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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Marinês

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Conheci a cantora Marinês em julho de 2004 em Campina Grande – PB. Uma das mais emocionantes entrevistas que fiz para a Ritmo Melodia nos seus três anos de existência. Eu nutria uma admiração pela artista e aumentou ao conhecer o ser humano. Uma pessoa despojada, de temperamento forte e uma franqueza ácida que faz muitas pessoas que vivem de aparência chamá-la de “pavio curto e sem papas na língua”.

Conheci Inês Caetano de Oliveira fazendo comida e servindo a mesa para seu filho Celso e a um jovem jornalista, que nutria uma simpatia à primeira vista. Ela nasceu em Pernambuco e ainda criança passou a morar em Campina Grande – PB. Aos dez anos de idade participou de um programa de calouros em uma Rádio de Campina Grande ganhando o primeiro lugar. Casou-se com o sanfoneiro Abdias do Acordeon e pegou as estradas do Nordeste cantando Forró. Nessas andanças conheceu Luiz Gonzaga que já fazia sucesso e convidou o casal para trabalhar no Rio de Janeiro. Acreditou no sonho e no padrinho famoso partindo com Abdias para a cidade maravilhosa e foram morar nos fundos da casa do rei do Baião.

Gravou o primeiro disco nos anos 60 e passou a ser a Rainha do Xaxado, título dado pelo Gonzagão. São mais de 50 anos de carreira, muitos sucessos na lembrança do povo e muitas festas juninas e Forró no currículo. Uma escorpiana nata que não manda recado, fala na lata o que pensa. Quem a trata bem e respeita sua pessoa, sua obra tem para si uma fiel escudeira, mas se a trata mal tem todo o veneno do seu ferrão.

Ela voltou à Campina Grande em 2002 para que seu filho Celso concluísse o curso de Fisioterapia. Mas vive como se morasse bem longe, recebe poucas homenagens na cidade e na região, mesmo tendo contribuindo para música e a cultura nordestina. Vive o dilema e sina dos profetas, poetas que se tornam “lugares comuns” em sua terra natal. E por estar longe dos grandes centros não recebe convite para programa de TV de grande audiência, mesmo o Forró estando tão badalado nos últimos anos por conta do “Movimento do Forró Universitário”. Também são poucos os eventos públicos e privados que a contratam para apresentar seu ofício. Espero que o ditado “em casa de ferreiro, o espeto é de pau”, não se torne a sina da diva da música nordestina. Ela está de volta para o aconchego (O Nordeste) e mora na cidade que é conhecida por fazer o maior “São João” do mundo. Será que faz parte da nossa cultura não respeitar e nem valorizar aqueles que contribuíram com seu ofício para o crescimento cultural do país? Até quando o artista vai viver o ciclo da laranja, que dá o suco e jogam fora o bagaço? É muito importante lembrar de Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro, mas é lamentável esquecer de Marinês e muitos que em vida continuam representando a história da música nordestina.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Marinês para a www.ritmomelodia.mus.br , entrevistada por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 15.11.2005:

01) Ritmo Melodia: Marinês, fale do seu primeiro contato com a música.

Marinês: Eu era bem criança, ainda andava de calcinha pela rua. Ouvia Emilinha Borba, cantando “Assim se passaram dez anos” e ouvia as músicas de Luiz Gonzaga em baixo dos alto falantes de circos, como a música “Juazeiro”. Aos dez anos participei de um programa de calouro na rádio Cariri que ficava na rua João Pessoa – Centro – Campina Grande – PB e Genival Lacerda, que tinha a mesma idade, estava participando também. Ele ganhou o prêmio na categoria masculina cantando um coco e eu ganhei cantando “Assim se passaram dez anos”.

02) RM: Fale de sua origem de nascimento.

Marinês: Meu pai Manoel Caetano e minha mãe Maria José de Oliveira são pernambucanos, já falecidos. Morávamos na divisa de Pernambuco e Paraíba. Nasci do lado de Pernambuco, em São Vicente Férreas no dia 15 de novembro de 1935, mas fui registrada no dia 16 e registrada como Inês Caetano de Oliveira. Quando tinha 4 anos de idade, meu pai que era delegado, foi transferido para Campina Grande, fiquei até ir morar no Rio de Janeiro nos anos 50 e, atualmente (2005) moro em Campina Grande.

03) RM: Fale do seu início da carreira musical junto com seu esposo Abdias.

Marinês: Depois de casada com Abdias, formamos um trio, eu cantando, Abdias tocando sanfona e um zabumbeiro. Nos anos 50 saímos pelo Nordeste fazendo show cantando o repertório de Luiz Gonzaga, enfrentando as dificuldades da estrada, dormindo em pousadas, empurrando carro quebrado, mas foi muito bom, gosto da estrada, sou estradeira mesmo.

04) RM: Fale do primeiro contato pessoal e profissional com Luiz Gonzaga.

Marinês: Eu e Abdias estávamos fazendo um show em Propriá – SE e o prefeito que nos contratou falou que iriam colocar um busto em homenagem a Luiz Gonzaga. Ele já sabia de informações que tinha uma caboclinha cantando o repertório dele e com a vestimenta dele. E formos apresentados e ele assistiu nosso trio tocar. E disse para nós irmos para o Rio de Janeiro que ele tinha gostado da apresentação do trio e iria fazer tudo para nos ajudar.

Ele estava em uma excursão pelo Nordeste, então viajamos para o Rio e ficamos na casa de uma conhecida de minha mãe, pois não conhecíamos a cidade e não tínhamos dinheiro para ficar em Hotel. Quando ele chegou da excursão, ligamos para ele e fomos morar em um quarto que tinha nos fundos da casa dele.

05) RM: Fale do primeiro disco gravado e o surgimento de Marinês e sua Gente.

Marinês: Eu e Abdias tocávamos no grupo de Luiz Gonzaga. Eu tocava triângulo, cantava algumas músicas e xaxava. Abdias acompanhava Gonzaga e Zito Borborema, que também fazia parte do grupo. E foi através de Gonzaga que conheci João do Vale no programa de rádio da Tupi Caleidoscópio, apresentado por Carlos Frias. Já o diretor da orquestra da Rádio Nacional Luiz Bitencourt me ouviu cantar, gostou e me convidou para gravar um long play com duas músicas escolhidas por ele, que eram composições do João do Vale: “Peba na pimenta” e “Pisa na Fulô” e as outras, de minha escolha. Essas duas fizeram sucesso e fui convidada pela TV Tupi para apresentar um programa e Chacrinha apresentaria outro. Na escolha do nome do meu programa o Chacrinha sugeriu Marinês e sua Gente, se referindo ao meu grupo, mas aceitei o nome Marinês e sua Gente, porém se referindo ao meu público.

06) RM: Fale dos seus principais sucessos.

Marinês: Gravei muitas composições por Onildo Almeida, João do Vale: “Peba na pimenta” e “Pisa na Fulô”. Gravei músicas de Antonio Barros: “Só gosto de Tudo Grande”, “Por debaixo do pano” e de Anastácia e Dominguinhos: “Só Quero um xodó”, “Piriri Pirila”. De Rosil Cavalcanti: “Meu Cariri”, “Aquarela Nordestina”.

07) RM: Fale da sua vivência no Rio de Janeiro.

Marinês: Eu sou nordestina, sou paraibana de Pernambuco ou pernambucana da Paraíba, mas vou lhe dizer uma coisa, sinto muitas saudades do Rio de Janeiro. Tive grandes momentos felizes lá e me colocou em uma vitrine com os primeiros trabalhos e público do Rio foi quem me levou ao sucesso. Meu filho Marcos Farias nasceu lá, isso já um grande acontecimento para mim. Se não fosse infelizmente a violência urbana, eu moraria lá.

08) RM: Fale de sua relação amorosa e profissional com Abdias.

Marinês: Dois artistas no palco, era meio constrangedor; não que eu quisesse ser melhor. Ele como um marido nordestino, homem do interior, tinha umas opiniões que não casavam muito com as minhas.  Nossa convivência foi confusa até certo ponto, então resolvemos cada um seguir a sua vida, seu destino para sermos felizes os dois e amigos pelo resto da vida.

Eu tinha Abdias com irmão, o respeitava como profissional, um grande profissional como músico e como produtor. Ele produziu pela CBS: Música Regional, Jackson do Pandeiro, Trio Nordestino, Três do Nordeste, Marinês, dentre outros. Vivemos por 18 anos e depois cada um seguiu a sua carreira. Ele me deixou um filho maravilho (Marcos Farias) que hoje dirige meu trabalho.

09) RM: Fale da relação com Rosil Cavalcanti e Zito Borborema.

Marinês: Eu me criei e comecei cantando em Campina Grande – PB. Rosil Cavalcanti era um pernambucano que trabalhava na rádio Cariri e depois na Borborema. Nossa convivência foi grande porque trabalhei também nessas duas rádios locais. Ele grande compositor, homem nordestino de respeito com todas as qualidades de um nordestino macho. E com Zito Borborema convivi profissionalmente quando tocávamos juntos no grupo de Luiz Gonzaga. Meu ex-marido Abdias teve mais relacionamento profissional e pessoal com ele.

10) RM: Fale da relação com os forrozeiros das antigas e atuais.

Marinês: Eu sempre fui admiradora de todos eles, pois cantam bem e cantam Forró, estamos no mesmo barco somando. O Forró está evoluindo e tomando conta do Brasil. Luiz Gonzaga chamava São Paulo de capital do Forró pela grande quantidade de casas de Forró e pelo grande número de migrante nordestino cultivando sua cultura e costumes. E no Rio de Janeiro está expandindo o espaço para a música nordestina. No Nordeste, no período junino, todos os forrozeiros se espalhavam e trabalhavam. Uns já conhecidos e outros chegando para mostrar seu trabalho e todo mundo ganhava seu dinheiro. Mas os novos forrozeiros, poucos vêm me visitar, o motivo não sei. Pode ser por receio de não serem bem recebidos. Mas os que me procuram eu dou uma força muito grande e recentemente participei de 5 CDs de novos forrozeiros. E o que posso fazer como cantora é cantar.

11) RM: Comente sobre as bandas de Forró e Grupos de Forró formados por Universitários.

Marinês: Não sou contra a nada, só sou contra o escândalo, desde que a cantora não precise mostrar suas partes íntimas no palco. Mas se a cantora tiver boa voz, a banda com bom repertório e bons músicos terá seu trabalho reconhecido. Mas tem espaço para todo mundo, quem gosta de Marinês, Anastácia e Domingos não vai deixar de gostar. Mas os jovens se encantam pelos dotes físicos dos artistas e a parte musical fica em segundo plano.

Eu aceito o termo “Forró feito por Universitário” e não “Universitário”, pois o Forró nunca foi burro. E Luiz Gonzaga, que plantou a semente do Forró, não tinha formação acadêmica, era um produto do meio com uma vivência extraordinária e tinha um espírito iluminado. Nasceu para ser artista e nunca será superado.

12) RM: Em sua opinião qual o futuro do Forró?

Marinês: Falar do futuro é uma coisa tão séria (risos). O futuro é algo nebuloso, né? Conversando com Gilberto Gil, falei que não sabia onde o Forró iria parar com sua evolução. Ele que sempre foi admirador e incentivador da música nordestina, fã do nordestino e de Luiz Gonzaga, espero que como ministro da cultura, não esqueça de incentivar nossa música e que faça algum projeto de forma concreta para benefício da música regional.

13) RM: Comente sobre os estereótipos sobre a música e músicos nordestinos que atingem os jovens.

Marinês: Por falta de formação e conhecimento dos jovens sobre a cultura nordestina, por desconhecerem quem foi Luiz Gonzaga, Jackson do Pandeiro e muitos outros. Nós que convivemos com eles é que sabemos quem eram eles e a importância de suas obras, o que os jovens que tocam o Forró no Sudeste estão fazendo é o Pé de Serra. A denominação de “Forró Universitário” já é uma forma de discriminação, como se por serem universitários, não virem da roça, são superiores aos forrozeiros tradicionais. Os jovens que dançam nos salões do sudeste acham menos complicados a linguagem deles. É a mesma situação dos trabalhos das bandas de Forró que se preocupam em impressionar pela produção. É diferente um artista se mostrar pela aparência em relação ao cantar bem.

15) RM: Fale do orgulho de ser nordestina e ser cantora de Forró.

Marinês: É uma profissão com a mesma dignidade e meio de sobrevivência de outras profissões. Existe o profissional e o que quer ser. Eu sou uma profissional, onde for o show, eu chego lá, seja de carro, avião ou em cima de um jumento. Eu adoro estar no palco, foi uma dádiva que Deus me deu. Não saio dizendo que sou Rainha do Forró, se fosse explorar seria Rainha do Xaxado, pois foi Luiz Gonzaga que me homenageou e não saio dizendo; dizem e apenas concordo. O importante não é o trono de Rainha, mas subir no palco e abrir o gogó. Então é um orgulho e honra de cantar as belezas, costumes e necessidades do nordestino. Eu me alugo para fazer o show, ninguém me compra; pagam os meus serviços prestados.

16) RM: Comente sobre o desejo de participar do Programa do Ratinho (Carlos Massa).

Marinês: Eu batalho para ir ao programa do Ratinho, no SBT, mas nunca fui chamada e independente de ir ou não, eu gosto do programa por ser diferente e alegre. E já mandaram e-mail para ele e pedi para um amigo levar ao escritório do Ratinho o meu CD – Cantando com o Coração. Vejo que muitas cantoras do rádio e da Jovem Guarda que se apresentaram, mas eu nunca fui. E seria muito se apresentar em programa popular para as pessoas onde não faço shows saber que estou viva e atuante.

17) RM: Comente sobre o seu acervo e seu livro biográfico.

Marinês: Não gosto do termo museu, mas um acervo quem sabe, mas isso é coisa para ser resolvido pelos filhos. Enquanto estiver viva me sinto mais à vontade, para falar sobre minha trajetória. Um livro seria mais adequado e já tem pessoas encampando esse trabalho. E gostaria que a pessoa que escrevesse sobre minha vida fosse como o que foi feito pela francesa Dominique Dreyfus, que escreveu sobre a Vida de Luiz Gonzaga, que é o melhor livro escrito sobre ele. Tem que ser uma pessoa que acompanhe meu dia a dia e que conte toda a verdade sobre minha trajetória. Um livro tem que registrar tudo com verdade.

18) RM: Fale de sua relação pessoal e profissional de Anastácia.

Marinês: A minha relação com a cantora e compositora Anastácia começou pela parte profissional quando comecei gravar suas composições feitas em parceria com Dominguinhos. Ao passar dos anos nos aproximamos mais e nossa relação ficou mais familiar e já me hospedei na sua casa em São Paulo. Uma pernambucana como eu. Ela admira meu trabalho e achava muito interessante o meu chapéu de couro e dizia que o chapéu de couro só fica bem na minha cabeça (risos). Ela é uma pessoa pé no chão, bem realista e uma nordestina autêntica.

19) RM: Fale de sua relação pessoal com Elba Ramalho.

Marinês: Minha convivência pessoal com Elba não é muito grande e meu filho Marcos Farias tocou sanfona na banda dela por 11 anos. Eu só fui uma vez na sua casa quando fui homenageada por ela, pelos meus 50 anos de carreira em um show no Canecão, foi muito generosa. Eu gostei da sua sensibilidade artística ao falar que meu trabalho a influenciou, foi muito importante esse reconhecimento. Somos comadres, porque ela batizou uma menina que eu criava, mas não temos papos íntimos devido sua espiritualidade e inteligência. Ela musicalmente começou se arrastando e evoluiu muito ao passar dos anos. Ela já declarou um dia, que foi se chegando como não queria chegar, mas chegou.

20) RM: Incomoda o que as pessoas falam sobre o seu temperamento pessoal e profissional?

Marinês: Falam muito, mas você pensa que eu dou ouvido? Eu estou pouco me lixando para o que as pessoas acham ou deixam de achar e nunca dei importância para isso. Eu moro há três anos em Campina Grande e muitas pessoas se espantam ao me ver. Perguntam se estou morando ou se estou só passando uns dias. Isso porque vivo discretamente, só saio do meu apartamento para fazer alguma coisa importante ou cotidiana. Não sei da vida dos meus vizinhos, só conheço meu vizinho da frente porque é meu cardiologista. Sou muito na minha. E se alguém diz isso ou aquilo de mim, eu acho é bom. Se as pessoas não cultivarem dúvidas e expectativas sobre o artista, ele perde a graça e o encanto. Comigo é fogo ou água. Eu vivo a minha vida e cada um viva a própria vida. Eu só falo da minha vida profissional e se perguntam sobre minha vida íntima, como por que não quis mais casar, digo que da minha mesa falo tudo e da minha cama só cabe a mim. Não sou fã nem amiga de artista. Sou fã e amiga de gente de qualidade e de bom caráter.

21) RM: Qual a sua opinião sobre o mercado fonográfico?

Marinês: Nunca fui grande vendedora de disco. Vejo hoje em dia as pessoas venderem milhões de discos com uma facilidade duvidosa, pois os discos estão na mão da pirataria. Eu vejo muitos artistas reclamando e partiram para o trabalho independente e são artistas da MPB, não é só realidade dos forrozeiros. Já que me deram à liberdade de fazer o meu produto de sobrevivência que eu pensava que era complicado e não é. Eu produzo meus discos e os vendo nos meus shows e distribuo para lojistas. No final das contas, vou vender aquilo que a gravadora falava que eu vendia.

22) RM: Fale sobre seu filho Marcos Farias.

Marinês: Marcos Farias é meu filho com Abdias, hoje mora em Fortaleza – CE e já morou por anos em Brasília – DF. É um maestro, excelente instrumentista, sanfoneiro e produtor de discos, já trabalhou como produtor na CBS (Sony). Trabalhou como sanfoneiro para Elba Ramalho. Ele montou seu estúdio de gravação e está produzindo vários artistas independentes. Depois de eu pedir e insistir muito, ele está gravando seu trabalho autoral. Ele sempre argumentava que não tinha gravado ainda seu CD, dizendo: “A senhora que arrasta todo o pessoal nas suas costas não é reconhecida, ninguém lhe convida para divulgar seu CD em programas de TV e Rádio”. Ele é que não vai se desgastar em gravar um CD. Mas por insistir muito, ele é um bom cantor, maestro e tem experiência em estúdio. Ele está fazendo a gravação do seu primeiro CD.

23) RM: Fale sobre a falta de unidade e organização entre os forrozeiros.

Marinês: Eu nem sei. É uma coisa tão difícil de dizer. Se um artista já conquistou um espaço amplo de destaque, não custa nada em ajudar um novo artista. Só assim podemos manter o Forró em alta. Somos uma família e uma grande nação forrozeira. A união faz a força e cada um vai mostrando seu talento e conquistando seu próprio espaço. Luiz Gonzaga deixou a fruta, porque só um ou outro come dos frutos. A Bahia é um bom exemplo, com Ivete Sangalo dando espaço nos seus shows para Margareth Menezes. Margareth com muitos anos de carreira agora está tendo mais visibilidade por estar participando dos shows de Ivete. Quem alcançou a fama tem obrigação de mostrar os novos talentos e depois cada um vai andar com as próprias pernas e talento.

24) RM: Marinês por Marinês?

Marinês: Sou uma pessoa comum e singular. Não me aproveito desse nome lutado e trabalhado ao longo dos 50 anos de carreira. Gosto de receber elogios sinceros. Vivo uma vida normal, como o que todo mundo come. Quando não tenho empregada, vou para cozinha. Dou prioridade à família (filhos, irmãos e pais) e estou sempre junto deles como uma galinha e seus pintos. Quando me aborrecem, se eu puder na hora dissolver o coágulo, dissolvo para não ficar engasgada. Mas muitas vezes engulo sapo para não passar por mal educada, não ser cem por cento nordestina.

Visito com frequência em Campina Grande, Dr. José Leite na sua reunião com a família e juventude, Dona Quiminha, que é mãe de Dr. Fernando Desterro, uma amiga no bairro de José Pinheiro e um amigo que é da mesma idade e que faz aniversário no mesmo dia e mês. Nasci em 15 de novembro, por ser feriado, meu pai me registrou como nascendo no dia 16. Em dezembro faço doações para entidades de assistência social. Levei algumas cestas básicas para famílias que trabalham no Lixão em Campina Grande, não tinha cestas para todo mundo e passei um sufoco.

Sou espírita e acredito muito em outra vida após a morte (se só existisse essa não valia à pena). Não choro quando morre alguém. Minha mãe morreu e só chorei depois de dois meses com muita saudade dela. Ela era uma pessoa com quem eu conversava muito. Vivo em Campina Grande com meu filho mais novo, Celso. Eu fico muito sozinha em casa e isso não me faz bem. Sou acostumada em viajar e viver na estrada fazendo shows em contato com o público. Ficar dentro de casa não tem nada a ver comigo.

25) RM: O que a cidadã Inês fala sobre a artista Marinês?

Marinês: A Marinês artista sobe no palco como profissional e procura fazer o melhor. É o marido que conheço, faço todos os carinhos possíveis tanto para quem está no palco comigo (os músicos) quanto ao público que está me vendo, que são meus artistas. Um dia quando for desse mundo para outro… Vou sentir muita saudade do meu público.

26) RM: Discografia de Marinês.

Marinês: A Primeira canção gravada por Marinês foi em 1956, com Luiz Gonzaga, intitulada por “Mané e Zabé”. Em 1957 “Vamos xaxar” pela SINTER (10 polegadas). Em 1959 “Aquarela nordestina” pela SINTER.

Em 1960 “Marinês e Sua Gente” pela RCA. Em 1961 “O Nordeste e seu ritmo” pela RCA. Em 1962 “Outra Vez, Marinês” pela RCA. Em 192 “Coisas do Norte” pela RCA. Em 1964 “Siu, siu, siu” pela RCA. Em 1965 “Maria Coisa” pela RCA. Em 1966 “Meu benzim” pela RCA. Em 1967 “Marinês” pela CBS. Em 1968 “Mandacaru” pela CBS. Em 1969 “Vamos rodar roda” pela CBS.

Em 1970 “Sonhando com meu bem” pela CBS. Em 1971 “Na peneira do amor” pela CBS. Em 1972 “Canção da fé” pela CBS/Entré. Em 1973 “Só pra machucar” pela CBS/Entré. Em 1974 “A dama do Nordeste” pela CBS/Entré. 1975 “A volta da cangaceira” pela CBS. Em 1976 “Nordeste valente” pela CBS/Entré. Em 1976 “Meu Cariri” pelo CBS/Entré. Em 1977 “Balaiando” pela CBS RIO. Em 1978 “Cantando pra valer” pela Copacabana. Em “Atendendo ao meu povo” pelo Copacabana.

Em 1980 “Bate coração” pelo Copacabana. Em 1981 “Estaca nova” pela Copacabana. Em 1982 “Desabafo” pela Copacabana. Em 1983 “Só o amor ilumina” pelo PolyGram. Em 1986 “Tô chegando” pelo BMG-Ariola. Em 1987 “Balaio de paixão” pelo BMG – Ariola. Em 1988 “Feito com amor” pela Continental.

Em 1995 “Marinês, cidadã do mundo” pela Somzoom. Em 1998 “Marinês e sua Gente. Raízes do Nordeste” pela Copacabana/EMI. Em 1999 “Marinês e sua Gente-50 anos de Forró” pela BMG.

Em 2000 “Marinês” pela BMG. Em 2003 “Cantando com o coração” de forma independente. Em 2004 “O Nordeste e Seu Ritmo”. Em 2004 “Meu Benzim”. Em 2006 “Marinês canta a Paraíba” de forma independente. Em 2006 “Brasil Popular: Elba Ramalho & Marinês”.

P.S: Inês Caetano de Oliveira, faleceu dia 14/05/2007 no Hospital Português, em Recife (PE), aos 71 anos. Ela havia sofrido um AVC (acidente vascular cerebral) no começo do mês, em Caruaru (PE). Mas a obra da cantora Marinês é Eterna.

Discografia: https://www.letras.mus.br/marines/discografia/

 


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Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.