Minúsculo) 

https://youtu.be/XqNZrjrc5F4(Autumn leaves) 

Shows:https://youtu.be/C-TNjIfVxm8(Arribação) 

https://youtu.be/0YnUNFBEIQk(Música Impopular Brasileira) 

https://youtu.be/KSKRmmCbp84(Roda de sonhos) 

https://youtu.be/1AyL9VwqoWY(À flor da África) 

https://youtu.be/GePyztl7bnA(Samba do operário) 

Rumo ao Arrebol(24 de novembro)-O ZI (Pablito Morales/Ozias Stafuzza): https://www.youtube.com/watch?v=379rua5GGSQ 

Segura as pontas – O Zi:https://www.youtube.com/watch?v=57n87mm2Cm4 

Clareira – CRISTINA PINI:https://www.youtube.com/watch?v=DprAXoo61Eo 

Paralelas (Belchior) O ZI e ROBERTO MAZZILLI: https://www.youtube.com/watch?v=V9mNQmA2nTc


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.