More Jaqueline Alves »"/>More Jaqueline Alves »" /> Jaqueline Alves - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Jaqueline Alves

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Jaqueline Alves é cantora, compositora, psicóloga, produtora cultural, consultora em projetos culturais e gerenciamento artístico, Mestre em Etnomusicologia e Licenciada em Música com habilitação em Instrumento pela UFPB.

A paraibana Jaqueline Alves descobriu desde cedo sua afinidade com a música. Ainda quando criança se apaixonara pelo som do violão e pela arte do canto. Aos dez anos de idade começou a aprender violão e aos 16 anos já cantava e tocava em bares e casas noturnas interpretando clássicos da MPB, tendo participado também de diversas bandas.

Em 1999 recebera o convite para participar do grupo musical Bastianas, onde atuou como cantora e violonista por quase sete anos. Desde então, apaixonou-se ainda mais pelos ritmos nordestinos, os quais já lhe encantavam desde criança. Começam a fazer parte de sua carreira Jackson do Pandeiro, Marinês, Luiz Gonzaga, João do Vale, Biliu de Campina, Antônio Barros e Cecéu, Dominguinhos, Oliveira de Panelas, etc.

No que se refere a composições, a sua trajetória começou também junto ao grupo Bastianas. Suas músicas já fazem parte de CDs como o da Bienal da UNE, Forró da Band, CD da Cooperativa Brasil além do CD – “Chama Pra Dançar” das Bastianas, onde a mesma tem nove canções de sua autoria (Uma levada maneira; Chama pra dançar; Furdunço de linguagem; Desassossego; Um pedido a São João; Pode me esperar; Zé Limeira.com; Dance xote; Brasil, o cantador) das 14 registradas no CD. Loa Nordestina, título do seu CD solo, foi produzido por Dominguinhos e traz músicas de sua autoria como também da autoria do próprio Dominguinhos em parceria com Wally Bianchi.

Enquanto produtora cultural fundou, em parceria com mais dois produtores culturais, o Projeto Balaio Nordeste, hoje, instituído como Associação Cultural Balaio Nordeste, uma ONG cultural, onde atuou ainda como professora de violão, teoria musical e técnica vocal por quase três anos.

Fez parte da comissão organizadora do VII Encontro da Associação Brasileira de Educação Musical NE e da coordenação artístico-cultural do II Fórum Paraibano de Educação Musical. Fez parte da comissão organizadora e da comissão científica do 3º e 4º Dia Percussivo. Fez parte da comissão de formatação de projeto e da comissão organizadora do I, II e III Encontro de Foles e Sanfonas da Paraíba. Tem trabalhos publicados em Anais de congressos e desenvolveu por dois anos consecutivos um trabalho de formação de professores da rede municipal de ensino junto as Professoras Ms. Caroline Brendel Pacheco e Ms. Daniella Gramani, ambas da UFPB, com as quais também desenvolveu um trabalho de Musicalização Infantil, através do grupo de estudos de Educação Musical Infantil da UFPB. Atualmente é professora de música da Escola Parque da Natureza da cidade de Brazlândia/DF.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Jaqueline Alves para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 21.03.2022:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Jaqueline Alves: Nasci no dia 20/05/1971 em João Pessoa – PB. Jaqueline Alves da Silva.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Jaqueline Alves: Desde criança sempre fui muito ligada à música. Tudo que eu fazia tinha que ter música me acompanhando, até mesmo para dormir. Em minha primeira infância ganhei vários instrumentos de brinquedo: pianinho, xilofones, tambozinho e sempre eu queria manipulá-los. Aos sete anos, mais ou menos, vi um violão de “verdade” em casa de um parente e fiquei encantada. Desde então fiquei querendo aprender a tocar algum instrumento. O tempo passou e só aos dez anos de idade foi que tive meu primeiro instrumento que foi o violão. Na ocasião, lembro-me que havia um vizinho que toda tarde ficava tocando violão e eu ficava “curiando” ele de cima de um muro. Certa vez eu disse a minha mãe Joana Alves que queria tocar aquele instrumento e pedi para ela comprar um. Mas, como eu era uma dessas crianças que tudo começava e depois deixava para lá, minha mãe me disse que não ia comprar. Entretanto, após ver minha insistência e a minha invencionice de pegar um pedaço de madeira, pregar seis pregos de um lado e do outro, esticar umas linhas de nylon e comprar revistinhas de cifras para tentar aprender os acordes, ela acabou cedendo e comprou um instrumento de segunda mão, ou seja, já usado. Disse-me que queria ver se aquele desejo ia mesmo se sustentar. Esse violão foi justamente o do vizinho que não sei porque motivo, resolveu vendê-lo. Foi assim que tudo começou. 

03) RM: Qual a sua formação musical e/ou acadêmica fora da área musical?

Jaqueline Alves: Formei-me em Licenciatura em Educação Musical pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e tenho Mestrado na área de Etnomusicologia pela UFPB. Fora da área musical, tenho formação em Psicologia pela UFPB e recentemente, dentro do campo da saúde, conclui o curso de Homeopatia.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Jaqueline Alves: Eu gosto de músicas que acrescentem algo em minha vida; músicas que me toquem sejam por suas letras ou por suas melodias e harmonias. Muito do meu gosto musical até hoje tem a ver com o ambiente a que estive exposta em minha infância e adolescência. Herdada da minha escuta familiar, principalmente do meu avô, vem meu gosto pelas músicas de sonoridade nordestina, tais como o Forró tradicional e as cantorias dos repentistas. Ainda no campo desse universo nordestino sou fã da estética e sonoridade das músicas de Zé Ramalho e Alceu Valença, bem como de outros artistas nessa linha. Mas também, em minha adolescência, aprendi a amar a Bossa Nova, as músicas de protesto como também o universo musical da MPB. As músicas do Milton Nascimento, do Flávio Venturini, do Ivan Lins, por exemplo, povoam sempre meu cotidiano.  Eu diria que as minhas influências continuam sendo as mesmas e que nenhuma delas deixou de ser importante. Hoje, embora essas influências tenham sido ressignificadas por outros artistas, acredito ainda na força da nossa música. Há uma geração nova aí que também, tendo bebido dessas fontes anteriores, tem nos brindado com músicas maravilhosas, onde ainda reconheço muito dessas minhas referências.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira profissional?

Jaqueline Alves: A minha carreira profissional no campo da música foi meio que acidental. Eu sempre gostei de tocar voz e violão em barzinhos, mas nunca desejei ou me via seguindo uma carreira artística. Certo dia, no ano de 1999 e eu ainda estava concluindo meu curso de Psicologia pela UFPB, uma colega do curso que também fazia Música, tendo resolvido formar uma banda ou um grupo musical, me fez o convite para participar do mesmo. Eu aceitei porque achava que seria somente a nível local a nossa atuação. Contudo, o tempo foi passando, começaram a surgir convites para viagens fora de nosso Estado e aí a coisa foi mudando de figura. Quando pensei que não já estávamos deslanchando a nível nacional depois de termos aparecido no Jornal Hoje e no programa da Ana Maria Braga. O grupo, que se chamava As Bastianas, começou a ter mais visibilidade e foi então que comecei a encarar como uma carreira profissional. 

06) RM: Quantos CDs lançados?

Jaqueline Alves: Da minha participação no grupo As Bastianas, foram: II Bienal da UNE (2001) gravado no Rio de Janeiro – música: “Minha Terra” (Jaqueline Alves); Forró Universitário Vol. II (2002) – gravado em São Paulo – música: “Pode Me Esperar” (Jaqueline Alves); Forró da Band (2002) – gravado em São Paulo – Música: “Pode Me Esperar”; Cooperativa Brasil Ao Vivo (2002) – gravado em Campinas/SP – músicas: “Chama Pra Dançar” (Jaqueline Alves) e “Desassossego” (Jaqueline Alves). Em 2002, o CD Bastianas – “Chama Pra Dançar” com 14 músicas (nove músicas de minha autoria), incluindo a regravação de “Asa Branca” (Humberto Teixeira e Luiz Gonzaga) gravado em São Paulo – Participações de Dominguinhos e Cabruêra – Selo: Trace Discos. Em 2003 teve o relançamento desse CD sem a música “Asa Branca”. Em 2002 o DVD – As Bastianas – “Chama Pra Dançar” – gravado ao vivo na Cooperativa Brasil em Campinas/SP. Na carreira solo eu gravei o CD – “Loa Nordestina”, lançado em 2007 e produzido por Dominguinhos e traz músicas de minha autoria como também da autoria de Dominguinhos em parceria com Wally Bianchi.

07) RM: Como você define seu estilo musical?

Jaqueline Alves: Eu me reconheço como cria da MPB e meu estilo é bem o reflexo dessa miscelânea que é a MPB, contudo, tendo como foco a música nordestina.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Jaqueline Alves: Sim, fiz aulas de canto na universidade (UFPB), bem como fora dela.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Jaqueline Alves: O estudo da técnica e os cuidados com a voz é primordial para quem quer se profissionalizar na área do canto. Através da técnica você consegue explorar timbres diversos; expressar intenções diferentes a sua interpretação; explorar melhor os agudos, graves e médios; criar efeitos sonoros aveludados ou não; expressar, melisma de maneira adequada, os vibratos, etc. O uso da técnica nos ajuda, principalmente através da respiração, a trabalharmos bem com a divisão das células rítmicas e com isso utilizarmos melhor a nossa dicção. Quanto aos cuidados com a voz, eu diria que uma técnica bem empregada já nos garante uma boa saúde vocal, mas há também a importância do que se come e do que se bebe, boa noite de sono, entre outros fatores ligados ao nosso estilo de vida que a meu ver contribuem muito nesse campo. 

10) RM: Quais as cantoras (es) que você admira?

Jaqueline Alves: Essa pergunta é um tanto quanto difícil de responder porque há muitos parâmetros a serem considerados aqui. Por exemplo, há muitas cantoras e cantores que me tocam por sua presença marcante no palco ainda que nem sempre tenham uma voz muito agradável aos meus ouvidos ou uma técnica vocal admirável. Outros me encantam por sua voz mais intimista, ou quase sussurrada, ou por sua voz de extrema potência, com tudo muito bem colocada, etc. Outros me encantam pela sua trajetória artística, pelas suas lutas. Mas se falarmos de técnica enquanto elemento constituinte do canto, uma das melhores intérpretes para mim, a nível nacional é a Alcione. Outra que admiro muito é a Zizi Possi. Do universo masculino eu tiro o meu chapéu para o Jackson do Pandeiro e o Luiz Gonzaga, para o Jackson pela sua métrica no canto e para o Luiz por dar vida às músicas de maneira que quase nos sentimos vivendo ou vendo as cenas retratadas ali. Aqui tem muito pano para manga (risos).

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Jaqueline Alves: Bem, eu fui compositora por acidente. Na verdade, na época em que me arvorei a compor, havia uma necessidade do grupo As Bastianas em ter músicas próprias. Então, meio que no empurrão, aventurei. Mas, nunca me considerei uma compositora de fato, tanto que depois abandonei esse caminho. Entretanto, na época em que vivi esse momento, no que diz respeito ao processo composicional, sempre me vinha primeiro a melodia, a qual eu geralmente gravava em um gravador portátil e aí eu ficava procurando um tema para trabalhar e encaixar aquela melodia. Muitas vezes, eu estava dormindo e aí acordava no meio da madrugada com uma ideia de melodia na cabeça e estando ainda com sono eu só pegava o gravador cantarolava a melodia, gravava e pronto voltava a dormir. No dia seguinte é que ia ver o que se aproveitava daquilo. Até hoje ainda tenho muitas dessas melodias que foram gravadas, mas que nunca mais aproveitei para compor as letras.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Jaqueline Alves: Sempre compus sozinha.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

Jaqueline Alves: Fora o grupo As Bastianas, com o meu conhecimento, acho que ninguém mais. Certa vez recebi da Orquestra de Violões da Paraíba o pedido para gravarem umas músicas minhas, mas devido ao fato de que na época os fonogramas estavam nas mãos do meu produtor, essa possibilidade foi inviabilizada. 

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Jaqueline Alves: Há anos atrás isso era bem difícil. Hoje, no entanto, acho que se tem mais vantagens do que desvantagens. Sabendo usar as ferramentas adequadas e desenvolvendo um bom trabalho, acredito que se pode traçar uma carreira promissora. É claro que haverá muitos percalços porque é preciso se contar com uma estrutura mínima para se lançar nessa aventura. A maior vantagem de uma carreira independente diz respeito ao fato de que você pode trabalhar conforme suas concepções; ter a liberdade de fazer sua arte conforme você se identifica com ela, é muito prazeroso e libertador. No entanto, ainda que o fazer artístico seja o mais importante de nada adianta, para quem quer se projetar, não entender minimamente em como fazer circular a sua produção artística. É preciso criar uma estrutura mínima para atingir esse objetivo. E, hoje, temos muitas ferramentas que podem auxiliar nessa missão. Contudo, se você não tem alguém que possa cuidar disso para você ou se você não sabe e/ou não quer, aí uma carreira independente é muito mais desafiadora. 

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Jaqueline Alves: Quando vivia do fazer artístico, sempre tive quem se ocupasse dessa missão. Na época das Bastianas, a nossa produtora Regina Negreiros sempre prezou pelo contato direto com os contratantes dos shows além de investir muito em materiais de divulgação como acesso a TVs, rádios, elaboração de releases, atualizações de clippings, entre outras ações. Quando da minha carreira solo, o meu produtor João Cícero (na época também era o produtor de Dominguinhos) é que tomava conta disto.

16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Jaqueline Alves: Atualmente, por não estar mais vivendo dos palcos, não tenho feito nenhum movimento neste sentido. 

17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Jaqueline Alves: De maneira geral, a internet para mim é um dos grandes meios de dar visibilidade aos artistas. Mas a questão é que não é o veículo em si que vai fazer esse papel, ou seja, não é apenas expor seu trabalho na internet. É preciso ter alguém para gerenciar isso, do contrário não se tem muito proveito. 

18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia de gravação (home estúdio)?

Jaqueline Alves: Gravar continua sendo, e acredito, sempre será a forma mais importante para que os outros possam ter acesso ao trabalho do artista. No mundo contemporâneo, se fossemos depender apenas dos shows ao vivo e das grandes gravadoras para que o público pudesse conhecer o nosso fazer artístico, estaríamos fadados ao fracasso. Graças a deus hoje já temos inúmeras ferramentas que nos auxiliam nesse processo e não ficamos reféns apenas dos grandes estúdios. Também com o advento dos muitos formatos de mídia disponíveis, isso tem sido potencializado. O que eu tenho percebido é que nesse mundo contemporâneo, em qualquer atividade que você desenvolva, você tem sido chamado a ser meio que “Bombril”, ou seja, ser mil e uma utilidades (risos). Não tem sido fácil para o artista vivenciar o papel de artista, produtor de sua própria carreira, o de saber manusear e ter conhecimento acerca de gravações e veiculação desse material, etc., mas, por outro lado, para aqueles que conseguem tem sido libertador e, nesse sentido, o home estúdio tem ajudado muito na trajetória de muitos artistas.

19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Jaqueline Alves: Como falei anteriormente, não estou mais atuando nesta área.

20) RM: Como você analisa o cenário do Forró. Em sua opinião quais foram as revelações musicais nas últimas décadas? Quais artistas permaneceram com obras consistentes e quais regrediram?

Jaqueline Alves: Depende de que tipo de Forró você está falando. Se a referência for o Forró tradicional, apesar de ser um produto cultural de extrema relevância, o mesmo vem perdendo mercado de forma nunca antes vista. Isto tem ocorrido, parte por falta de espaços que oportunizem esse tipo de manifestação artística e parte porque este segmento não tem conseguido acompanhar as exigências do mercado atual. A maior parte dos artistas desse segmento não tem uma formação mais consistente quanto ao gerenciamento de suas carreiras. Por outro lado, vivemos, hoje, um tempo em que a música é vista como um mero produto de consumo e, nesse sentido, não só o Forró tradicional, mas até mesmo o Forró Estilizado/eletrônico bem como outros estilos e gêneros musicais, tem sido de fácil descarte. Basta chegar algo novo na praça que aquela música que estava em voga até um dado momento já cai no ostracismo e outra a substitui.

Vivemos hoje o que o sociólogo polonês Zygmunt Bauman conceituou como modernidade líquida, ou seja, vivemos hoje uma época em que as relações sociais, econômicas e de produção (seja ela artística ou não) são frágeis, fugazes e maleáveis como os líquidos. O mundo tem pressa até mesmo para fruir. Dessa forma, o que chamam de Forró e que para mim é tudo menos Forró devido a toda sua produção estética, rítmica e de performance ter pouca relação com o Forró em sua origem, que é o tal Forró Estilizado/eletrônico; e não me refiro apenas ao uso por este de certos instrumentos como elemento definidor, mesmo esse, tem provado de seu próprio veneno e tem caído no ostracismo dada a grande rapidez com que o modus operandi da contemporaneidade tem atingido a tudo. Pois, quando antes se discutia o Forró tradicional versus o Forró que surgiu na década de 1990 já se pensava que o Forró tradicional era coisa da velharia. E pouco tempo depois o próprio Forró; me refiro aqui ao Forró eletrônico de bandas como Mastruz Com Leite e seus derivados, que ainda estava em voga ainda que de forma arquejante, era então considerado como Forró das antigas e passava a disputar mercado com o Forró mais contemporâneo. Assim configura-se hoje o seguinte cenário: o Forró tradicional tem sido visto como o Forró dos tempos pré-históricos (jurássico), o Forró eletrônico como o Forró das antigas e o Forró estilizado como o atual (risos). Nesse âmbito, não tenho visto grandes revelações e muito menos que tenham se sustentado. Imagino que tenha muitas pessoas produzindo algumas pérolas por aí, mas, lamentavelmente, estes não tem sido visto e nem ouvidos por alguns dos motivos já aqui explicitados anteriormente.

21) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Jaqueline Alves: Para mim há muitos artistas no campo da música que considero de extremo profissionalismo e qualidade artística. Desde aqueles que já se foram aos que hoje despontam no mercado, há vários. Mas para não ficarmos no vácuo posso exemplificar Gilberto Gil, Caetano Veloso, Dominguinhos, entre outros. Há tantos de diversos gêneros e estilos, vivos ou já desencarnados, de antes e de hoje que não daria para elencar aqui.

22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para o show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado, etc)?

Jaqueline Alves: Eu diria que as situações elencadas aqui não são tão inusitadas assim. A maioria dos artistas passam ou já passaram por algumas delas com certa frequência, principalmente quando se está em início de carreira. Acho que brigas é uma das situações que não me recordo ter passado. 

23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Jaqueline Alves: O que me deixava feliz era o reconhecimento do público e o que me deixava mais infeliz era ter que ficar longe de minha família, às vezes, por longo tempo. 

24) RM: Qual a sua opinião sobre o movimento do “Forró Universitário” nos anos 2000?

Jaqueline Alves: Embora o Forró Universitário também passe um tanto longe do Forró tradicional porque misturou reggae, MPB e outros gêneros ao longo de sua vigência mais efervescente. Eu o vejo com um olhar mais afetuoso porque, a meu ver, havia uma tentativa de trazer para o contexto atual da época um gênero que estava sendo deixado de lado. Ainda que de forma ressignificada, havia um interesse genuíno pela promoção do Forró tradicional naquela ocasião, prova disso foram as inúmeras Casas de Shows que tentavam reproduzir um pouco das referências nordestinas em seus ambientes. Sejam através de sua decoração, das comidas e bebidas ofertadas, das músicas que ficavam tocando antes dos shows, da contratação de ícones do Forró que outrora haviam sido sucesso e que naquele momento estavam esquecidos, eram redescobertos e valorizados por essa galera do Forró Universitário. A criação de diversos fóruns via sites para discutir e dar visibilidade mais uma vez a este gênero musical, etc. 

25) RM: Quais os grupos de “Forró Universitário” chamaram sua atenção?

Jaqueline Alves: Nenhum deles. Mas as mensagens das músicas da banda Falamansa sempre me agradaram. 

26) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Jaqueline Alves: Já tive minhas músicas tocadas por várias rádios. E, na verdade, nunca precisei pagar. Na época das Bastianas, nós tínhamos uma produtora Regina Negreiros muito competente e que, também, devido a ser uma pessoa muito articulada, sempre conseguia que as nossas músicas tanto as de minha autoria, quanto as da outra compositora do grupo fossem tocadas. Já na época de minha carreira solo, o meu produtor João Cícero que era também produtor do Dominguinhos, dado ao seu conhecimento na área, até onde sei nunca precisou pagar para as rádios tocarem. Contudo, nem sempre eram rádios de muito alcance. Mas é claro que não ignoro que essa prática ainda vigente e que muitos artistas têm passado e ainda passam por ela. 

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Jaqueline Alves: Na atual conjuntura eu digo que é preciso muita determinação, mas também muita sagacidade além de boa formação tanto no que diz respeito ao seu fazer artístico quanto em relação ao gerenciamento de sua carreira.

28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Jaqueline Alves: Não vejo nenhum contra. Deveria haver mais incentivo a esta prática. Muitos talentos podem ser revelados nesses festivais de música.

29) RM: Hoje os Festivais de Música revelam novos talentos?

Jaqueline Alves: Bem, ainda que hoje em dia qualquer pessoa possa alcançar sucesso imediato a partir da internet. Eu continuo achando que os Festivais de música também têm seu alcance, principalmente aqueles que são promovidos para abarcar grande público.

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Jaqueline Alves: a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira é parcial.

31) RM: Qual a sua opinião sobre o espaço aberto pelo SESC, SESI e Itaú Cultural para cena musical?

Jaqueline Alves: Se você estiver se referindo a abertura para contratos de shows e não a editais que visam à circulação do artista, qualquer um que abra espaço para o artista se apresentar e que valorize o seu trabalho pagando o que lhe é devido e reconhecendo a sua importância para a cena cultural brasileira, é bem visto. Quanto a alguns editais, há muitas exigências inadequadas.

32) RM: Qual a sua opinião sobre as bandas de Forró das antigas e as atuais do Forró Estilizado?

Jaqueline Alves: É como disse antes, não as vejo como representantes do Forró.

33) RM: Qual a sua opinião sobre o uso do Teclado no Forró?

Jaqueline Alves: Os instrumentos são apenas um dos componentes que podem ser parte de uma estética musical. Eu não vejo problema no uso do Teclado, como também no uso da Guitarra, entre outros instrumentos. Se todo o problema da definição do que seja Forró fosse os instrumentos que o compõe enquanto estética musical, eu diria que isso não seria um problema. Mais do que a inserção desse instrumento no âmbito do Forró, importa mais para mim o que se faz com os instrumentos característicos desse gênero como a Sanfona, o Triângulo e o Zabumba. Esse trio representa a essência do Forró tradicional, eles são as cerejas do bolo desse gênero. Só que na hora em que você substitui a Sanfona pelo Teclado ou que você deixa como instrumento de solo do começo ao fim de uma música, em meu entendimento você descaracteriza aquela sonoridade que foi consolidada como referência desse fazer musical. Não há problema em utilizar certas sonoridades do Teclado como mais um elemento melódico e rítmico nesse contexto, mas há que se saber fazer isso. Em uma comparação ainda que não tão adequada, é como se fosse assim: você tem um cantor que é o guia melódico de uma dada música e de repente você percebe que o guitarrista faz tanta firula que quem acaba cantando como destaque é a guitarra, é tanto enfeite que o que está sendo dito nem é percebido. Na verdade, todos nós esperamos que se a banda não é uma banda ou um grupo instrumental, a voz sempre será a cereja do bolo e os instrumentos melódicos que lhe acompanham apenas “costuram” o que a voz evidencia.

34) RM: Quais as principais diferenças e semelhanças de tocar Guitarra e Violão?

Jaqueline Alves: Embora sejam instrumentos de cordas que muito se assemelham, eu diria que a técnica é seu divisor de água. Sendo assim, excetuando serem instrumentos de seis cordas e que podem ter a mesma afinação, compará-los dá muito pano para manga, depende de qual parâmetro de comparação você vai usar para distinguir semelhanças e diferenças. Por exemplo, há diferenças na construção dos acordes, há diferenças no timbre já que na guitarra o uso de pedais é uma de suas características mais fortes. A depender do tipo de violão se é corda de nylon ou de aço há ainda diferença no uso ou não de palheta, etc.

35) RM: Quais os outros instrumentos que toca além do Violão?

Jaqueline Alves: No momento tenho me aventurado na sanfona além de alguns instrumentos de percussão.

36) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Guitarrista e Violonista?

Jaqueline Alves: Bem algumas das técnicas que são utilizadas na guitarra também são utilizadas no violão. Posso citar aqui o abafamento com a mão esquerda que é uma técnica que consiste em desapertar levemente as cordas com a mão esquerda por um curto período de tempo durante a execução de um acorde o que gera um som mais percussivo. Há o contrário também que é a técnica chamada de Palm Mute, onde o abafamento das cordas dessa vez é feito com a mão direita fazendo com que as notas soem com uma intensidade menor, há ainda o Bend, o vibrato entre outras.

37) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Guitarra e Violão?

Jaqueline Alves: Para mim a postura é algo imprescindível e que por sua vez ajuda a evitar muitos desses vícios. Um erro comum é o atropelamento de etapas, bem como não reservar um tempo para o estudo (de preferência todos os dias ainda que seja 30 minutinhos) e se ligar apenas em tocar.

38) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?

Jaqueline Alves: Bem quando se fala em ensino de música devemos entender desde o despertar dessa linguagem a profissionalização neste âmbito. No que tange ao despertar da musicalidade, ofertada nas escolas de ensino básico e que aí não se tem a pretensão de formar instrumentistas ou cantores, um de seus principais erros tem mais a ver com o que o professor entende como metodologia para esse segmento do que mesmo com a própria metodologia. É a exigência, quase sempre, de que ao final de um ano letivo seja aí apresentado algum produto musical. Nas escolas de educação básica, a música é uma linguagem que serve ao desenvolvimento de várias possibilidades e habilidades nos sujeitos, podendo desenvolver desde o interesse por um conhecimento como cultura geral, como o interesse por tocar um dado instrumento e até se profissionalizar através do mesmo em um futuro mais a frente. Portanto, o que importa é fazer com que a música seja reconhecida como mais uma maneira de ser e estar no mundo, como algo que pode ser transformador, como algo que pode contribuir com o desenvolvimento de outras habilidades, inclusive, em outras áreas. Já no que diz respeito ao ensino mais acadêmico e de conservatório parece haver um fosso entre a Musicologia e a Etnomusicologia, o qual se reflete por vezes nas metodologias utilizadas. Há um certo preconceito da academia em relação à música popular.

39) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Jaqueline Alves: Eu não acredito em dom musical no sentido de como muitos o entendem, ou seja, como algo dado por Deus, como se fosse um privilégio. Evidentemente, não dá para desconsiderar que há pessoas que se mostram mais hábeis em alguns aspectos da vida. Contudo, eu acredito que todos podem com dedicação e boa vontade desenvolver suas habilidades, talvez em mais tempo que o outro, mas sempre com esta possibilidade. Não havendo nenhum impedimento de ordem neurológica ou da ordem da decodificação dos sons por algum problema mecânico, dentre outras razões, não vejo porque alguém não seja capaz de se desenvolver nesta forma de expressão artística.

40) RM: Qual é o seu conceito de Improvisação Musical?

Jaqueline Alves: Para mim quem entende que improvisação é algo que vem assim do nada, segue uma linha de raciocínio bem próxima do mesmo entendimento que para ser músico é preciso ter dom. Na verdade, a improvisação só é possível quando o músico já vivenciou muitas experiências no contexto da música desde a apreciação musical a partir de uma escuta atenta à execução de várias músicas em diferentes gêneros e estilos. 

41) RM: Existe improvisação musical de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Jaqueline Alves: A improvisação é fruto do que já se conhece de alguma forma. Quanto mais se toca, mais se exercita, mais se escuta, mais se cria possibilidades para o improviso. E aqui também se vê o emprego de algumas técnicas, onde se reconhece desde a prática de pequenas células rítmicas e melódicas como também de algumas sequências harmônicas características de certos gêneros e estilos musicais. 

42) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre Improvisação musical?

Jaqueline Alves: Não tenho conhecimento de tantos métodos para poder responder de forma mais profunda. Mas, a priori, não vejo o que poderia ser os contras. Acho importante para quem quer ser um bom instrumentista buscar métodos que possa acrescentar à sua musicalidade, à sua identidade.

43) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Jaqueline Alves: Há que se pensar de que tipo de harmonia musical estamos falando. Há métodos de harmonia tradicional que é muito empregado na música erudita e há métodos de harmonia funcional que é mais empregado na música popular. Cada um deles presta-se a que se destina. Para mim nem há prol nem contra; uma vez que a harmonia de uma música reflete além do gênero ou estilo musical de onde advém, reflete um certo fazer musical de uma época. Assim é que temos a harmonia que era empregada na idade média, a harmonia que era empregada no período barroco, no romantismo, considerando-se a música erudita e a harmonia empregada na Bossa Nova, na MPB, nas músicas de Luiz Gonzaga, etc., considerando-se o âmbito da música popular. Para mim, os métodos de harmonia são apenas o “desenho” de como a música se configura em sua forma escrita no que diz respeito as suas regras em conformidade com o gênero/estilo ou época de sua criação e execução em destaque.

44) RM: Quais os seus projetos futuros?

Jaqueline Alves: No campo da música meu projeto é continuar dando aulas de música para a educação básica.

44) RM: Quais os seus contatos?

Jaqueline Alves: (61) 98139 – 6913 | [email protected]

| https://web.facebook.com/jaqueline.alves.54584982

Jaqueline Alves e Chiquinho de Belém C&C no dia 29/03/2008: https://www.youtube.com/watch?v=Ualnw4kxu6o

Jaqueline Alves e Santana o Cantador C&C no dia 28/07/2007: https://www.youtube.com/watch?v=MyhOeysHPLI

As Bastianas – Chama Pra Dançar – 2002 – CD Completo: https://www.youtube.com/watch?v=PX6cHGQn8ro

FAIXAS:
01- UMA LEVADA MANEIRA (JAQUELINE ALVES)
02- CHAMA PRA DANÇAR (JAQUELINE ALVES)
03- SENSO COMUM (GUIA LIMA)
04- FURDUNÇO DE LINGUAGEM (JAQUELINE ALVES)
05- ASA BRANCA (LUIZ GONZAGA-HUMBERTO TEIXEIRA)
06- DESASSOSSEGO (JAQUELINE ALVES)
07- SAUDADE DANADA (REGINA NEGREIROS-ANGÉLICA LACERDA)
08- UM PEDIDO A SÃO JOÃO (TÃO LONGE) (JAQUELINE ALVES)
09- PODE ME ESPERAR (JAQUELINE ALVES)
10- ESQUISITICE (ROBSON BASS)
11- ZÉ LIMEIRA.COM (JAQUELINE ALVES)
12- DANCE XOTE (JAQUELINE ALVES)
13- SÃO JOÃO NA SERRA DA BORBOREMA (REGINA NEGREIROS-ANGÉLICA LACERDA)
14- BRASIL, O CANTADOR (JAQUELINE ALVES)


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.