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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Ras Bernardo (ex Cidade Negra)

Ras Bernardo
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Na história do reggae no Brasil temos que mencionar o nome de Ras Bernardo (ex Cidade Negra), não dá para falar de um sem citar o outro, ao longo do tempo.

Em 1983 quando Ras Bernardo montou uma banda (Lumiar) para participar de um pequeno festival em Belford RoxoBaixada Fluminense do Rio de Janeiro – RJ. Mais por intuição do que por planejamento, essa mesma banda anteciparia a banda Cidade Negra (em 198), que espalhou o reggae por todo o país. Algumas das músicas de sucessos da banda são assinadas por ele. Na foi sempre um cantor muito carismático.

Em 1987, no Rio de Janeiro, bairro do Catete. Num prédio antigo e caindo aos pedaços ocupados pela lendária UNE (União Nacional dos Estudantes), começava a funcionar o NECNúcleo Experimental de Cultura. Esta sigla meio misteriosa, com certo clima de ação clandestina típica anos 60, abrigava diversas manifestações culturais de resistência, entre elas o movimento reggae, como legítimo representante da cultura negra.

Dentro desse contexto, começaram a rolar alguns shows de produção precária para uma platéia bem pequena (máximo 50 pessoas) com os nomes que iam aparecendo por lá: Dom Luiz Rasta, KMD-5 (futuro Negril), Ubandu du Reggae e Lumiar. Apesar das condições bastante adversas, essas apresentações tinham um clima contagiante que proporcionavam momentos únicos e intensos, inesquecíveis para quem teve a sorte de presenciá-los.

Aos poucos a banda Lumiar foi se destacando pela sua força no palco (até então, ninguém possuía material gravado). Era um grupo que vinha da cidade satélite de Belford Roxo, há mais de 50 km dali, para mostrar seu repertório cru e suíngado. À frente da banda, magnetizando a todos estava Ras Bernardo começando a sua longa trajetória musical. Logo depois, animados pela recepção calorosa do pequeno público que resistia a tudo e teimava em prestigiar aquela ainda incipiente cena reggae, o agora rebatizado Movimento Reggae – NEC decidiu se espalhar por toda a cidade. Em 1988 não havia lugar melhor para catapultar novas idéias musicais do que o Circo Voador da Lapa.

Um lugar democrático e revolucionário desde sua criação, a mítica lona do Circo Voador acabou por se tornar o abrigo perfeito para as novas bandas de reggae que chegavam lá cheias de energia e fogo, prontas para provocar um incêndio de grandes proporções na Babilônia. Durante um ano e meio a Lumiar evoluiu nos palcos e nos estúdios de ensaio. Pela primeira vez os seus componentes estavam tendo a oportunidade de burilar seu trabalho em condições minimamente aceitáveis.

Eles também iam se informando cada vez mais a respeito da história do reggae: das clássicas produções dos grandes mestres às novidades que estavam então aparecendo na Jamaica e em Londres. Para Ras Bernardo todo esse fértil período de mergulho no universo do reggae de forma alguma comprometeu a sua intuição musical, a sua centelha criativa que já o havia empurrado para fora da Baixada Fluminense. Apenas trouxe mais convicção de que este era o caminho certo para expressar seus sentimentos e a constante luta pela sobrevivência.

Teve que mudar o nome Lumiar para Cidade Negra e lançou com a banda dois CDs: “Lute para Viver” (em 1990) e “Negro No Poder” (em 1991). Em 1992 a Cidade Negra abriu o show do Steel Pulse na França, com excelente repercussão junto à platéia 100% estrangeira. Meses depois, tornaram-se a primeira banda brasileira a pisar no palco sagrado do Sunsplash, o mais importante festival da Jamaica. Em turnê pelos Estados Unidos eles passaram por Boston, Nova Iorque (no tradicional Sounds Of Brazil) e Miami, em que se apresentaram ao lado de Ziggy Marley. Essa experiência de ser o pioneiro do reggae brasileiro no cenário internacional acabou sendo de extrema importância para Ras Bernardo e teve reflexo no seu primeiro trabalho após sair da Cidade Negra (em 1994).

Segue abaixo entrevista exclusiva com Ras Bernardo para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01 de Agosto de 2013:

01) Ritmo Melodia: Qual a sua data de nascimento e a sua cidade natal?

Ras Bernardo: Eu nasci no dia 07.06.1962 em Centenário do Sul – PR.

02) RM: Fale do seu primeiro contato com a música?

Ras Bernardo: Meu primeiro contado com a música foi em 1983 em que comecei a colocar melodia nas minhas poesias.

03) RM: Qual a  sua formação musical?

Ras Bernardo: Sou autodidata, mas estudei técnica vocal.

04) RM: Quais as suas influências musicais no passado e no presente. Quais deixaram de ter importância?

Ras Bernardo: A minha influência começou com Gilberto Gil, depois com o soul music James Brown e a banda Desaguada do Dida Nascimento. E conheci o som de Bob MarleyPeter Tosh e outras feras do Reggae. O que não é importante para mim são as letras fúteis.

05) RM: Quando, como e onde você começou a sua carreira musical?

Ras Bernardo: A minha carreira profissional começou em 1986 no projeto Reggae NEC (Núcleo Experimental de Cultura). Foi quando o Nelson Meireles apareceu para vê o nosso show e começou a nos treinar para ser o que somos hoje.

06) RM: Quando, como e onde  foi o início do Cidade Negra?

Ras Bernardo: O início da banda Cidade Negra foi em 1983, ainda como o nome “Lumiar”, na Baixada Fluminense, na cidade Belford Roxo-RJ.

07) RM: Quais os motivos que os levou a escolher o reggae como estilo musical?

Ras Bernardo: Nós tínhamos na nossa área uma banda chamada “Desaguada” que se tornou o KMD5 hoje Negril que tocava vários estilos. E nós tocávamos também vários estilos que eram Calipson, Salsa, soul Music, eram umas das nossas influências. Mas começamos a cair para o lado mais Reggae pelo fato de na época ouvir bastante. Influenciado por vários amigos regueiros que a gente encontrava no projeto Reggae NEC. Na verdade não fomos para o Reggae, mas o Reggae que já estava em nós.

08) RM: Quais os músicos e bandas de reggae que influenciaram o seu trabalho musical?

Ras Bernardo: Como disse: James Brown, Gilberto Gil, Bob Marley, Fela Kuti, Alpha Blond, Jimmy Cliff, Steel Pulse.

09) RM: Quantos CDs lançados com o Cidade Negra? Quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do público?

Ras Bernardo:  Com a banda Cidade Negra foram dois CDs: O Lute para viver e o Negro no Poder. A formação inicial era: Ras Bernardo (vocal), Bino Farias (baixo) e Lazão(bateria). Os músicos que participaram foram Marcos Suzano, Alex Meireles, Ricardo Barreto, Jean Pierry, Saulo e tem outro que não me lembro agora, mas estão nos créditos dos CDs. Na virada de 1989 para 1990 a banda Cidade Negra finalmente grava o seu tão aguardado disco de estréia.

Alguns meses antes a banda havia descoberto que existia outro grupo na cidade que se chamava “Banda Lumiar”. Quis o Destino que este contratempo acabasse forçando a mudança do nome da banda para o emblemático nome com o qual entrariam para a história da música popular brasileira. Cidade Negra não era apenas um nome, mas sim uma carta de intenções, um retrato fiel do Brasil como ele é, sem retoques ou maquiagem.

Com Ras Bernardo sempre à frente, o grupo lançou o seu primeiro trabalho pela CBS (hoje Sony), não por acaso intitulado: “Lute Para Viver”. Nesta música que abre o disco, a letra escrita por ele não deixa dúvidas quanto à mensagem principal da banda: “Tudo é longe/Mas tudo está perto de você/Basta você pensar e erguer os braços/E lutar para vencer”. Além da faixa título algumas outras se destacaram como “Assassinatureza” e “Não Capazes”, mas nenhuma delas chegaria próximo ao sucesso alcançado por “Mensagem” e, principalmente, “Falar A Verdade”.

Essas duas músicas são de presença obrigatória tanto nos shows de Ras Bernardo quanto nos da Cidade Negra até hoje! A “Mensagem” teve a participação especial de um dos maiores mitos da música jamaicana nos vocais: Jimmy Cliff. Na oportunidade, ele aproveitou sua estada no Rio de Janeiro para ir até Belford Roxo e conhecer de perto o berço da banda. A “Falando A verdade”, nesta música Ras Bernardo foi especialmente feliz ao redigir os versos “Em meio ao maior sofrimento/Você encontra a chave da felicidade/Às vezes numa derrota você encontra/A chave da próxima vitória/ Deus é a vontade de estar feliz/Deus é a vontade de estar feliz”.

Mais uma vez o tema de luta por uma ideal, de superação das dificuldades da vida aparece em suas músicas. Coincidência? Retórica artística? Não exatamente… “Falar A Verdade” é um capítulo à parte nas vidas de todos os integrantes da banda Cidade Negra. Desde o momento que ela foi composta, passando pelos ensaios e, mais tarde, durante a gravação do disco, todos sentiam que algo de muito especial estava nascendo.

A partir do momento que ela foi escolhida como música de trabalho do disco e foi para as rádios, tudo mudou em suas vidas. Pela primeira vez um conjunto de reggae aparecia nas TV’s de norte a sul do país e a figura de Ras Bernardo, com os seus dreadlocks em cadeia nacional foi um verdadeiro grito de liberdade para o movimento reggae do país. Hoje não parece muita coisa, mas, no passado, contava-se nos dedos de uma das mãos os dreads circulando pela mídia.

Além disso, outras barreiras foram quebradas com esse hit: não seria mais necessário, dali por diante, insistir em reggaes cantados em inglês e/ou imitando Bob Marley & The Wailers. Com“Falar A Verdade” dá-se o nascimento do reggae verde-e-amarelo de amplo alcance, com letra simples e direta (“Estamos aí pro que der e vier/A fim de falar a verdadeira verdade”), a bordo de uma levada vibrante temperada por uma cuíca suingada e por metais em brasa.

Do dia pra noite, Cidade Negra e Ras Bernardo passaram a ser reconhecidos em praticamente todo o Brasil, tornando-se uma referência para jovens negros que, como eles, lutavam com dignidade por um lugar ao sol. O primeiro passo havia sido dado.

Animados pela ótima repercussão do disco de estréia, a banda decidiu ir além no seu segundo CD – “Negro no Poder”. Mais do que repetir a fórmula que havia dado certo antes, a Cidade Negra buscou evoluir a sua própria linguagem gravando um álbum que trouxesse contemporaneidade, inovação e, por isso mesmo, algum risco. Desde o nome escolhido para o disco até os temas abordados (esquadrão da morte, desigualdade social e racial, o poder do dinheiro), passando pela sonoridade mais agressiva que incluía guitarras distorcidas, samples e bateria eletrônica, esse disco acabou sofrendo rejeição por boa parte da mídia que esperava apenas mais uma música como: “Falar A Verdade”.

“Fico vendo essas coisas/Vendo tudo acontecer/Injustiças e maldades/E o abuso do poder”, assim Ras Bernardo abria o disco em uma de suas letras mais contundentes, “Negro No Poder”, a faixa-título. E concluía “Quando olham a minha gente/Nunca é pra proteger/Muitas coisas acontecem/E o meu povo resistindo/Oh Jah, negro no poder/Pra já, negro no poder”. Talvez um pouco forte demais para tocar no programa da Turma da Xuxa

Mas o repertório do disco não era feito somente de contestação e denúncia como uma análise superficial poderia levar a crer. Em outras composições, Ras Bernardo renovava sua confiança na raça humana e nas ações positivas que qualquer um poderia fazer: “Acredito eu que as coisas estão em transformação/Acredito que, dentro do ser, há solução(“Incandescente Ser”); “Tenho meus motivos, tenho o que é preciso/Fico positivo contra o negativo/Tomo sua força prá te derrotar” (“Há Motivos”).

Também não se pode deixar de mencionar mais uma novidade introduzida por Ras Bernardo no universo da banda: o reggae romântico. Hoje em dia pode parecer curioso, mas, à época, houve certa resistência interna pela inclusão da belíssima “Conciliação” em que havia uma declaração de amor digna de qualquer reggaeman: “Estou aqui pra te falar/Que só o amor que dentro há/Pode nos salvar…/Pode nos salvar…”. Esta música também sobrevive até hoje no repertório da Cidade Negra, tendo sido inclusive objeto de uma versão dub feita pelo mitológico músico e produtor Augustos Pablo para o disco “Dubs”.

“Negro No Poder” foi um disco a frente do seu tempo e, talvez por isso, mal recebido pela crítica e por muitos ouvintes. Uma nova audição hoje nesse trabalho permite avaliar o quanto existe de atual na sonoridade, nos arranjos e nas letras, qualidades que não foram apreciadas à época.

Mas enganam-se quem vê esse período apenas como uma coleção de insucessos para o grupo. Foi com Ras Bernardo à frente que eles iniciaram sua bem-sucedida carreira internacional. Em 1992 a banda Cidade Negra abriu o show do Steel Pulse na França, com excelente repercussão junto à platéia 100% estrangeira. Meses depois, tornaram-se a primeira banda brasileira a pisar no palco sagrado do Sunsplash, o mais importante festival da Jamaica. Em turnê pelos Estados Unidos eles passaram por Boston, Nova Iorque (no tradicional Sounds Of Brazil) e Miami, onde se apresentaram ao lado de Ziggy Marley.

Essa experiência de ser o pioneiro do reggae brasileiro no cenário internacional acabou sendo de extrema importância para Ras Bernardo e teve reflexo no seu primeiro trabalho dois anos após – Cidade Negra“Atitude Pátria” (Top Tape, 1996).

10) RM: Quais são as suas músicas gravadas pelo Cidade Negra?

Ras Bernardo: SAI LARIO; MAMÃE SANGRA; MENSAGEM; INCANDESCENTE SER; FALAR A VERDADAE; LUTE PARA VIVER; CONCILIAÇÃO; NOS JARDINS DESTA NAÇÃO; EM; SELVA DE PEDRA; NADA MUDOU; NÃO CAPAZES; HÁ MOTIVOS; ASSASSINATUREZA; NA FRENTE DA TV; GAFANHOTO; ZUMBI; NEGRO NO PODER; MOSCA NA SOPA.

11) RM: Quais os motivos o levou a sair do Cidade Negra? Ficou alguma mágoa?

Ras Bernardo: A saída do Cidade Negra foi pela necessidade natural de mudança. Eu queria continuar focado nos temas sociais. Ai sai para que eles continuassem a fazer o que eles queriam. E eu continuei nas questões sociais sem nenhuma mágoa.

12) RM: Quais as principais mudanças estéticas e ideológica do Cidade Negra após a sua saída?

Ras Bernardo: Eu posso responder mais sobre mim. É muito chato colocar minha opinião em algo que só eles mesmos poderiam responder. Acho que o espaço é para todos. E quem sou eu para achar que eles têm que ser igual a mim. Só sei um coisa acho, eles maravilhosos.

13) RM: Quais os prós e contras da carreira solo após o Cidade Negra?

Ras Bernardo: Não foi fácil, mas foi muito gratificante por saber que estou fazendo o que eu gosto. O problema é que na carreira solo encontrei muitos picaretas querendo que eu fizesse shows de graças para eles. E um bando de pessoas que só pensam em se dar bem em cima de minha obra.

14) RM: Quais as principais dificuldades enfrentadas na carreira solo?

Ras Bernardo: A que todo músico que quer passar as mensagens de conscientização. Temas sociais não vendem e a grande mídia não da importância a esses artistas. E a mídia quer o que fácil de vender, né?

15) RM: O público do Cidade Negra escuta o som de Ras Bernardo?

Ras Bernardo: Sim. Com certeza.

16) RM: O Ras Bernardo teve que iniciar um novo público?

Ras Bernardo: Eu acho que não. Sempre tive um bom público quando estava na banda Cidade Negra. Acho que a banda é que teve que formar um novo público quando sair. Pelo fato de o cantor que entrou na banda (Tony Garrido) ser novo na época.

17) RM: Quantos CDs lançados como Ras Bernardo? Quais os anos de lançamento (quais os músicos que participaram nas gravações)? Qual o perfil musical de cada CD? E quais as músicas que entraram no gosto do público?

Ras Bernardo: O primeiro CD – Atitude Pátria em 1995 gravado no Top Clim com Nelson Meireles e Ricardo Barreta e mais uma galera do Rio de Janeiro. O segundo CD – Jah e Luz em 2007 com Nelson Meireles e MPC do Digital Dub e mais uma galera do Rio de Janeiro. O terceiro CD – Direção ao Leste em 2012 já foi no Jedai Stacio com o Gustah do Echo Sound e mais o pessoal do QG Imperial que é uma galera de São Paulo. As músicas que caíram no gosto da galera foram: do CD – Atitude foi Baixada Central. Do CD – do Jah e Luz foi a músicaJah e luz. No CD – Direção ao Leste; foram Outro Mundo e Direção ao Leste. Em 1995 já havia percebido a importância de se fazer um trabalho original, que contivesse não só a força do reggae jamaicano mas também a vasta musicalidade que existe em nosso país. Não fazia nenhum sentido sair do Brasil para fazer um reggae “tipo-jamaicano” ou “tipo inglês”. Ao invés de simplesmente seguir regras pré-estabelecidas que vindas de fora, me propus a fazer um disco com estilo e personalidade próprios, explorando toda a liberdade de expressão da sua recém inaugurada carreira solo. Não por acaso o disco abre com “Atitude Pátria” onde se ouve “Aqui neste país podemos ser felizes sim/Todos os tipos de raça vivem aqui nesta nação/Orgulho-me dessa gente por estar aqui neste lugar/…/Nossa cultura é tão rica/Que lá fora faz-nos orgulhar”.

Ao longo das demais composições, percorrem todo meu universo artístico de maneira sincera e corajosa, cantando do amor (“Incógnita”“Só Com Amor”) à crítica social(“Abandonado”), das lembranças dos tempos de Belford Roxo (“Baixada Central”) às ironias do cotidiano (“Olha A Hora”, “Postal Do Rio”). Logicamente havia também o chamado à conscientização de “Transformai” (“Eles têm a ferramenta/Jah é nosso argumento/Acredito nessa força/Temos ela aqui dentro/Transformai, transformai pra melhor”), e a mensagem de autoconfiança e superação de “Tente Você” (“Já é hora de começar a inventar algo mais interessante/Do que ficar parado pensando no que já passou/Esperando que façam coisas que você nunca tentou/Tente você, que eu quero ver/Tente você), dois temas recorrentes em suas letras. Com esse trabalho, consegui atingir dois importantes objetivos na minha carreira. Exposição de meus sentimentos de maneira ampla e com muita franqueza, delimitando assim o seu espaço sem necessidade de intermediários. Além disso, pode-se dizer que eu acrescentei mais verde e amarelo à tradicional bandeira tricolor do reggae, assumindo o sotaque mais brasileiro a minha obra.

No CD – Jah é Luz – Desde o lançamento do CD – “Atitude Pátria”, muitas coisas aconteceram. A onda reggae que prometia varrer o país de norte a sul enfrentou um período de maré baixa em que pouquíssimos nomes se destacaram nacionalmente. Recentemente, no entanto, uma nova safra de amantes do reggae começou a surgir e está dando novas perspectivas a esse mercado. Essa é uma geração que não presenciou a explosão inicial do reggae nacional no início dos anos 90.

Para esses jovens o trabalho de Ras Bernardo ainda é pouco conhecido e permanece envolto em mistérios. Se por um lado muitos o têm como símbolo do melhor reggae feito no Brasil, por outro lado poucos tiveram a oportunidade de comprovar o seu carisma nos palcos nem a força de sua música nas ondas de rádio. Em diversos pontos do país existe uma curiosidade crescente a respeito do seu novo trabalho, suas idéias, sua filosofia de vida. O que mais se ouve é: “Por onde anda Ras Bernardo?”.

“Jah É Luz” pretende preencher essa lacuna, mostrando por inteiro o verdadeiro artista que sou. Cobrindo todos os aspectos da minha carreira. Da militância do meu tempo à frente daCidade Negra vieram as inéditas “Mártires” (“Chega mais porque preciso te falar/Chega mais que você precisa se conscientizar”), e “Se Não Derem” (“Essas pessoas querem pra já/O que vocês prometeram/Se não derem vão reivindicar”).

O amor continua sendo cantado em “Só Pra Te Provar” e “Cadê Você” (“Quero você, você comigo/Eu com você, aí consigo/Ficar melhor”). A faixa título traz uma religiosidade arrebatada (“Andando sobre a areia do mar/Sinto os meus pés se molharem/…/Quando me vejo nas trevas vem-me um clarão/É a luz, é a luz/Do Deus que me conduz”), enquanto “Pedido de Jah” surpreende pela sua levada punk-reggae incomum e versos inflamados (“Jah pediu pra você se transformar”).

Além das composições próprias que finalmente serão mostradas ao público, eu exercitei o meu lado de intérprete. Com muito estilo e personalidade cantei as reflexões agridoces de “A Lei”(Bernardo Vilhena e Ricardo Barreto), a doce brejeirice de “Sabiá” (Ricardo Barreto e João Sabóia), além da emocionante (e algo autobiográfica) “No Morro Não Tem Play” (Ivo Meirelles), em que o ouvinte é brindado com versos como “Brincadeira de guerra, revolvinho na mão/Seus ídolos estão ao lado/O futuro é incerto, o que se pode fazer?/Trancafiado ou morrer/No morro não tem play/No morro não tem playground”.

Para me acompanhar nesta viagem, foram reunidos músicos que representam o melhor do reggae do Rio de JaneiroAlex Meirelles e Jean Pierre Magay (tecladista da Cidade Negra),Ronaldo Silva (percussão da Cidade Negra), Bidu & Marlon (naipe do Reggae B), além da baixista Noemi que já vem se destacando na banda de Ras Bernardo há algum tempo. A produção musical foi feita a quatro mãos por Nélson Meirelles (primeiro produtor da Cidade Negra, ex-baixista do O Rappa) e Ricardo Barreto (compositor e guitarrista, fundador daBlitz, também com passagem pela Cidade Negra) e mixado por nada menos Marcus (MPC) Paulo do Digitaldubs.

Agora lancei o novo trabalho, “Direção ao Leste”. Enfim, dos parceiros e compositores aos músicos acompanhantes, passando pela dupla de produtores, um time com muitos serviços prestados ao Reggae Brasil, que fez questão de estar ao meu lado neste momento tão especial. Especial porque eles, assim como muitas outras pessoas país afora, sabem da importância de me ver novamente em plena atividade. Sou um dos pioneiros, um dos responsáveis por muitas das emoções e alegrias proporcionadas pelo reggae feito aqui por brasileiros para brasileiros.

Continuo fazendo show cheio de entusiasmo e energia renovada para divulgar minhas antigas e novas canções do novo CD – “Direção ao Leste”. E gerar felicidade talvez seja a coisa mais importante na vida de alguém que há muitos anos vem repetindo que “Deus é a vontade de estar feliz…“.

18) RM: Quais as principais diferenças e semelhanças dos seus discos solos com os feito quando você fazia parte do Cidade Negra?

Ras Bernardo: Eu acho que nenhuma. Se eu estivesse no Cidade Negra seria estas mesmas músicas. Até porque quando sai ficou algumas músicas com eles como: “Pensamento”; ‘Eu fui, Eu fui”;  “Sabe”; “Downtow”.

19) RM: Com a saída do Tony Garrido do Cidade Negra. Quais os motivos o fizeram não voltar para a banda?

Ras Bernardo: Quando o Tony Garrido saiu do Cidade Negra logo entro o Alexandre Marçal e logo com a saída do Marçal, o Tony voltou e o projeto do Cidade Negra não seria com a minha volta. E eu não posso interferir nos projetos deles, como eu tenho o meu trabalho solo resolvido e se tiver uma volta para o Cidade Negra não seria só por uma vontade, mas sim pelos dois principais do Cidade Negra que são: Bino e o Lazão e eu de comum acordo, mas independente de tudo isso, nos já estamos junto num projeto União do Reggae que o Alexandre criou.

20) RM: Como é o seu processo de compor?

Ras Bernardo: Na maioria das vezes escrevo primeiro a letra e depois encaixo nas melodias, que são umas das coisas que mais adoro fazer.

21) RM: Quais são seus principais parceiros musicais?

Ras Bernardo: Não tenho uma galera certa para fazer parceria. Sempre eles aparecem sem que seja uma coisa obrigatória. Até porque o importante é que quando aparecer terá que vir com entusiasmos para somar com a mesma energia que estar sendo transmitida no momento.

22) RM; Você estudou técnica vocal?

Ras Bernardo: Sim. Embora tenha nascido cantor, mas é muito importante aprender sempre.

23) RM: Quais as cantoras(es) que você admira?

Ras Bernardo: Vou citar algumas: Dow Pen, Sandra de Sá, Marisa Montes,  Alina Duran, Leid Daí, Dezirer, Lauren Rion e outras maravilhosas.

24) RM: Quais os prós e contras de desenvolver uma carreira musical de forma independente?

Ras Bernardo: Os prós é que quem gosta mesmo vai sentir que o contra também tem a sua importância para desenvolver uma carreira solo. E quem não entender isso não fará uma carreira solo nem aqui e nem em nenhum lugar. Tem que acreditar pra valer.

25) RM: Quais as estratégias de planejamento da sua carreira dentro e fora do palco?

Ras Bernardo: Organização, foco e centralização no que deve ser feito na hora de compor, nas gravações, no palco, nos ensaios, nas viagens. E um bom empresário e produtor que tudo da certo.

26) RM: Quais as ações empreendedoras que você pratica para desenvolver a sua carreira musical?

Ras Bernardo: Tenho um projeto chamado Reggae para todos. E participo de vários projetos relacionados à Cultura Reggae.

27) RM: O que a internet ajuda e prejudica no desenvolvimento da sua carreira musical?

Ras Bernardo: Acho que temos que ter cuidado com os vícios que a internet pode causar. Mas qualquer profissional hoje que não tenha internet, principalmente o artista não vai muito longe. Sem esse meio de comunicação nos tornamos um urtigão totalmente fora da babilônia, mas também com pouca ou nenhuma informação.

28) RM: Quais as vantagens e desvantagens do acesso a tecnologia  de gravação (home studio)?

Ras Bernardo: A vantagem é a possibilidade gravar coisa que nos anos 80 não poderíamos fazer com facilidade. Agora as pessoas compõem, grava e coloca na internet sem ter que precisar da grande mídia. Acho maravilhoso.

29) RM: No passado a grande dificuldade era gravar um disco e desenvolver evolutivamente a carreira. Hoje gravar um disco não é mais o grande obstáculo. Mas, a concorrência de mercado se tornou o grande desafio. O que você faz efetivamente para se diferenciar dentro do seu nicho musical?

Ras Bernardo: No passado havia um monopólio Cultural e hoje não. As pessoas podem concorrer umas com as outras. E prevalece o mais criativo e quem fizer o melhor som, antes não era assim. Hoje qualquer um pode fazer uma gravação. Só não faz quem não quiser. Eu procuro fazer a diferença musical com criatividade como disse para me sobressair.

30) RM: Como você analisa o cenário do reggae no Brasil. Em sua opinião quem foram às revelações musicais nas duas últimas décadas e quem permaneceu com obras consistentes e quem regrediu?

Ras Bernardo: O Reggae no Cenário Brasileiro é muito complexo. E quando se fala no que rola Rio de Janeiro e São Paulo. Podemos vê no cenário Brasília o surgimento do Natiruts. Em São Paulo, o Planta e Raiz. No Rio Grande do Sul o Produto Nacional e muitas outras bandas pelo Brasil que se mantiveram no Cenário. O Reggae que estiver Bombando e se evidenciar por conta própria. E temos muitos cantores solos que vem representando muito bem. E temos também os Sound Systen que para mim foi umas das revelações que vem para alicerçar o reggae. Agora quem regrediu foram os que desistiram.

31) RM: O que falta para cena reggae no Brasil sair da marginalidade do mercado musical e ganhar o mesmo status que tem na cenário internacional?

Ras Bernardo:– A diferença é que lá fora o cenário alternativo é valorizado e tem a sua fatia no mercado. E a aqui não. É só o que falta aqui.

32) RM: Quais os prós e contras do reggae ser relacionado diretamente com o uso da maconha?

Ras Bernardo: Eu acho que isso é pura discriminação com o Reggae. Antes de o reggae chegar a maconha já estava por aqui. Agora sair por ai falando que o Samba  tem haver com cachaça. O Rock com cocaína. Isso não tem nada a ver com música. Música é música. As igrejas também tocam reggae, rock, blues, funk, jazz. E não tem nada a ver com as drogas. As drogas é opção muito pessoal, independe da arte. Isso é pura discriminação com os artistas do Reggae. Nem todos que tocam reggae usam drogas ou fumam maconha.

33) RM: Quais os prós e contras do reggae ser relacionado diretamente com o Rastafári?

Ras Bernardo: Acho maravilhoso o conceito Rastafári. O problema é que vivemos em um país Católico Cristão, protestante. E muitos acham que o Reggae é música só de Rastafáris. Mas isso não é verdade. A música Reggae é para a humanidade. E Bob Marley pregou o reggae para o mundo. E divulgou a sua religião Rastafári, mas nunca falou que o Reggae era só para os adeptos aos Rastafári. Se não, ele nem sairia da Jamaica. A arte em si, não se define para isso ou aquilo, mas sim para todos os que aceitam.

34) RM: Você é adepto da religião Rastafári?

Ras Bernardo – Sim. Defino-me como um Rasta dentro dos meus próprios conceitos. Até porque ser Rastafari da Jamaica eu teria que ter Hailê Selassiê como a reencarnação de Jesus Cristo. Respeito muito os Rastas, mas eu nasci dentro da fé Judaica Cristã Brasileira. Não seria eu sincero comigo sendo Rasta adepto a Hailê Selassiê. Sou da fé Rasta judaica Cristã e sou muito feliz amando de verdade o grande Yeshua Ha Mashiach (Jesus).

35) RM: Quais os músicos já conhecidos do público que você tem como exemplo de profissionalismo e qualidade artística?

Ras Bernardo: Eu cito: João Ferrinha, Jean Pierry, Ricardo Barreto, Alex Meireles, Helio Ferinha, Caesa Cesinha, Marlon Sete, Rico de Bel, Gui Batera, Léo Baterá.

36) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Edson Gomes?

Ras Bernardo: Edson Gomes é amigo. Já fizemos show juntos. é um grande  companheiro de muitos tempos. E gosto muito do trabalho dele. É um grande cantor de reggae. Meu máximo respeito a ele.

37) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com a Tribo de Jah?

Ras Bernardo – A Tribo de Jah também são todos são meus amigos e companheiros. Fizemos muitos shows juntos. Meu máximo respeito a todos.

38) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Celso Moretti?

Ras Bernardo: O Celso Moretti é um grande amigo e representante do Reggae em Minas Gerais. Meu máximo respeito a ele.

39) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com os músicos do Cidade Negra?

Ras Bernardo: Dos membros da banda Cidade Negra, sou suspeito de falar, mas é total amizade com todos. Tenho um grande carinho por todos que me ajudaram a ser o que sou hoje. Amo todos eles.

40) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com os músicos do O Rappa?

Ras Bernardo – Do Rappa também tenho muito carinho com todos. Eu vi o início da banda. E amo todos eles.

41) RM: Qual a sua relação pessoal e profissional com Gilberto Gil?

Ras Bernardo: O Gilberto Gil eu tenho influência dele. E bebi muito de seu trabalho. É meu amigo e não falaria de outra forma.

42) RM: Como você avaliar a obra reggae de Gilberto Gil?

Ras Bernardo: Como eu já falei toda a obra do Gilberto Gil me influenciou. Ele é maravilhoso.

43) RM: Quais as situações mais inusitadas aconteceram na sua carreira musical?

Ras Bernardo: Em toda vida há sempre uma situação inusitada em que devemos ficar sempre atento para que não venha acontecer. Mas a falta de condições técnica já aconteceu, brigas já aconteceram no meio do público, com a produção também. Tocar e não receber até hoje tem uns picaretas que pensa que nos artistas não comemos e não temos contas a pagar. E que acham vivemos de tapinhas nas costas. Agora levar cantada essa é legal. Vejo até como carinho as cantadas das fãs.

44) RM: O que lhe deixa mais feliz e mais triste na carreira musical?

Ras Bernardo: Triste é quando fazemos show e não nos pagam. E o que nos deixa feliz é quando o contratante é organizado e nos coloca para tocar para um grande público. Agora claro que tem outros valores a ser considerado.

45) RM: Você acredita que sem o pagamento do jabá as suas músicas tocarão nas rádios?

Ras Bernardo: Sim. Tem muitas rádios que tocam porque gostam do trabalho do artista. Mas a maioria das Rádios e mídia não tem jeito, só com o jabá.

46) RM: O que você diz para alguém que quer trilhar uma carreira musical?

Ras Bernardo: Em toda ou qualquer profissão o primeiro passo é foco no que quer realizar. E se dedicar profundamente no seu objetivo.

47) RM: Em fevereiro de 2012 você levou um tiro escopeta de seu vizinho. Quais as motivações levaram o seu vizinho tentar lhe assassinar? Ele foi preso? Como está o a caso hoje?

Ras Bernardo: Então aonde eu estava morando era uma área de rural de muitas frutas e no quintal do vizinho tinha caju, pitomba, e outras frutas. E as minhas crianças entravam em seu quintal para pegar estas frutas, ele não gostando, colocou eletricidade em sua própria cerca para que as crianças não entrassem. Só que ele esqueceu que ele tinha animais ai o feitiço virou contra o feiticeiro. O seu cavalo infelizmente foi eletrocutado. E ele ficou na cólera comigo. E daí passou a implicar com os meus filhos para ver se eu reagiria e cismou que eu devia pagar pelo cavalo morto. Ele me acusava, dizendo que eu tinha sabotado a cerca dele com eletricidade. Ele ficou oito meses tramando para me matar sem que eu soubesse. E no dia 01 de fevereiro 2012, ele deu um tiro de 12 contra mim. E no dia 02 de fevereiro ele foi preso e condenado a 9 anos de cadeia. E graças a Deus sobrevivi para contar para vocês.

48) RM: Quais os prós e contras de você se apresentar sem banda usando o Sound System controlado por um DJ? Qual a receptividade do publico para este formato de show?

Ras Bernardo: Com o Sound System é prático e fácil se apresentar no show do que com uma banda. Nem todos contratantes têm grana para pagar o cachê dos músicos da banda e as diárias de hospedagem e transporte. E com o formato Sound System, sou eu e o DJ Marcio Firmamento venho fazendo todo o Brasil. O custo e beneficio é bom para o artista e contratantes. E a receptividade do publico tem repercutido bem e positivo. Os contras no inicio foi eu senti muita a falta de tocar com banda, mas depois fui me acostumando a tocar em cima da base instrumental. Semelhante a gravação em estúdio. Hoje me sinto confortável até porque eu toquei com muitas bandas ruins e com o Sound System as bases instrumentais estão corretas na afinação e no tempo. E fica a cargo do cantor e o do DJ manter o clima do show.

49) RM: Quais os seus projetos futuros?

Ras Bernardo: O futuro a Deus pertence. O que eu fizer hoje será o reflexo do amanhã. Eu tenho muitas ideias para colocar em prática.

50) RM: Quais seus contatos para show e para os fãs?

Ras Bernardo:  (48) 98416 – 3910 |   WWW.facebook.com/rasbernardoprofissiona


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.