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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

O Bar é o cemitério do músico?

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Alguns músicos têm o Bar como sinônimo de cemitério de sua carreira. Já que os donos só permitem tocarem os sucessos de músicos famosos.

A música “Nos Bailes da Vida” do cantor e compositor Milton Nascimento: “Foi nos bailes da vida ou num bar / Em troca de pão / Que muita gente boa, pôs o pé na profissão / De tocar um instrumento e de cantar. / Não importando se quem pagou quis ouvir. Foi assim… Cantar era buscar o caminho / Que vai dar no sol / Tenho comigo as lembranças do que eu era / Para cantar nada era longe tudo tão bom / Até a estrada de terra na boleia de caminhão. Era assim / Com a roupa encharcada e a alma / Repleta de chão / Todo artista tem de ir: a onde o povo está / Se for assim, assim será / Cantando me disfarço e não me canso / De viver nem de cantar”.

Para alguns músicos, essa letra era a descrição perfeita da relação profissional do músico com Casa de show e Bar. Mas analisando esta relação profissional entre empresários e músicos existem alguns interesses convergentes e divergentes. Mas é preciso primeiro entender o conceito de fazer um Show e de ser um Fundo Musical. No Show o público vai para assistir o artista e se servir dos serviços de bebidas e comidas do local. Ser o Fundo musical é quando o público tem o foco em beber e comer, não se importando com quem vai estar se apresentando no local.

No passado a apresentação musical era só no Teatro e para um público que podia pagar. Com a música popular ganhando as ruas, os Cafés Cantantes, as Boates e os Circos abrigaram os artistas com a carreira em decadência que perderam espaço no Teatro e os que nunca se apresentaram no Teatro. Músicos que se apresentavam para o público que não tinha como pagar o ingresso do Teatro e se vestir conforme a elite. A letra acima mostra um cenário de uma época moderna dos anos 50 do Rock, Jazz, Samba, Música Popular Brasileira e gestação da contracultura dos anos 60 e 70. O Cantar operístico e o cantar popular tinham espaços distintos. Os Cafés Cantantes, as Boates e os Circos eram os espaços para o povo ouvir o que era tocado no Teatro. Existia um horário para a apresentação e o público fazia silêncio total para ouvir e reverenciar o desempenho do artista. Os Festivais de Música eram outro espaço para música de compositores em ascensão.

O Bar ao longo dos anos passou por transformações, como local para Karaokê para cantores amadores e o público em geral soltar a voz. A local de sobrevivência de músicos que não conseguiram; por vários motivos ao longo da carreira, consolidar uma carreira autoral com fãs que pagassem por seu Show. Alguns músicos têm o Bar como sinônimo de cemitério de sua carreira. Já que os donos só permitem tocarem os sucessos de músicos famosos. Tem que ser um excelente cantor e instrumentista, mesmo que no geral o público não esteja dando atenção para sua apresentação. O cachê muitas vezes é irrisório e a qualidade do equipamento de som do local é ruim ou o músico tem que levar o seu equipamento. Mas o músico que entender a função do Bar hoje; sofre menos, pois não cria a expectativa que está fazendo um show para 100% dos seus fãs. Mas fazendo o Fundo Musical de qualidade sendo acompanhado pelos os arranjos incidentais dos talheres e mastigações, tendo como backvocal as conversações, gargalhadas e histeria coletiva do público. O músico que tem o foco e convicção na música autoral não tem mais o Bar como o palco para os primeiros passos da sua profissão de tocar um instrumento e de cantar. Vai procurar cantar e tocar para quem quer lhe ouvir.


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Comments · 1

  1. No bar, em geral, o músico só não é equivalente a um jarro de plantas porque, por algum motivo, o mesmo público que o ignora (ou ignora seu conceito artístico) não se sente tão bem ao som de uma gravação. O dono do bar, então, contrata músicos, mas não quer arte: quer pessoas fazendo o papel de playlists mecânicas. Não é lugar de arte, e sim de entretenimento. O músico, para não cair em depressão, deve encarar o bar como uma espécie de “ensaio remunerado”, um lugar para se testar, testar tons, arranjos e não deixar que a voz enferruje. A exceção é alguém valorizá-lo(a) devidamente. Pelo mesmo motivo, não vale a pena se esforçar demais para tocar em bar. Vale a pena gastar um tempo enorme e precioso para “tirar” 30 músicas novas e fazer um show-tributo para ganhar 150 reais e alimentar esse mercado da nostalgia que mata nossa arte autoral? Bem que dizem: “barzinho é uma escola”. Sim, mas ninguém gostaria de passar a vida na escola. Tudo tem seu tempo.

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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.