More Daniela Starling »"/>More Daniela Starling »" /> Daniela Starling - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Daniela Starling

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A cantora e compositora mineira Daniela Starling começou a compor aos 10 anos de idade, quando ganhou seu primeiro Violão.

Participou do Festival da Canção em Itaúna – MG. Em 1998, ganhou como melhor intérprete e o segundo lugar como melhor canção com “Oferta”. Em 1999, ganhou o segundo lugar como melhor canção com “Poeira de Estrelas”. Em 2000, ganhou o segundo lugar com “Força Etérea”. Parou de participar porque todos diziam que ela ganhava porque “era profissional”. E se não ganhasse, todos diriam: “imagina que ela é profissional” (risos).

Em 1999 lancei o primeiro CD – “Essência”, no dia 13 de setembro. Tinha sido classificada no Concurso “Novos Talentos” do Domingão do Faustão. Isso impulsionou a sua carreira que iniciava. Participou do projeto cultural “Minas mostra”, com o patrocínio da empresa Belgo-Mineira. Em 2003, no dia 13 de novembro lançou o segundo CD – “Entre os Mundos”.

Os dois CDs foram lançados no Espaço Cultural de Itaúna, Teatro Sílvio de Matos.
Todos os shows de palco eram feitos com músicas autorais do primeiro e segundos CDs. Tocou em Itaúna e cidades vizinhas. Em 2007 Ganhou o Troféu “Talentos Itaunenses”, mas já não tocava mais profissionalmente.

O seu mais recente show foi em 24 de setembro de 2015, por causa do lançamento do seu livro “Eu te amo com Sol”.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Daniela Starling para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevista da por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 13.12.2017

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Daniela Starling: Nasci no dia 27 de julho de 1971 em Belo Horizonte, MG.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?

Daniela Starling: Meu pai, que tocava saxofone como se tocasse as “estrelas”… Ele gostava de ouvir e acompanhar tocando as músicas instrumentais de Ray Conniff, Andy Williams e temas de filmes da época. E eu adorava ficar ao seu lado. Quando ele se foi, eu estava para completar 10 anos de idade e cismei de querer um Piano. Este piano veio cinco anos depois, e eu sentei e toquei. Sabia que sabia tocar.

Mas aos 10 anos de idade, já havia ganhado um Violão, porque o piano era muito caro. E comecei a compor com o Violão, pois não conhecia muitas músicas que pudesse cantar. Comecei a compor para cantar acompanhada do Violão, já que não ouvia ainda música brasileira.

03) RM: Qual a sua formação musical e\ou acadêmica fora da área musical?

Daniela Starling: Forme-me em 1997 em Direito, advogada, pós-graduada em Direito Civil e Processo Civil, Mestra em Direito de Família e de concursada pelo TJMG. Atualmente estou cursando Medicina Veterinária (risos) que sempre foi minha paixão.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Daniela Starling: As influências são: música instrumental americana, herança do meu pai. Delas, na adolescência, curti muito música clássica: Vivaldi, Bach, Schumman, Beethoven, Brahms. Depois fui escutar New Age: Marcus Viana (amo), Yanni, Vanessa Mae, Arthur Scarpita. Continuam importantes. Ainda ouço frequentemente.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Daniela Starling: Em 1998, a partir do Festival da Canção Itaunense, no qual obtive a premiação de melhor intérprete e segundo lugar de melhor canção, com a minha composição “Oferta”. Sempre cantava para os amigos na Faculdade de Direito, eles gostavam das minhas músicas.

Eu já formada, um colega do escritório era compositor e percussionista, e me convidou para participar desse Festival, para cantar uma música dele. Faltando cinco minutos para encerrarem as inscrições resolvi me inscrever com duas músicas minhas. Assim entrei num palco pela primeira vez. Nunca antes havia cantado em público. Um dos jurados era dono de um estúdio em Divinópolis – MG, cidade vizinha, o querido Ricardo Batata. Ele ofereceu uma gravação das músicas dos três primeiros lugares no Festival.

Quando fui gravar “Oferta”, ele gostou muito e perguntou se eu não tinha mais composições. Escolhemos 12, e daí surgiu o meu primeiro disco. E foi uma coisa mágica: de repente meu disco fez um enorme “sucesso”, tocava nas rádios locais sem parar e eu recebia convites para tocar nos barzinhos e fazer shows nos teatros. Antes de lançar o disco, participei do Concurso “Novos talentos do domingão do Faustão”, na Rede Globo e fui classificada na primeira etapa. Meu nome na televisão foi o que faltava para encher o teatro no show de lançamento e criar uma “fama” surpreendente!

06) RM: Quantos CDs lançados, quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do seu público?

Daniela Starling: O primeiro CD – “ESSÊNCIA”, lançado no dia 13 de novembro de 1999. O Ricardo Batata é o grande arranjador deste CD, com sua técnica musical. Convidei alguns músicos na época: Roberto Guimarães, João Luís Nogueira, Fernando Chaves, com os quais até dividi a parceria de algumas composições.

O João é um violonista fantástico. Roberto, além de ser um luthier incrível, cria instrumentos e executa brilhantemente o violino e a viola clássica. Foi um solo dessa viola clássica que enfeitou “Devoção”, a canção de maior “sucesso” do primeiro CD. “Devoção” com a duração de 6:30, figurou entre as dez mais pedidas nas rádios locais e também em Belo Horizonte, durante mais de um ano.

Este primeiro CD é mais romântico.

O segundo CD – “Entre os Mundos”, é mais eclético. Musicalmente mais rico e totalmente acústico, com a participação do baterista Marcelo Costa, da excepcional Acordeonista Marie Claire Heinis, Roberto Guimarães, Rodrigo Campos no Cello, o percussionista Dema, também o João Luís ao Violão, Levy Vargas que é uma grande e versátil artista, Marcinho na flauta e backings da minha irmã Débora Starling (tocávamos juntas em casamentos na época). Todos muito bons amigos! Este CD foi lançado em 13 de novembro de 2003. Eu estava grávida de oito meses e foi a última vez que fiz um show de palco, até o ano passado, quando lancei um livro, e retornei ao palco para cantar.

07) RM: Como você define o seu estilo musical?

Daniela Starling: Eu não defino. Primeiro porque me considero uma autodidata bastante limitada musicalmente, diante especialmente dos músicos que tive oportunidade de conhecer. Segundo porque não sinto necessidade de rótulos. As pessoas normalmente sentem necessidade de enquadrar tudo o que veem em algo que já conhecem.

Mas a música que faço é uma influência da música clássica e new age que eu ouvia. Fui conhecer a MPB já depois do lançamento do primeiro CD. E não sei se faço MPB. Nem rock, nem pop. Faço uma mistura. E poetizo a natureza, o amor e as coisas que penso. Jamais imaginei que meu estilo pudesse agradar alguém, pública e profissionalmente.

Gosto de cantar desde criança. E já ouvi comparações com Marisa Monte, Zizi Possi, e hoje gosto de ouvir também MPB e rock e pop. Mas quando componho não fico pensando no que tenho que fazer ou o que estou fazendo.

08) RM: Você estudou técnica vocal?

Daniela Starling: Não.

09) RM: Qual a importância do estudo de técnica vocal e cuidado com a voz?

Daniela Starling: Acho que o conhecimento sempre nos aprofunda naquilo que podemos fazer, de modo que passamos a fazer ainda melhor, uma vez que começamos a compreender nossas limitações e infinidade.

10) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Daniela Starling: Admiro Renato Russo como compositor e cantor, porque ele conseguia expor seus pensamentos numa musicalidade exuberante, não se preocupava com refrão! Amo as harmonias de Marcus Viana. Adoro a voz da Zizi Possi, a voz da Adele, da Marisa Monte, em geral. Gosto muito do rock inglês.

Amo alguns compositores que a Nana Caymmi escolhe para cantar, como Gonzaguinha. Adoro a viola perfeita do Almir Sater. Mas, sem fazer sucesso, já ouvi vozes lindas soltas por aí, com músicas que falam à alma.

11) RM: Como é o seu processo de compor?

Daniela Starling: É um momento meio mediúnico (risos). Além de cantar e compor, pinto quadros e escrevo livros. A Arte me absorve. É como se saísse daqui deste mundo. Gosto de compor letra e música ao mesmo tempo. E normalmente o faço acompanhada do violão, embora toque o piano melhor que o violão. Não sou instrumentista.

12) RM: Quais são seus principais parceiros de composição?

Daniela Starling: João Luís Nogueira e Fernando Chaves.

13) RM: Quem já gravou as suas músicas?

Daniela Starling: Que eu saiba; ninguém.

14) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Daniela Starling: Então. Entrei na música muito por acaso. Amo cantar, mas nunca pensei em fazer carreira. De modo que, até tive oportunidade de ser entrevistada pelo Marcos (não me lembro do sobrenome), no Rio de Janeiro, que é o produtor da Ana Carolina, Maria Gadu, Simone, Ney Matogrosso, e de outros nomes importantes da música, tipo “o cara” que os colocou na mídia. Mas não vendi meu peixe. Nunca quis me vender. Nunca me imaginei fazendo “sucesso”.

E o que acontece na música no Brasil? Se você não faz sucesso, você é professor, dá aula de música, ou toca em barzinho. Conheço músicos fabulosos que nem tocam o que gostam. Então, profissionalmente, eu me aprofundei no Direito. Não gostava do Direito. Mas eu quis ser mãe e como tenho dois filhos, fui fundo no Direito. Hoje estou cursando Veterinária, porque é um sonho de vida inteira, desde a infância.

Lancei os CDs porque tive oportunidade. Foi maravilhoso! Fiquei cinco anos tocando, de um CD ao outro. Tive uma empresária com a qual participei de um incentivo à cultura, patrocinado pela empresa Belgo Mineira. Mas eu sou reclusa por natureza. Não gosto da exposição. De forma que ser uma pessoa pública não estava nos meus planos. E continuar, como música profissional, exigiria uma formação que não possuo. Por isso parei de cantar… E também há o lado financeiro. Porque mais gastei do que ganhei, financeiramente. E mesmo não ligando muito pra isso, a gente precisa do dinheiro…

15) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Daniela Starling: Meus planos são assumir a medicina Veterinária, ir tão fundo nela como sempre “mergulho” em tudo a que me dedico. E promover palestras com o objetivo de conscientizar as pessoas que a nossa convivência com os animais e o meio ambiente precisa urgentemente ser revista e melhorar, porque estamos caminhando para um caos que nós próprios criamos, ao usarmos a vida como se não precisássemos dela. Música, só com os amigos, na varanda, olhando as estrelas, como fazia na infância com o meu pai! (risos).

16) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira?

Daniela Starling: Só tenho a te agradecer pelo incentivo à minha breve carreira. Simplesmente sou uma pessoa que não sei vender produto algum. Só criar. Mas estou à disposição da vida. Se ela quiser que eu cante mais, eu canto.

17) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento de sua carreira?

Daniela Starling: Só ajudaria. Hoje está tudo mais fácil. Quando lancei os CDs ainda era restrito. A divulgação é fantástica. Ao mesmo tempo, tem tanta porcaria…! E o que agrada à maioria nem sempre é bom!

18) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia de gravação (home estúdio)?

Daniela Starling: Só vejo vantagens. Voltamos ao ponto: todos podem gravar o que quiserem. Não quer dizer que é bom.

19) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Daniela Starling: Acho que cada um é diferente em seu estilo, desde que não procure imitar ninguém. Estamos repletos de imitadores (como li em um artigo na sua Revista). E como antigamente Zé Ramalho, Zeca Baleiro, entre outros, tiveram persistência para conseguir que fossem ouvidos, porque o que se vendia era “mais do mesmo”, atualmente é a mesma coisa: o que se vende é tudo igual. Mas quem é diferente, se não tiver muita “sorte”, não aparece.

20) RM: Como você analisa o cenário musical brasileiro. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Daniela Starling: Sinto-me “agredida” pela música de sucesso contemporânea brasileira. O que estão chamando de MPB dói nos meus ouvidos. Essas duplas sertanejas, para mim, são todas iguais, e ninguém canta nada. Um berra enquanto o outro geme atrás. Desculpe a sinceridade. As letras me parecem pobres ao extremo e os ritmos, todos repetitivos e limitados. Infelizmente. Raramente ouço alguma coisa que acho bacana hoje em dia.

Há pouco tempo tivemos a Ana Vilela, com “Trem Bala”, uma canção linda, que se popularizou nas redes sociais. Caiu na graça do povo! Pronto. Ela lançou CD, não vai durar nem metade do tempo que um Luan Santana nem chegará à metade do sucesso que ele faz. Essa carinha de boy “saradinho” é um protótipo.

Gente que fala à alma é raridade. Mas respeito mesmo Elba Ramalho, Zé Ramalho, esses que andam sumidos, mas, quando aparecem, “arrebentam”! Arte para mim é paixão, tem que fazer rir e chorar e causar arrepio. Regredir, todos os dias alguém parece que está indo e leva um tropeção. Mas o mercado é cruel. Ele não seleciona as pessoas pelo grau de superioridade artística. Estamos num mundo de ilusões. E o que vende é visual, muito mais do que sensorial.

Quem explodiu: Paula Fernandes. Eu a conheci em 2001, quando Jaime Monjardim estava começando a colocar as suas músicas nas novelas da Globo, através do Marcus Viana, que é parceiro do Jaime nas trilhas sonoras. Dividimos o palco do Shopping Diamond Mall no mês de maio, em homenagem à mulher. Ela, muito humilde e linda, cantava maravilhosamente. Suas músicas tinham aquela “mineirêz”, aquela coisa de mato e pureza de café feito na hora…

Mas ela sonhava com o sucesso. E depois de explodir, de ser ouvida cada vez que a gente abria a torneira, esmaeceu. Certamente não pelo desarranjo no seu próprio brilho, porque isso ela tem. Mas por ter vendido o brilho e ter deixado que fizessem dela o que ela nem era, sendo que ela tinha muito mais para dar. Caiu na mídia, tem que andar como a mídia quer. Tem que se embestar.

21) RM: Qual ou quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Daniela Starling: Ney Matogrosso, Cazuza, Renato Russo, Nana Caymmi, Dorival Caymmi, Simone e Marisa Monte (embora também se venda às vezes, trazendo canções bem bestinhas pra emplacar). Nossa querida Maria Bethânia. Musa, cujas ideias sobre envelhecer naturalmente, eu quero copiar à risca! Com graça e plenitude.

22) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Daniela Starling: Muitas! (risos). Couvert artístico, por exemplo, em barzinho, era uma coisa que nunca recebia integral! Já aconteceu do som falhar e ficar tudo em silêncio. Mas o pessoal foi legal e esperou na boa tudo voltar ao normal. O melhor momento, sem dúvida, inesquecível, foi o Festival, o primeiro, na primeira vez em que cantei no palco, e fechei meus olhos para não desmaiar de tanto que tremia, pois no fim da música os músicos paravam de cantar e ficava só a minha voz, para finalizar.

O público fez um silêncio, que achei que ia nem conseguir terminar. Mas ao cantar a última frase, as pessoas se levantaram e aplaudiram tão maravilhosamente, que até hoje me arrepio quando me lembro deste momento! Lembrei também de uma noite em que fui abrir – num comício político – um show de uma dupla sertaneja! Quem esperava ver a dupla no palco, com certeza não tinha nada a ver com meu estilo. Achei que ia apanhar! Cantei um rock do 4’non’blondes com minha voz invadindo a cidade no trio elétrico de aluguel! Graças a Deus consegui conter as vaias!(risos).

23) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Daniela Starling: O que me deixa mais feliz é cantar. É mágico. É como entrar em contato com a própria alma. É como poder levar às pessoas uma coisa divina! Mais triste? A dificuldade de se realizar um simples show, a concorrência desleal, porque parece que tem muita gente para nos elevar, mas muitos também pra “PUXAR O TAPETE”… A vaidade no mundo artístico é um inconveniente.

24) RM: Nos apresente a cena musical da cidade que você mora?

Daniela Starling: Itaúna tem uns artistas muito artistas!(risos). Tem umas pessoas impressionantes, muito boas, profundas, capazes, sensíveis! Acho isso muito legal aqui! Tive o prazer de conhecer algumas delas! Claro que, também, como em todo lugar, existem os que se acham. Os que estão tão cheios de si, que não enxergam além. Mas tem muita gente especial de verdade. Hoje não temos mais os Festivais de Música, e isso é triste, porque era um evento em que um encontro ocorria. Encontrávamos pessoas com a mesma sintonia. Hoje isso se perdeu. Acho que já tivemos muitas bandas boas!

25) RM: Quais os músicos, bandas da cidade que você mora, que você indica como uma boa opção?

Daniela Starling: Levy Vargas que hoje está com um trio “Cigar Box”, Banda Hakuna, Regina Viana, Marilene Clara (linda voz), Ralfe Vilela (excelente violonista), e a orquestra sinfônica de Itaúna, que é maravilhosa!

26) RM : Você acredita que sem o pagamento do Jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Daniela Starling: Tocaram. Não pagamos jabá. Aqui em Itaúna tocaram porque tivemos o incentivo dos radialistas. Eu levava o nome da cidade como artista. Em Belo Horizonte porque tivemos um deputado que conhecia os radialistas. Estamos num país onde o dinheiro compra praticamente tudo, e nada roda sem ele. De uma forma ou de outra, há uma gorjeta envolvida. Para isso existem os “padrinhos”.

27) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Daniela Starling: O que eu digo para todo mundo o que queira seguir um caminho: vai fundo e faça por amor! Todo caminho tem pedras. Cabe a você transpor essas pedras ou parar por causa delas.

28) RM: Quais os prós e contras do Festival de Música?

Daniela Starling: Festival de Música é uma coisa deliciosa que remete àquelas músicas mais interioranas, menos planejadas e mais espontâneas. É uma oportunidade para muita gente, como foi para mim. Os contras é que tem sempre o dono do primeiro lugar, isso parece ser previamente demarcado. Os concursos nem sempre elegem os melhores, de fato. Mas dão a todos a chance de mostrarem seu trabalho.

29) RM: Na sua opinião, hoje os Festivais de Música ainda é relevante para revelar novos talentos?

Daniela Starling: Sim. Mas deveriam ser como antigamente. O que aconteceu com essa facilidade que a internet trouxe às nossas vidas? Tornou tudo tão fácil que fez perder o teor. O virtual está mais persuasivo que o real. E os jovens parecem cada vez mais alienados. Ouvem-se modismos e se os descarta com a mesma rapidez com que se ama hoje e amanhã se termina um namoro.

Os valores estão cada vez mais superficiais. De modo que ninguém quer pensar em nada. Ninguém questiona (nem deve), ninguém quer sequer sentir. Então as músicas – tanto faz se têm letra, se dizem alguma coisa além do óbvio e supérfluo, ou da dor de cotovelo…

Porque a dor de cotovelo faz sucesso, já que estamos todos carentes de afeição, procurando nas redes sociais pessoas cujos rótulos possam combinar com os nossos, à venda por um preço muito razoável como produtos em prateleiras de supermercado. Você pode até levar para casa e devolver se não gostar. Nesse mundo é que haveria novos Festivais de Música? Mas que tipo de música nós podemos esperar deste mundo?

30) RM: Como você analisa a cobertura feita pela grande mídia da cena musical brasileira?

Daniela Starling: A grande mídia é um cachorro com o rabo entre as pernas que apoia um governo totalmente avesso à cultura. Porque cultura inclui pensar por conta própria, e isso o nosso governo não deseja, de forma alguma, pois isso poderia provocar uma reação diante da estupidez com que somos censurados regularmente em nossas emoções e razões mais verdadeiras.

Então, a mídia apoia este movimento, porque também é uma entidade política. Todos se movimentam conforme lhes é bom e quanto mais os enriquece. Assim, é importante que o povo mantenha um grau de ignorância elevado. Porque se um povo começa a pensar, ele cresce. Então ofereça ao povo uma cultura barata e pobre, pão e circo, como na idade média. Faça com que se divirtam com bundas e dores de cotovelo. Porque se começarem mesmo a pensar e sentir, a coisa pode perder o controle.

31) RM: Quais foram os motivos para você dá um tempo na carreira musical?

Daniela Starling: Eu estava exausta. Minha empresária mandava na minha vida. Sempre fui muito livre. Não era o caminho que eu desejava seguir até o fim. Todos esperavam que eu fosse embora para o Rio de Janeiro ou São Paulo. Mas eu gosto de roça. Sou bicho do mato. Gosto da pureza dos bichos, de flores, do som do vento… Então, esse relacionamento não tinha futuro. Eu amava a música, mas havia outras coisas que eu desejava.

32) RM: O que levou você a está cursando Veterinária?

Daniela Starling: Esse amor de infância que tenho pelos animais.

33) RM: Você pensa ao concluir o curso de Veterinária manter paralelamente a sua carreira musical?

Daniela Starling: Não penso. Mas estou aberta para o que a vida me trouxer. Será bem vindo.

34) RM: Quais os seus projetos futuros?

Daniela Starling: Profissionalmente, me dedicar à medicina veterinária. Na parte artística, acho que é mais fácil escrever um livro que lançar outro CD. O livro é uma coisa mais íntima, que você faz no silêncio do seu quarto, e as pessoas que leem o fazem da mesma forma, numa intimidade sólida e solitária. A música exige que você se exponha e receba todas as energias (etéreas e nem tanto) de todo tipo de gente. Gosto da intimidade, do recolhimento, do casulo.

35) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Daniela Starling: [email protected] | www.facebook.com/daniela.starling.5  (mas envie mensagem privada sobre o assunto, antes de pedir que eu adicione).


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.