More Dudáh Lopes »"/>More Dudáh Lopes »" /> Dudáh Lopes - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Dudáh Lopes

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A Pianista paulistana Dudáh Lopes impressionar o público pela sua técnica apurada, suingue e carisma espontâneo. Uma pianista clássica que é levada pela paixão ao Choro e grava um CD em dupla homenagem.

A primeira a presença delicada e firma da mulher nas rodas de Choro e a segunda ao Choro paulistano que sempre passou despercebido, mas que é de fundamental importância para elevação desse gênero genuinamente brasileiro. Dudáh faz o piano bailar. Ela no palco virá “uma Chorona autêntica”.

Uma pianista clássica que poderia está fazendo música erudita nos salões nobre e teatral, mas que contramão do óbvio optar pelo nosso “jazz” mais suingado e alegre. Frequenta as rodas de Chorões que fazem à base forte do Choro Paulista e mostrar para o país que como o Samba, São Paulo não é sepulcro para Choro, mas um espaço fértil em criatividade e obras.

O CD – “Piano Na Garoa” (CPC – UMES) conta com a participação dos bambas do Choro como : Irmãos Izaías e Israel Bueno de Almeida; Paulinho Nogueira; Roberto Barbosa  (Canhotinho) e Francisco Araújo. O repertório passeia por clássicos do Choro paulistano e composições dos chorões citados acima.

Usando e abusando da sua técnica seu piano percussivo brilha nos duelos com outros instrumentos, solando ou sendo a base segura para os improvisos dos músicos. Ao escutar o CD nos dá a falsa impressão que toda a sonoridade e clima maravilhoso são possível só em estúdio com os milagres da edição, mas assistindo o show de Dudáh que conta com os convidados acima citados formando um regional improvisado e especial é podemos certificar a originalidade e talento da pianista e dos músicos. Podemos sentir que no palco não está apenas uma pianista virtuose que colocar seu dom e técnica a serviço de um gênero popular, mas uma Chorona de alma e vivencia nas rodas de Choro.

Uma pessoa tímida e contida no convívio social se mostra uma pianista simpatia, de alegria espontânea e contagiante em plena sinergia com o público e músicos no palco. Qualquer comparação com a diva Chiquinha Gonzaga é pura semelhança e talento que aparece de décadas a décadas uma.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Dudáh Lopes para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 05.05.2003:

01) Ritmo Melodia: Fale do seu primeiro contato com a música. Qual a sua origem? Influências musicais?

Dudáh Lopes: Meu primeiro contato com a música foi através de minha mãe, que é pianista clássica. Desde pequenina eu gostava de ouvi-la tocar e minha brincadeira preferida era tentar imitá-la no meu pianinho de brinquedo. Comecei a estudar aos 5 anos de idade, com uma ótima professora, a Mercedes Mattar, que, por sinal, leciona até hoje, e em quem me inspiro ao ensinar crianças.

02) RM: Fale do seu inicio na carreira profissional. Quais foram as primeiras apresentações?

Dudáh Lopes: Comecei a tocar profissionalmente aos 18 anos, mas desde os 12 já me apresentava publicamente. Tive vários professores, todos muito bons, graças à criteriosa seleção que minha mãe fazia. Eles me inscreviam sempre em concursos para jovens instrumentistas de música clássica, onde competia com jovens de todo o Estado de São Paulo. Aos 14 anos, entrei para o CLAM – Centro Livre de Aprendizado Musical, para aprender o piano popular. Lá estudei com Amilton Godoy, que me incentivou a montar meu primeiro conjunto.

Tocávamos em shows de escolas e participávamos de shows de alunos promovidos pelo próprio CLAM. Participávamos também de Festivais, pois havia compositores na banda. Quando tive idade para o trabalho profissional, toquei em vários bares,  Hotéis, clubes (bailes de terceira idade, casamentos, debutantes e formandos), espetáculos de balé e de teatro (cheguei a compor trilhas para peças).

Uma experiência muito interessante que vivi resultou de um convite da Cinemateca de São Paulo: Acompanhar, ao vivo, filmes de cinema mudo. Adorei! Com a maturidade me encontrei no choro. Dele não saio mais!

03) RM: Fale do seu primeiro disco. Por que a escolha do gênero Choro?

Dudáh Lopes: Meu primeiro CD solo – “Piano na Garoa” mostra essa maturidade da minha carreira artística. A escolha do gênero que mais gosto de tocar, com o qual eu me identifiquei. Estudei a história do Choro, pesquisei através de livros, entrevistas com pesquisadores idôneos, partituras antigas e novas, gravações etc…

Cada dado novo me encantava mais, me dava mais certeza de ser “chorona”. Comecei a frequentar rodas de choro, a aprender e sentir grandes chorões, como os mestres Izaías e Israel de Almeida. Percebi que tocando o piano como estava escrito nas partituras, o resultado era um choro “quadrado”, duro mesmo, sem a malícia própria do choro, sem o balanço que tanto me envolvia ao ouvir chorões autênticos.

Demorei um ano, literalmente, “quebrando a cabeça”, estudando chorões como Radamés Gnattali, Cristóvão Bastos, Laércio de Freitas (com o qual tive aulas), entre outros bons pianistas, para conseguir criar o meu jeito de tocar piano no Choro. Gostei do resultado, mostrei-o e recebi o convite do maestro Marcus Vinícius para gravar pela CPC – UMES. Escolhi o repertório com cuidado, reunindo compositores que marcaram momentos importantes da história do Choro Paulista.

04) RM: Como você analisa a importância da mulher nos regionais de Choro?

Dudáh Lopes: A presença da mulher no mundo do Choro significa emancipação feminina. O choro nasceu numa época em que as mulheres eram muito reprimidas. Além disso, o gênero era muito ligado à música negra. Tinha que ter coragem para enfrentar tanto preconceito! A vida de Chiquinha Gonzaga, nossa primeira chorona, demonstra bem o que estou dizendo. As poucas mulheres que se aventuraram a tocar choro, até à década de 20, eram pianistas.

Instrumentos menores, típicos dos regionais, tais como o violão, o cavaquinho, o bandolim e o pandeiro, eram usados na rua, em serenatas, por homens que voltavam de suas bebedeiras, ou em bordéis e teatros de revista (apesar de nestes já ser comum à presença do piano e de algumas mulheres pianistas). De lá para cá, esses preconceitos, obviamente, foram se tornando cada vez mais tímidos, mas ainda se observam marcas deles. O cenário do choro continua muito masculino.

Aos poucos, vamos derrubando essa imagem, conquistando espaços cada vez maiores. Estão aí, Luciana Rabello, Jane do Bandolim, Roberta Valente, Kika Hein, as minhas parceiras do conjunto “Flor Amorosa”: Rosana, Verinha, Lourdes e Ana Maria, que confirmam isso.

05) RM: Como você define seu primeiro Disco e a sua musicalidade?

Dudáh Lopes: Meu primeiro disco é coroação do meu trabalho musical. As músicas que gravei revelam o que aprendi, pois o choro exige técnica, velocidade e domínio de todos os recursos do piano. Além disso, o choro dá oportunidade de usar criatividade, sentimento e capacidade de improviso.

06) RM: Quais os seus parceiros musicais presentes no seu disco?

Dudáh Lopes: Meus parceiros musicais do “Piano na Garoa” são meus amigos de roda de Choro. Apresentei meu arranjo para três pianos da belíssima “Bachianinha Nº 1” para o autor, o mestre Paulinho Nogueira. Ele me retribuiu a homenagem oferecendo a sua parceria tanto no arranjo como na execução de outra música de sua autoria: “Choro Chorado”. Roberto Barbosa  (Canhotinho) sempre tocava seus choros nas festas e rodas.

Um dia ele estava tocando “Chorando na Rua”. Gostei muito. Pedi-lhe que tocasse de novo e gravei. Uma semana depois, eu e Canhotinho compusemos um arranjo para o meu CD. Israel de Almeida faz comigo um duo de violão e piano há um ano. Pedi-lhe um arranjo para a composição “Dona Nega”, do seu irmão, o mestre Izaías Bueno de Almeida, e ofereci-lhe um arranjo para o seu lindo choro “Soros”.

O Israel presenteou-me com a sua participação em duas faixas do disco: “Uma Noite no Sumaré”, de Esmeraldino Salles, e “Equilibrando”, de Esmeraldino Salles e Orlando Silveira. Francisco Araújo é o único parceiro que não é paulista. Porém, é um grande estudioso e amante da obra de Dilermando Reis – um gigante do violão e um grande paulista.

Por esse motivo, pedi-lhe um arranjo para o choro “Catinguelê”. O resultado foi um duelo de piano e violão, que pode ser conferido na Faixa nº 5 do CD. Meu professor e grande amigo Laércio de Freitas me deu um arranjo de sua autoria para a  sua composição “Camundongas”. Tenho mais duas grandes amigas nesse disco, que são as excelentes percussionistas: Roberta Valente e Kika Hein.

07) RM: Qual a importância do seu disco para o movimento do Choro paulista?

Dudáh Lopes: A importância está no resgate, na preservação, na conservação dos valores culturais. Como as novas gerações vão conhecer o Choro de São Paulo sem registros? São obras de muita qualidade, criadas por músicos talentosos, indispensáveis para quem quiser conhecer ou estudar boa música.

08) RM: Quais são os mestres do Choro Paulistano na sua opinião?

Dudáh Lopes: Os grandes chorões da nossa cidade? Sem pestanejar, respondo que são os meus “pais de choro”: Os irmãos Izaías e Israel Bueno de Almeida.

09) RM: Qual a importância do piano no regional de Choro?

Dudáh Lopes: Não julgo exatamente o instrumento importante, mas sim a forma de tocá-lo. O piano é um instrumento solista e o choro é um gênero caracterizado pelo duelo de solos.

Por isso, é importante adaptar o piano ao Choro, fazendo com que ele seja capaz de solar num momento e mesclar-se ao balanço da base para que outro instrumento possa solar. Essa mescla precisa ser perfeita, para não “endurecer” ou descaracterizar o choro.

Assim, o piano pode, por exemplo, “caminhar” em terças ou responder frases feitas pelo violão de 7  cordas, “provocar” o solista com pequenos “comentários”, ou “brincar” tanto com o cavaquinho como com a percussão. Tudo isso sem mascarar ou atrapalhar o solo do outro.

10) RM: Cite outras pianista que tocaram em Regional de Choro.

Dudáh Lopes: Chiquinha Gonzaga foi a grande “mãe”. Depois vieram: Tia Amélia, Lina Pesce, Carolina Cardoso de Meneses, Clara Sverner, Eudóxia de Barros, Rosária Gatti, Maria Teresa Madeira, entre outras.

11) RM: Fale do panorama do Choro Paulistano do passado e de hoje.

Dudáh Lopes: Acho que, não só o Choro paulistano como o paulista, tem raízes e influências próprias, que lhe dão características específicas. Mas nunca foi muito divulgado.

12) RM: Como você analisa o desenvolvimento e expansão do Choro no Brasil hoje?

Dudáh Lopes: Está melhorando, mas falta muito. Em Brasília existe o Clube do Choro, escola para crianças e jovens, que já mostrou ótimos resultados, revelando grandes talentos.

O “Clube do Choro de São Paulo” é um projeto já em desenvolvimento e espera patrocínio para se tornar maior.  Vejo cada vez mais jovens gostando, estudando e tocando Choro e isso me dá coragem para continuar divulgando, propagando esse ritmo tão nosso.

13) RM: Quais são seus mestres do Choro do passado e de hoje?

Dudáh Lopes: Zequinha de Abreu, Tia Amélia, Pixinguinha, Jacob do Bandolim, Radamés Gnatalli, K-Ximbinho, Garoto, Canhoto da Paraíba, Canhotinho, Dilermando Reis, Luís Americano, Altamiro Carrilho, Laércio de Freitas Izaías e Israel de Almeida, entre muitos outros.  .

14) RM: Dudáh Lopes, quais os projetos para 2003?

Dudáh Lopes: Continuar batalhando para nossa música ser conhecida, divulgada, amada e respeitada.

Dudáh Lopes:  Contato: (11) 3966 -2384 | 99204-2037 – com João Moreirão | [email protected]

https://www.facebook.com/dudah.lopes

 


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