More Biliu de Campina »"/>More Biliu de Campina »" /> Biliu de Campina - Revista Ritmo Melodia
Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.

Biliu de Campina

Biliu de Campina
Biliu de Campina
Compartilhe conhecimento

Batizado como Severino Xavier de Sousa, Biliu de Campina, nasceu em Campina Grande em 01.03.1949. Formado em Direito, deixou a profissão de advogado para fazer nos palcos justiça aos forrozeiros das antigas que foram esquecidos, como: Jararaca e Ratinho; Marinete e Marinalva; Ary Lobo; Jacinto Silva, Déo do Baião e muitos outros.

Biliu é um forrozeiro que transita pela sua cidade natal tranquilamente. É um referencial e um patrimônio cultural da cidade. No palco o cinquentão esbanja energia de garotão de vinte anos, com carisma e balanço que contagiando os forrozeiros. É fácil encontrá-lo no meio dos turistas no Parque do Povo e horas depois está em cima do palco animando a rapaziada até a madrugada. Se auto intitula como o maior carrego de Campina Grande. Se você quiser tirar sua paciência, é só falar das Bandas de forró, de forró Universitários, de forró de Tecladistas e outros oportunistas do Forró; os quais são identificados pelo mesmo como sendo: Travestis de Forrozeiros, que aparecem como “Balão junino; fazendo forró a força e dizendo que estão dando força para o Forró”.

Biliu lançou três discos independentes: “Tributo a Jackson e Rosil”; “Forró o Ano Inteiro” e “Matéria Paga”. E lançou dois CDs independentes: “Do Jeito Que O Diabo Gosta” e “Forrobodologia”. Em 2002 mantendo seu lado irreverente, lança: “Diga Sim A Biliu de Campina”, trocadilho da campanha nacional do Combate a Pirataria: Diga Não a Pirataria. O Forró de Biliu tem toda a essência dos forrós tradicionais, com um suingue característicos dos discípulos de Jackson e uma irreverência no duplo sentido das letras que mostra bem toda a malicia e o bom humor nordestino. O mesmo mantém um trabalho local por opção e por falta de oportunidade de mostrar seu trabalho a nível nacional; não quer se desgastar no Sudeste, batendo portas lacradas e trocado por modismo do mercado fonográfico.

Segue abaixo entrevista exclusiva com Biliu de Campina para a www.ritmomelodia.mus.br, entrevistado por Antonio Carlos da Fonseca Barbosa em 01.06.2002:

01) Ritmo Melodia: Biliu fale do seu primeiro contato com a música. 

Biliu de Campina: Eu sou de uma família de músicos. Criaturas que conviviam nos forrobodós, tanto Forró Pé de Serra como Toco de Serra. Desde minha infância eu sempre curtia as difusoras (rádios) dos bairros, pastoris, asilados de circos, curtindo coco de meio de Feira e aboios de vaqueiros nas vaquejadas urbanas e pegas de boi rural e sem esquecer os duelos de violas. Foram essas minhas primeiras influências.

02) RM: Porque a troca da profissão de Advogado pela de Forrozeiro?

Biliu de Campina: Eu entrei na Faculdade de Direito, mas o Direito não entrou na minha Faculdade. Deixei o Fórum pelo palco para fazer justiça musical. Com uma política de resgate, através da minha experiência, por pertencer à família de músicos, comecei na escola Forrobodológica para resgata os nomes, além de Jackson do Pandeiro e Luiz Gonzaga, são: Ary Lobo, Déo do Baião, Jacinto Silva que era o rei do sincopado, Marinete e Marinalva, que a mídia não toca. Faço justiça com meu trabalho, aos que não foram reconhecidos. Troquei a profissão de advogado pela de Forrozeiro. Eu estou indo de vento e popa, enquanto muita gente que é travestis de forrozeiros está dando popa no vento.

03) RM: Fale do seu início de carreira musical.

Biliu de Campina: Eu acho que nunca comecei minha carreira profissional. Eu sempre faço Forró com uma inclinação afetuosa, com dileto antigo, com inclinação, tendência e vocação. Esse lado profissional às vezes eu esqueço, esse é um dos motivos de eu não viajar tanto. Para viajar por aventura não vale a pena. E como a evolução é muito grande, através da internet, como o mundo está se comunicando atualmente, não é preciso sair de Campina Grande, como antigamente, que os músicos precisavam sair para o Eixo Rio – São Paulo para fazer sucesso. Atualmente o sucesso está no Nordeste e por falar em sucesso saindo do Nordeste para o sudeste, com Jackson do Pandeiro que foi ao contrário de Luiz Gonzaga que começou a carreira no Sudeste, Jackson já saiu do nordeste preparado, através da rádio e jornal do comércio, saiu com disco pronto. O Genival Lacerda, também saiu com disco pronto através da gravadora Mocambo. E Jackson do Pandeiro saiu de Recife na década de cinquenta para o Rio de Janeiro; nessa época o nordeste estava impondo uma nova configuração de mercado do Forró.

04) RM: Quantos discos e CDs lançados? Quais as músicas de sucessos?

Biliu de Campina:

Em 1989 lancei o primeiro álbum “Tributo a Jackson do Pandeiro e Rosil Cavalcanti”. No qual regravei algumas músicas do Rosil que foram interpretadas pelo Jackson, que foram: “Quadro Negro”, “Lei da Compensação”, “Cabo Tenório” e outras coisas mais. E a música escolhida e cantada pelo povo é a que classifico de sucesso, então foi a de minha autoria e que era o título do disco: Tributo a Jackson e Rosil. O segundo álbum: “Forró o Ano Inteiro”. Foi uma forma de acabar com a história dos forrozeiros balão, que aparece uma vez por ano e desaparece depois do São João. E eu faço Forró o ano inteiro. Uma das músicas que se sobressaiu foi: “O Pobre e o Rico”. Que diz: “O rico pega o carro sai para passeia / O pobre sai para passeia e o carro pega…” Que virou domínio público. E o disco mais recente foi contestando aquelas pessoas que tem talento e não tem condições de gravar e vice-e-versa. Em 1993 o terceiro álbum: “Matéria Paga”, música de João Gonçalves que em minha opinião é um dos maiores compositores do Brasil. Aqui em Campina Grande, na música temos Pelé que é o Antonio Barros e Garrincha que é João Gonçalves. E eu gosto mais do futebol de Garrincha. E a música diz:  “Ô mãe vende o galo e a galinhas / E cabra de tia Juana e a perua de mariquinha / O burro velho do meu pai e o porco do Francisco / Depois me dê o dinheiro / Que eu quero gravar um Disco / Ô Mãe vou desfilar no calçadão / Com o meu disco na mão / A turma da fofoca vai logo enchendo a vista / Morrendo de Inveja porque eu já sou artista / Eu não sei cantar e não sou compositor/ Mas tendo alguns trocados qualquer um virá cantor / Vou ficar famoso fazendo show no xerén / Depois vou comprar um carro e não ligo mais para ninguém”. Mais os dois álbuns “Do Jeito Que O Diabo Gosta” e “Forrobodologia”.

05) RM: Biliu quais foram suas influências musicais?

Biliu de Campina: Minhas influências são respaldadas nos antepassados. Aquelas pessoas que tinham vínculos com a nossa cultura popular. Aquela turma que faziam do Repente; dos Cocos de Emboladas; duplas genuinamente caipiras, os sertanejos. As duplas caipiras, que tinham um lado das brincadeiras, como: Jararaca e Ratinho, Venâncio e Corumba, Alvarenga e Ranchinho. Ouvido também o pernambucano cabeça chata: Manezinho Araújo, que inspirou o Jackson do Pandeiro. Ele cantava o “trava língua”. E o paraibano de Cajazeiras: Zé do Norte que fez muitas trilhas sonoras para filmes e foi um pioneiro em divulgar a música nordestina no Sudeste. Eu o considero como um dinossauro do Forró. Esses são os representantes da pré-história do Forró.

06) RM: Fale do Forró de Campina Grande.

Biliu de Campina: Campina Grande tem uma política de resgate. Os forrós aqui eram distribuídos pelos bairros, fazendas e vilas circunvizinhas no mês junino. E hoje é concentrada toda a festa no Parque do Povo. O Quartel General da Folia que se faz o Maior São João do Mundo. Que na opinião do velho Biliu, com muita simplicidade, eu digo que o Maior São João do Mundo, hoje é um mundo de São João. Concentrando tudo e todos. Os forrozeiros das antigas e do presente. Assim cantava Jackson: “Cantando meu Forró vem na lembrança / Do meu tempo de criança que me faz chorar/ Ô linda flor, Linda Morena / Campina Grande minha Borborema.” E uma música de Zé Pereira, gravada pelo Jacinto Silva que diz: “O moço o seu pode crê/ Que eu estou doido para ver o Luar de Campina”. E tem os forrozeiros do presente e as bandas de Forró, que não sou contra elas, mas sou a favor das nossas tradições, que as bandas não descaracterizem o Forró em nome de uma modernidade. E tem as bandas que mantém as tradições, mesmo fazendo um som diferente, mas bebendo sempre na fonte do forró, do maracatu, coco e ritmos nordestinos como: As Bastianas, a Cabruêra, Mestre Ambrosio, Silvério Pessoa, Quenga de Coco, Formiga de Roça que fazem a política de resgate do verdadeiro Forró, inspirados nos dinossauros do forró, a turma das antigas.

07) RM: Como você vê a popularização do Forró Universitário?

Biliu de Campina: É uma mídia de cima para baixo. É fruto de uma produção e não de uma espontaneidade. Tem alguma coisa boa, mas que não me serve de referência para um bom Forró. Eu que sou versado no Forrobodologia. Eu estou fazendo um Forró com licenciatura plena, doutorado e livre docente do Forró. E prefiro o pessoal que citei a cima como: a banda Cabruêra que bebe na fonte do Forró autêntico e com uma preocupação com a pesquisa dos costumes tradicional. E de positivo vejo pelo menos o nome de Forró. E eu prefiro um roqueiro autêntico do que travestis de Forrozeiros.

08) RM: Biliu, você dedica parte do seu show ao repertorio de Jackson do Pandeiro. Qual a importância do mesmo para a música nordestina?

Biliu de Campina: A importância de Jackson do Pandeiro é para música brasileira em geral. Ele saiu do nordeste pronto e com seu disco de baixo do braço. E a escola forrobodológica, foi o pastoril como bedegué de pastoril. Ele com Zé Lacerda, irmão de Genival, dizia galhofa e participava das festas dos arraiais em Campina Grande e da sua terra natal Alagoa Grande, acompanhando sua mãe que cantava Coco de Embolada nas feiras e Jackson tocava percussão.

09) RM: Fale do Maior São João do Mundo em Campina Grande.

Biliu de Campina: Como falei anteriormente, hoje é um Mundo de São João. Concentra todas as tendências musicais nordestinas e que há de maior no cenário do Forró. Aqui é o espelho para todos os forrozeiros que levam o Forró com seriedade.

10) RM: Fale da disputa salutar entre o São João de Campina Grande e o de Caruaru.

Biliu de Campina: Essa disputa é uma invenção da mídia nacional. Que obedecendo às regras do ibope tentam jogar mesmo salutarmente uma festa ou cidade contra a outra. Mas não existe disputa, até porque os caruaruenses e pernambucanos: Zé Pereira, Luiz Gonzaga, Onildo Almeida fazem músicas para Campina Grande – PB e a turma daqui: Jackson Pandeiro grava música sobre Caruaru – PE. Sempre existiu uma independência e harmonia entre as cidades que muito bom para o Forró, no mais tudo é beleza pura. Eu acredito que o marco Zero do Forró fica entre Campina Grande e Caruaru, que formam a forrolândia. Do lado de Pernambuco o símbolo é a sanfona de Januário a Luiz Gonzaga e do lado da Paraíba o Pandeiro de Jackson.

11) RM: Biliu de Campina, Fale dos seus projetos musicais para 2002.

Biliu de Campina: São os mesmos projetos de início de carreira, sempre manter a dedicação, a identidade e impulsionar mais a verdade sobre o Forró, no qual deve ser tratado como ciência: Forrobodologia. Tem muita gente cantando Forró a força e diz que está dando uma força para o Forró. A música nordestina em todos seus gêneros: Forró, Xaxado, Baião, Xote, Rojão e o avô de todos é o Coco de Embolada, como dizia o Jackson do Pandeiro. Estou lançando o novo CD em 2002 com o título: “Diga Sim A Biliu de Campina”, é um trocadilho sobre diga não a pirataria. Tem a imagem do Biliu em caricatura feita por Fred Ozan. O Biliu com um chapéu de couro e em vez de um Papagaio no ombro tem uma Coruja e uma tarja nos olhos em vez de um tapa olho. O CD tem dez músicas escolhidas pelo povo. Tem músicas: de Orlando Tejo, João Oliveira, Josélio. Faço uma homenagem a Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga, Marculino. Fiz uma adaptação de um mote perpetuo de Paganino, eu adaptei para: Paganino, Limeira e Biliu.

https://pt.wikipedia.org/wiki/Biliu_de_Campina


Compartilhe conhecimento

Deixe um comentário

*

Uma Revista criada em 2001 pelo jornalista, músico e poeta paraibano Antonio Carlos da Fonseca Barbosa.