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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Mestre Lucindo “Poeta da Ecologia” – Carimbó: Um Canto Caboclo

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Por Antonio Maciel*

Carimbó: Um Canto Caboclo” (**).

Lucindo Rebelo da Costa – “Mestre Lucindo” -, como era conhecido no universo do “Carimbó praieiro”, nasceu em 03 de março de 1908, em “Água Boa”, lugarejo em Marapanim – PA. “Sou poeta de natureza” – disse-me ele um dia, em andanças pelas praias ou à margem do Marapanim, quando eu coletava dados para os estudos de Mestrado na Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUC, concluído em 1983. De fato, Lucindo era dotado de uma natureza poética nascida de sua intrínseca relação com a paisagem natural, perene fonte de inspiração para versos de rimas ricas preciosas, de métricas perfeitas! A arte de fazer cantorias do Carimbó brotava de forma livre, espontânea, sem amarras ideológicas. A poética de Lucindo vem da beleza de sua alma cabocla de forma intuitiva. A ausência de escolaridade não lhe fez falta, permitiu-lhe penetrar mundos recônditos do imaginário, sem se deixar prender no labirinto da caverna de Platão. Seu processo de aprendizagem dispensa professor. Lucindo é mestre de si mesmo. O saber poético de Mestre Lucindo emerge de sua aguçada observação do universo natural, de cenas colhidas na labuta dos roçados ou durante as lides de pescador. O poeta fez das cenas do seu cotidiano rico repertório de Cantorias do Carimbó.

Carimbó deriva do Tupi “curimbó”, significa tronco oco, rústico tambor antes escavado a fogo, utilizado por indígenas da Amazônia em suas celebrações tradicionais festivas. Constituído de musicalidade ecológica, dança e canto – cujas referências históricas apontam para o indígena como criador da prática etnomusicológica milenar-, o Carimbó enriqueceu-se com os contatos entre europeus e africanos (MACIEL, PUC/1983). A contribuição europeia deu-se primeiro com a importação de instrumentos para a catequese indígena, inserção da indumentária – roupas e adereços. A orquestra original descrita pelo cronista jesuíta João Daniel, em 1767 – curimbós, flautas, maracás – foi posteriormente acrescida de novos instrumentos musicais europeus e norte-americanos: violino, viola, flauta transversal, saxofone, clarinete, banjo etc. Porém, sua maior interferência ocorreu com a proibição do ensino do Tupi e imposição do Português, após a expulsão dos padres jesuítas pelo Marquês de Pombal (1759). Isto explica porque a poesia do Carimbó mantém o idioma lusitano. Contudo, o poeta inspira-se na ambiência amazônica.

O homem da Amazônia – em especial os povos da floresta, ribeirinhos, litorâneos – vive em função da cosmogonia periódica da vida, processo cíclico ditado pelas águas, precisamente pelos fenômenos da enchente e vazante das marés, que são determinantes do movimento de manutenção cíclica das espécies vivas, sejam animais – aí estão inclusos os seres humanos – sejam vegetais, “numa simbiose tão perfeita que só pode ser atingida por via do mito”  (SANTIAGO,1986).Todo o ecossistema se renova à época da estação chuvosa na Amazônia. Aos primeiros repiquetes da cheia, cardumes buscam as cabeceiras dos rios, para cumprir o ciclo anual da procriação, durantes as piracemas! A biodiversidade amazônica entrelaça-se com os valores mais significativos daquele universo, neste “casamento da terra com a água” (Idem, 1986). Homem, fauna e flora envolvem-se numa mútua relação de cooperação, comungando da mesma fonte de vida acessível a todas as espécies: a Natureza! Diferentes personagens são atores humanizados pelo poeta, no teatro-show da vida neste exuberante palco verde, num jogo de perfeito equilíbrio e harmonia. “Fogo, terra, água, ar são altares sagrados onde o homem sacrifica os seres vivos e a si mesmo, a morte de uns perpetuando a vida de outros, no mito do eterno retorno” (MACIEL,1995).

Guardião da ecologia!

A partir da chegada de grandes empresas madeireiras, agropecuárias, pesqueiras, abertura das estradas de rodagem à região (década de 1940), essa harmonia será quebrada. O real e o imaginário amazônico permearão os versos do poeta, e ele se utilizará de uma rica linguagem metafórica, para associar a luta pela sobrevivência na cadeia alimentar, entre espécies, aos dramas humanos vivendo numa sociedade desigual, diante de um sistema de exploração do homem e do meio. O pescador-poeta Lucindo é o porta-voz desse mundo em transformação.

Reunidas numa vasta antologia poética de abrangência amazônica, as histórias e cantorias de Lucindo – de sabedoria secular, de imenso valor linguístico-literário – são falas de resistência, de denúncia e alerta contra ações predatórias cometidas pelas grandes empresas capitalistas, as quais têm se constituído séria ameaça à ecologia e à economia sustentável do caboclo. O poeta Lucindo é comprometido com a luta diária do seu universo pesqueiro; defende espécies ameaçadas pelo homem inescrupuloso. Personagens reais ou lendários – pássaros, répteis, peixes, yaras, encantados – ganham forma humanas nos versos autodidatas de Lucindo, em que o mito, a realidade, a poesia e o imaginário fundem-se numa simbiose, neste jogo da vida.

O Canto Amazônico de Lucindo (MACIEL, 2017).

Meu primeiro encontro com Mestre Lucindo aconteceu em 1980. Acontecia o IV Encontro do Carimbó de Marapanim, promovido pelo antigo MOBRAL. Lucindo estava com o seu conjunto fazendo uma “roda de Carimbó” em sua residência. Identifiquei-me como estudante que viera estudar sua poesia. Como prova, mostrei-lhe uma Carta que trouxera da PUC. Mas, ele disse com profunda simplicidade: “Não frequentei escola”. E o pescador-poeta falou-me uma frase, que mudou meus tradicionais conceitos acadêmicos: “Durante a minha pescaria eu estudava a natureza, então, fazia os meus versos; o banco da minha canoa foi a minha escola”.

É nesta incrível viagem que vamos embarcar e desvendar um pouco do imaginário amazônico de suas histórias e cantorias. É uma viagem fascinante pela oralidade, romances amorosos, conflitos humanos, cantigas de amigo de um eu-lírico guardião da vida e do amor à natureza. Nesta luta inquietante em defesa dos direitos inalienáveis humanos, ou em favor da ecologia, utiliza-se de breves narrativas com extremo poder de síntese poética. Na cadeia alimentícia, a astúcia é arma eficiente usada pelo predador contra a presa desavisada. É preciso atenção!

“Periquitambóia pendurada no caminho / Pra comer, comer o passarinho / Olha a cobra, passarinho Xô! Xô! / Olha a cobra, passarinho Xô! Xô! ” (M. Lucindo).

A periquitamboia – cobra verde em Tupi – serve-se do mimetismo para seduzir sua presa. Camuflada por entre folhagens e galhos de árvores, a serpente aguarda o momento propício para atacar. Assim é na cadeia alimentar. No âmbito social, a “periquitambóia” é um símbolo do discurso ideológico. Construído para atingir determinados objetivos, devora consciências e mata de maneira quase imperceptível. A luz da consciência em defesa da vítima é o seu grito de alerta: “Olha a cobra, passarinho”! A relação predatória alimentícia em que pequenos seres estão sempre ameaçados por predadores de maior porte, é uma temática constante na poesia de Lucindo. Outra espécie bastante ameaçada por grandes predadores que atacam de cima é o “sarará”. O minúsculo crustáceo é presa fácil dos guarás e maguaris. É preciso ficar atento!

“Quem tem a vida arriscada na praia é o sarará / Quando nem bem ele pensa lá chega o guará / Cuidado sarará que lá vem maguari / Se ele te pegar sarará tenho pena de ti (M. Lucindo).

O sarará vive ameaçado por predadores que atacam de surpresa, iminente, preciso! Porém, a  maior ameaça para esse invertebrado é a presença humana na região de mangue, seu habitat natural. Assim como o caranguejo, ele tem importante função no equilíbrio do ecossistema. Orifícios em que moram liberam gases, que emanam do solo lamacento dos manguezais. As ações predatórias do homem são constantes: desastres ecológicos, poluição, pondo em risco aquelas espécies e outras que compõem o ecossistema. O poeta age como guardião zeloso: “cuidado, sarará”! A imagem de pássaros aprisionados em gaiolas também chama a atenção do poeta, que clama por seu direito à liberdade! O canário é o motivo de inspiração do poeta:

Eu tenho pena do meu canário / Que vive preso numa gaiola / É prenda é prenda é prenda / É prenda de uma senhora(M. Lucindo)

O poeta é apaixonado por sua terra natal. Os desafios por que passa na labuta dos roçados ou da pescaria, leva-o a arraigar-se, a apegar-se ao lugar em que nasceu, criando profundas raízes de afetividade, talvez por ele ter plantado – em cada pedaço de chão ou em cada braço de mar – uma esperança de vida. O sentimento regionalista transforma a paisagem natural, o faz descobrir infinitos tesouros ocultos no imaginário; princesas encantadas ecoam seu canto do fundo das águas escuras do Maiandeua, à espera de um herói que a venha libertar:

“A praia de algodoal / É linda e tem riqueza / No farol do maiandeua / Aonde mora a princesa / Eu já vi a princesa falar / Eu já vi a princesa cantar / No farol do maiandeua / Na praia de Algodoá(l)” (Mestre Pedro da Vila Maú).

A figura da mulher amada é temática constante nos versos do poeta-caboclo. Qual menestrel apaixonado, o eu-lírico rende-se à beleza encantadora da jovem, e sonha com o inatingívelOi menina bonita / tem seu anel de ouro /  Parece um tesouro / No dedinho dela / Ai quem me dera / Se eu fosse rico / Se eu tivesse dinheiro / Casaria com ela” (M. Lucindo).

O poeta é guardião zeloso, defendendo os pequeninos seres de forma imperativa: “Não mate”! Filósofo atento, observa que todos têm função na natureza. A rolinha é um predador natural, importante para o equilíbrio no controle das pragas. Antes de tudo, ela é do coração do poeta!

“Minha rolinha que marisca pelo ar / Não mate a rolinha / Não sabe avoar / Minha rolinha que marisca pelo chão / Não mate a rolinha / É do meu coração” (M. Lucindo).

Trilogia Poética: “Carimbó e Trabalho” (SALLES, 1969).

Infância feliz!

A Antologia poética de Lucindo divide-se basicamente em três fases, ligadas às temáticas do trabalho da terra ou do mar. Na primeira, identificamos lembranças de sua infância desfrutada na companhia dos pais na labuta das fazendas de paulistas e mineiros, os quais fixaram-se na região das “terras firmes” ou da “água doce”, a partir das primeiras décadas do século XX.

“Eu nasci na verde rama / Naquela terra mineira / Meu pai foi peão paulista / Minha mãe foi boiadeira

Gozei a minha infância / Na campina brasileira / Na costa de um burro branco / Foi a minha brincadeira” (M. Lucindo).

O poeta guarda belas lembranças da infância feliz vivida quando os pais eram agregados da fazenda, “peões de boiadeiro” – pai e mãe! A casa do menino Lucindo era verdadeiro jardim:

Esta casa está bem feita / Por dentro e por fora não / Por dentro cravos e rosas / Por fora é manjericão.

Minha mãe é uma rosa / Eu sou filho da roseira / Meu pai é um cravo cheiroso / Jardim do meu terreiro(M. Lucindo).

Devastação da verde rama!

A devastação de imensas áreas verdes para exploração madeireira, a abertura de estradas de rodagem, feitura de pasto bovino, para a agricultura, mudou a paisagem regional, desde1940.

Em cima daquele morro / Passa boi passa boiada Onde passa a moreninha / Do cabelo cacheado Olha a volta que o carneiro deu /  Olha a volta que o carneiro dá” (M. Lucindo)

A modernização do instrumental de trabalho utilizado em suas práticas tradicionais provocou mudanças significativas na relação homem-natureza: rompeu o elo do cordão umbilical que o manteve secularmente ligado ao universo natural, desenvolvendo atividades cotidianas das pescarias e dos roçados. O poeta denuncia a devastação de bosques, exploração madeireira; florestas deram lugar à pastagem bovina. Os versos do poeta registraram aquela devastação:

O pau rolou rolou rolou / O pau caiu caiu no chão O pau rolou rolou rolou / Foi lá no tempo do verão (M. Lucindo):

A poesia cabocla alerta para o risco de destruição da natureza. Preservar a fita-verde – a linha da mata onde o Sol se põe – é garantir a floresta viva, o futuro da Amazônia e do planeta: “Se eu soubesse que tu vinhas / Eu fazia o dia maior Dava um nó na fita-verde / Pra prender os raios do Sol” (M. Lucindo).

Conhecimento empírico da terra! 

Num tempo em que o homem não dispunha de tecnologia para nortear-se em seus afazeres, havia a necessidade de ele aprender com sinais da natureza. O canto pontual do juriti anuncia o fim de mais um dia de labuta nos roçados. A amada já espera, ansiosa, seu retorno à casa: “Juriti cantou lá beira do roçado / A noite já vem chegando / Esperando o namorado / Não chegou o namorado” (M. Lucindo).

Lucindo fala em seus versos de um tempo em que o homem interiorano ainda desenvolvia as práticas agrícolas de acordo com antigas tecnologias rudimentares herdada de antepassados. O conhecimento empírico é repassado de geração a geração através de práticas tradicionais:

“Plantei mangueira em terra / Amendoeira no mangá(l) Mangueira já deu fruto / Amendoeira não quer dá (M. Lucindo).

O avanço acelerado de grandes empresas capitalistas da agricultura intensiva, de extrativismo madeireiro indiscriminado, empurrou aquelas comunidades que desenvolviam uma agricultura de subsistência, para centros urbanos desenvolvidos, que oferecessem perspectivas melhores de vida, possibilidades de estudo e trabalho. Outras buscariam, no litoral, desenvolvimento de uma economia alternativa baseada na pesca artesanal. Mas, ali também seriam ameaçados!

“Êxodo para o Litoral: Pesca Alternativa” (FURTADO,1987).

Interagir com espécies tornou-se vital para o pescador, sem relógio para lhe dizer a hora exata de lançar-se ao mar, e obter êxito em sua pescaria. Era vital compreender a fala dos ventos e das marés na voz do maçarico:

Maçariquinho no meio do igarapé / Fazendo pé ré ré na reponta da maré / Pé ré ré  / Pé ré ré / Pé ré ré / Fazendo pé ré ré na reponta da maré(M. Lucindo)

A reponta acontece quando a maré passa do movimento de vazante para o de enchente.

– “O maçarico é o relógio do pescadô: ele avisa a gente na hora da reponta da maré!Ele sabe quando a maré vai repontá. Ele canta purque sabe que a maré vai trazê cumidinha pra ele. Então, pescadô se prepara. A gente num vive sem o maçarico” (Pescador Lucindo).

O pescador artesanal, quando estava em alto mar, norteava-se pelos ciclos lunares. “A lua era a minha namorada. Quando eu me sentia sozinho em alto mar, sem saber onde estava, eu conversava com a lua”!

A lua sai de madrugada / Sai no romper do Sol / Ela sai acompanhando / Os namorados que andam só. Ô lu ô lu ô luar / Me leva contigo pra passear (M. Lucindo).

Pesca Predatória: O Poeta Exige Explicação! 

Porém, logo inúmeros produtos industrializados foram incorporados às práticas existenciais do caboclo – relógios, motores de popa, redes fabricadas em nylon – dentre outras tecnologias, comercializadas através do intercâmbio entre capital e interior. A modernidade trouxe algumas vantagens ao caboclo: possibilitou-lhe sobreviver à corrida por sua sobrevivência imposta por grandes empresas pesqueiras. Mas, além da perda das rodas sociais, em que conhecimentos e saberes eram repassados aos jovens, trouxe também mudança significativa na sua relação com o meio; mudou sua visão de mundo, distanciando-se da natureza e de seus “parceiros”. A modernidade causou prejuízos, alterou a geografia física e social do Salgado (MACIEL,1995).

Obrigado a modernizar-se, o pescador artesanal abandonou os saberes tradicionais fruto da sabedoria secular – fabricação de redes de pesca, o que exigia conhecimento empírico, desde  as luas certas para colher as fibras de Envira utilizadas no processo de tecelagem das redes pesqueiras, com agulhas de madeira -, até a confecção das malhas apropriadas para pegar o peixe segundo a sua espécie e tamanho. Havia uma certa consciência de pesca sustentável.

Por sua vez, as grandes companhias pesqueiras invadiram os oceanos com suas poderosas redes-de-arrasto e arpões automáticos em potentes barcos motorizados. A pesca predatória capitalista indiscriminada chamou a atenção do velho pescador Lucindo, que, já aposentado – “vendi todos os meus utensílios” – não se aposentara da luta em prol da preservação daquele universo pesqueiro ameaçado. Lucindo exige uma explicação para a extinção das espécies!

Pescador pescador por que é / Que no mar não tem jacaré? Pescador pescador por que foi / Que no mar não tem peixe-boi? Eu quero saber a razão / Que no mar não tem tubarão! Eu quero saber por que é / Que no mar não tem jacaréAh! Como é bom pescar / Na beira-mar, noite de luar!” (M. Lucindo).

Perguntei sobre o verso “eu quero saber a razão por que no mar não tem tubarão”, ele disse-me que devido a pesca predatória, a espécie agora só era pescado em alto mar: “Tubarão não existe mais por aqui. Tem muito tubarão aí pra fora, nos oceanos, mar a dentro. Aqui neste perímetro ele não chega mais, porque não pode vir. Não pode vir porque tem rede esperando por ele na boca do rio, onde fica engatado e morre. A rede agarra ele e o pescador mata a paulada, na beira da canoa. Mas quem acabou mesmo com os tubarões foram pescadores motorizados, em grandes embarcações a motor, arpão automático e “caçoeira”. Eles gostam de pegar tubarão porque tudo no tubarão é vendável! É a aba, é a pele, é a carne, é o dente…Tudo isso é aproveitável. Os homens compram e é caro! A aba é mais cara do que a carne. Levam aí pro estrangeiro, pra fazer o quê eu não sei…” (MACIEL,1995: p. 150).

Sobre os versos “eu quero saber por que foi que no mar não tem peixe-boi” e “eu quero saber por que é que no mar não tem jacaré”, disse-me com profunda sabedoria: “Tem muito peixe-boi da água doce que vive também no mar! Tem jacaré nos rios e nos oceanos. Quando cresce é uma fera! Peixe-boi é da água doce, mas dá também no mar. Aqui perto tem um pasto dele. Peixe-boi. Ele pasta, é igual boi. Ele buia pra comê o capim…Carne de peixe-boi tem gosto de carne mesmo. O couro dele é remédio. Se Deus o livre um espinho ou um estrepe quebra dentro do pé da gente, é só colocar um pedaço do couro de peixe-boi em cima da furada, com andiroba, carrapato e outros ingrediente. Ele puxa o estrepe. O couro do peixe-boi…” (MACIEL,1995: p. 154).

Desse modo, os tradicionais padrões existenciais – redes pesqueiras, embarcações movidas à vela ou a remo de faia, e a necessidade de observação da natureza – perdem-se no ritmo acelerado das modernas tecnologias. Lucindo é o porta-voz desse mundo em transformações. A Antologia Poética é um registro histórico e socioambiental de um tempo pretérito, sem volta!

(*) Antonio Francisco de Almeida Maciel  é acreano. Estuda Carimbó e Falares amazônicos há 41 anos (1981)! É Professor do IFPA/Castanhal.

Contatos: (93) 99164 – 4054 (WhatsApp) | [email protected] | Esses são os contatos para quem tiver interesse na tese “Carimbó: Um Canto Caboclo” do Antonio Francisco de Almeida Maciel  – Dissertação de Mestrado (PUC/1983).  Orientador: Prof. Dr. Flávio Renê Kothe

Tese “CURIMBÓ ANCESTRAL”: TIMBRES, VOZES E RITMOS DA FLORESTA em pdf:

https://ipeasa.org/anais/ICIIPEASA_2018_paper_10_%20Antonio%20Francisco%20de%20Almeida%20Maciel.pdf

Inventário Nacional de Referências Culturais – Carimbó em pdf:

http://portal.iphan.gov.br/uploads/ckfinder/arquivos/Invent%C3%A1rio%20Nacional%20de%20Refer%C3%AAncias%20Culturais%20sobre%20o%20Carimb%C3%B3.pdf

carimbó: Processo de reconhecimento do ritmo como Patrimônio Imaterial Cultural do Brasil poderá ser revisto: https://www.para1.com.br/noticia/17782/carimbo-processo-de-reconhecimento-do-ritmo-como-patrimonio-imaterial-cultural-do-brasil-podera-ser.html

(**) Referências Bibliográficas: (1) FURTADO, Lourdes Gonçalves. Curralistas e Redeiros de MarudáPescadores do Litoral do Pará. Editora CNPq/MPEG. Belém: 1987; (2)  MACIEL, Antonio Francisco de Almeida. “Carimbó: Um Canto Caboclo – Dissertação de Mestrado (PUC/1983); ­______. “A fala dos pescadores do Salgado – Pará. Mudanças etnolinguísticas provocadas pela modernização – Tese de Doutorado (USP/1995); ___.“Imaginário amazônico, metáfora e oralidade no Canto do poeta-pescador Lucindo – O Mestre do Carimbó”. Artigo ENGRENAGEM, IFPA-Belém, Ano VII, Nº 13, Belém/Pa. – Junho/2017: p. 09 a 21; (3) SALLES, Vicente e SALLES, Marena Isdebsk. Carimbó: Trabalho e Lazer do Caboclo. Revista Brasileira do Folclore. Rio de Janeiro/RJ:1969;(4) SANTIAGO, Socorro. Uma Poética das Águas – A Imagem do Rio na Poesia Amazonense. Editora Puxirum – Manaus/AM: 1986.


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.