More Hyldon »"/>More Hyldon »" /> Hyldon - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Hyldon

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O cantor, compositor, violonista e guitarrista baiano Hyldon é um dos grandes representantes da Soul Music Brasileira ao lado de Tim Maia e Cassiano.

Ainda criança se mudou para o Rio de Janeiro – RJ e nesta época trocou um relógio que ganhou no seu aniversário por um violão com seu Tio Dermy. Doce ironia do destino: Hyldon nunca mais usou relógio e não largou mais o violão. Em 1965, influenciado pelos The Beatles e incentivado pelo seu primo Pedrinho (guitarrista do The Fevers), montou uma banda chamada “Os Abelhas”. Esta banda, formada com garotos da sua idade, fez muitos bailes em clubes de Niterói – RJ e cidades vizinhas.

Quando Hyldon estava empolgado com os caminhos que a sua vida estava tomando, sua mãe decide voltar para o interior da Bahia. Duro foi convencê-la que já havia decidido que sua vida seria viver da música e queria continuar morando no Rio. Como só tinha dezesseis anos, sua mãe concordou com a condição de que ele só ficaria no Rio de Janeiro se fosse morar com seu primo Pedrinho. Dito e feito, Hyldon passou a acompanhar o primo em todos os lugares. A mão do destino então deu seu toque mágico. Certo dia, o outro guitarristas dos Fevers, o Almir, faltou a uma gravação, alguém sugeriu que o Hyldon o substituísse, apesar de nervoso e suando na mão, ele se saiu muito bem. A partir daquele dia, passou a ser o reserva oficial da banda. Esta oportunidade propiciou o contato com estúdios, maestros, músicos e produtores, e assim Hyldon realizava seu sonho de entrar para o mundo da música.

Sua primeira música “Eu me enganei” foi gravada quando ele estava com dezessete anos de idade e seu primo e tutor Pedrinho precisou assinar o contrato de edição por ele. A era cantada pelo argentino Robert Livi e para surpresa de todos, foi um sucesso, chegando a atingir mais de 100 mil cópias vendidas. Hyldon começou então a ser reconhecido também como compositor gravando várias canções com Jerry Adrianni, Wanderley Cardoso, Wilson Simonal, Gerson Combo, Tony Tornado, Pedro Paulo, Elizabeth, Adriana, The Fevers, Rosa Maria, Carlos José etc.

À procura de novas experiências musicais, aos poucos foi abandonando o grupo de seu primo, The Fevers, buscando seu próprio caminho. Passou a ser muito requisitado para gravações e shows; tocou com Os Diagonais (de Cassiano), Wilson Simonal, Eliana Pittman, Tony Tornado e Tim Maia (de quem foi parceiro). Participou de festivais como intérprete e como autor chegando a tirar segundo lugar num dos festivais mais importantes daquela época o Festival de Juiz de Fora, defendendo a música Mês de fevereiro do compositor Hélio Matheus. Fez amizade com Cassiano e Tim Maia que o incentivaram muito a gravar suas músicas cantando.

No seu primeiro disco em 1973 (compacto simples) com duas músicas, a balada “Na Rua, na Chuva, na Fazenda” fez sucesso nas rádios. Em 1974 o sucesso se repetiria com outro single, puxado pela canção “As Dores do Mundo”. Em 1975 seu primeiro LP – Na Rua, na Chuva, na Fazenda (Casinha de sapê). O Brasil cantou com ele “Larga de ser boba e vem comigo, existe um mundo novo e quero te mostrar”, que é a primeira frase de mais um sucesso: “Na Sombra de uma Árvore. Neste disco, tem outras pérolas como Acontecimento, Sábado e Domingo e Vamos passear de bicicleta?

Segue abaixo entrevista exclusiva de Hyldon para a www.ritmoemlodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.10.2011:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e sua cidade natal?

Hyldon: Nasci no dia 17 de Abril de 1951 em Salvador (Bahia).

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Hyldon: Músicas que tocavam na feira da cidade onde vivi até seis anos de idade, eram Luiz Gonzaga, Os Cantadores de Viola, a Banda de pífano de Caruaru – PE e o que eu ouvia no serviço de alto-falantes da cidade que tocavam os sucessos da época.

03) RM: Qual sua formação musical e acadêmica fora música?

Hyldon: A minha formação musical é como autodidata e escolar, eu cursei ensino médio completo.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente? Quais que deixaram de ter importância?

Hyldon: Tudo que ouvi na minha vida me influenciou. Principalmente música brasileira na infância e rock na adolescência, depois a soul music.

05) RM: Quando, como e onde  você começou a sua carreira musical?

Hyldon: Eu comecei tocar em um conjunto de baile que eu mesmo formei. Eu tinha 13 anos de idade e morava em Niterói – RJ.

06) RM: Qual foi a gravadora que você fez o primeiro contato e contrato? Em que ano?

Hyldon: Gravei pela primeira vez como guitarrista na gravadora CBS em 1967, substitui o guitarrista do The Fevers. Eu tinha 16 anos de idade, incompletos.

07) RM: Você lançou o seu primeiro Compacto Simples em 1973 tendo no Lado A: “Na rua, na chuva e na fazenda”; e no Lado B: “Meu Patuá”. A gravadora pagou “o jabá” para as músicas tocarem nas rádios?

Hyldon: Antes de gravar minhas músicas, eu toquei muito em shows e gravações de outros artistas: Simonal, Wanderléa, Erasmo Carlos, Luís Melodia, Tim Maia, Tony Tornado, Eliana Pitman. E em 1973 gravei e assinei meu primeiro contrato como cantor. Foi um compacto simples com duas músicas: “Na rua, na chuva, na fazenda” do Lado A e “Meu Patuá” do o lado B. A música do Lado A ficou em primeiro lugar nas rádios do Brasil. Nessa época não tinha  que pagar o Jabá, graças a Deus.

08) RM: Fale da importância financeira (através dos shows e direitos autorais) e de como a sua carreira musical deslanchou após o sucesso nacional da música “Na rua, na chuva, na fazenda”?

Hyldon: Nunca visei dinheiro, sou um idealista. Logo cedo descobri minha vocação e trabalhar naquilo que gosto é uma dádiva. O dinheiro é uma conseqüência, não o objetivo final, pelo menos para mim.

09) RM: Após emplacar três sucessos no disco de estreia mudou para melhor o tratamento da gravadora para com a sua carreira como artista?

Hyldon: Nunca me entendi muito bem com as gravadoras. Uma questão de filosofia. Eles queriam resultados imediatos, tentaram me manipular, mas nunca deixei que dessem palpite nas minhas músicas. Então, eram objetivos opostos.

10) RM: Quantos discos gravadoras?

Hyldon: Não sou chegado em números, em passado, nunca parei pra contar quantas músicas eu tenho gravadas. Em 1975 – Na Rua, na Chuva, na Fazenda. Em 1976 – Deus, a Natureza e a Música. Em 1977 – Nossa História de Amor. Em 1981 – Sabor de Amor. Em 1986 – Coração Urbano. Em 1989 – Hyldon. Em 2000 – Meu Primeiro CD (creditado à A Turminha do Bebê). Em 2003 – O Vendedor de Sonhos. Em 2009 – Soul Brasileiro. Em 2013 – Romances Urbanos. Em 2016 – As Coisas Simples da Vida. Em 2010 Ao Vivo – Na Rua, na Chuva, na Fazenda ou numa Casinha de Sapê.

11) RM: Relate como foram seus anos no topo do sucesso? Quanto tempo permaneceu em evidência? Quais os excessos que você evitaria hoje? E o que você deixou de usufruir que aproveitaria hoje?

Hyldon: Não me arrependo de nada. Mas poderia ter uma equipe de bons advogados pra discutir meus contratos e um psicólogo para me escutar. Assim, teria evitado alguns atritos. Afinal as gravadoras eram grandes multinacionais com altas estruturas empresariais, inclusive com os melhores advogados.

12) RM: Você viveu como hippie nos anos 60 e 70?

Hyldon: Uma vez eu disse para um repórter da Folha de SP que eu tinha cabelos tipo hippie (era moda tipo black Power) e que estava fazendo um disco independente seguindo a linha punk Do it yourself (Faça você mesmo). A Folha me deu a capa na Ilustrada e tacou em letras garrafais “Ex Hippie agora é punk” (só rindo). Nunca fui hippie, muito menos punk. Eu trabalho desde 14 anos de idade comecei tocando em conjunto de bailes. Eu tocava por 4 h no baile. O nome do meu primeiro conjunto de baile era “Os Abelhas”.

13) RM:  Como, onde e quando você conheceu o Tim Maia?

Hyldon: Nos bastidores da gravadora Philips. No dia que ele foi gravar “These are the songs’ com Elis Regina.

14) RM: Quais as suas músicas em parceria com Tim Maia e que ele gravou?

Hyldon: Tem algumas que o Tim Maia gravou como “A fim de voltar”, “Dance is Over”, “Booggie Esperto”, “I don’t know what to do with myself” e outras simplesmente se perderam, toda vez que parávamos pra tocar a gente fazia alguma coisa.

15) RM:  Você leu o livro do Nelson Motta sobre o Tim Maia?

Hyldon: Não.

16) RM: Quais os motivos de não ter lido o livro?

Hyldon: Prefiro viver com minhas lembranças. O Tim Maia foi como um irmão mais velho para mim. Toquei com ele em shows, em discos e era meu parceiro e amigo de verdade. E musicalmente aprendi muito com ele.

17) RM:  Como, onde e quando você conheceu o cantor e compositor paraibano Cassiano?

Hyldon: Nos estúdios. O Cassiano tinha um trio vocal chamado “Os Diagonais” que além de fazer seus próprios discos fazia vocais para vários artistas. E a gente se esbarrava pelos corredores das gravadoras, até que um dia o seu irmão me chamou para fazer uma viagem de três meses pelo Brasil. Foi aí que ficamos amigos.

18) RM: Quais as suas músicas em parceria com o Cassiano?

Hyldon: Temos meia música. Começamos uma em um apartamento que eu morava em Ipanema, mas não terminamos. Parceria é como sexo tem que ter química. Mas nos damos muito bem, de vez em quando ficamos horas no telefone conversando.

19) RM: Qual é sua relação pessoal e profissional com o Cassiano hoje?

Hyldon: Amizade somente.

20) RM: Na sua opinião o que levou o Cassiano sair da cena musical?

Hyldon: Não posso responder o que pensa a cabeça dele.

21) RM:  Como, onde e quando você conheceu o cantor e compositor carioca Dalto?

Hyldon: Por incrível que pareça, apesar de sermos contemporâneos, nos conhecemos há três anos. O Dalto é uma pessoa incrível, muito musical e está em plena forma.

22) RM: Quais suas músicas em parceria com o Dalto?

Hyldon: Um dia quem sabe faremos uma.

23) RM: Qual é sua relação pessoal e profissional com o Dalto hoje?

Hyldon: Somos amigos, de vez quando fazemos shows juntos. No dia 22 de julho de 2011 tocamos em Manaus – AM. Ele fez o show dele e eu fiz o meu e depois cantamos alguma coisa juntos.

24) RM: Fale da importância de ter gravado o disco Velhos Camaradas com o Tim Maia, Cassiano? Qual foi o ano gravação?

Hyldon: Gravamos em 1981. Foi muito legal, nos apresentamos em vários programas de televisão, inclusive no Fantástico da Rede Globo e vários shows. Foi uma experiência única.

25) RM: Como você começou a se aprofundar no soul music?

Hyldon: Desde que ouvi Ray Charles, Stevie Wonder, Temptations, Diana Ross, Otis Redding e Marvin Gaye.

26) RM: Como você se define como cantor/intérprete?

Hyldon: Uma pessoa que ama o que faz e procura estar atualizado com o que está rolando pelo mundo.

27) RM: Você estudou técnica vocal?

Hyldon: Fiz aulas de canto. O que foi muito bom para mim. Aprendi que a técnica aliada à emoção é imbatível.

28) RM: Você estudou guitarra?

Hyldon: Muito pouco, aprendi vendo outros músicos tocando como Neco, Zé Menezes e meu ídolo Jimmy Hendrix.

29) RM: Quais os cantores e cantoras que você admira?

Hyldon: Tem muita gente nova Aline Calixto, Céu, Karina Buhr, Mônica Salmaso, Quinho, Léo Cavalcanti, Marcelo Janeci e Léo Maia.

30) RM:  Como é seu processo de compor? Quem são seus parceiros musicais? Quem, além de você, gravou suas canções?

Hyldon: Eu não tenho nada pré – estabelecido. A música vem e pronto. Pode ser no carro, andando na rua ou em casa tocando um instrumento. Tenho feitos parcerias que tem me dado muitas alegrias, com Arnaldo Antunes, Carlinhos Brown, Marechal, Jorge Aílton e meu parceiro mais constante atualmente o Zeca Baleiro.

31) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente tendo passado por uma estrutura de gravadora?

Hyldon: Dá trabalho, mas a sensação de liberdade é maravilhosa

32) RM: Como é para você ser mais reconhecidos hoje pelos seus três sucessos (Na rua, na chuva e na fazenda; As Dores do Mundo e Na Sombra de uma Árvore) do que pela importância de sua obra musical?

Hyldon: Tenho outros sucessos. Só que esses atravessaram várias gerações e acabaram ocupando mais espaços.

33) RM: Você hoje fazendo uma auto-análise da sua obra e com o distanciamento profissional necessário apontaria algumas músicas sua que são iguais ou melhores dos seus três sucessos citados? 

Hyldon: Músicas são como filhos. E gosto de todas inclusive das inéditas.

34) RM: Conte a história da musa que inspirou “Na rua, na chuva e na fazenda”; “As Dores do Mundo” e “Na Sombra de uma Árvore”?

Hyldon: São historias de amores que vivi, é tipo um autorretrato. “Na rua, na chuva e na fazenda” e “As Dores do Mundo” foram feitas pra uma mineira que conheci na Bahia chamada Gioconda. E “Na Sombra de uma Árvore” para uma modelo, uma grande paixão chamada Eliane.

35) RM: Quantas regravações e quem regravou “Na rua, na chuva e na fazenda”; “As Dores do Mundo” e “Na Sombra de uma Árvore”?

Hyldon: Nunca parei para contar. Como disse não sou ligado em números.

36) RM: Fazendo uma auto-análise dos seus mais de 35 anos de carreira musical quais os acertos e erros que você cometeu?

Hyldon: Erros todos nós cometemos. Tive os meus, mas não fico remoendo. Acertos? O maior foi ter conhecido minha esposa Zoé que me deu duas lindas filhas e me atura há 28 anos.

37) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Hyldon: Seu Jorge, Arnaldo Antunes e Zeca Baleiro só para citar três.

38) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Hyldon: Fazer um show em São Paulo no Sesc Ipiranga totalmente rouco e o público cantar todas as músicas pra mim.

39) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Hyldon: Mais feliz, é fazer uma música nova. E mais triste ver um jovem artista começando sem chance de mostrar seu trabalho.

40) RM: Nos apresente a cena musical na cidade que você mora hoje?

Hyldon: Moro no Rio de Janeiro e a cena é todo mundo junto e misturado: samba, rock, choro, funk e hip hop.

41) RM: Quais os músicos ou/e bandas que você recomenda ouvir?

Hyldon: São tantas. No momento só lembro da Parafhernália do Rio de Janeiro e Orquestra Cabaré de Belo Horizonte – MG.

42) RM: Você acredita que além dos seus três grandes sucessos já citados, outras músicas sua tocarão nas rádios sem o pagamento do jabá?

Hyldon: Acho que o jabá vai acabar. E hoje tem rádios alternativas em todo Brasil como a Educadora na Bahia, a Cultura em São Paulo e a internet com milhares de músicas. Há que saber garimpar.

43) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Hyldon: Prepare um plano B. Como buscar uma formação superior primeiro.

44) RM: Quais os seus projetos futuros?

Hyldon: Estou lançando o CD Soul Brasileiro – Edição Extra e um clipe que acabamos de gravar da música Brazilian Samba Soul deve sair em meado de agosto de 2011.

45) RM: Contatos ?

Hyldon – www.hyldon.com.br


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.