More Conrado Paulino »"/>More Conrado Paulino »" /> Conrado Paulino - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Conrado Paulino

Conrado Paulino
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O violonista, arranjador e compositor argentino Conrado Paulino, radicado no Brasil desde 1978 se destaca pela sua moderna linguagem harmônica e originalidade na improvisação. Apresenta uma cativante combinação de repertório brasileiro, linguagem jazzística e recursos do violão clássico.

Conrado Paulino aos 14 anos de idade, começou a estudar violão com o professor José Canet e também foi aluno de Jorge Molinari e Roberto Lara. Complementou sua formação com Nelson Ayres (arranjo), Fernando Motta (harmonia), Amilton Godoy (harmonia e composição).

Conrado Paulino acompanhou vários artistas de expressão da MPB como: Rosa Passos, Johnny Alf, Leny Andrade e Alaíde Costa (com quem gravou quatro CDs).

Como instrumentista, tocou junto com: Zimbo Trio, Paulinho Nogueira, Nivaldo Ornelas, Marco Pereira, Colin Bailey, Phil de Greg, John Stowell e com destacados instrumentistas latino-americanos, entre eles: Diego Schissi, Quique Sinesi, Alejandro Demogli e Alan Plachta. Escreveu arranjos para shows e CDs de: Alaíde Costa, Silvia Maria, Jardel Caetano, Mark Isbell, Keila Abeid e Marcia Mah, entre outros.

Além de participar em CDs de artistas de Brasil, USA e Uruguay. Conrado, gravou cinco CDs como líder: Quarteto (2005), Noches del Museo (2008), Wrong Way (2011), Quatro Climas (2015) e A Canção Brasileira (2018). Participou das coletâneas: Brazilian Songs Without Words (2007),  Cem Anos de Caymmi (2014),  e O Fator Guanabara: Canções para um Brasil Ideal (2016). 

Apresentou-se em vários Festivais de Música, entre eles: XII BarranquiJazz (Barranquilla, Colombia), Festival Guitarras del Mundo de Argentina (XII e XIV edições), II MI Fest (Montevideo, Uruguay), XII Festival Internacional do Violão Dilermando Reis (Guaratinguetá, SP), IX Festival de Violão da UFRGS (Porto Alegre, Brasil), III Festival de Violão de Teresina (PI, BR), I Mostra Internacional de Belo Horizonte (MG), Seminário de Violão de Itajaí (SC) (III e VII edições), 35° Civebra (Brasília, DF), Festival Música na Ibiapaba (CE). 

Professor de trajetória reconhecida, entre seus ex-alunos se encontram nomes de destaque do cenário nacional como os compositores: Chico César e Eduardo Gudin, os guitarristas: Tomati, Fernando Corrêa e Nuno Mindelis e os violonistas: Camilo Carrara e Paola Pichersky.

Ministrou cursos de violão, improvisação e harmonia em vários Festivais de Música, entre eles:  Curso Internacional de Verão de Brasília (CIVEBRA),  Oficina de Música de Curitiba,  Festival de Música de Ourinhos (SP),  Festival de Violão da UFRGS,  Festival de Música de Itajaí (SC) (4 edições) e Festival Música na Ibiapaba (CE) (5 edições).

Realizou Workshops e Master Class em diversas Universidades, entre elas: UFCA (Juazeiro do Norte, CE), Unesp (SP,SP), UFRGS (Porto Alegre, RS), UdelaR (Montevideo, Uruguay), UNA (Buenos Aires, Argentina) e FAAM (SP, SP), assim como nas principais escolas do país, entre elas a ULM – Universidade Livre de Música em São Paulo, EMT, Souza Lima/Berklee, CLAM e CEM-Sesc.

Conrado Paulino é um dos grandes arquitetos do violão brasileiro, acrescentando profundidade e beleza aos seus projetos (…) Ouvi-lo tocar sempre me dá inspiração” – Guinga (Carlos Althier de Sousa Lemos Escobar é um compositor e violonista).

“Além de solista virtuoso, Conrado se destaca como um dos grandes arranjadores para violão (…) sua obra nos brinda, simplesmente, com música instrumental brasileira da mais alta qualidade” – Paulo Bellinati (violonista, guitarrista, compositor e arranjador).

“… Conrado é um músico fino e sofisticado, com sólido conhecimento harmônico e ideia muito original para seus arranjos (…) tem grande intimidade com o violão, o que faz com que esses arranjos resultem sempre em música fluente e encantadora…” – Marco Pereira (violonista, compositor e arranjador).

“… é como se Baden Powell encontrasse Joe Pass…” – Fábio Carrilho, guitarrista e violonista que escreve para a revista Violão PRO

Segue abaixo entrevista exclusiva com Conrado Paulino para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 18.10.2019:

01) RM: Você é natural de que cidade e país? 

Conrado Paulino: Nasci em Buenos Aires – Argentina e moro no Brasil desde 1978. Registrado com o nome de Conrado Francisco Paulino Bonilla. 

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música.

Conrado Paulino: Não tenho parentes profissionais, mas, graças aos meus pais, a música de qualidade era bastante presente na minha casa. Meu pai tocava um pouco de Violão e tanto ele como minha mãe gostavam muito mesmo de cantar. Também tive a sorte de ter parentes e amigos que conheciam e me mostraram boa música popular como o jazz, a Bossa Nova e o Rock mais elaborado.

03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?

Conrado Paulino: Tenho Licenciatura em Música, além de muitos cursos e palestras de pedagogia, outra das minhas paixões.  Quando criança eu tive algumas aulas de violão popular e erudito, mas na época era muito novo e não soube aproveitar; em outras palavras, não estudava nada (risos).

Mesmo assim, essas poucas aulas me deram uma base técnica e teórica que fui desenvolvendo sozinho, graças a que realmente gostava de tocar e investia bastante tempo nisso. Mas, infelizmente, o fato de ser autodidata não me permitiu organizar e disciplinar melhor o estudo.

Na época eu fazia questão de ser autodidata e tinha orgulho disso. Achava que não precisava de professor e até tinha temor de que estudar formalmente poderia me atrapalhar ou no mínimo tolher mina musicalidade.

Hoje em dia vejo que isso é uma grande burrice. Não há professor que possa estragar o talento de um aluno. Pelo contrario, se o aluno tem talento e/ou facilidade, um professor vai lhe permitir andar mais rápido, antecipando informações que o autodidata ia acabar aprendendo com a prática, porém mais adiante, e provavelmente de forma desorganizada ou meio confusa.

O máximo que pode acontecer com um professor ruim é perder um pouco de tempo estudando assuntos desnecessários ou transmitidos de forma ineficiente. Mas não há como estragar a musicalidade de uma pessoa. Anos depois, quando já tinha começado a tocar profissionalmente, fiz o curso de arranjo do mestre Nelson Ayres, mas não cheguei a completa-lo porque era em São Paulo e eu morava em Campinas – SP, porém, me ajudou bastante.

Também estudei harmonia com Amilton Godoy. Mas, a coisa mais importante na minha formação foram os cursos de treinamento que eu fazia nos anos que trabalhei na Escola do Zimbo Trio (Clam – Centro Livre de Aprendizagem Musical). Tinha todo ano, duas vezes por ano. Enriqueceram-me muito, principalmente no conhecimento de pedagogia e didática.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Conrado Paulino: Eu sempre cito como minha influência primeira o grande Baden Powell. De fato, foi o primeiro violonista que me impressionou e que me incentivou a tirar as peças dele de ouvido, prática esta que foi fundamental na minha formação. Depois dele veio o Joe Pass, que me fez entrar no mundo do jazz.

Mas, na realidade, meu gosto musical sempre foi muito amplo, variado e eclético, de forma que há um grande número de artistas que ouvi e que de alguma forma soam na minha cabeça e me fazem ser o músico que sou. Talvez o mais importante seja Astor Piazzolla, mas com ele se misturam Carpenters, Beatles, James Taylor, Toquinho & Vinicius, Oscar Peterson, Emerson, Lake & Palmer, Silvio Rodriguez, Larry Carlton, John Coltrane, Joan Manoel Serrat, João Gilberto, Yes, Zimbo Trio, Modern Jazz Quartet, Mercedes Sosa, Dave Brubeck, Luis Alberto Spinetta, Sebastião Tapajós, Blood, Sweat & Tears, Daniel Viglietti e dezenas de outros artistas.

Todos tiveram importância no seu momento, mas, a medida que ia obtendo mais conhecimento, de fato alguns deixaram de me interessar. Entre eles: Al de Meola e Larry Coryell. Também a maior parte da música das bandas do rock progressivo hoje me soa forçada ou pouco criativa, mas quando era moleque eu gostava muito.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Conrado Paulino: Comecei em Campinas (SP). Eu era ainda bastante iniciante, mas tive a sorte de entrar numa banda de baile chamada “Enigma”. A banda pertencia a um pianista que já era dono de outra banda. Como não dava conta de tanto trabalho, criou uma segunda banda de baile. Naquela época havia bailes em todas as cidades do interior toda sexta e sábado à noite, além das “domingueiras” nos domingos à tarde e os bailes nos dias feriados.

Dava para um músico viver razoavelmente apenas tocando em bailes, duas ou três vezes por semana. Tocar em baile era uma grande escola, principalmente para se iniciar na profissão, já que as bandas ensaiavam semanalmente, de forma que dava tempo de tirar e aprender as músicas com calma. Além disso, o repertório era muito variado, fazendo o músico aprender a tocar samba, pop, bolero, rock, valsa, música romântica italiana, música portuguesa,  música internacional no geral, etc. E toda semana entrava música nova no repertório, conforme os sucessos da rádio.

O passo seguinte para um profissional era tocar na noite, onde nunca tinha ensaio e tudo era feito de ouvido e na hora. O cantor dava o tom e tinha que acompanhar no momento. Isso obrigava ao músico a ter um repertório enorme (e memorizado) e a transportar as harmonias para qualquer tom na hora mesmo. De fato, quando a banda de baile acabou por brigas internas, eu passei a tocar na noite de Campinas. Meu primeiro trabalho foi numa casa noturna com “jantar dançante”, muito comum na época. Havia um conjunto de Sambão e outro de música internacional, que na realidade tocava principalmente MPB.

Eu era o guitarrista desse conjunto. E, assim como o conjunto de baile, o repertorio ia se renovando, mas tudo sem ensaio era na hora mesmo. Quando mudei para São Paulo continuei a tocar na noite e, como é até hoje, o esquema era o mesmo: o cantor ou a cantora dizia o nome da música e o tom e todo mundo acompanhava na hora, sem ter ensaiado antes. Eu tive a sorte de ter acesso a essas duas grandes escolas, e na hora certa.

06) RM: Quantos CDs lançados?

Conrado Paulino: Tenho cinco CDs gravados como líder:

  • Quarteto (2005),
  • Noches del Museo (2008),
  • Wrong Way (2011),
  • Quatro Climas (2015),
  • A Canção Brasileira (2018).

Participei das coletâneas:

  • Brazilian Songs Without Words (2007),  
  • Cem Anos de Caymmi (2014)
  • O Fator Guanabara: Canções para um Brasil Ideal (2016).

Meu primeiro CD – “Quarteto” foi lançado em 2005 e traz Debora Gurgel tocando Piano e Flauta, Marinho Andreotti no Contrabaixo e Celso de Almeida na Bateria, além das participações especiais da querida Jane Duboc e do clarinetista Ademir Jr.

Em 2008 gravei um CD ao vivo na Argentina. Foi um show de comemoração dos 50 anos da Bossa Nova, encomendado pelo Museu Renault. O CD – “Noches del Museo – Conrado Paulino” (Track&Trace).

Em 2010 saiu meu CD de Violão solo chamado “Wrong Way”, que tinha como convidados especiais o incrível clarinetista Alexandre Ribeiro e os percussionistas Ari Colares, Beto Angerosa, Celso de Almeida e Dinho Gonçalves.

Em 2015 saiu o segundo CD do meu “Quarteto”, chamado “Quatro Climas”. Nesse CD está presente mais uma vez Debora Gurgel no piano e Marinho Andreotti no contrabaixo, desta vez com Percio Sapia na bateria. Esse trabalho tem as participações especiais de Lea Freire (flauta), Alexandre Ribeiro (clarinete), Daniel D’Alcantara (trompete) e Tatiana Parra (voz).

E em 2018 saiu o mais recente trabalho, o CD – “A Canção Brasileira”, mais um CD de violão solo, apresentando meus arranjos e improvisações sobre o repertório brasileiro. Para minha alegria, todos esses trabalhos ganharam resenhas elogiosas em jornais, revistas e sites.

Pouco a pouco esses “filhos” vão me dando pequenas alegrias. Por exemplo, a minha composição “Samba de Catalina” (presente no CD – “Quarteto”) ficou 15 dias em segundo lugar do Top Ten downloads do prestigioso site All About Jazz, atrás do famoso trompetista Terence Blanchard. E a minha versão de “Ana Julia” é uma das faixas mais vendidas nesse nicho de mercado no Japão.

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Conrado Paulino: Como violonista, me inscrevo dentro da escola brasileira de violão, numa linha próxima dos mestres que tem mais contato com o jazz, como Lula Galvão, Toninho Horta e Hélio Delmiro. Já o som do meu Quarteto é o que no exterior costumam chamar de “Brazilian jazz”, aqui no Brasil chamaria de música popular brasileira instrumental.

08) RM: Como é o seu processo de compor?

Conrado Paulino: Não tenho um processo definido nem uma rotina para compor, nem sou do tipo de compositor que “senta para compor”. A maioria das minhas composições surgiu de forma espontânea, sem muita elaboração. Na maior parte das vezes, eu estou tocando violão ou piano e de repente surge uma ideia, vou seguindo a intuição e pronto. Não sei se isso é bom ou é ruim, mas comigo sempre foi assim. Mas nem todas as ideias prosperam. Pelo contrario, muitas são descartadas ou acabam esquecidas.

09) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Conrado Paulino: Tenho poucos parceiros, são todos letristas: Lisyas Ênio (irmão de João Donato e seu principal letrista), o gaúcho Rodrigo Panassolo e o carioca Francisco Blanco, infelizmente já falecido, e que foi parceiro, entre outros, de João Donato e Filó Machado e integrante da ala de compositores da Escola de Samba Mangueira. Mas, tenho várias composições à espera de uma letra.

10) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Conrado Paulino: O artista independente é dono do seu trabalho e faz exatamente o que ele gosta, mas não dispõe de recursos financeiros nem de estrutura para poder se dedicar apenas ao trabalho criativo. Mas, de qualquer jeito, no nicho em que eu atuo que é o da música instrumental, a carreira só pode ser levada adiante de forma independente.

Houve um curto período em que as grandes gravadoras financiaram trabalhos de música instrumental de qualidade. Foi durante os anos 80, quando ocorreu certo “boom” de música instrumental.  Mas hoje em dia não há a opção de sacrificar a liberdade criativa em troca de suporte financeiro. Para quem trabalha com música de qualidade, ou seja, música “não comercial”, a única opção é a carreira independente.

11) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Conrado Paulino: Pertenço a uma geração que não tinha consciência da necessidade desse planejamento que, dadas às condições atuais do mercado musical, hoje é imprescindível. Quando eu comecei a trabalhar profissionalmente parecia que o trabalho nunca iria acabar e quase ninguém pensava em estabelecer metas e objetivos profissionais.

Hoje em dia o pessoal tem consciência de que é necessário se enxergar como um produto ou uma marca que precisa se posicionar no mercado e divulgada. Eu demorei bastante para me assumir como “artista”. Trabalhei muito tempo como operário da música, sem me preocupar em levar adiante meu trabalho próprio.

Acordei um pouco tarde para a batalha de mostrar e registrar minha música. Hoje compenso esse “atraso’ no gerenciamento da carreira através da divulgação do meu trabalho na internet com: vídeos, áudios, material didático, fotos, etc. E também estabelecendo contatos profissionais visando realizar concertos ou atividades pedagógicas. É um trabalho constante que demanda um bom tempo semanal.

12) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Conrado Paulino: Além das que citei na resposta anterior, tento estar presente para o meu público e estou sempre atento a possíveis oportunidades, seja um festival, uma escola que está realizando workshops, um lugar novo para me apresentar, etc.

Também faço constantemente divulgação do meu trabalho como músico e professor nas redes sociais, além de investir eventualmente em publicidade paga. Tenho cinco métodos publicados e planejo lançar mais, e isso também é uma parte importante da minha carreira musical. Além disso, no momento estou na fase de planejamento de uns cursos on-line e de vídeo-aulas em parceria com uma editora do ramo musical. Também estou planejando o próximo CD.

13) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?

Conrado Paulino: Acredito que mais ajuda do que prejudica. Muitas pessoas conheceram a minha música graças à internet, e não a teriam conhecido de outra forma. Ganhei fãs de lugares e países que nunca ia atingir não fosse o alcance incrível da internet. Isso, sem contar a quantidade de artistas maravilhosos que descobri e que também nunca teria conhecido. Essa divulgação maior pode render mais prestigio e satisfação pessoal para o artista.

Mas não necessariamente se reverte em mais trabalho ou retorno financeiro. O lado ruim é que a oferta de aulas gratuitas ou muito baratas é imensa. A maioria não é de boa qualidade, mas, o fato de ser grátis pesa muito para o internauta. Vejo uma grande redução no número de alunos entre os meus colegas e principalmente nas escolas de música particulares.

Claro que os alunos adiantados e/ou que tem real intenção de se tornarem profissionais – principalmente os alunos de música clássica – sabem que não há como substituir a aula personalizada com um professor de alto nível. Mas, embora o número desse tipo de aluno se mantenha estável, sempre foi a parcela minoritária entre os alunos.

Outro fator ruim da internet é que muitos jovens cresceram ouvindo música gratuitamente pela internet e para eles a música “brota” de graça na internet, não faz sentido pagar por ela, e nem imaginam que existiu um tempo em que um fã ia até uma loja para comprar o último disco da sua banda preferida. E mesmo tendo a música distribuída pelos serviços que cobram alguma coisa do usuário, como Spotify e Deezer, o retorno é muito baixo, em torno de 0,02 centavos por execução.

14) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso à tecnologia  de gravação (home estúdio)?

Conrado Paulino: A tecnologia quase sempre é neutra, não é boa nem ruim, depende do uso que se faz dela. Os recursos de gravação permitem ajustes maravilhosos que podem realçar o talento dos músicos, mas, também podem ser utilizados para mascarar os defeitos.

No caso do home studio, é maravilhoso poder gravar na comodidade da casa, mas, para gravar com alta qualidade ainda é necessário um bom estúdio de gravação. Nem tanto pelo equipamento utilizado e sim pelos recursos acústicos da sala onde será feita a gravação. E um técnico de gravação experiente também ajuda muito, ele pode dar dicas valiosas que podem poupar tempo e esforço e/ou deixar o artista mais à vontade.

15) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Conrado Paulino: Como disse antes, pertenço a uma geração cuja maioria não pensava em “carreira musical” e sim em simplesmente tocar e tocar. Dentro da música instrumental, os melhores se destacavam naturalmente, sem um planejamento, estratégias de marketing, etc. Hoje em dia isso não é mais possível justamente pela enorme concorrência.

Atualmente há muitos músicos talentosos, e os instrumentistas das novas gerações tocam mais, melhor e antes. É muito difícil se diferenciar nessa multidão. Para piorar, há um excesso de oferta (de músicos) e uma queda drástica de demanda, que é a pior combinação. Nesse contexto, ter “visão empresarial”, empreendedorismo, planificar a carreira e saber gerenciá-la é um fator importante.

Alguns conseguem “aparecer” mais do que outros graças a esses recursos que antes pareciam tão alheios à atividade musical, mas que hoje se tornaram quase imprescindíveis. Isso significa que, entre 300 trompetistas da mesma qualidade e competência, quem vai conseguir mais espaço vai ser o mais esperto no marketing pessoal. E, na realidade, nem precisa concorrer com aqueles de nível igual ou superior já que muitas vezes o melhor de marketing não é o melhor como artista. Isso não é um fenômeno de agora, sempre foi assim.

Mas, quando junta marketing eficiente com grande capacidade de trabalho e talento especial, o resultado é maravilhoso, como é o caso do gênio Pat Metheny, uma espécie de Steve Jobs da música. Visionário na música e no business. Quando comecei a dirigir meus esforços para difundir minha música não pensei em como me inserir no mercado nem pensei em estratégias para me diferenciar ou aparecer mais. Por sorte, acho que o meu estilo me permitiu encontrar o meu lugar de uma forma natural. Isto é, não considero minha forma de tocar melhor ou pior que outras, mas, percebo que é bastante original, bastante diferenciada dentro do violão brasileiro.

Isso ajuda a ter uma “marca”, uma personalidade musical. Mas, ter essa personalidade não significa que se atinja um público maior, nem é sinônimo de qualidade. Porém, quando aparece aliada ao talento, é a combinação ideal. Bastam algumas notas para reconhecer o som de Pat Metheny, George Benson, Paul Desmond ou Bil Evans, por exemplo. Essa voz própria, característica e inconfundível é o bem mais precioso e difícil que um músico pode conseguir.

16) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Conrado Paulino: Na década de 90 os músicos reclamavam da forte presença de música estrangeira nas rádios, nas novelas, nas “paradas de sucesso”, houve até várias tentativas de impor uma cota mínima obrigatória de música nacional nas rádios e TVs. Hoje música feita no Brasil representa a maior fatia do mercado musical.

Ou seja, nunca se fez e vendeu tanta produção nacional. Mas, infelizmente estamos falando da atual música Sertaneja, FUNK carioca, Forró (ambos com conteúdo bastante grosseiro) e algo de Axé music e Pagode. Ou seja, “música” exclusivamente de entretenimento, funcional, e criada desde o começo como produto, visando à maximização do lucro.

Houve um tempo em que existia música com pretensões artísticas  – isto é, não era planejadamente para fazer sucesso e, consequentemente, ganhar dinheiro – e que ao mesmo tempo podia ter sucesso comercial.  Existiam também músicas “comerciais”, porém elaboradas com certo esmero nos arranjos, interpretação, letra, etc.

Ou seja, um entretenimento de qualidade. Cabe notar que a fronteira entre esses dois tipos era e segue sendo indefinida e discutível. Atualmente, quem trabalha no cenário do mercado comercial está muito bem, e quem trabalha no restrito mercado artístico ou de entretenimento com qualidade tem um espaço muito restrito.

E não é só no Brasil, é um fenômeno mundial. Não saberia dizer quais artistas regrediram, mas sim posso afirmar que, apesar das dificuldades e da falta de divulgação, a música brasileira de qualidade vai muito bem, obrigado. Há um grande número de novos instrumentistas, intérpretes, compositores, arranjadores de altíssimo nível.

E hoje é a música é mais “brasileira” ainda, no sentido de que a produção de qualidade já não está só no eixo Rio-São Paulo, há artistas excelentes de Norte a Sul. Hoje o pessoal toca mais, melhor e antes. Infelizmente, poucas pessoas ficam sabendo, mas esse é outro assunto. Se fosse destacar alguém, teria que citar muitos nomes e posso cometer injustiças, por isso vou me limitar a citar o artista que é para mim o gênio do momento, o mestre Guinga. Ele é o “farol” e norte da canção brasileira atual e, representa aqueles pontos culminantes históricos que acontecem ciclicamente, como foram Pixinguinha e Antonio Carlos Jobim.

17) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Conrado Paulino: São vários, muitos mesmo. Os primeiros nomes que me vem à cabeça são os mestres: Lula Galvão, Chico Pinheiro, André Mehmari, Rosa Passos, o violonista Daniel Murray, o “Duo Siqueira Lima”, o contrabaixista Jorge Helder, o clarinetista Alexandre Ribeiro, Proveta e mais algumas dezenas de colegas exemplares.

18) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical (falta de condição técnica para show, brigas, gafes, show em ambiente ou público tosco, cantar e não receber, ser cantado e etc)?

Conrado Paulino: São muitas, mas não sei como resumi-las aqui… Qualquer uma que eu escolher contar já daria um texto de bom tamanho. Aconteceu-me quase tudo o que pode imaginar. Eu já fiz show com um bêbado muito chato gritando na frente do palco (ele pedia o tempo todo para a gente tocar a “Marcha Turca”!!), uma mulher que insistia em dançar sozinha também bem na frente do palco, já toquei com a guitarra desligada sem perceber (o som era muito alto e ruim), já toquei com o conjunto errado no lugar errado.

Uma vez fui fazer uma substituição de um músico em um conjunto que só tocava músicas para pessoal da terceira idade, mas o evento era um aniversário de 15 anos. Quando estava começando a carreira musical fui fazer baile de Reveillon com uma banda de rock; na segunda música já estavam vaiando (risos).  Já derrubaram uma bandeja cheia de bife acebolado quente nas minhas costas na hora do jantar pouco antes da apresentação.

Uma vez uma moça bonita subiu no palco e me deu um tremendo beijo e no intervalo procurei por ela e não a achei. Já toquei tudo absurdamente errado propositalmente. Era fim de noite num local de jantar dançante em que eu trabalhava em Campinas – SP. Cada vez que tinha um único casal que insistia em continuar dançando, altas horas da madrugada, o conjunto inteiro tocava dois acordes certos e um errado. Eu chorava de rir.

19) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Conrado Paulino: Nunca parei para pensar isso…!

20) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Conrado Paulino: Acho que São Paulo dispensa apresentação. Aqui acontece tudo do melhor e do pior. Tem muito movimento, ótimos músicos eruditos e populares e espetáculos e mercado para todos os estilos. E tem também as melhores faculdades e professores.

Mas uma coisa é certa: o movimento cultural caiu muito, não somente o musical. Afeta todas as artes. E, logicamente, o volume de trabalho no mercado musical diminuiu bastante também. Têm menos bares, restaurantes e hotéis com música ao vivo, já não tem bailes com banda tocando ao vivo. No mercado de festas o conjunto foi substituído pelo DJ.

A maioria das músicas para publicidade e cinema comercial é feita no computador por uma única pessoa, etc. Mas o que me parece mais grave, tanto em São Paulo como em todas as cidades do mundo, é a falta de vontade do público de assistir – ou melhor, apreciar – música ao vivo. Esse gosto, esse hábito de ouvir uma boa música ambiente numa casa noturna ou de ir a um show num teatro apenas para ouvir se perdeu bastante.

21) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora você indica como uma boa opção?

Conrado Paulino: A música brasileira vai muito bem, obrigado. E morando na maior cidade do país, a quantidade de artistas que poderia indicar é grande mesmo. Muito bem difícil citar apenas alguns.  Talvez os grupos mais reconhecidos pelo público sejam a incrível Banda Mantiqueira – capitaneada pelo mestre Proveta -, o maravilhoso Trio Corrente e o lendário grupo Pau Brasil.

E entre os artistas individuais, temos o multi-instrumentista, compositor e arranjador André Mehmari e o incrível guitarrista e compositor Chico Pinheiro.  Mas, além desses nomes de maior projeção, há dezenas de músicos maravilhosos. Fico preocupado e constrangido de citar nomes, certamente vou deixar grandes colegas de fora, injustamente.

22) RM: Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Conrado Paulino: Sem dúvida, não. As músicas só tocam mediante pagamento, inclusive no mercado Gospel, tanto nas rádios como nas TVs. Aliás, hoje em dia nenhum artista aparece no mercado “comercial” (ou “de entretenimento”) sem um grande investimento financeiro e um planejamento de negócios. O mercado musical é controlado por produtores e executivos que visam apenas lucros, sem nenhum compromisso com um mínimo de qualidade.

Isso significa que praticamente não existe mais a possibilidade de um artista surgir “de baixo para cima”. Todos os artistas populares do mercado musical atual são “produtos” lançados no mercado com planejamento e investimento, da mesma forma que uma fábrica de alimentos lança um novo tipo de iogurte ou sobremesa. E os investidores querem retorno financeiro e, de preferencia, com pouco risco. Um artista como Gonzaguinha, por exemplo, jamais teria chance.

Ele foi um grande compositor e letrista, mas não era galã e, para piorar, fazia letras sofisticadas, longas e frequentemente de temática complexa. Milton Nascimento – que começou como amador, foi músico “da noite” e foi revelado graças à sua participação no Festival Internacional da Canção em 1967 – menos ainda. Mas não precisa pensar em artistas sofisticados; a Legião Urbana, uma banda de som rústico que, como os artistas citados, surgiram “de baixo” e empurrada por um sucesso autentico e gradualmente crescente, não teria chance de aparecer no mercado atual. Mas, independente disso, abaixo do radar do mercado e da grande mídia, o Brasil está cheio de grandes talentos.

23) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Conrado Paulino: Neste momento, não saberia o que dizer. O mercado musical mudou muito e rapidamente, de forma que estamos todos os profissionais meio atordoados, sem entender ainda o que está acontecendo e como reencarnar a profissão. Aliás, nas revistas de economia ou no “Guia do Estudante” eventualmente é publicada a lista das profissões que estão em alta ou em baixa no mercado de trabalho. Músico está em baixa há muitos anos.

Na realidade, essas dificuldades não são exclusivas dos músicos, todos os artistas as têm, sejam atores, artistas plásticos ou escritores. Mas, dentre esses artistas, ninguém sofreu mais as consequências da revolução digital do que os músicos. Atores e escritores, por exemplo, continuam atuando e escrevendo, ou seja, não foram substituídos por algum recurso tecnológico. Por isso, é difícil dar conselhos nessa situação, exceto aqueles óbvios como estudar bastante, ter foco, disciplina e muita motivação, etc.

Mas, se a pessoa realmente ama o que faz, vai encarar a profissão mesmo assim e vai aceitar as condições. E isso é uma das maravilhas do ser humano e o que torna a profissão de artista tão nobre. Não é pelo dinheiro, é porque fazer arte é aquilo que faz o artista se sentir realizado. É o que dá sentido à sua vida. E isso não é pouca coisa.

24) RM: Quais os Violonistas que você admira?

Conrado Paulino: Ai também são muitos, entre eruditos e populares. Eu colocaria à frente da lista Baden Powell, Raphael Rabello, Guinga, Lula Galvão, João Gilberto e Helio Delmiro. Mas tem também Paulo Bellinati, Marco Pereira, Paulinho Nogueira, Sebastião Tapajós, Toninho Horta, Luiz Bonfá, Laurindo de Almeida, Canhoto da Paraíba, Filó Machado, Ulisses Rocha e outros. E tem ainda a turma do Violão Erudito como o mestre Paulo Porto Alegre, o incrível duo Siqueira Lima, Fabio Zanon, Paulo Martelli, o Brazil Guitar duo, o BGQ (Brazilian Guitar Quartet) e muitos outros, e isso para falar apenas dos brasileiros! Se tivesse que citar apenas alguns estrangeiros, seria o recentemente falecido Roland Dyens, um dos meus maiores ídolos, o argentino Juan Falú e o espanhol Paco de Lucia.

25) RM: Quais os compositores eruditos que você admira?

Conrado Paulino: Gosto de muitos, de épocas variadas. Os primeiros nomes que me vem à cabeça são: Dvorak, Tchaicowsky, Grieg, Debussy, Albeniz eJohannes Brahms.

26) RM: Quais os compositores populares que você admira?

Conrado Paulino: Para citar os brasileiros – além de Antonio Carlos Jobim, claro – começaria por todos os da geração dos anos 40: Edu Lobo, Gil, Chico, Caetano, Milton, Dori Caymmi, Ivan Lins e Djavan, além de Jobim, Egberto Gismonti, Moacir Santos, Lea Freire, Johnny Alf, Theo de Barros e muitos mais. Poderia citar algumas centenas de estrangeiros, de Joan Manuel Serrat até Silvio Rodriguez, passando por Gershwin, Leo Masliah, James Taylor, Michael Franks e vários outros. Se tiver que citar apenas um, diria Astor Piazzolla.

27) RM: Quais os compositores da Bossa Nova você admira?

Conrado Paulino: Além do mestre Antonio Carlos Jobim, o grande Johnny Alf. E também todos os que ficaram mais conhecidos, entre eles, Marcos Valle, Carlos Lyra, Menescal e Durval Ferreira, entre outros.

28) RM: Nos apresente seus métodos para Violão?

Conrado Paulino: Eu escrevi 9 métodos: 3 volumes do “Método de Violão e Guitarra” (“iniciação”, “Escalas maiores e menores” e “Formação e distribuição de acordes/Iniciação ao arranjo”), 3 volumes da série “Iniciação à improvisação” (“Escalas Tônicas e Menores”, “Escalas Dominantes” e ” Ideias para improvisação: Aplicação prática das escalas e arpejos”). Um livro sobre Harmonia Vertical, um método de ritmos brasileiros para acompanhamento e um álbum de arranjos para violão solo cujo nome é “Violão Brasileiro Contemporâneo: Arranjos de Conrado Paulino”.

29) RM: Quais dos seus métodos que estão à venda?

Conrado Paulino: Os 3 volumes da série “Fundamentos da improvisação”, o álbum de arranjos “Violão Brasileiro Contemporâneo: Arranjos de Conrado Paulino” e o livro “Construção, distribuição e cifragem de acordes: Regras de Harmonia Vertical” estão disponíveis para à venda. Pode ser direto comigo ou na excelente livraria FreeNote (www.freenote.com.br ). Já os 3  volumes do “Método de Violão e Guitarra” estão fora de estoque, assim como o método “Ritmos brasileiros para acompanhamento”. Pretendo reformula-los e  espero poder lança-los novamente em 2020.

30) RM: Quais as principais diferenças entre as técnica de Violão Popular e Erudito?

Conrado Paulino: Acho que as diferenças não são tanto técnicas quanto conceituais. No violão erudito a prioridade é a interpretação e, consequentemente, a sonoridade e a técnica. Já no violão popular a prioridade é a criação, e muitas vezes a criação espontânea. Isso implica num estudo exaustivo de escalas, acordes, harmonia e improvisação. Felizmente a fronteira entre o violão erudito e o popular está se dissipando cada vez mais, e a geração mais jovem sabe unir o melhor dos dois mundos de uma forma que antes era raro de ver. Hoje em dia tempos tem violonistas jovens e talentosos que tem boa técnica, boa leitura e boa sonoridade e projeção de som como um bom violonista clássico e, ao mesmo tempo, sabem acompanhar, sabem improvisar e sabem tocar de ouvido se for necessário.

31) RM: Quais as principais técnicas que o aluno deve dominar para se tornar um bom Violonista?

Conrado Paulino: No caso do Violão Popular, eu acredito que saber acompanhar bem é fundamental para posteriormente desenvolver a capacidade de arranjar e/ou improvisar. Isso normalmente exige a aquisição de um repertório vasto e variado, bastante prática e um bom conhecimento de harmonia, ou seja, de teoria musical no geral. E, além disso, é necessário ter algumas habilidades que são puramente musicais e difíceis de transmitir e sistematizar, como o suingue e a criatividade. Já no caso do Violão Erudito é imprescindível desenvolver uma habilidade técnica superior, ter boa sonoridade e projeção de som e ter boa leitura musical, além de adquirir a disciplina, o foco e a persistência que o estudo do instrumento exige.

32) RM: Quais os Violões para tocar música Popular e  Erudita que você indica atualmente?

Conrado Paulino: Quando eu comecei a tocar havia pouquíssimos luthiers no Brasil, entre eles o Sugyama, Dornellas e Francisco Munhoz. Além disso, a importação era proibida, de forma que não era possível comprar um Violão de fábrica ou “de linha” desses desenhados para o mercado de música popular (quem tinha um “Ovation” (A Ovation Guitar Company é uma fabricante de guitarras com sede nos EUA) era idolatrado e paparicado. Atualmente há vários luthiers no pais inteiro, todos muito bons, é difícil recomendar apenas um. A escolha do luthier depende bastante do estilo musical e “pegada” do violonista. Entre os violões de fábrica destinados ao músico popular se destacam os japoneses, como os modelos mais caros da Yamaha e da Takamine, principalmente os da linha Hirade. Já no Brasil até os anos 90 as três principais fábricas do país – Giannini, Del Vecchio e Di Giorgio – fabricavam violões de qualidade. Mas a concorrência global acabou dificultando o negócio.  Não acompanho o mercado de violões “de fábrica” de perto, então não poderia dar dicas sobre marcas e modelos. Mas, no geral, o melhor dos violões de fábrica não se compara a um violão médio construído por um luthier. O violão de luthier é feito artesanalmente, com madeiras selecionadas e, principalmente, com detalhes e medidas personalizadas.

33) RM: Quais os principais vícios e erros que devem ser evitados pelo aluno de Violão?

Conrado Paulino: No caso do Violão Popular, é cair na tentação da “decoreba”, ou seja, tocar apenas por repetição, sem saber o que está fazendo. No início isso pode funcionar, mas, em médio prazo, é quase certo que o violonista vai estacionar, vai parar de evoluir. É importante desenvolver a musicalidade e a técnica, mas, na área popular, o domínio do conteúdo teórico e o desenvolvimento do raciocínio musical e tão importante quanto.

34) RM: Quais os principais erros na metodologia de ensino de música?

Conrado Paulino: Seguindo o exposto na resposta anterior, eu sou contra o uso de tablatura, desenhos, carimbos e “bolinhas”, ou seja, todos esses sistemas que, em lugar de ensinar música, ensinam ao aluno “onde é que aperta”, ou seja, onde deve colocar o dedo. Isso “enferruja” o neurônio e faz o executante tocar sem acompanhar mentalmente o que está fazendo.  Desta forma, ele pode até desenvolver a técnica e a musicalidade, mas terá dificuldades de teoria. Na realidade, é possível tocar bem sem saber nada, mas, na maioria dos casos, isso acontece com músicos que tocam estilos simples, aos quais se acessa via ouvido e que dispensam conhecimento, como reggae, blues, moda de viola, folclore no geral, etc. Ou seja, há estilos em que é possível tocar, como eu costumo dizer, com o “neurônio desligado”. Mas é muito difícil (e raro) tocar Jazz e MPB desse jeito. Normalmente, a complexidade desses estilos obriga ao executante a tocar com o “neurônio ligado”, ou seja, acompanhando mentalmente – e “real time” – o que está fazendo. Dai a importância de desenvolver o conhecimento formal e a velocidade de processamento.

35) RM: Existe o Dom musical? Como você define o Dom musical?

Conrado Paulino: Não há um consenso entre os estudiosos sobre esse assunto, de forma que é difícil dar uma resposta exata. Mas posso dizer o que a experiência como professor me mostrou. Eu acredito em “habilidades especiais” quando vejo que a pessoa manifesta habilidades “fora da curva”, como técnica excepcional. Essa condição pode se dar por vários motivos, entre eles, o entorno familiar, a predisposição natural ou a influencia de amigos. Mas é impossível saber o que tornou o Neymar, por exemplo, o jogador excepcional que é.

36) RM: Existe improvisação de fato, ou é algo estudado antes e aplicado depois?

Conrado Paulino: Existe sim, claro. Mas há vários tipos e vários caminhos para chegar nela. Para alguns, a improvisação é fruto de estudo sistematizado; para outros é algo que se deu de forma mais espontânea. Isso depende muito de dois fatores: a habilidade e musicalidade natural do instrumentista e o estilo que ele pratica. É normal, por exemplo, que os “bluesman” não saibam nada de teoria. E isso é até recomendável, já que o blues é um estilo simples, folclórico e muito rigoroso e restrito na forma, estrutura e linguagem harmônica e melódica. Alguém muito estudado corre o risco de complicar demais, ultrapassando as fronteiras dos elementos que fazem o ouvinte reconhecer determinada música como sendo um Blues. Devido à sua simplicidade implícita, o Blues é o tipo de estilo que a maioria dos músicos acedeu via ouvido e não através de teoria ou de estudo sistematizado. O mesmo pode-se dizer do reggae, moda de viola e os estilos folclóricos. Então, nesses casos a improvisação é consequência natural do domínio da linguagem (isto é, o “sotaque” do estilo) e da criatividade. Porém, é muito difícil tocar Jazz ou MPB apenas de ouvido, tendo pouco ou nenhum conhecimento teórico. Claro que há casos, mas eles são a exceção e não a regra. Na maioria dos casos, é necessário ajudar e incrementar a criatividade através do conhecimento formal. Mas, independente do estilo, improvisar exige trabalhar três itens básicos: saber quais são as notas certas, saber onde estão e com qual dedo tocar essas notas e combina-las de uma forma musical e criativa. Eu acredito que pode-se ensinar e aprender os mecanismos da improvisação e da composição, suas regras, recursos, dicas para obter melhores resultados, etc. Mas tenho impressão que a faísca da criatividade não tem como ensinar. Isso não significa que a pessoa não possa desenvolvê-la ou até adquiri-la subitamente.

37) RM: Quais os prós e contras dos métodos sobre o Estudo de Harmonia musical?

Conrado Paulino: Não vejo “contras”. Talvez a única questão que o aluno precisa ter presente é que a chamada “Harmonia Popular” é muito recente como disciplina teórica, dai as várias divergências encontradas nos métodos. Apenas nos anos 60 começam a aparecer métodos tratando do assunto e, ao contrário da Harmonia Tradicional estudada na música erudita, até hoje a disciplina não está muito unificada, tanto na terminologia como nos conceitos.

38) RM: Quais os métodos que você indica para o estudo de leitura à primeira vista?

Conrado Paulino: Conheço dois bacanas, os dois volumes do William Leavitt (“Readind studies for guitar” e “Melodic Rhythms for guitar”, da Berkleee Press) e o novíssimo método do grande guitarrista e professor Nelson Faria, “Exercícios de Leitura para Guitarristas e Violonistas” (Editora Vitale).

39) RM: Como chegar ao nível de leitura à primeira vista?

Conrado Paulino: Pratica, muita pratica. Primeiro lento e depois lendo “real time” sem parar nem voltar na música, mesmo que tiver errado 99% das notas. A ideia é ler muitas partituras com o metrônomo andando e só voltar a ler uma delas após tocar pelo menos mais duas, para evitar a memorização.

40) RM: Quais os seus projetos futuros?

Conrado Paulino: Está para sair o álbum de partituras do meu novo CD, “A Canção Brasileira”, também quero gravar um disco focando o acompanhamento do violão brasileiro com a participação de várias cantoras destacadas e estou começando a trabalhar no mercado digital, aprendendo a lidar com os cursos online, desses já filmados. Em médio prazo, quero gravar um novo CD de violão solo e outro com o meu Quarteto. 

41) RM: Quais são os seus contatos? 

Conrado Paulino: (11) 2614 – 7582 | 9.9553 – 3500 | Skype: conradopaulino | [email protected] | [email protected] | www.conradopaulino.com.br | www.facebook.com/conrado.paulino.1 | www.facebook.com/conradopaulino.oficial | www.youtube.com/user/conradopaulino/videos | www.instagram.com/conrado_paulino_brazilguitar | www.reverbnation.com/conradopaulino | https://soundcloud.com/conradopaulinohttps://musicabrasileira.org/conrado-paulino-discography | https://musicians.allaboutjazz.com/conradopaulino | http://www.dicionariompb.com.br/conrado-paulino | https://diskunion.net/portal/ct/list/0/7221151 | http://www.takioto.com/acogui/acoguists/paulinoconrado | http://taiyorecord.com/?pid=138963165 | http://clubedejazz.com/a-cancao-brasileira-segundo-conrado-paulino | https://souzalima.com.br/blog/quero-ser-musico-entrevistaconrado-paulino | https://www.informacaomusical.com/entrevista-conrado-paulino | http://musicosdobrasil.com.br/conrado-paulino


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.